domingo, 22 de março de 2009

Prefácio e Cap. 1

A filha do vento e do fogo
Nascida do ventre da terra
beijada pelas doces gotas de
chuva
Abençoada pelo suave soprar do
espírito

A esta filha do vento, com o fogo em suas
veias
Lhe será dada a vida,
Abençoará os seus campos
Irrigará as tuas terras

A esta filha do vento, com as lagrimas de
orvalho
A correr pela tua face
Amará aquele que, ao ser
forte
Suga-lhe o sopro da vida

A esta filha do vento, com a brilhante cor
da terra em teus olhos
Ao ter a sua alma roubada,
Encontra-se no seio de suas
irmãs

A esta filha do vento, renascerá sob seu
próprio espírito
Será a senhora das águas, dos ventos
Dominará o poder do fogo, vencerá o jugo da
terra •.

E esta filha dos ventos terá o dom de trazer
de volta à vida.




PREFACIO




O fogo nos envolvia, como se fizesse parte de todo o nosso ser.

Meus olhos procuravam pelas minhas irmãs, que, assim como eu , seriam consumidas pelas chamas a qualquer instante.

Eu temia a dor lancinante, aquele momento em que eu finalmente perderia o controle do fogo, e as terríveis labaredas assumiriam o seu lugar, seu poder absoluto, sua vitória sobre o jugo. Eu conseguia antecipar a dor, de minha pele derretendo sobre sua fúria, como se a minha dor, e de minhas irmãs, lhe dessem o sabor final da vitória.

Minha cabeça girava, meus pulmões ardiam sob a espessa fumaça que subia o cheiro da madeira queimada, palha e gordura, e começava a chegar a nossas rústicas e maltrapilhas túnicas de algodão.

Eu sentia o olhar de prazer de meus algozes, e da massa faminta que assistia a nossa degradação, como se a nossa morte, lhes proporcionassem o maior dos prazeres, como se a dor em nossa carne fosse o delírio de suas vidas devassas, escondidas sob o nome da religião.

“Morte as bruxas” eles gritavam, a excitada turba nefasta de pessoas em seus corações negros.

Meu poder sucumbia como o de minhas irmãs. Nós sabíamos que em pouco tempo estaríamos deixando esta terra. Seus tristes olhos, de minhas três companheiras nesta jornada, suplicavam para que eu tivesse forças, para pronunciar as palavras, que nos uniria e nos traria a vida novamente, em outro tempo.

Eu respirei profundamente, mais uma vez, sentindo o fogo rasgando pela minha garganta, queimando minhas entranhas, e pronunciei as palavras.

Elas saíram fortes, como se aqueles últimos instantes derradeiros, eu fosse tomada pela força do fogo. O fogo que foi a minha vida e minha alma, finalmente me tragaria para a morte.

Mas no momento que aquelas palavras foram ditas, nossas almas foram interligadas eternamente. Minhas irmãs fecharam os olhos e todas chamamos o nome de nosso protetor, para que ele se juntasse a nós em nossa jornada , já que sua vida fora tragada dias antes.

Eu fechei meus olhos e deixei outra dor lancinante penetrar a minha alma.

Esta seria a mais dolorida, a pior de todas as perdas. Pior do que a perda de minha vida mortal, era a perda do homem ao qual eu amei.

Abri meus olhos mais uma vez e fitei seu corpo inerte a apenas alguns passos distantes das nossas fogueiras. Seu corpo sem vida ainda me fitava de olhos abertos.

Em meu ultimo sopro de consciência, eu consegui soltar uma de minhas mãos, aonde um pequeno pedaço de espinho fora guardado e havia machucado a minha palma. Uma gota de sangue seria o suficiente para terminar o que minhas palavras começaram.

E eu sabia que me uniria novamente a ele. Ao fruto de meu amor e instrumento de minha perdição.

Com a lembrança de seu corpo junto ao meu, eu deixei as chamas tomarem conta de meu ser e me tragarem em seu abismo sem fim.







CAP. 1


O PRIMEIRO DIA


Eu abri meus lábios, buscando ar. Eu precisava de ar. Eu não conseguia mais respirar.

Arfei e subitamente engasguei quando o ar entrou rasgando em meus pulmões.

Olhei ao meu redor procurando as chamas bruxuleantes que queimavam a minha pele, dilacerando a carne, chegando aos músculos, e tendões. Podia sentir o fogo chegando a meus ossos , fazendo com que meu cérebro gritasse , gritasse... Mas eu ainda não conseguia encontrar a minha voz ou meus olhos. O cheiro de fumaça era nauseante. Eu procurava as outras três mulheres, tentando dar um conforto que eu não tinha.

“Falta pouco” eu tentava falar a elas. Mas eu não as conseguia ver. Tentei abrir meus olhos e não via nada, apenas o escuro, sombreado por uma pálida luz avermelhada, que eu soube de súbto que não eram as chamas.

Apenas uma luz clara e pálida cintilando.

Eu rapidamente voltei meus olhos ao redor, tentando achá-las. Mas estava tudo tão embaçado, meus cabelos molhados, minha boca seca. Abaixei as minhas mãos e senti algo macio embaixo de mim... Algo confortável, como algodão. Eu não sentia mais o cheiro de fumaça, apenas um doce cheiro de lavanda – ou rosas talvez.

Minhas costas grudavam em um tecido gelado, mas ainda podia sentir o conforto do algodão.

Aonde eu estava?


Puxei o ar, mais uma vez, e ele não queimou mais meus p0ulmões machucados pela fumaça embriagante.

- Ah – eu gemi

Em um átimo eu percebi onde estava e quem eu era. Sentei rapidamente em minha cama, com medo de me perder novamente naquele sonho intoxicante.

Abracei os meus joelhos, tentando me segurar como uma bola, com medo, arfando.

“De novo não!” eu pensava.

Olhei de volta e pude ver as formas do meu quarto. Além de minha cama, eu via minha pequena escrivaninha, meu computador, e meus livros desordenados em cima dela.

Virei a esquerda e vi a janela entreaberta , escondida com uma fina camada de tecido, uma delicada cortina de seda , feita pela minha avó.E pude ver a luz . Uma fraca e ainda tímida luz do sol, que enunciava um belo amanhecer, como era habito nesta cidade.

“ Droga,droga, droga” – eu murmurava - Eu realmente devo estar louca! Terceira vez esta semana que eu tenho este sonho, este ridículo “sonho”
Há meses que eu tinha este mesmo sonho. Eu via a mulher – ou eu seria esta mulher – presa, em algo que deveria ser uma fogueira, queimando até a morte. E era tão real, que eu conseguia sentir a dor das chamas, o cheiro da carne crepitante...

Argh!


Eu não me lembrava exatamente quando começara, mas eu lembrava que não havia lido nada sobre bruxas ou fogueiras. Havíamos lido As bruxas de Salen no semestre passado, mas eu não havia ficado exatamente chocada ou traumatizada com este capítulo de nossa historia. As cruzadas me chocaram mais. A matança de nativos nas colonizações de todo o continente americano havia me chocado mais. Mas... Bruxas e fogueiras...

Este capítulo não atraía minha atenção em particular.

“Chega”, eu ordenei a mim mesma. “Esqueça este ridículo sonho e concentre em algo mais prático, agora mesmo!”

E eu sabia o que era mais pratico. Primeiro dia de aula. Escola nova. Cidade nova. Pessoas novas e com certeza muitas líderes de torcida esnobes e bronzeadas. Jogadores de futebol estúpidos e musculosos.

Toda uma gama nova no zoológico particular que compunha a pequena sociedade estudantil, de uma ponta a outra do país – ou talvez até do mundo. Eu não duvidava que este padrão mudasse muito... Talvez as líderes de torcida mudassem para lindas orientais de saias plissadas correndo atraz de fortes lutadores em outra parte do mundo, mas eu realmente duvidava que o padrão não se repetisse. Talvez eu encontrasse alguns feiticeiros também, envolvidos com assuntos de magia que haviam aprendido em livros ou sites de busca e saiam para praticar com varinhas compradas pela internet - tudo muito new age. Ou nerds sedentos de novidades ou “nano novidades “ , enfurnados atraz de seus modernos brinquedinhos tecnológicos .

Hum, melhor. Com certeza haveria a turma do black, em calças caras, e ouvindo outros cantores enfurnados em roupas mais caras ainda em belíssimos carros, mas cantando os infortúnios da vida nas ruas . Pseudo-intelectuais, lendo Marx os Dostoievski.

Tudo fabricado, tudo perfeitamente arquitetado.

Da patricinha louca por Prada ao metaleirto gótico de unhas negras, todos se encolhiam atraz de seus rótulos Ninguém tentava ser apenas si mesmo, mesmo se gostasse de futebol, magia, computadores, rap e Jane Austen, tudo junto e ao mesmo tempo. Não se era ninguém sem a proteção perfeita dos rótulos.

Eu DETESTAVA os rótulos.

Sai rapidamente da cama, senão ficaria extremamente mal humorada e, o primeiro dia de aula em um local estranho com pessoas estranhas, não seria facilmente encarado com mau humor. Na realidade eu estava apavorada, mas tentava me mostrar o mais forte e determinada que eu pudesse – fossem a meus ansiosos pais, ou a mim mesma..

Coloquei um CD em meu player, aumentando a musica um pouco, apesar de ainda ser muito cedo . Era uma banda que eu havia conhecido a poucos dias em minhas noites de busca , um rock melódico e dançante - forçando minha mente a normalidade , talvez.

Corri para meu pequeno banheiro – uma aquisição que eu realmente havia gostado na nova casa – e liguei o chuveiro, aproveitando o tempo extra que eu havia ganho acordando mais cedo, e fiquei extremamente feliz – e aliviada em me livrar do desagravel suor e da sensação fervente sob a minha pele, após a minha agitada noite de sono.

Eu quase conseguia esquecer o cheiro nauseante que ainda circundava minha mente, sentindo o doce cheiro de meu shampoo e de meu creme favorito. Apesar da sensação de conforto do banho morno, eu sabia que o tempo passava. Desliguei o chuveiro a contra gosto, me enrolei em minha toalha e voltei ao meu quarto, abrindo o meu armário, tentando achar algo que pudesse usar no primeiro dia de aula.

Eu ainda não sabia muito bem o que usar (o medo nos deixa idiotas), e acabei escolhendo um jeans Gap, que eu sabia que caia muito bem e uma blusa branca de algodão, um pouco larga como uma bata, mas que combinava com o clima quente e estava em moda ultimamente. Calcei meus muito usados e amaciados tênis, e aproveitei para uma ultima olhada no espelho. Gostei do que eu vi, apesar de saber que provavelmente eu estaria totalmente fora dos padrões da ensolarada Florida.

Eu havia puxado os traços de minha mãe, que haviam crescido e se acentuado em toda a minha adolescência. Havia adquirido as mesmas formas curvilíneas e arredondadas de seu corpo, os quadris desenhados e um pouco largos, a cintura mais fina, e seios fartos.

Uma pin-up moderna - ou diva dos anos 50, como gostava de brincar meu pai.

Mas eu sabia que isso, a minha forma, não era a forma atual em moda, e muito menos seguia o modelo loira-alta-magra-bronzeada (e sem cérebro) ou morena-sarada-magra-bronzeada (e ainda sem cérebro ) .

Talvez alguns quilos a menos me deixassem mais em forma – ou mais anoréxica , mas eu não era assim.Eu sabia que não seguia os padrões e nunca seria linda como uma atriz de cinema , mas era assim que eu era . O melhor a fazer era tentar jogar os dados a meu favor.

eixei os meus longos cabelos castanhos soltos, peguei minha mochila e quiquei escada abaixo.

Encontrei meus pais já vestidos, com o café da manhã pronto e a mesa posta.

Havíamos nos mudado há algumas semanas de nossa antiga cidade , minha saudosa Seatle . Eu gostava da chuva, do tempo nublado, dos meus amigos, talvez um pouco estranhos. Mas sempre tínhamos o que conversar. Fosse no café da esquina ou na lanchonete do colégio , sempre tínhamos muito com o que nos ocupar .

Mesmo que fosse algo trivial, como o dever de casa, ou um churrasco no domingo de manhã, o importante era estarmos juntos. Mas meu pai havia arrumado um novo emprego – e um bom emprego, com um salário no mínimo duas vezes maior que seu antigo e um atrativo bônus pela mudança com a família.

Meu pai era contador, uma profissão que o matava todos os dias um pouco, sonhador que era meu pai. Mas no novo emprego, ele trabalharia menos e ganharia mais. Perfeito. Ele teria tempo para se concentrar no sonho de sua vida.

Escrever um livro.

Não qualquer livro, mas a obra que mudaria a sua vida.

O que quer que isso signifique

Minha mãe era corretora de imóveis. E claro que não se importou com a mudança. Qualquer coisa que fizesse meu pai feliz a faria também. Era impossível resistir a eles. Sonhadores, apaixonados. Um casal, no mais amplo sentido da palavra.

Eu era filha única. Não tinha irmãos . Filha única com pais que eram filhos únicos também, portanto éramos uma família pequena. E era óbvio que eu não estava feliz com a mudança. “Florida” eu pensei quase com asco.

Mas... Eles estavam felizes e eu faria qualquer coisa por eles. Nada poderia decepcionar aqueles sonhos.

- Bom dia querida – minha mãe disse feliz, indo a minha direção e me beijando em ambas as bochechas, como ela fazia todas as manhãs. – Animada com o primeiro dia de aula?

- Como um peru em véspera de ação de graças. – Respondi sombriamente.
Eles riram. E meu pai bruscamente me pegou no colo, como se eu ainda fosse sua garotinha de 6 anos, assustada com a primeiro dia de aula.

- Você sabe que, se for demais para você podermos voltar para casa.

- Não pai – me aninhei em seus braços – Aqui é a nossa casa agora. Não se preocupem comigo. Quem sabe um pouco de sol não pode animar minha vida.

- Você é animada – discordou a minha mãe – E eu garanto que não será tão ruim.

- Você quer que eu te leve no seu primeiro dia?- Meu pai perguntou meio vacilante.

- Claro que não pai, eu vou dirigindo.

Peguei uma torrada na mesa, tomei um pouco de leite direto da caixa e já ia saindo me despedindo de meus pais. Minhas costas pesavam cem quilos agora, mas eu não deixaria eles perceberem.

- Nos vemos mais tarde mamãe, papai. Amo vocês – eu tentei parecer animada.

Sai rapidamente pela porta porque eu não queria pensar muito no que teria que enfrentar E se enfrentar seria difícil, conscientemente seria praticamente impossível.

Uma delicada mão segurou meu braço, me fazendo voltar e encará-la.

- Filha – minha mãe disse docemente, e eu podia ver a preocupação em seus olhos castanhos – Esta sendo muito difícil para você? Você deixou algo para traz? Além de seus amigos?

- Não mãe – eu assegurei, tentando puxar o canto de meus lábios para cima, em um sorriso – Apenas meus amigos. Vou sobreviver.

- Ok. Um filme mais tarde então? Vamos ao cinema?Uma comédia romântica? Andar um pouco com os nativos? Fazer compras?

- Claro mãe. Agora realmente preciso ir.

Beijei sua bochecha e corri para meu carro, antes que ela me pegasse novamente.

O dia estava absurdamente lindo. O sol faiscava, mesmo que ainda fosse cedo, e o ar era um pouco carregado, úmido, talvez pela proximidade do mar. A eletricidade fazia meus cabelos ficarem um pouco arredios e minha pela começava a esquentar.

Eu entrei em meu courvette usado, meu presente de 16 anos, que eu havia ganhado a muito custo em muitos verões trabalhando com meu pai , e segui diretamente a escola .

A vegetação cobria cada espaço de acostamento, com arvores altas e frondosas, arvores que se alimentavam da brilhante luz do sol . O cheiro de maresia era quase tangível, eu poderia sentir seu gosto em minha boca. Era salgado e úmido. Por duas vezes, duas SVUS novinhas, cheias de garotos loiros e bronzeadas passaram ao meu redor, ambas muito perto uma da outra, os garotos gritando entre si pela janela. Surfistas, com certeza, aproveitando o lindo dia de sol. Eles deveriam ser mais velhos que eu , uns 19 ou 20 anos, e acho que não seria de nenhum problema se , os garotinhos ricos , perdessem um dia de aula para surfar.

Em pouco mais de dois quilômetros, eu havia chegado à escola. Era um prédio de arquitetura antiga, mas com certeza há pouco reformado e com algumas estruturas originais modificadas. , com grandes janelas de vidro em toda sua parte sul, deixando a luz do sol entrar pelas suas janelas.

Eu segui com meu carro para a parte leste, ao que indicava ser o estacionamento. Parecia mais um stand de carros novos para venda.

Muitos conversíveis, alguns BMWS.

Era uma opulência com a qual eu não estava acostumada. Parei meu carro na parte mais distante do estacionamento, tentando não ficar muito perto de nenhum Audi ou outro carro caríssimo. A apólice de seguros de meu pai provavelmente não cobriria uma colisão com um carro deste valor.

Sai do meu carro, peguei minha mochila e desci, meio que me escondendo , temendo o que eu fosse encontrar. Não que eu fosse tímida, longe disso .

Mas, eu estava apavorada. E então eu percebi que estava vivendo em um lugar que era como nos meus piores pesadelos.

Do lado esquerdo, reunidos em um M3, novinho, estavam reunidas umas 5 garotas. Todas lindas, todas bronzeadas. Magras e com corpos perfeitos. E todas envergando seu justo e impecável uniforme de líderes de torcida.

Girando em sua órbita, estavam vários garotos, altos, lindos, e rindo alto . As garotas faziam pequenas gracinhas entre si e os rapazes então tentavam chamar a sua atenção, como chimpanzés em um circo . Ridículo.

Um dos rapazes, talvez um dos mais altos, ao menos parecia mais discreto.

Conversava com uma loura oxigenada bronzeada, mas era discreto, um pouco mais sério. Estava apoiada na porta do motorista, a garota curvada em sua direção, e ambos riam baixinho. Era forte também, mas não como os outros, era talvez mais natural. Tinha os cabelos escuros e lisos, desalinhados ao vento. E não era tão bronzeado como os demais. Sem dúvida ele era o mais interessante do seu animado grupo, e eu não consegui desviar meus olhos. O sol brilhava em seu rosto, e iluminava seu sorriso, de dentes brancos e perfeitos. Como se sentisse o olhar de uma estranha o encarando – o que eu garantia que deveria ser muito normal para ele, atrair este tipo de olhares – ele me encarou.

Mesmo a distancia, eu percebi que seu olhar era curioso, como se ele tentasse descobrir quem era a garota que o estava encarando.

Provavelmente ele deveria estar tentando se lembrar se já devia ter quebrado seu coração, ou fazendo uma lista mental dos últimos encontros, eu supus.

De súbito fiquei com raiva e um pouco envergonhada, virei meu corpo e caminhei em direção a escola, sem nem olhar para traz.

Perguntei a uma garota á porta da escola onde ficava a secretaria e ela me indicou, primeira porta a direita, no final do corredor.

A secretaria era uma grande sala, moderna, com duas grandes mesas em forma de V.

Os computadores eram modernos, e era uma sala bastante acolhedora, troféus de diversos tamanhos em varias estantes, flores, e flâmulas, muitas flâmulas do time do colégio.

Sentada na primeira mesa a minha direita, estava uma senhora de uns quarenta e poucos anos, um pouco gordinha, mas sorridente e bonita. O cabelo talvez fosse loiro demais, e as unhas muito vermelhas, mas era uma pessoa agradável.

- Bom dia, sou Srta. Teague. No que posso lhe ajudar? – ele me disse.

- Oi, sou Nicolle Crystal, vim transferida de Seatle. Gostaria de pegar meu horário.

- Oh sim, bem vinda a Florida. Você vai amar o sol. E os garotos são lindos, srta. Crystal.

Ótimo. Eu não poderia pensar diferente. Muito bonitos. E Apenas isso.

Peguei meu horário entre as mãos e corri para a sala 1A.

Minha primeira aula seria de Inglês.

Entrei na sala com o coração aos pulos. O padrão era mais ou menos como eu havia visto no estacionamento, mas a sala era um pouco mais heterogênea agora.

As beldades bronzeadas ficavam um pouco no final da sala, junto com alguns caras altos e todos fortes. Todos lindos, todos muito bem vestidos.

Mas, o resto dos alunos parecia um pouco normais. Como os demais de minha antiga cidade. Havia alguns garotos de roupas largas e correntes na cintura, e outros mais simples, camisas pólo, calças jeans. Algumas garotas normais também. Acabei me sentindo um pouco mais reconfortada.

O professor, um senhor baixo, magro e de cabelos grisalhos muito curtos, olhou em minha direção. Assim como os demais na sala. Entreguei minha ficha de transferência para ele , e ele me recebeu com um sorriso .

- Srta. Crystal – disse uma voz um pouco rouca – Seu primeiro dia, transferida de Seatle, e pelo que eu vejo, boas notas . Seja bem vinda. Escolha uma cadeira.

- Obrigada – eu disse tentando disfarçar o nervosismo em minha voz.

Escolhi uma cadeira no segundo corredor a esquerda, próximo a janela. Era uma das poucas livres. Olhei a minha esquerda e uma pequena garota sorriu para mim , amigável. Era pequena, delicada, os cabelos castanhos caindo em pesados cachos pelas costas. Olhos grandes e também castanhos. Era impossível olhar para a garota e não sentir uma onda de amizade. Era estranho. Eu tinha vários amigos, mas era difícil sentir alguma empatia tão imediata por alguém. Eu não pude resistir e sorri em resposta.

Ouvi o professor começar a sua aula, e virei para prestar atenção. Iríamos estudar Jane Austen, e fiquei feliz, pois era uma de minhas autoras favoritas. Começaríamos por “Orgulho e Preconceito”.

Ótimo. O romance de Mr. Darcy e Elisabeth era irresistível e eu gostava do tema . Gostava de discutir os preconceitos na sociedade. E gostava da forma leve que ela discutia uma questão tão pesada.

Por enquanto meu primeiro dia não estava sendo tão terrível como eu imaginava.

Por enquanto.

Uma batida na porta me assustou. De súbito eu voltei minha atenção a uma alta figura, entrando pela porta, pedindo desculpas discretas ao professor pelo seu atraso. Sua voz era baixa, grave, mas muito clara.

E de novo estava ali, o garoto que eu tinha visto no estacionamento. Ele era mais alto agora que eu o via mais de perto. Sim, ele era forte, os músculos apareciam discretamente sob sua camiseta azul, simples, de algodão. Tinha um rosto muito bonito, um maxilar quadrado, lábios cheios e os olhos de um azul profundo, quase escuros, e muito brilhantes.

Ele passou perto de mim, lançando um olhar de relance em minha direção, Seus olhos encontraram os meus por um breve momento. Em seguida ele desviou seus olhos e seguiu para o final da sala, sentando-se junto com os garotos e garotas bronzeados que eu havia notado no inicio da aula.

Eu fiquei inquieta inesperadamente. Meu coração batia descompassado, e eu não entendia a razão. Pois não havia razão, absolutamente nenhum motivo por traz de meu súbito nervosismo.

Tentei prestar atenção novamente na aula, mas minha cabeça estava leve, sem direção. O tempo passou muito rápido e eu assustei quando ouvi o sinal tocar.

Tentei correr porta afora, quando encontrei a menina de cachos grossos do meu lado. Ela ainda sorria.

- Oi – uma voz delicada disse baixinho. – Prazer, meu nome é Danielle. Qual seu nome?

- Nicolle, Nicolle Crystal. Muito prazer!

- Qual sua próxima aula?

Peguei o papel que ainda estava guardado em minhas mãos e olhei.

- Biologia.

- Ótimo, é minha próxima aula também. Vamos, eu lhe mostro o caminho.

Assenti feliz, era muito fácil sentir um clima ameno perto de alguém como Danielle.

Juntei minhas coisas e a segui pelo corredor de nossa sala.

Quando de repente tudo aconteceu muito rápido.

Duas garotas bronzeadas passaram correndo em minha direção, nem se preocupando em diminuir o ritmo, rindo muito alto uma com a outra. Uma delas bateu em mim como se nem tivesse me visto. Meus livros caíram ao chão, em um baque surdo.

Com muita raiva , eu me abaixei para juntar minhas coisas .

Ia me levantar quando ouvi Danielle reclamar baixinho sobre a falta de
educação delas.

Mas levantei rápido, e acabei batendo de frente com uma alta figura azul. O choque me assustou, e meus livros caíram ao chão novamente. Quando novamente eu me abaixei, ele estava ali, o rosto próximo ao meu, pegando meus livros com uma mão. Levantou seus olhos e encontrou os meus novamente.

Eles eram profundos, intensos, e ainda me olhavam com curiosidade. Eu perdi meu senso por um minuto, olhando em seus olhos. Não percebi que a sala estava vazia, apenas Danielle ainda estava ao meu lado, e um outro garoto enorme, e loiro estava de pé ao nosso lado, olhando divertido para a situação.

De repente o garoto de olhos azuis pegou em meu braço, tentando me ajudar a levantar. Seu toque despretensioso, e casual acabou me assustando.

Sua mão era muito quente e macia. Um arrepiou percorreu pela minha espinha, minha pele queimou sobre seus dedos.

- Machuquei você? – ele perguntou com uma voz intensa, ainda olhando em meus olhos. – Você quer ajuda?

- Não, estou bem – respondi ainda desconcertada. Desviei de sua mão e me levantei meio cambaleante. Ele fez o mesmo e ficou em minha frente, ainda me olhando. Eu percebi que seus olhos desviaram dos meus em um breve instante, e ele me fitou da cabeça aos pés. Em seguida, seus olhos encontraram os meus e um leve sorriso estava em seus lábios.

Por que diabos ele estava me medindo de cima abaixo? Estava me comparando com as suas amigas, beldades loiras?

Devia ser por este motivo que sorria. A comparação não deve ter sido favorável a mim, e ele sorria com o modo que eu havia ficado desconcertada. Ele entregou meus livros, ainda com aquele sorriso nos lábios.

- Obrigada. – eu disse fechando meu cenho. Eu tentava esconder minha irritação, e minha voz deve ter parecido muito séria.

O sorriso morreu em seus lábios, e ele assentiu levemente com a cabeça em minha direção. Encontrou os olhos de leve com o garoto ao seu lado e ambos seguiam para a porta.

Antes, ele sorriu educado e cumprimentou Danielle. Era um sorriso gentil, como se a conhecessem a anos . Eu vi então sua alta figura saindo porta afora, junto com o garoto loiro. .

Meu coração ainda batia descompassado. Mas eu estava muito irritada, com ele, com sua avaliação jocosa a meu respeito, e comigo mesma. Eu não costumava ficar tão abobada por causa de alguém. Mesmo com alguém tão lindo.

Encontrei novamente os olhos de Danielle e ela me estudava com curiosidade, por traz de seu rosto gentil.

- Quem é ele? – eu não consegui deixar de perguntar.

- Henry S. Nicolls – ela disse séria, mas com uma voz um pouco divertida - Zagueiro de nosso time de futebol.

Zagueiro, um jogador de futebol? Pior ainda. Minha irritação sufocou-me por eu ter sido tão idiota, possivelmente com um dos mais esnobes astros do colégio. Um garoto popular, disputado por todas as garotas.

Eu não queria pensar mais nisso.

- Vamos para a aula? – eu perguntei a Danielle. Minha voz ainda era dura.
Danielle olhou para mim mais uma vez e agora ria baixinho. “Claro” ela disse.

A segui a nossa próxima aula, tentando não pensar mais uma vez em Henry Nicolls.

3 comentários:

  1. Começando a ler ^^'
    Adorando =D

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  2. estou a começar a ler e está a ser legal. Mas por amor de Deus eu nao qeria nada que ela ficasse com ele....

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  3. mas voce é que decide lol hhahaha eu ás veses posso ser idiota

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