Quando meus pais anunciaram que iríamos nos mudar para a Flórida, eu poderia jurar que teria uma aneurisma, naquele exato momento, terminando minha curta jornada aos 17 anos.
Mas eu não tive uma aneurisma. Porque no fundo da minha mente, eu conseguia pensar em alguma cidade como Orlando ou Miami.
Não é tão ruim ficar próximo a Disney, ou á pessoas de vários lugares do mundo. Eu sabia que não me sentiria tão deslocada, se estivesse cercada por estrangeiros e golfinhos, mesmo com aquele monte de sol e coisas estranhas que eu sabia que iria encontrar por toda a costa, eu sabia que poderia ficar bem. Quem não gosta de golfinhos?
Nem em meus mais terríveis pesadelos, eu conseguia imaginar na realidade para aonde iríamos.
West Palm Beach.
Eu não consegui acreditar que de todos os lugares que meu pai poderia escolher para um novo emprego, ele escolheria logo a cidade dos sonhos da costa dourada. Eu sei, na realidade não é todo o dia que você recebe o convite para trabalhar em um conglomerado de hotéis e tudo o mais. Mesmo assim, o que eu poderia dizer ou fazer sobre isso?
Tudo o que eu sabia daquela cidade era que era milionária, conhecida por hotéis de luxo por todos os lados e que eu iria torrar ao sol e ser apedrejada por gente rica , muita gente rica. Eu chorei até meus olhos quererem pular de suas órbitas por noites e noites. Mas eu não deixava meus pais verem o surto trágico e adolescente acontecendo dentro de sua própria casa. Eu ainda tinha algum certo nível de orgulho.
A única pessoa que conhecia cada pedaço de minha pequena tragédia particular era Becca, minha amiga desde o jardim de infância. Havíamos crescido juntas, passado por todas as cruéis fases da transição da infância para a adolescência - que a mim se resumia em ter de repente seios enormes e a alguns pequenos desastres em encontros maus sucedidos.
Acredite você também já deve ter passado por isso. Encontros ruins devem acontecer a todos na face da terra, desde o primeiro hormônio que salta por seu corpo fazendo você se interessar pelo sexo oposto ao seu ultimo suspiro.
Era isso que minha amiga dizia a mim todos os dias.
Mas, nem Becca conseguia me ajudar nesta terrível transição para a terra dos milionários.
Minha mãe tentava a todo custo me mostrar como eu seria feliz em nossa nova cidade.
Mostrou-me vários projetos de um tal Departamento de Educação Multicultural , já que Palm Beach era como um pólo educacional ou algo assim. Visitávamos sites todas as noites, enquanto Becca e minha mãe discutiam sobre projetos de escolas. Eu sabia que minha mãe , tendo o apoio de minha melhor amiga , tinha uma vaga idéia de conseguiria me convencer sobre qualquer coisa. Mas elas sabiam que não funcionava assim.
Mas com o passar das semanas, desisti de fazer o papel de virgem no altar do sacrifício e decidi entrar na dança.
Preparei a documentação junto com a minha mãe tentei não surtar e quebrar toda a casa quando eu soube que escola tinha me aceito: West Palm King´s High School.
O que esperar de um colégio que tem no nome os Reis de West Palm?
Essa pergunta me assombrou por varias e varias noites enquanto arrumava as minhas malas, encaixotando as minhas coisas e a minha vida , toda uma vida para traz que eu estava deixando . Amigos, lembranças, lugares, toda uma história.
O que mais me assustava não era deixar meu passado para traz , e sim , o futuro que eu estaria enfrentando daqui para frente . Eu não estava acostumada a opulência.
Vivi toda a minha vida com o modesto salário de meus pais, com a nossa socidade , e eu sabia que tinha que lutar e muito para conseguir as coisas quie eu sonhava em conquistar . Simples assim.
Mas enfrentei de cabeça erguida as despedidas, a saudades de meus amigos , e as três milhas que separavam o Aeroporto Internacional de Palm Beach da minha nova casa e minha nova vida . Fiquei cerca de uma semana em casa , enquanto tudo era preparado , já que a minha entrada na escola da realeza aconteceu graças a nova posição de meu pai e aos seus contatos em seu novo emprego .
Afinal, era muito difícil conseguir uma vaga, ainda mais com o semestre em andamento.
Então aqui estava eu, neste exato momento, andando pelos corredores da realeza com Danielle.
Seus delicados olhos castanhos brilhavam de excitação com as novidades que ela me mostrava .
Em segundos eu fiquei sabendo que quem comandava a escola era a loira insuportável que eu havia visto no estacionamento. Jéssica Smith, filha de um poderoso empresário do ramo de entretenimentos em Boca Raton. Rica, muito rica e juntamente com as suas amiguinhas bronzeadas tinha o poder de vida ou morte social com o corpo estudantil. E com os garotos. “Deus, como elas são poderosas” , Danielle exclamou com exasperação.
Os outros caras, que eu havia visto no estacionamento e antes na aula de Inglês também formavam a nata da sociedade. Todos eram filhos de homens muito poderosos e herdeiros de absurdas fortunas.
- O loiro enorme que estava com Henry agora a pouco, é Trevor Thonsom. Ele é um idiota. Completamente. - Danielle continuou, com uma mágoa não camuflada, que eu fiquei me perguntando de onde que surgia. - O pai dele é dono de uma empresa que constrói barcos, iates, lanchas... Você verá muitas embarcações Thonsom por toda a costa. Ele é um Running Back do Lions, nosso time de futebol. Idiota.
- E o outro garoto - eu perguntei tentando parecer indiferente - o que me ajudou na sala. Henry, certo?
Oh era ótimo ser blasé. Mas o sorriso de Danielle demonstrou que eu não havia feito um trabalho muito bom.
- Henry é outro assunto. - ela respondeu com um sorriso tranqüilo no rosto. - Ele é provavelmente o mais rico entre todos. A família Nicolls é muito poderosa, seu pai é dono dos maiores e mais fabulosos hotéis de toda a costa. Dinheiro, muito dinheiro. Mas Henry é um cara legal. É tranqüilo, muito discreto e provavelmente você nunca irá ve-lo em nenhuma situação idiota como os outros ursos amigos dele. Bom, quase nenhuma idiotice...
Eu notei que neste ponto seu sorriso sumiu um pouco do rosto e ela mostrou a língua como uma criança pequena. Eu apenas continuei olhando para ela , tentando não demonstrar - mais - o interesse que eu estava tendo neste ponto da história .
- Ele esta saindo com a Jéssica - ela continuou com reprovação - Não que eles estejam namorando sério ou nada disso. Mas ela age como se fosse a própria Sra. Nicolls. E olha Henry não gosta deste tipo de coisa. Ele não fica esfregando em nossa cara o quão rico ele é. Pelo contrário. Eu não sei até quando ele vai aturá-la , mas sabe como são os homens . Mulheres muito bonitas como ela conseguem mesmo esse tipo de coisas...
- Você fala como se o conhecesse realmente bem, Danielle. - eu afirmei.
Nesta altura, já estávamos na nossa aula de Biologia e eu garanto, se naquele momento o Sr. Foster - era esse o nome de nosso professor de Biologia , bom ao menos é o que eu acho ... - me fizesse qualquer pergunta sobre mutações genéticas, eu poderia citar Jéssica e toda a sua corja bronzeada.
- Minha mãe é muito amiga da mãe dele. Eu o conheço desde criança. Fomos muito amigos no passado.
- E o que aconteceu?
- Apenas nos afastamos no decorrer dos anos. Eu não gosto muito dos amigos dele e cada um de nós tem a sua própria estrada. Mas isso não quer dizer que ele não seja um cara muito, mas muito legal.
Eu fiquei olhando mais alguns momentos para Danielle. Ela era aquele tipo de garota que você pode confiar em trinta segundos e continuar assim pelo resto da vida. Seus olhos eram limpos claros, do tipo que mostravam a alma.
E ela não estava me contando todas estas histórias como uma fofoqueira.
Mas havia algo que ela estava me escondendo.
Bem, diabos, eu conheço a garota há umas duas horas e quero saber seus segredos mais íntimos? Ótimo, continue assim Nicolle e você fará muitos amigos novos na Flórida.
Vendo que eu não respondia, ela deu um daqueles seus enormes sorrisos e deu um tapinha confortável em minha mão.
- Hey, não se preocupe, não são todos maus por aqui. Existem pessoas normais. Na hora do almoço eu vou te apresentar alguns amigos que tenho certeza que você vai gostar. .
O refeitório no colégio dos reis de West Palm era diferente do meu antigo refeitório em Seatle.
Para começar, eu poderia jurar que estava em um SPA ou algo do tipo . A sala era grande, e suas paredes todas de vidro, mas revestidas de uma forma que fosse iluminado, mas que ninguém torrasse com o sol em seus olhos .
As cadeiras e mesas eram todas feitas de uma armação de vime sintético e ferro, que eu havia visto uma vez em uma revista de decoração chique de minha mãe. Todas redondas e com seis cadeiras, eram espaçosas, impecáveis.
Assim como o chão, de um piso limpissimo que eu só poderia dizer que era algum tipo de mármore caro, mas bem caro. Tínhamos som ambiente, sistema de refrigeração, máquinas de sucos, refrigerantes, e muitas, mas muitas outras coisas que eu ainda não tinha conseguido identificar... Era tanta coisa para se olhar .
Danielle me levou até uma mesa um pouco afastada da porta, aonde umas seis pessoas a chamavam com sorrisinhos e acenos.
Hora de ser gentil Nicolle. Eu coloquei meu mais simples e quente sorriso no rosto.
Eram três garotos e três garotas, todos sorridentes e tinham a mesma forma simples e gentil de Danielle.
Percebi que não eram nerds nem milionários, apenas pessoas normais , com rostos agradáveis e bonitos .
- Hey pessoal, essa é Nicolle. Ela acabou de chegar de Seattle.
- Nicolle, sente-se aqui. - disse um fofo garoto alto e loiro de cabelos espetados, puxando uma cadeira ao seu lado.
Agradeci e sentei, respondendo com um sorrido.
- Vamos lá, vou te apresentar ao time - continou Danielle, sentando-se ao meu lado. - O gentleman loiro aqui è Jack - ela apontou para o rapaz fofo . - Estes aqui são Paul e Michel, e provavelmente eles serão os novos pais do Google do futuro.
- Oi! - eles responderam juntos - Bem vinda Seattle!
Eles eram bonitos também, não tão altos, mas não eram baixos, e eram fofos. Paul era ruivo e cheio de sardas . Michel tinha uma pele morena, latina, muito bonita.
Então ela apontou para as garotas, que me olhavam com curiosidade.
- Time feminino, se apresentar - ela continuou rindo - Vamos lá garotas. Estas aqui, Nicolle, são Patrícia, Hellen e Juliet. Patrícia nossa Miss Ohio, toda morena, Hellen e Juliet nossas beldades loiras com alguma coisa no cérebro.
Elas riram e deram as mãos em alguma forma de comprimento que eu ainda não estava apta a entender.
- Olá pessoal! - eu respondi com a minha mais empolgada voz, vários decibéis acima.
- Seattle, qual a primeira impressão junto a realeza? - Perguntou Michel em um tom debochado.
- O nome dela é Nicolle, Michel - cortou Jack. Ele tinha uma voz firme , agradável.
- Pois que seja. Diga Nicolle, primeiras impressões. Agora.
Eles riram. Eu respirei profundamente e achei que era hora de mostrar um pouquinho da minha velha eu.
- Tirando o fato que eu ainda acho que estamos na realidade em um SPA, que todos são muito ricos e eu estou com medo que peçam o numero do meu cartão de crédito na porta de cada sala e que eu acho que vou ter que aumentar meu protetor solar para um fator 100 , acho que esta tudo ótimo.
Todos me olharam por um longo instante, um silencio constrangedor. Quando eu pensei que já poderia me esconder embaixo da mesa, pois sarcasmo não era bem apreciado em um roda nova de pessoas , eles explodiram em gargalhadas.
- Whoa Dann - cortou a Miss Ohio com uma voz infantil muito divertida - Aonde você encontrou essa aí? Bem vinda ao time Seattle. - ela colocou o punho em minha direção, naquele estranho comprimento que eu tentei imitar, tentando não soar muito patética.
E assim, em pouco mais de alguns minutos eu já estava integrada ao time da Danielle.
As garotas era todas muito bonitas, mesmo Juliet que era baixinha como Danielle, mas era um pouco mais gordinha, com bochechas redondinhas e vermelhas. Hellen era toda loira e alta e poderia facilmente estar na corja das beldades milionárias, se ela não tivesse a língua tão ferina e se sua mãe não fosse recepcionista de um dos hotéis Nicolls.
Michel e Patrícia eram um casal . Daqueles de comerciais de cereal, todos sorridentes e carinhosos um com o outro. Era agradável de se olhar.
Jack, como eu imaginei era todo gentil e estava cheio de sorrisos ao se oferecer para ir comigo pegar os nossos almoços.
Agora sim, eu tinha absoluta certeza que estávamos em um SPA.
O menu tinha vários tipos de lanches e saladas naturais, frutas, todas cortadas e frescas, sucos, pãezinhos cheios de grãos. Eu peguei tudo àquilo que achei mais colorido e bonito e segui com Jack de volta a mesa. Ele me apontava algumas pessoas que deveria conhecer as que eu deveria evitar, e tentava me colocar a par , como Danielle havia feito , sobre a composição Real do colégio. Era também muito fácil e divertido ficar com ele.
De repente, um pouco a minha esquerda eu ouvi uma voz esganiçada gritando.
- O que você pensa que você é , para dar qualquer opinião sobre a festa de sábado ou qualquer outra coisa, sua monstrinha ?
Eu me virei e vi que era Jéssica, gritando com uma menina delicada, de traços orientais e muito bonita. Ela se encolhia perante os gritos de Jéssica e de suas amigas bronzeadas que riam da humilhação da pobre garota, com os olhos marejados e as bochechas de um vermelho vivo.
- Escuta aqui, Bea - Jéssica continuava. Oh Deus, que vozinha insuportável, toda esganiçada e puxando as ultimas vogais. - Se eu te aturo é porquê o seu pai é muito amigo do meu , mas isso não quer dizer que você seja alguma coisa . Seu pai trabalha para o meu, sendo de confiança ou não. Você não tem direito a opiniões. Para mim, você faz parte de nossa folha de pagamento.
As outras garotas gargalhavam cada vez mais alto, enquanto a menina ficava cada vez menor , envergonhada.
- Agora larga de ser uma vadia total, Bea, e vá buscar o meu almoço.
A garota fungou profundamente, limpou algumas lagrimas com a manga de sua jaqueta e se voltava na direção da fila do almoço.
Essa cena acendeu alguma coisa dentro de mim. Como alguém poderia tratar outra pessoa desta forma? E como alguém aceitava ser tratada assim?
Sem que eu tivesse consciência do meu imbecil impulso, eu segui para aonde a cena se desenrolava.
- Whow - eu gritei, apontando para a garota humilhada - A escravidão neste país acabou há muitos e muitos anos, e até aonde eu tenho conhecimento a liberdade de expressão é livre neste país. Ensinam isso no colégio, sabem? Bom, a não ser que o excesso de bronzeamento artificial confunda a mente das pessoas e façam elas acharem que podem tratar outro ser humano como lixo.
De repente todas ficaram em silêncio. Eu poderia jurar que todo o refeitório, quem sabe toda a escola estava em silêncio. Eu conseguia ouvir apenas algumas respirações entrecortadas e o soluço da garotinha oriental aumentou.
Olhei nos olhos de Jéssica, e eles cintilavam um verde tão profundo e assustador que eu por um segundo encolhi. Sua boca estava franzida, as narinas infladas.
Naquele momento ela não parecia nada, mas nada bonita mesmo.
- O que? - ela perguntou em um tom, frio, gélido, como se ela estivesse olhando para um ratinho de laboratório.
Eu senti uma mão se apertando convulsivamente em meu braço , e percebi que era Jack . Ele parecia um pouco assustado e em segundos percebi que Danielle e seus outros amigos tinham corrido e estavam ao meu redor. Eles tentavam me levar de volta ao meu lugar. Apenas Danielle olhava Jéssica de frente e eu percebi que ela me apoiaria na imbecilidade que eu estava cometendo.
Eu inflei um pouco mais o meu peito, e tentei responder com a minha voz mais calma.
- Isso mesmo que você ouviu - eu repliquei - Seres humanos não tratam outros seres humanos assim. Não importa o quão cheio de dinheiros seus traseiros sejam.
Oh meu Deus, o que eu estava fazendo?
A minha resposta deve ter provocado mais emoções dentro daquela megera bronzeada do eu poderia supor. Ela voou em minha direção, fazendo em sentir um cheiro de perfume caro e enjoativo vindo do conjuntinho rosa de saia e um cardigã combinando que ela usava.
- Quem é você novata, e o que pensa que esta fazendo junto com esse bando de lixo que esta do seu lado. Você tem noção de com quem você esta falando?
- Prazer, meu nome é Nicolle Crystal - eu respondi taciturdamente e percebi que a qualquer minuto eu poderia voar no pescoço daquela metida. - E eu não estou com um bando de lixo. Estou com amigos, pessoas muito, mas muito mais evoluídas do que você, nesta sua pequena escala evolutiva. Bom, ao menos que acho que você deve saber sobre o que estou falando, quem sabe...
Eu ouvi umas duas risadinhas abafadas. A sala estava tensa e era possível ouvir o som de uma mosca que cruzava o refeitório.
- Você é um lixo, sua ridícula - ela ameaçou, agora aos berros - E agora você esta morta.
Eu me preparei ao perceber que o bando de megeras lideradas por Jéssica se aproximava de mim e percebi que Danielle e as outras meninas também se preparavam para uma briga. Feio, muito feio. Isso ia ser realmente feio.
Eu vi que ela voava em minha direção com a mão estendida, do jeito que você faz quando vai espantar uma mosca que esta lhe incomodando.
Eu me preparei. Eu sabia muito bem dar um soco ou dois.
Quando de repente uma voz grossa e muito, mas muito irritada cortou toda a direção.
- O que é que esta acontecendo aqui?
Eu virei meu rosto e um frio na espinha me atingiu. Era o garoto de olhos azuis. Henry.
Ele se dirigia como um deus em nossa direção, e vários garotos enormes o seguiam. O loiro que Danielle odiava estava ao seu lado.
Ele era tão alto, tão bonito e eu percebi que seu maxilar estava travado, mas ele mantinha uma voz baixa, grossa e cortante. Ele olhou em meus olhos por alguns segundos e eu vi que algo se acalmou dentro dele. Rapidamente essa sensação acabou e lá estava o deus de volta em seus olhos, enquanto ele olhava para Jéssica.
- Vamos Jéssica - ele perguntou novamente, a agarrando pelo pulso, a fazendo encarar ele - Eu ouvi seus gritos do outro lado do pátio. O que esta acontecendo aqui.
- Essa vaca cafona, essa novata idiota estava me afrontando.
Inacreditável. Ela mudou a sua voz para de uma menininha que retrucava com seu pai, pedindo por proteção. Eu quase podia ouvir lagrimas em sua voz.
Ela fungou fingidamente e escondeu seu rosto no peito de Henry.
- O que? - eu retornei.
- Vamos lá garotas. Digam para o papai aqui o que esta acontecendo - O grande urso loiro perguntou entre risadas, enquanto afagava seu abdômen muito sarado, que mesmo sobre a camiseta era visível.
Henry olhou em sua direção e colocou uma mãe para frente, o impedindo de continuar. O cara era muito mais alto que Henry, mas eu vi que ele o respeitou imediatamente, e até seu sorriso morreu um pouco nos olhos. Não foi uma atitude arrogante nem violente, mas Henry emanava uma força e um magnetismo tão grande que era impossível resistir ao comando dele .
Não era algo ruim. Era como... Como algo... Justo. Como se as pessoas de repente esperavam justiça de seu comando.
- Vamos Jéssica, conte o que esta acontecendo aqui. - ele continuou segurando com forma seu queixo, a fazendo olhar em seus olhos. Não era violento, apenas ele era tão seguro de si. Meu corpo se contorceu de inveja daquele toque.
Oh, minha nossa, como eu queria sair correndo daqui neste exato momento.
- Ela... - ela apontou em minha direção em um grande soluço - completamente fingido.
Ele olhou para mim por mais um longo segundo. O mais longo da minha vida. Algo se agitou dentro de mim e eu percebi que seus olhos se tornaram quente. Eu poderia estar maluca, mas percebi que algo também se agitava dentro daqueles olhos severos.
- Não foi nada disso - cortou Danielle, vendo que precisava cortar aquele olhar entre nós naquele momento. - A sua princesinha loira aí, Henry, estava humilhando Bea. Nicolle apenas correu em sua direção. Ela disse uma ou duas palavrinhas muito sinceras de como uma vaca metida não pode tratar outro ser humano como lixo.
De repente Danielle parecia até alguns centímetros mais alta do que seus míseros 1,50m.
- Isso é verdade Bea? - ele tirou seus olhos dos meus , com o que eu acreditei ser alguma dificuldade , e olhou na direção da garota humilhada, que naquele momento eu jurava , queria se esconder mais para as profundezas da terra do que eu.
Ela apenas se encolheu um pouco, seus olhos fitavam o chão, e suas bochechas ficaram mais e mais vermelhas. Um choro baixinho saiu de dentro do seu peito.
- Isso é tudo o que eu precisava saber. - ele apertou ainda mais o pulso de Jéssica - Vamos, precisamos trocar uma ou duas palavrinhas sobre essa sua atitude Jéssica. Você não é a rainha do mundo, embora você pense que seja.
Então ele se virou para as amigas bronzeadas de Jéssica, que haviam perdido aquele sem tom majestoso de minutos antes.
- E vocês procurem outra coisa para fazer. - neste mesmo instante, ele olhou novamente para mim e para Danielle.
- Me desculpem por toda esta confusão. Desculpas Dann - ele disse dando um sorriso envergonhado para minha amiga - E quanto a você Nicolle, eu não gostaria que esta tivesse sido sua primeira impressão do colégio. Desculpe-me.
Seus olhos ainda era intensos e eu senti uma mão de repente se apertando convulsivamente em meu braço. Eu havia esquecido de Jack, dos amigos de Danielle e de todo o resto do colégio.
- Você vai acreditar nessa va... - Jéssica tentou reagir sem sucesso.
- Chega Jéssica. - ele cortou. Já chega. Temos muito que conversar. E depois você terá que ter uma conversa com Bea também.
Ele puxou Jéssica pelos pulsos e dirigiu um ultimo olhar em minha direção.
Eu vi que Danielle sorriu tranqüila, como se ela esperasse esse tipo de atitude dele. Os nossos outros amigos relaxaram vendo Jéssica sendo puxada por Henry, suas amigas nojentas sumindo como vento pelos quatro cantos do refeitório e os grandalhões indo fazer qualquer outra coisa de suas vidas.
Antes de sair , Jéssica olhou em minha direção, e seus lábios pronunciaram palavras sem som, mas muito fáceis de serem distintas .
“Você esta morta.”, eles diziam.
A garota, Bea, saiu correndo sem nem ao menos olhar para mim ou ao nosso grupo.
- Whoa - grunhiu Paul e Michel juntos.
- E este foi apenas seu primeiro dia - respirou pesadamente Patrícia.
- Não se preocupe. Jéssica é uma vadia, mas estamos do seu lado. - afirmou decididamente Danielle.
- Absolutamente - ouvi Jack dizer ainda sem afrouxar seu aperto em meu braço.
Ouvi todos os outros assentindo. Segui Danielle, que garantiu que eu deveria botar algum alimento para dentro de mim e que tínhamos pouco tempo agora que o lanche estava terminando.
Sentei em nosso lugar e me senti momentaneamente agradecida pela companhia de todas aquelas pessoas agradáveis. Mas meu estômago se revoltava violentamente, com espasmos absurdos e grotescos com toda a confusão que eu havia feito.
O resto da tarde passou de uma forma brutal. Vi vários alunos olharem em minha direção e murmurarem baixinho , enquanto eu passava .Para minha sorte , as próximas aulas eu sempre estava com algum amigo de Danielle , o que me fez sentir não mais tão perdida.
Encontrei com o resto deles no final das aulas , e ofereci uma carona para Danielle , já que eu descobri que ela morava ha apenas poucas quadras de minha casa .
Em nenhum outro momento encontrei com Jéssica , mas uma de suas amigas me fulminou com os olhos quando eu corria na direção de meu corvette branco , com Danielle do meu lado, na direção ao estacionamento. De repente uma voz, que de alguma forma estranha soou familiar chamou o meu nome.
Eu me virei e encontrei Henry correndo em minha direção, desta vez sozinho.
Eu decidi ignorar o chamado e apertei o passo, quase fazendo Danielle ter que correr comigo pelo estacionamento. Eu precisava apenas entrar em meu carro e sair correndo daquele lugar.
Uma mão forte me deteve, mas segurava meu braço com delicadeza. Aquele mesmo toque quente, elétrico.
- Por favor, espere - ele disse.
Eu virei lentamente em sua direção e gelei quando encontrei seus olhos novamente, suaves, de pedir perdão.
Danielle deu uma daquelas suas risadinhas simpáticas e disse muito suavemente.
- Te encontro no carro Nicolle. Até amanhã Henry!
Ele assentiu levemente com a cabeça e sorriu para ela. Então seus olhos novamente cruzaram com os meus e eu senti que meu coração dava saltos estúpidos dentro do meu peito.
- Nicolle - ele disse novamente com a sua voz firme, baixa, e muito calorosa - Eu gostaria de novamente te pedir desculpas por Jéssica . Não quero que você pense...
Ouvir o nome daquela riquinha idiota nos lábios dele fez algo se quebrar dentro de mim. Eu ignorei sua voz, seu sorriso e a forma como a sua pele queimava em contato com a minha. Puxei meu braço bruscamente e olhei bem dentro de seus olhos.
Apenas muito, mas muito mais tarde percebi que não havia motivo algum para eu agir daquela forma com ele, mas naquele momento nada importava. Eu novamente estava com raiva e tentei dar a minha voz o mais profundo tom de desprezo que eu podia.
- É isso? - eu perguntei - A sua namorada precisa que você se desculpe por ela? Eu não preciso das desculpas de nenhum de vocês dois. Obrigada
Eu me afastei dele e vi, pela segunda vez naquele dia - naquele longo dia – aqueles lindos olhos se transformarem primeiro em algo confuso e depois ficarem decepcionados.
Eu precisava sair correndo daquele lugar.
Virei-me e corri na direção de meu carro, sem olhar nem apenas uma vez para traz.
No caminho para casa , vi que Danielle me estudava com cuidado e mexia em sua bolsa, procurando alguma coisa. Eu respirava com dificuldade, tentando colocar um pouco de calma dentro de minha mente. Tudo se agitava e eu sentia água fervendo aonde deveriam correr sangue em minhas veias.
Quando eu parei em frente á casa de Danielle, ela me entregou um pequeno frasco, como aqueles vidrinhos de guardar perfumes que encontramos na Sears, de várias formas e cores, de um cristal fino e delicado.
- Cheire, ela me disse. - vendo meu olhar desconfiado, ela revirou os olhos e continuou mais suavemente, tirando a tampinha do frasco - É um floral. Não é tóxico. Vai acalmar você.
Eu fiz o que ela mandou, e de súbito, na primeira vez que aspirei o conteúdo transparente no vidrinho,senti cheiro de lavanda e jasmim, e meu corpo começou a relaxar .Minha cabeça rodopiou uma vez e encontrou o seu eixo. Meu sangue corria mais tranquilamente em minhas veias e aquele calor enlouquecedor que eu sentia diminuiu suavemente.
- Relaxe, ela disse. Às vezes de dentro de um furacão podemos tirar uma rosa . Não se preocupe com o que aconteceu hoje. Você não esta sozinha. E saberemos se aquela metida tentar fazer alguma coisa com você. Não se preocupe.
Eu olhei para ela incrédula, e quando entreguei o frasquinho em suas mãos, percebi que ela usava uma pulseira prateada, com um pingente que eu jurava que eu já havia visto na minha vida, em algum lugar.
- Obrigada - eu respondi, e agarrei o pingente que cintilava em seu pulso. - O que isso significa?
Ela abriu o mais largo de seus sorrisos e eu vi os olhos delicados e a menina delicada que eu havia conhecido aquela manhã estava de volta novamente.
Ela segurou o pingente na direção dos meus olhos.
O pingente tinha a forma de um circulo redondo ao centro e duas meias luas de cada lado.
- Isso - ela me disse - é o símbolo da Deusa, a mãe de todas as coisas. Eu sou uma bruxa.
Ela deu uma risadinha e saiu do carro.
- Vejo você amanhã, Nicolle. - ela olhou para traz e eu vi apenas uma garotinha muito jovem e ela continuou - E estou muito feliz que sejamos amigas.
Eu a olhei entrando em sua casa e percebi momentos depois que não havia reparado em nada, nem nas ruas, nem no caminho, nem na casa de Danielle, que eu sabia que era muito bonita , mesmo não sendo uma mansão da costa dourada .
Meus olhos estavam cansados e eu tentei respirar profundamente, contando até mil se necessário antes de virar a chave e voltar para minha casa.
Eu tentei pensar em tudo que havia acontecido, e então eu tinha absoluta certeza que aquele dia ficaria gravado na minha memória por anos.
Eu havia criado inimizade com a maior vaca do colégio.
Eu havia conhecido um cara que fazia meu coração bater e doer. E eu havia sido uma chata arrogante com ele. Por duas vezes. E o pior de tudo, ele era o cara mais rico e mais bonito do colégio.
E sem esquecer a ultima, de todas as revelações daquele dia :
A primeira amiga que eu fazia na Flórida havia acabado de me revelar que era uma bruxa.
Oh, merda. Eu estava tão perdida.
OCA - Observatorio Conyuntural Antropológico de la ENAH, invita:
-
El Observatorio Coyuntural te invita a la sesión 6️⃣ del Seminario:
“Panorama contemporáneo de la violencia contra las mujeres. Diálogos
feministas para ...
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