Se eu achei que o começo da minha semana – aquela primeira longa semana na escola – havia sido estranha, eu não sabia o que estava por vir.
Meu humor piorava conforme as minhas horas de sono foram ficando a cada dia mais escassas. Eu quase não conseguia mais dormir.
Fechar os meus olhos era agora o maior de todos os sacrifícios. Meus pesadelos pioraram.
E muito.
Eu me via perdida, vagando por lugares que eu não conhecia na maioria das noites. E também, os sonhos com as jovens na fogueira e seus olhos agoniados que pediam a minha ajuda.
Era tudo muito estranho e amedrontador.
Eu tentava manter uma boa cara e um sorriso simpático, mas a verdade era que eu estava irritada com o mundo e eu me arrastava por sobre os meus pés. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo.
Medo, eu tinha muito medo. Medo pelo meu auto controle e sanidade.
Meus pais estavam preocupados comigo. Meu semblante taciturno deve ter
acendido algum sinal de alerta na cabeça deles. Eles me olhavam com olhos estranhos. Sempre tentavam me cercar de mimos, achando que a minha estranha reação era apenas por causa da mudança e de toda a confusão que eu estava vivendo.
Mas isso não era nem a ponta do iceberg.
Por isso que, na sexta feira, eu resolvi sair bem mais cedo de casa, tentando evitar mais um interrogatório ou as terapias de auto ajuda que minha mãe sempre inventava, para tentar levantar o astral de qualquer criatura que passasse em sua frente.
O que eu precisava era de um remédio para dormir.
Claro que seria humanamente impossível conseguir algo sendo menor de idade, mas eu iria tentar.
Eu cheguei muito cedo ao colégio e apenas poucos carros estavam estacionados. Ninguém da corja bronzeada ou do time de futebol á vista.
Era um bom sinal – pelo menos para mim.
Jéssica e suas asseclas não haviam me causado mal algum pelo resto da semana. Com certeza ela estava obedecendo fielmente às ordens de seu namorado mandão. Mas sempre que nós nos encontrávamos, nas aulas, nos corredores ou no almoço, ela me olhava com puro ódio brilhando em seus olhos. Eu sabia que deveria teria que manter minha guarda firme com ela. Uma metidinha maligna como ela sempre traz perigo aos que a cercam.
Quanto a Henry... Bom, após a nossa ultima conversa na aula de Prof.ª Charlotte nós solenemente ignorávamos um ao outro. Eu sabia que ele de alguma forma deve ter se sentido ofendido – e eu ainda estava muito irritada por ele ser o mandão de Jéssica, e o herói de capa e espada de nosso colégio.
Na maioria das vezes nós passávamos um pelo outro sem ao menos trocar um olhar. Quando eu estava com Dann ou alguma das meninas, ele apenas acenava sutilmente em minha direção – o senso da educação deveria estar presente ali em algum lugar.
Essa situação era completamente irritante e, com o meu mau humor nas alturas, apenas piorava meu já deteriorado estado de espírito.
Mas eu fazia o máximo para não deixar minha ira contra a humanindade transparecer, em minha aparência ou meus gestos, Eu ia mais arrumada para a escola, ria das piadas de meus novos amigos e tentava ser a mais gentil e diplomática possível.
Apesar da minha vontade de socar o mundo.
Dann muitas vezes me olhava de uma forma estranha também. As vezes parecia preocupada , as vezes ansiosa por algo. Ela também parecia um pouco estranha, alienada, sempre com a mente distante, o que estava provocando muitos comentários entre nossa pequena turma.
Mas apesar disso, a cada dia que eu a conhecia, eu tinha certeza que ela era uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido na vida. Tinha um coração e uma gentileza que eu ainda não tinha visto a não ser em meus pais.
Por estes motivos, eu resolvi que, apesar da minha decisão inicial, ainda não era o momento de tentar conversar com ela sobre meus problemas.
Não era uma boa forma de iniciar uma amizade.
“Sabe Danielle, eu tenho pesadelos horrorosos com bruxas, e na realidade eu me sinto meio doente e louca, e como você é uma bruxa, acho que pode me ajudar.”
Boa maneira de sedimentar uma amizade.
Por isso que eu corri para o laboratório de informática, fazendo barulho com meus sapatos Jimmy Choo novinhos. Um presente de minha mãe que tentava iluminar os meus mal fadados dias.
Um par de sapatos desses - impensáveis na minha antiga vida - realmente podiam melhorar um pouco qualquer mau humor.
Um pouco.
Escolhi um computador no fundo da sala, próximo a parede, e nem precisei tamborilar impaciente enquanto ele ligava. Aqui apenas maquinas novinhas com monitores de LCD.
Apenas o melhor para os reis de West Palm Beach.
Em apenas um segundo eu já abria a página do Google para iniciar a minha pesquisa.
Tranqüilizantes para dormir.
Uma infinidade de resultados para a minha busca apareceu em segundos.
Eu abri a primeira pagina da lista.
Ela indicava uma série de remédios para dormir, todos controlados e com todos aqueles avisos de perigo, e risco de dependência, e estas coisas.
Eu precisava arriscar.
Apesar de saber que era ilegal, eu era menor de idade e provavelmente meuis pais ficariam histéricos se soubessem. Não sem razão, mas minha situação era extrema.
Um deles prometia um sono de até 20 horas.
Era isso que eu precisava. Apenas não sabia ainda como conseguir um desses.
Quando eu me deparava com um numero de telefone que poderia ser um vendedor no mercado negro, o que já estava me deixando toda animada, uma suave voz, clara e gentil falou ao meu lado.
- O que é isso Nicolle? Algum estudo sobre todos os tranqüilizantes vendidos no continente estadunidense?
Eu quase pulei da cadeira ao perceber Danielle, sentada pacientemente do meu lado, com aquele sorriso complacente que ela sempre tinha.
Bem, quase sempre na realidade.
Eu apenas fiquei olhando para ela pateticamente, tentando entender como ela havia chego do meu lado, puxada uma cadeira tão silenciosamente que eu não havia notado a sua presença.
- O que é isso Dann? Alguma coisa de bruxas? Aparecer ao lado das pessoas desta maneira? – eu grasnei.
Ela apenas continuou me olhando.
- Vai responder a minha pergunta Nicolle? Que pesquisa bizarra é essa?
- Não é nada – eu tentei disfarçar. Apenas matando o tempo a toa.
- Não conheço ninguém que mate o tempo procurando pela internet listas de tranqüilizantes fortes o suficiente para derrubar um touro. O que esta acontecendo com você?
O que eu ia dizer a ela? Ah, sei a história da bruxa...
- Insônia – respondi.
Ela ainda continuava me olhando
- O que?
- Insônia – eu repeti tentando soar sincera – eu estou com insônia. Uma das feias. Não consigo dormir a quase uma semana.
- Desde que as suas aulas começaram aqui. – ela afirmou.
- Sim.
De repente ela se levantou e foi de encontro a linda janela de vidro que circundava todo o lado direito do laboratório de Informática. Ela ficou ali por vários e vários minutos . Eu sabia que o nosso sinal para a primeira aula iria tocar a qualquer momento. Eu não queria mais arrumar nenhuma confusão esta semana.
Desliguei o computador e estava começando a juntar as minhas coisas quando ela se virou para mim e ficou me olhando intensamente. Eu percebi que muitas vezes ela parecia muito mais velha do que seus 17 anos de vida. Normalmente, por ela ser tão pequena e delicada, ela parecia uma garotinha enfrentando o mundo.
Por uma fração de segundos ela parecia velha. Muito mais velha do que eu.
- Nicolle, há algo mais que você quer me contar?
Eu fiquei atônita.
- Além do meu distúrbio de sono?
- Sim.
- Não. – eu menti.
Ela veio em minha direção e segurou uma de minhas mãos. De repente eu senti uma onda de reconhecimento, amizade e gratidão. Foi estranho. Era como se eu a conhecesse a vida toda. Eu sabia que podia contar com ela. De alguma forma louca e estranha eu sabia disso.
Eu percebi que ela estava sentindo algo parecido. Amizade inundava de seus olhos, assim como preocupação.
- Você também anda estranha. - eu disse a ela.
Seus enormes olhos castanhos ficaram ainda maiores.
- Como assim?
- Eu não sei. Sei que nos conhecemos há apenas uma semana, mas você também parece estranha. Estranha e preocupada. Posso te ajudar?
O aperto em minha mão aumentou. Ela parecia a garotinha enfrentando o mundo novamente.
- Pode contar comigo – eu garanti a ela – Sei que não somos amigas a muito tempo, mas quero que saiba que pode contar comigo para o que você precisar.
Eu senti a verdade soando em minhas palavras. Eu acho que , nunca havia sentido uma amizade tão verdadeira em tão pouco tempo. Não sei, deve ser assim algumas vezes na vida quando encontramos pessoas que realmente são amigos de verdade.
- Eu sei – ela disse com uma vozinha suave – Eu sei que posso confiar em você.
Aquela estranha segurança em seus enormes olhos. Certo, eu já sabia que ela era estranha, mas ainda assim...
- Como você sabe? Como você pode ter tanta certeza sobre mim se me conhece a menos de uma semana Dann?
- Nada de mais – ela deu de ombros – apenas sou boa em julgar o caráter de alguém . E eu acho que sei o que pode te ajudar.
Ela estava tentando voltar o foco do assunto para mim. Eu iria morder a isca.
- O que? – perguntei.
- Shopping – ela respondeu com um tom fútil e despreocupado, que não condizia com o que eu conhecia até agora sobre ela. Mas a palavra era maravilhosa, para qualquer mulher. Eu devo ter ficado iluminada com a idéia, pois ela deu uma risadinha, segurou a minha mão e me arrastou porta afora, indo em direção ao corredor .
- Isso mesmo. Compras Nicolle. Depois da aula. Esta dentro?
- È. eu estou. Mas eu tenho a audição da turma de Teatro. – Com meu humor ruim, eu não sentia a menor vontade de encarar um palco.
O desgosto em minha voz era audível.
- Eu pensei que você gostasse de teatro.
- Não hoje - respondi taciturdamente.
Encontramos com Michel e Jack na porta da sala de Inglês. Não era a turma deles, e estranhei que eles estivessem ali para falar conosco e se atrasarem para sua aula. Michel logo puxou Dann para uma conversa absurda sobre um projeto de calculo que ele estava fazendo – o que não era nem um pouco a especialidade de Dann ou alguma de nós. Eu me vi sozinha, frente a frente com Jack, corado até a raiz dos cabelos loiros, com as mãos perdidas dentro dos bolsos das suas calças.
- Hey – eu disse, tentando parecer amistosa.
- Hey Nicolle, primeira semana completa! Isso merece uma comemoração.
Eu apenas fiquei olhando para ele. A única comemoração que eu queria era com a minha cama.
Ele esticou uma das mãos e levou em direção ao meu rosto.
Eu congelei.
Hesitante, ele tocou de leve uma mecha de meus cabelos e a prendeu em seu dedo, acariciando-a levemente. Seu rosto ainda estava vermelho – de uma forma fofa – mas eu percebi que algo se agitava dentro dele, alguma motivação escondida, ou sei lá o quê.
Seja lá o que fosse essa motivação, eu não queria saber. Não hoije, por favor, não hoje.
Ele respirou profundamente uma vez , e olhou bem dentro dos meus olhos . Eu podia ver expectativa e carinho dentro deles, mas de alguma forma, não era isso que eu queria. Não dessa forma.
- Nicolle – ele murmurou – nós poderíamos conversar?
Conversar sobre o quê? Eu estava apavorada.
Primeiro por que eu estava loucamente cansada. E segundo que esta ainda era a minha primeira semana neste colégio. Eu ainda não o conhecia, e não sabia se teria alguma garota loucamente ciumenta com raiva de mim por Jack querer conversar comigo. Eu não sabia se Dann, Hellen ou Julliet teriam algum interesse por ele. E além do mais...
Eu não pude completar minha linha de raciocínio. Subitamente uma alta figura estava ao meu lado.
Eu não havia percebido que eu e Jack estávamos parados bem no meio na porta da sala de Inglês. Eu sei que ele deveria ainda estar esperando uma resposta, quando Henry Nicolls se materializou bem em nossa frente , com os olhos duros e o maxilar travado. Seus olhos azuis – aqueles olhos azuis sempre intensos, literalmente crepitavam.
Instintivamente eu dei um passo atraz, saindo do toque de Jack.
Henry continuou apenas nos encarando por um tempo.
De repente , ele deu um passo a frente , ficando a centímetros de Jack. Os olhos de ambos se encontraram e pareciam que eles se avaliavam.
Foi Henry que tomou a iniciativa primeiro.
- Com licença, por favor. – ele pediu a voz dura e cortante.
Jack afastou alguns centímetros, o suficiente para Henry entrar na sala, sem olhar para nenhum de nós, mas ainda não o suficiente para que os ombros deles não se esbarrarem.
Garotos e seus malditos cromossomos Y.
A interrupção de Henry fez meu coração bater descompassado novamente, e eu aproveitei a deixa para fugir de Jack. O que quer que fosse que ele queria conversar comigo, seria mais tarde. Eu precisava pensar.
- Nos vemos na hora do almoço, Jack? – perguntei apressada, juntando toda a coragem para entrar na sala de aula.
- Ok – ele disse um pouco desanimado.
Eu entrei correndo e tomei o meu lugar. Não olhei para Henry, Dann, Jéssica, ou qualquer outra criatura viva. Eu estava irritada, anciosa, e acima de tudo cansada.
Não sei dizer ao certo o que se passava naquela aula, ou nas que vieram após essa. Eu estava entorpecida, esgotada. Só fui dar por mim, quando estava sentada na mesa do refeitório. Dann e as meninas estavam todas animadas sobre o nossas compras a tarde.
Só havia um problema. Minha aula de teatro. Isso sem contar no meu mau humor, que logo faria um estrago na minha vida social.
Pelo canto de meus olhos, avistei Jack, quase correndo em nosso encontro. Suas bochechas estavam vermelhas e ele, completamente excitado com alguma coisa.
- Vocês não sabem – ele começou, tomando fôlego de uma vez só – A Sra. Charlotte teve que resolver um problema urgente fora da cidade. Acabei de ver o carro dela saindo às pressas pelo estacionamento. Nada de aula para nós, Nicolle.
Ele deu uma piscadela para mim. Eu sorri um pouco e voltei ao meu sanduíche, pensando em como sair dessa agora.
Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado, espremendo Patrícia um pouco mais – se ainda fosse possível – no colo de Michel.
Dann e as meninas ficaram ainda mais empolgadas sobre a nossa saída a tarde , agora que eu tinha minha carta de alforria. Elas estavam fazendo cálculos complicados sobre quem iria com quem – porque , todos se espremiam entre os carros de Michel e Jack, tirando Dann , que voltava todas as tardes agora de carona comigo.
Jack puxou minha mão me forçando a olhar em sua direção.
- Nicolle, agora que temos a tarde livre, eu queria saber se você queria fazer alguma coisa – ele murmurou baixinho, aproveitando que todos estavam distraídos.
Oh meu Deus. Era isso então. Ele realmente me chamou para sair .
Não que eu não gostasse de Jack. Ele era todo fofo e alto e simplesmente uma gracinha, mas eu não estava interessada dessa forma nele.E eu estava gostando da minha turma , eu ainda nem sabia se alguma das garotas se interessava por ele ...
Como fugir dessa?Ah sim, dando uma de desentendida...
- Claro – eu respondi – estamos programando um passeio no shopping agora a tarde Jack. Todos nós. – eu dei uma ênfase na palavra.
Percebi que nossa conversa não era tão privada assim.
- Não, não – interrompeu Patrícia péla primeira vez com aquele carregado e doce sotaque de Ohio – somente garotas. Precisamos de algumas horas futilmente femininas. Nada de garotos – ela deu um tapinha no ombro de Michel.
Jack estava com aquele olhar – aquele que toda pessoa fica quando percebe que vai levar um fora. Eu não queria magoá-lo. Mas também não queria sair com ele, pelo menos não agora.
- Mas depois eles podem se encontrar conosco, não podem – interrompi. – Combinamos com eles no final da tarde e podemos todos comer algo juntos, o que vocês acham?
Eu dei um sorriso amigo para Jack, tentando não mostrar outra coisa para ele.
- Boa Seattle – continuou Paul, visivelmente tentando ajudar a moral de Jack - Podemos encontrar vocês lá pelas seis, certo Jack?
- Claro. As seis. Combinado meninas? – respondeu Jack, com a dignidade ainda intacta.
- Sim – pela primeira vez Dann entrou na conversa – Nos encontramos as seis. Você conhece um pouco West Palm, Nicolle?
- Pouco. Eu quase não saí após a mudança
Eu estava lutando contra o sono. Tentei fazer com que a minha voz não parecesse muito espessa e carregada.
- E o que você quer ver primeiro?
- Starbucks – respondi– preciso de um Brewed Coffe.
Todos riram. Eu não entendi o motivo.
- Boa Meredith - gargalhou Michel olhando diretamente para mim. – Saudades de casa, Seattle ?
Aquelas piadinhas sobre minha cidade natal estavam me fazendo perder minha pouca paciência. Eu tinha plena certeza que Patrícia ficaria furiosa se eu esmurrasse o namorado dela – isso sem contar que estragaria nossa tarde e o começo da minha vida social na Florida ...
Neste momento Dann saiu em meu socorro.
- Precisamos correr , pessoal , se não vamos perder a ultima aula. Nos encontramos no estacionamento as duas e meia .
Todos se dispersaram em poucos segundos.
Eu corri na direção de Dann e sussurrei um “Obrigado” pela interrupção dela, salvando-me de um ataque contra Michel.
As duas e meia nos encontramos no estacionamento do colégio, e ficou acertado que todas iríamos em meu carro. Enquanto andávamos em sua direção, uma agitação chamou a minha atenção.
Bem ao fundo , na direção do campo de treinamento, eu avistei todas as bronzeadas vagabas do colégio, em seus minusculos uniformes de animadora de torcidas literalmente em cima de varios garotos musculosos e sem camisa, os caras gargalhando e dando tapinhas na bunda das meninas e elas – claro – dando aqueles gritinhos tipicos que devem constar no manual “ Como ser vadia , guia pratico e ilustrado “.
Sim, eu estava de mau humor. Fique uma semana sem dormir e me diga o que você sente.
De pronto, percebi que eram os garotos do time de futebol , Os Lions , pois eu avistei Trevor, enorme e sem camisa , com duas garotas magrelas e peitudas praticamente pulando para cima dele .
Eles deviam ter terminando o treino de sexta a tarde.
Meu coração deu um salto. Nenhum sinal de Henry Nicolls.
O nome do time de futebol do colégio era horrível mesmo... Lions – Os reis da Flórida. O simbolo era um enorme leão, mas em duas pernas, absurdamente sarado , com uma juba dourada e uma corrente daquela que os rappers gostam , em forma de sifrão, de ouro e cravejada de diamantes em seu pescoço. Ele estava lá – o leão – por todos os lados, nas jaquetas dos garotos, nas flamulas do colégio, no uniforme das animadoras de torcida.
Ridículo. Era completamente ridículo.
Eu sentei no volante do meu carro, com a irritação a mil , enquanto as meninas se ajeitavam . Dann sentou ao meu lado, na frente, enquanto as meninas se apertavam atráz.
Dei graças que ao menos eu sempre matinha meu carro limpo e quase sempre livre de tranqueiras.
Quando eu pensava em arrancar com o carro, eu avistei um carro enorme, branco, uma SVU com certeza caríssima que eu nunca tinha visto antes, passar devagar pelo estacionamento.
Claro que eu nunca havia visto antes. Eu sempre passava pelo estacionamento como se andasse pelas brasas do inferno.
Eu nem percebi que Jack e os garotos se aproximavam de meu carro, pois eu queria saber quem era o motorista daquela coisa mosntruosa.
Dei um salto no meu banco quando Jack enfiou a cara pela janela aberta do meu carro e tocou – novamente – uma mecha de meus cabelos.
- Então nos vemos mais tarde Nicolle ?
Eu nem tive tempo de responder pois aquela coisa branca entrou novamente em minha linha de visão, desta vez passando bem devagar e eu consegui ver quem era o motorista.
Henry Nicolls dirigia aquele carro branco, sem nem olhar em minha direção, com o maxilar duro e uma cara de poucos amigos. Jéssica Smith, estava ao seu lado, e esta sim, deu aquele sorriso diabólico, olhando diretamente em meus olhos.
Finalmente meu mau humor foi a mil e eu queria socar qualquer coisa viva que minhas mãos pudesse alcançar. Meus dedos apertaram convulsivamente o pobre volante já muito usado de meu carro.
Ignorando Jack, eu virei rapidamente para Michel, que também estava debruçado na janela do passageiro pelo lado de fora , quase esmagando Dann em seu banco, para dar – mais um – beijo de despedida em Patrícia.
- Que carro é aquele ali ? – eu apontei para a direção do carro de Henry que, com um rounco potente começeva a ganhar velocidade e sair do colégio.
- Um Cadillac Escalade – ele suspirou – Caro, muito caro. E Seattle, você tem certeza que esse troço aí que você tem chega inteiro ao shopping ?
Aquilo foi a gota d’agua.
Eu não sabia se o motivo da minha irritação era ao fato de ser chamanda insistentemente de Seattle , ou a ele se referir ao meu carro como troço.
Talvez fosse ao fato do olhar vitorioso de Jéssica olhando diretamente para mim .
Mas eu sentia que iria explodir. Meu sangue pulava em minhas veias.
Subtamente tirei os dedos de Jack do meu cabelo. E olhei com toda a fúria para Michel.
- Este carro aqui , é um Cadillac Coupe DeVille, 1978 , um clássico muito bem conservado, e eu tive que ralar muito com meu pai para poder comprá-lo.
Minha irritação apenas subia, mesmo ao perceber que todos no carro – e os garotos fora dele – ficaram estáticos com o meu acesso de féria. E eu continuei em seguida, falando bem pausadamente.
- E, por favor: Não. Me. Chame. Mais. De. Seattle.
Michel me deu um olhar chocado, assim como Patrícia, Hellen e Julliet. Eu nem ousei olhar para Jack ou Paul, que estava ao seu lado, sempre quieto.
Foi Danielle que cortou o clima pesado em nossa turma, após o meu ataque contra Michel.
- Ok – ela disse suavemente – nunca fale mal do carro de uma mulher, ainda mais se ela esta com TPM. Entenderam garotos?
TPM sempre explicava qualquer mau humor feminino.
Após alguns segundos ainda de choque, eu percebi que Michel sorriu de leve.
- Ainda mais se essa garota esta com a sua namorada a bordo - ele continuou – Até mais tarde garotas.
Eu dei a chave no meu carro, respirei profundamente mais uma vez e segui em direção ao shopping, tentando limpar a minha mente de qualquer irritação.
Fosse ela causada por Michel Hernandez, aos meus distúrbios de sono e aos terríveis pesadelos, ou a Flórida e todas as líderes de torcidas da face da terra.
Ou, eu tinha que admitir a mim mesma, talvez a minha irritação fosse causada pela indiferença de Henry Nicolls.
OCA - Observatorio Conyuntural Antropológico de la ENAH, invita:
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