Os dezenove minutos que separavam a Rod. Beldevere a Rosemary Avenue passaram em menos de uma batida de coração.
Tentando me livrar de qualquer vestígio de meu humor ruim, pela primeira vez aproveitei a beleza de West Palm Beach, a ampla Rodovia Beldevere, seus coqueiros contrastando com a ampla paisagem que dava lugar ao sol incandescente da Flórida de meio de tarde.
A despeito das reclamações de Hellen e Patrícia sobre as suas escovas que ficariam inacreditavelmente perdidas e do quão ruim seus cabelos ficariam, abri bem os vidros de meu carro, sentindo a brisa quente que nos abraçava, e arrepiava os pelos da minha nuca.
Vida. Aquele caminho e a atmosfera festiva no meu carro me lembrava de nossa juventude e da cidade que pulsava a vida e agitação.
Patrícia, Hellen e Julliet cantavam a plenos pulmões, a música do Coldplay que tocava em meu player.
Eu me permiti esquecer de todos os meus problemas por apenas um segundo, e aproveitar o momento, a minha juventude e as minhas novas amigas.
Apesar de meus olhos estarem quase se fechando e do aperto na boca de meu estômago que se acentuava a cada milha que passávamos.
Hellen precisou gritar alto para que eu não perdesse o acesso pela Okeechobee Bopulevar, que nos levaria diretamente ao endereço do shopping Cityplace, nosso destino naquela tarde.
Mas algo estava errado.
Se eu tivesse prestado um pouco mais atenção, eu veria que os sinais estavam todos lá.
Os grandes olhos castanhos de Dann se agitavam a cada sombra de algum coqueiro ou a algum carro que nos ultrapassava.
Ela estava tensa, como uma pequena presa em uma caçada, esperando apenas o momento do ataque de seu predador.
Exatamente como eu me sentia.
Minha respiração estava acelerada e meu coração batia forte em minhas temporas. Eu sentia excitação e ansiedade por algo que poderia acontecer e nem eu mesma ainda sabia.
Foi então que chegamos a bela construção em estilo italiano, ao Cityplace. Pareia uma antiga villa européia, com uma enorme e linda cascata, e os pequenos prédios interligados, de tijolos rosados e sacadas.
Pareceria sim uma villa, se não fosse um enorme hotel Nicolls a esquerda, todo de vidro espelhado, com tantos andares que eu nem conseguia contar, e com todos aqueles carros maravilhosos estacionados em frente.
Parece que aquele nome me perseguia por onde quer que eu fosse: Nicolls.
O aperto em meu estômago começava a ficar mais forte, quando Dann me chamou a realidade.
- Ali Nicolle - ela indicou a um pequeno quiosque bem em frente aonde passávamos – ali esta o seu oásis.
Starbucks.
Eu quase nem consegui estacionar direito, quando um solícito e sarado manobrista correu em meu auxílio.
Será que todos os caras da Florida vinham com alguma mutação genética que os deixava assim, sempre prontos para arrancar a camisa e fazer qualquer garota suspirar?
Eu nem precisei terminar meu raciocínio quando vi que Hellen e Julliet eram todas sorrisos e agradecimentos ao manobrista gostoso.
Eu quase corri em direção ao pequeno quisque da Starbucks, quase implorando por um café.
Quando eu já estava no segundo copo do meu Brewed Coffe, eu percebi as garotas sentadas e rindo , olhando em minha direção.
- O que foi? Perguntei entre uma golada e outra.
- Eu sei que você não gosta do comentário, mas isso sim é típico de Seattle – Patrícia apontou para meu enorme copo de café.
- É eu sei – eu tive que aceitar, afinal de contas a Starbucks nasceu em Seattle. E eu tenho a plena certeza que meus pais colocavam pelo menos um pouco de café na minha mamadeira. Aquele gosto típico me fez se sentir ao menos por um segundo de volta a minha casa, a minha antiga e amada casa.
- Hey, chega de mostrar o quanto Nicolle Crystal é diferente garotas – eu disse numa voz bem amigável, vários decibéis acima do meu rotineiro tom taciturno – Vamos ao que interessa.
Elas me olharam de um jeito estranho.
Com certeza preocupadas com mais alguma demonstração de ódio á humanidade.
- O que? – perguntou Dann, arqueando uma sobrancelha?
- Compras – eu disse – Afinal vocês vão introduzir o estilo floridiano de se ter uma boa apologia ao consumismo à novata aqui, ou não?
Todas riram e se cumprimentaram do seu jeito típico, e por alguns segundos eu me senti bem novamente. Quase normal.
- Você esta com um humor melhor – observou Patrícia.
- TPM – garanti – um pouco de cafeína e alguns chocolates em minha corrente sangüínea e vocês verão o milagre perante seus olhos.
Elas riram e começaram a se dirigir a entrada principal do shopping.
Percebi um sorriso encorajador de Dann pelo canto dos meus olhos.
Apenas ela estava percebendo o quanto eu estava me esforçando para ter uma aparência um pouco normal aos olhos de qualquer pessoa.
Neste momento eu segurei o braço de Patrícia quando ela passou por mim.
- Pat, eu gostaria de me desculpar pela minha explosão com Michel.
- Wow, não se preocupe – ela carregou no sotaque enquanto dava um tapinha em meu braço – garotos são realmente irritantes. E depois, devemos ser unidas nesta fase difícil que passamos todos os meses, certo? Se eles passassem por isso apenas uma vez na vida, garanto que seriam mais cavalheiros.
Com a alma um pouco mais leve , seguimos em frente em nossa tarde de compras,
O novo emprego de meu pai e a nossa mudança para a Flórida trousse ao menos uma boa conseqüência. Agora tínhamos um pouco mais de dinheiro para pequenos luxos, como a TV nova de quarenta polegadas, um carro um pouco menos caindo aos pedaços para a minha mãe, uma casa mais espaçosa e com um jardim e o meu aumento de mesada, que me fez muito feliz ao poder comprar algumas coisas novas.
Acompanhei as garotas a por várias lojas, aproveitando algumas liquidações, e eu mesma me dei alguns presentes. Uma calça nova Gap – que sempre caíam muito bem em meus quadris largos – um vestidinho preto Armani, com rendinhas e muito feminino e uma sandália Nine West linda, fazendo um par perfeito, delicados.
Eu apenas não sabia qual ocasião que teria para usá-los. Mas uma liquidação pela metade do preço, enche os olhos de qualquer mulher.
Mas apesar do clima leve e aparentemente, de uma tarde entre amigas, algo lá no fundo ainda me incomodava. Eu ainda estava ansiosa e excitada e sempre buscava os olhos de Dann, que espelhavam a mesma expectativa que eu.
Cheias de compras e exaustas, sentamos em um café próximo a entrada, com uma linda vista para a fonte, agora toda iluminada, com jatos de água coloridos, em uma suave coreografia que deveria ser uma forma de dizer.
“Oh sim, estamos na Flòrida”.
As garotas estavam em êxtase, olhando para os rapazes, comentando sobre as roupas das garotas e das peruas ricas em sua tarde comum de compras.
Apesar de todos os meus problemas e daquele aperto na boca do estômago eu estava me divertindo muitíssimo, como há muito tempo – desde a noticia da minha mudança com os meus pais – eu não me divertia.
- Você tem um biquíni Nicolle? – perguntou Patrícia.
- Para falar a verdade não – eu sempre tinha certeza que eles não cairiam bem em mim, com meus quadris largos e meus seios grandes.
- Então acho melhor irmos atraz de um.
- Por quê? – a idéia de comprar um biquíni não me animava.
- Semana que vem temos o luau da Lua Cheia em Boca.
Luau? E em Boca Raton? Eu já conseguia vislumbrar Jéssica e todas as líderes de torcida nojentamente bronzeadas andando pela praia com biquínis mínimos completamente maravilhosas.
Não, muito obrigada.
- Eu não acho uma boa idéia.
- Por quê?- perguntou Hellen.
- Jéssica e suas asseclas estarão lá? – perguntei.
- Oh, é isso? – interbeio Dann – Não se preocupe normalmente elas ficam na lancha de Trevor junto com os jogadores, não teremos problemas com nenhuma delas.
- Certo – respondi.
- Mas acho que devemos esperar o Jack e os garotos para escolhermos o biquíni de Nicolle. Vai ser uma experiência e tanto para o garoto – comentou Patrícia, ás gargalhadas.
Eu quase engasguei com o refrigerante que estava tomando.
Hellen curvou uma de suas sobrancelhas.
- Oh, qual é Nicolle, você já deve ter percebido que o garoto anda caidinho por você. E finalmente!
“Ahã” as garotas assentiram.
- Não percebi nada – respondi laconicamente.
Vi que Julliet ficou toda animada com a idéia.
- Oh Nicolle, seria ótimo, e Jack é um fofo. Vocês ficariam perfeitos juntos.
Dann que apenas observava, entrou na conversa.
- Verdade Nicolle, ele é todo gentil e carinhoso. As garotas da turma de teatro desmaiam por ele.
- Como assim? – eu perguntei.
Patrícia deu apenas de ombros.
- Você nunca o viu sem camisa, não é? O garoto é muito bem definido com aquela história de luta romana. E além do mais tem os olhinhos de cachorrinho abandonado em dia de mudança, muito popular com as alunas da sala dele mesmo. Você vai ver.
- Mas Jack e nenhuma de vocês... – eu tentei argumentar.
- Oh não – cortou Dann com aquela sua suave risadinha – Nós ganhamos o Jack e Paul de brinde quando a Pat começou a namorar o Michel. Jack esta plenamente disponível e não temos outro casal por aqui...
- Tirando o chove-não-molha de Julliet e Paul – completou Hellen olhando de soslaio para Julliet.
A pobre garota ficou vermelha até as raízes do cabelo e afundou na cadeira, suspirando audivelmente.
“Oh” – falaram Hellen e Patrícia juntas.
A Miss Ohio caprichou no sotaque.
- Michel e eu já teremos vários garotinhos correndo por aí e estes dois ainda vão continuar nesta paixão platônica do tipo “Oh eu sou todo tímido”
- Vamos mudar de assunto, por favor – pediu Julliet, se afundando cada vez mais em sua cadeira.
Hellen avaliou a cara de piedade de Julliet e voltou os olhos para mim.
- O que nos leva novamente a Jack e Nicolle. O que nos faria realmente feliz.
Eu não queria voltar a esta conversa.
Ela avaliou a minha expressão por alguns segundos, antes de completar a queima roupa.
- Ou será que nossa nova amiga prefere altos atletas com intensos olhos azuis com síndrome de protetor dos fracos e oprimidos.
Desta vez eu realmente engasguei com o meu refrigerante.
- Há há acho que toquei em um ponto fraco aqui – continuou Hellen.
Eu dei de ombros e continuei a beber, forçando o canudinho em pequenas goladas.
- Henry Nicolls – complementou Patrícia – o nosso herdeiro milionário, gostoso, misterioso do tipo “eu- nunca - me – apaixonei - por ninguém”.Acho que você o conhece.
“Ai” suspirou Patrícia, Hellen e Julliet comicamente.
Será que elas ensaiavam muito para fazer isso?
- Eu ainda não sei do que vocês estão falando. Eu não estou interessada em ninguém. – respondi simplesmente.
Patrícia deu de ombros.
- O que é uma pena, porque com certeza estamos tendo alguma coisa interessante aí. Afinal a semana “Proteja Nicolle da vadia loira com a qual eu estou saindo” foi muito diferente. Já fazia algum tempo que não víamos ele ter uma recaída de herói sombrio de capa e espada. Da ultima vez foi com aquele menino do clube de xadrez que o Trevor estava pegando no pé, não foi?
- Ahã – confirmou Julliet.
- E olha que Trevor é o melhor amigo de Henry.
- Trevor é um idiota – murmurou Dann com alguma ferocidade.
Todas ficamos alguns segundos em silencio com a observação de Dann. Era estranho ver este tipo de raiva não contida nela.
- Mas estamos falando de Jéssica. - cortou Hellen com cara de nojo.
Todas elas torceram o nariz.
Patrícia concordou com a cabeça.
- Sim, ela é completamente vadia. Não sei como que ela conseguiu sair com o Henry Nicolls.
- Ela esta em cima dele há meses Pat – completou Hellen – nenhum garoto realmente agüenta, ainda mais aos dezoito anos e com todos aqueles hormônios sarados que devem compor aquele cara-delícia. Imagina como ela conseguiu ficar com ele...
Elas torceram o nariz novamente.
Eu estava começando a sentir aquela raiva borbulhando dentro de mim. Falar sobre Jéssica não era dos meus assuntos favoritos. E ainda por cima, com insinuações sexuais com Henry Nicolls... Argh.
- Só pode ser isso mesmo – concordou Patrícia – porque com certeza ele não esta apaixonado por ela. E ele não assumiu nenhum namoro sério.. Assim como as outras lideres de torcida que ele saiu, com nenhuma delas não passou de poucas semanas também. O que você acha Dann, já que o conheceu melhor que nós?
Ela olhou em minha direção e respondeu tranquilamente.
- Não, eu acho que ele realmente não esta apaixonado por ela. Até aonde eu sei, nenhuma garota realmente mexeu com ele.
Minha pulsação martelava tão alto em meus ouvidos que eu suspeitava que até elas pudessem estar ouvindo o barulho maluco errático do meu coração.
- Ate agora. – ela completou.
A droga do meu refrigerante havia terminando e eu estava querendo sair correndo com a desculpa de comprar outro. Esta conversa realmente estava me deixando nervosa.
- E não podemos esquecer que Jéssica quebrou o coração de Jack no primeiro ano.
- Oh verdade – observou Patrícia visivelmente chateada.
- Como assim? – perguntei.
- Eles saíram juntos, no primeiro ano. Claro, que é difícil deixar de notar um cara loiro, alto, gostoso e todo fofo como Jack. Ela saiu com ele às escondidas um dia, deixando o cara todo bobo por ela, e no dia seguinte fingiu que nem o conhecia. Ela riu dele com aquelas amigas ridículas dela, isso tudo na frente dele. Imagina como não ficou a moral do garoto.
- É assim que a nossa realeza faz mesmo. Eles gostam de ficar com a plebe as escondidas para no dia seguinte os humilhar – observou Dann com amargura na voz.
Aquilo me deixou alarmada. Era estranho ouvir aquela amargura na voz de Danielle, sempre toda gentil e delicada. Quem será que a havia magoado, e ainda em que intensidade para ela guardar esse rancor todo dentro de si.
Percebi que as meninas ficaram meio desconfortáveis com a observação de Dann, como se fosse um assunto delicado que elas não queriam – ou não podiam – falar. Rapidamente Dann caiu a si, e me puxou pela mão.
- Bom, agora chega de fofocas garotas. Preciso dar um pulinho na livraria e vou levar Nicolle comigo.
- Podemos ir com vocês – ofereceu Julliet.
Dann negou levemente com a cabeça.
- Nah. Vocês não vão gostar. Preciso ir na livraria esotérica do outro lado do shopping para uma pesquisa.
- Oh meu Deus. – gritou Patrícia.
Todas ficamos alarmadas.
- O que foi Pat? – Dann correu em sua direção tentando ver se ela estava passando mal ou algo do tipo.
- Não Nicolle – ela continuou dramaticamente – não deixe a sacerdotisa de Avalon devoradora de almas pegar você.
- O que? – eu perguntei.
Danielle revirou os olhos e começou a me puxar para longe delas.
- Ela vai torturar você Nicolle. Ela vai cantar mantras para você. Ou pior, vai te torturar com incensos.
- Ok, chega de ser ridícula – pediu Dann com uma risadinha, mas com os olhos sérios.
- Não, é verdade Nicolle – interveio Hellen – ela vai fazer você ouvir Enya e te arrastar por todas essas livrarias New Age que temos pela cidade.
- E uivar para a lua – completou Patrícia.
Foi Julliet que dessa vez revirou os olhos.
- Ela é uma bruxa Pat, e não um lobisomem.
As garotas estavam rindo a plenos pulmões agora. Dann estava toda envergonhada ao meu lado.
Hellen que continuou entre uma gargalhada e outra.
- Mas bruxas fazem alguma coisa para a lua, não fazem. Dançam a luz da lua ou algo do tipo?
- Fazem sim – respondeu Dann com uma leve irritação, mas ainda sim com a voz gentil – elas batem nas amigas impertinentes a luz da lua, se você quiser.
Essa afirmação foi o suficiente para todas caírem na gargalhada.
- Chega – ela continuou – daqui a alguns minutos voltamos. Vamos Nicolle.
Quando já estávamos um pouco afastadas das garotas , olhei para Dann , quem estava toda séria e ousei perguntar.
- O que foi isso? Essa reação das garotas?
- Liberdade. Isso é o nome disso. Temos pouco tempo agora somente entre nós com os garotos sempre ao nosso redor. Então quando temos algum momento “garotas” sempre alguma de nós se excede um pouquinho. Não se preocupe nenhuma de nós realmente liga quando é a vítima da gozação da vez..
Mas apesar de suas palavras, eu vi que ela estava aborrecida.
- Mas elas sabem que você é uma bruxa?
Ela deu de ombros.
- Sabem, mas não conhecem nada. Então normalmente elas não tocam muito no assunto, somente quando querem um floral, ou estão apaixonadas por algum garoto novo e querem saber de alguma magia para ficarem mais atraentes, este tipo de coisa.
- Isso não te incomoda?
- Nem um pouco. – então ela apontou para uma pequena livraria espelhada do outro lado do corredor – É ali.
- O que viemos procurar? – eu estava morrendo de curiosidade para saber o que a trazia ali.
- Livros sobre insônia. Ou você acha que eu iria deixar você completar aquela busca insana sobre remédios para dormir?
- Eu não ia...
Ela me olhou tão feio que eu não ousei terminar a minha frase. Era incrível como aquela garotinha era imponente as vezes.
Mas antes que eu pudesse ficar irritada com aquela reação, algo me atingiu. Meu aperto no peito ficou mais forte, era como se houvesse algo dentro da livraria que estava me atraindo, puxando-me para dentro.
Antes que eu pudesse olhar para Dann eu entrei.
Corri meus olhos pelo local, tentando sentir o que era que estava chamando a minha atenção. Eu não estava acostumada a estes tipos de coisas, e eu nem sequer acreditava nelas. Mas minha vida andava tão estranha nos últimos tempos, que eu tinha plena certeza que quase nada mais me surpreendia.
Quase.
Havia várias pessoas dentro da livraria, com roupas diferentes e coloridas, amuletos em seus pescoços, todas ao estilo new age.
Tinha música ambiente na livraria. Um lamento de gaita irlandesa chorava ao fundo.
Foi então que eu as vi.
Duas garotas olhavam intensamente em minha direção.
Elas deveriam ter a minha idade. Uma era baixinha como Dann, tinha cabelos curtos, lisos e repicados. Os olhos de um preto profundo, como um ônix. Seus olhos ardiam olhando em minha direção.
Tinha uma pele de uma clara cor de amêndoa. Ela usava um vestido preto, curto, de algodão, todo bordado.
A outra garota era ruiva, com os cabelos de um vermelho tão intenso que irradiavam uma luz própria, em ondas revoltadas, caindo até quase a sua cintura. Ela era mais alta, talvez até mais alta do que eu, e tinha uma pele de porcelana. Olhos verdes pálidos me olhavam com surpresa. Ela se vestida de forma mais simples, apenas um jeans e uma blusa de algodão branco.
Quando eu dei por mim, Dann estava ao meu lado, segurando um dos meus pulsos, sua pele repentinamente gelada.
Eu voltei os olhos para Dann e vi que ela estava branca como papel, os olhos imensos, e a respiração ofegante.
Foi então que eu vi, pendendo no pescoço das garotas, um pingente de prata parecido com o que Dann usava em seu pulso. Um circulo com uma meia lua de cada lado. Apenas eram mais trabalhados e pareciam mais antigos que o de Dann, uma prata envelhecida, mas muito bonitos.
Todos os pelos de meu corpo estavam arrepiados. Eu olhava para aquelas garotas, com reconhecimento, apesar de nunca te-las visto na minha vida. Era como um sonho esquecido.
Ficamos ali, as quatro, apenas nos olhando por um longo tempo.
Foi a garota de cabelos vermelhos que se aproximou de nós. Ela olhava intensamente para o pulso de Dann.
- Abençoada seja – ela disse a Dann.
- Abençoada seja – respondeu Dann, com a voz baixa como um murmúrio – Eu sou Danielle Owen. – então ela apontou para mim – E esta é minha amiga, Nicolle Crystal.
- Oi – eu acenei.
Ela olhou para mim por um longo tempo e depois continuou.
- Aideen – ela disse – Aideen Cotter. Sua amiga também segue o Caminho?
- Não – respondeu Dann – ela não segue o Caminho.
Eu percebi que a outra garota ainda nos observava com cautela. A garota ruiva – Aideen – acenou com a cabeça para ela. Ela arqueou uma das sobrancelhas e se aproximou.
Ela tinha um olhar um pouco petulante, altiva.
- Abençoadas sejam – ela disse, com sua voz tão altiva quanto o seu olhar. – Eu sou Estella Beltramo.
Foi então que eu percebi um suave sotaque italiano em sua voz.
- O que vocês buscam? – perguntou Aideen para Dann.
- Apenas fazendo uma pesquisa. Procuramos alguma coisa sobre distúrbios do sono.
- Oh – ela respondeu – você esta passando por algum problema? Já tentou alguma coisa em seu guia herbário?
- Não, é para a minha amiga, Nicolle. Estamos começando agora a tratar de seu problema.
- Oh.
Estella ainda nos encarava. Eu não entendia qual era daquela garota..
A garota ruiva desta vez olhou para mim.
- Há quanto tempo você vem tendo dificuldades para dormir? Você apenas não consegue desligar-se ou têm pesadelos também?
Era difícil conversar sobre este assunto, ainda mais com aquelas estranhas desconhecidas. Não que eu já não tivesse pessoas esquisitas na minha vida...
- Às vezes – respondi – mas o problema se intensificou há uma semana.
- Oh. – ela olhou então para Estella, que acentiu com a cabeça – Vou deixar o cartão do meu tio com você. Ele é psiquiatra, mas estuda principalmente distúrbios do sono e sonhos. Ele ficará por algum tempo na Flórida. Tenho certeza que ele pode ajudar vocês.
- De onde vocês são ? – perguntou Dann , visivelmente intrigada.
- Somos de New Hampishare.Eu moro com meu tio. Estella é minha prima e veio passar uma temporada conosco aqui na Flórida.
- Oh, entendo – respondeu Danielle, visivelmente intrigada.
- Precisamos ir Aideen – cortou Estella.
Ela entregou um pequeno cartão para mim.
- Procure-o, tenho certeza que ele poderá lhe ajudar. Tem o telefone de onde estamos hospedadas também, acaso precise, nos procure.
Eu sorri para ela. Instintivamente eu havia gostado da estranha garota de cabelos cor de fogo. O que eu não podia ainda dizer da morena, Estella.
- Obrigada.
Elas se inclinaram levemente em direção a Danielle.
- Abençoada seja. Que nossos caminhos se encontrem novamente.
- Abençoadas sejam – respondeu Danielle.
- Tchau – eu disse.
Estella continuou olhando para mim, de uma forma que estava me fazendo me sentir desconfortável. Eu me sentia uma espécie em estudo.
Ficamos olhando as duas partirem por alguns instantes. Então eu resolvi olhar para o pequeno cartão que eu segurava em minhas mãos. Era branco e simples, de um papel elegante.
Tinha apenas um nome escrito em uma letra preta.
Andrew Cotter – psiquiatra.
Eu sabia que conhecia aquele nome de algum lugar.
- Isso foi estranho. – eu garanti.
- Muito estranho.
- Elas são bruxas, não são?
Dann olhou para mim assustada, enquanto me puxava pára fora da livraria. Fosse o que quer que tivéssemos ido procurar lá, havíamos esquecido.
- Como você sabe? – ela sussurrou.
Eu dei de ombros. Os sinais estavam todos ali, não era muito difícil de imaginar, não é?
- Elas usam um colar que tem o mesmo símbolo da sua pulseira. E sem contar o jeito estranho delas, teve toda aquela coisa de “Abençoada seja” e “Caminho”.
Danielle sorriu.
- Nada te escapa, não é? E isso porque ainda você esta acabada pela sua falta de sono.
A menção a aquela situação fez novamente minha cabeça doer, de cansaço e preocupação.
- Mas foi estranho – eu afirmei, enquanto olhava o grande corredor a procura de nossos amigos – Foi o dejá vú mais estranho que eu já senti.
- Como assim?
- Eu tive a sensação que já as conhecia...
A expressão de choque cruzou o rosto de Danielle. Será que ela havia sentido o mesmo. Ela abriu seus lábios em um pequeno “Oh” enquanto tentava murmurar algo meio desconexo.
- Mas... você ... também?
Foi então, que eu avistei um garoto loiro correndo e acenando em nossa direção.
- Depois – eu garanti – Olha lá, ali estão Jack e nossos amigos.
Ela ficou me olhando ainda por algum tempo, enquanto Jack se aproximava de nós.
Tínhamos apenas mais alguns segundos sozinhas, e por algum motivo eu tinha certeza que aquele encontro esquisito, deveria ser mantido segredo do resto de nossa turma.
Ela então segurou meu braço.
- Mas Nicolle, eu vou descobrir algo para ajudar você a dormir novamente. Eu prometo.
Eu não duvidava daquela promessa.
Eu sorri enquanto acenava para Jack. Apesar de toda a situação absurda que eu estava vivendo, eu sabia que havia ganho um presente do destino.
A amizade de Danielle e de sua turma.
Apesar ainda da minha vontade de correr para o Aeroporto e sair correndo da Flòrida.
OCA - Observatorio Conyuntural Antropológico de la ENAH, invita:
-
El Observatorio Coyuntural te invita a la sesión 6️⃣ del Seminario:
“Panorama contemporáneo de la violencia contra las mujeres. Diálogos
feministas para ...
Há um mês
Ah, que legal o seu blog. Procurei tanto blogs como o seu e como o meu. Gostei muito de como você escreve, é bastante atraente para quem lê. Parabéns. Bom, te convido a visitar o meu POET (Pages Of Erased Text) http://pagesoferasedtext.blogspot.com/. De lá você pode ir ao “Illegitimate” novel. Espero que goste. Parabéns pelo blog. Cuide-se.
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