domingo, 29 de março de 2009

Cap. 2 - Os Reis de West Palm Beach

Quando meus pais anunciaram que iríamos nos mudar para a Flórida, eu poderia jurar que teria uma aneurisma, naquele exato momento, terminando minha curta jornada aos 17 anos.

Mas eu não tive uma aneurisma. Porque no fundo da minha mente, eu conseguia pensar em alguma cidade como Orlando ou Miami.
Não é tão ruim ficar próximo a Disney, ou á pessoas de vários lugares do mundo. Eu sabia que não me sentiria tão deslocada, se estivesse cercada por estrangeiros e golfinhos, mesmo com aquele monte de sol e coisas estranhas que eu sabia que iria encontrar por toda a costa, eu sabia que poderia ficar bem. Quem não gosta de golfinhos?

Nem em meus mais terríveis pesadelos, eu conseguia imaginar na realidade para aonde iríamos.
West Palm Beach.

Eu não consegui acreditar que de todos os lugares que meu pai poderia escolher para um novo emprego, ele escolheria logo a cidade dos sonhos da costa dourada. Eu sei, na realidade não é todo o dia que você recebe o convite para trabalhar em um conglomerado de hotéis e tudo o mais. Mesmo assim, o que eu poderia dizer ou fazer sobre isso?

Tudo o que eu sabia daquela cidade era que era milionária, conhecida por hotéis de luxo por todos os lados e que eu iria torrar ao sol e ser apedrejada por gente rica , muita gente rica. Eu chorei até meus olhos quererem pular de suas órbitas por noites e noites. Mas eu não deixava meus pais verem o surto trágico e adolescente acontecendo dentro de sua própria casa. Eu ainda tinha algum certo nível de orgulho.

A única pessoa que conhecia cada pedaço de minha pequena tragédia particular era Becca, minha amiga desde o jardim de infância. Havíamos crescido juntas, passado por todas as cruéis fases da transição da infância para a adolescência - que a mim se resumia em ter de repente seios enormes e a alguns pequenos desastres em encontros maus sucedidos.

Acredite você também já deve ter passado por isso. Encontros ruins devem acontecer a todos na face da terra, desde o primeiro hormônio que salta por seu corpo fazendo você se interessar pelo sexo oposto ao seu ultimo suspiro.

Era isso que minha amiga dizia a mim todos os dias.

Mas, nem Becca conseguia me ajudar nesta terrível transição para a terra dos milionários.

Minha mãe tentava a todo custo me mostrar como eu seria feliz em nossa nova cidade.

Mostrou-me vários projetos de um tal Departamento de Educação Multicultural , já que Palm Beach era como um pólo educacional ou algo assim. Visitávamos sites todas as noites, enquanto Becca e minha mãe discutiam sobre projetos de escolas. Eu sabia que minha mãe , tendo o apoio de minha melhor amiga , tinha uma vaga idéia de conseguiria me convencer sobre qualquer coisa. Mas elas sabiam que não funcionava assim.

Mas com o passar das semanas, desisti de fazer o papel de virgem no altar do sacrifício e decidi entrar na dança.

Preparei a documentação junto com a minha mãe tentei não surtar e quebrar toda a casa quando eu soube que escola tinha me aceito: West Palm King´s High School.

O que esperar de um colégio que tem no nome os Reis de West Palm?

Essa pergunta me assombrou por varias e varias noites enquanto arrumava as minhas malas, encaixotando as minhas coisas e a minha vida , toda uma vida para traz que eu estava deixando . Amigos, lembranças, lugares, toda uma história.

O que mais me assustava não era deixar meu passado para traz , e sim , o futuro que eu estaria enfrentando daqui para frente . Eu não estava acostumada a opulência.

Vivi toda a minha vida com o modesto salário de meus pais, com a nossa socidade , e eu sabia que tinha que lutar e muito para conseguir as coisas quie eu sonhava em conquistar . Simples assim.

Mas enfrentei de cabeça erguida as despedidas, a saudades de meus amigos , e as três milhas que separavam o Aeroporto Internacional de Palm Beach da minha nova casa e minha nova vida . Fiquei cerca de uma semana em casa , enquanto tudo era preparado , já que a minha entrada na escola da realeza aconteceu graças a nova posição de meu pai e aos seus contatos em seu novo emprego .

Afinal, era muito difícil conseguir uma vaga, ainda mais com o semestre em andamento.

Então aqui estava eu, neste exato momento, andando pelos corredores da realeza com Danielle.

Seus delicados olhos castanhos brilhavam de excitação com as novidades que ela me mostrava .

Em segundos eu fiquei sabendo que quem comandava a escola era a loira insuportável que eu havia visto no estacionamento. Jéssica Smith, filha de um poderoso empresário do ramo de entretenimentos em Boca Raton. Rica, muito rica e juntamente com as suas amiguinhas bronzeadas tinha o poder de vida ou morte social com o corpo estudantil. E com os garotos. “Deus, como elas são poderosas” , Danielle exclamou com exasperação.

Os outros caras, que eu havia visto no estacionamento e antes na aula de Inglês também formavam a nata da sociedade. Todos eram filhos de homens muito poderosos e herdeiros de absurdas fortunas.

- O loiro enorme que estava com Henry agora a pouco, é Trevor Thonsom. Ele é um idiota. Completamente. - Danielle continuou, com uma mágoa não camuflada, que eu fiquei me perguntando de onde que surgia. - O pai dele é dono de uma empresa que constrói barcos, iates, lanchas... Você verá muitas embarcações Thonsom por toda a costa. Ele é um Running Back do Lions, nosso time de futebol. Idiota.

- E o outro garoto - eu perguntei tentando parecer indiferente - o que me ajudou na sala. Henry, certo?

Oh era ótimo ser blasé. Mas o sorriso de Danielle demonstrou que eu não havia feito um trabalho muito bom.

- Henry é outro assunto. - ela respondeu com um sorriso tranqüilo no rosto. - Ele é provavelmente o mais rico entre todos. A família Nicolls é muito poderosa, seu pai é dono dos maiores e mais fabulosos hotéis de toda a costa. Dinheiro, muito dinheiro. Mas Henry é um cara legal. É tranqüilo, muito discreto e provavelmente você nunca irá ve-lo em nenhuma situação idiota como os outros ursos amigos dele. Bom, quase nenhuma idiotice...

Eu notei que neste ponto seu sorriso sumiu um pouco do rosto e ela mostrou a língua como uma criança pequena. Eu apenas continuei olhando para ela , tentando não demonstrar - mais - o interesse que eu estava tendo neste ponto da história .

- Ele esta saindo com a Jéssica - ela continuou com reprovação - Não que eles estejam namorando sério ou nada disso. Mas ela age como se fosse a própria Sra. Nicolls. E olha Henry não gosta deste tipo de coisa. Ele não fica esfregando em nossa cara o quão rico ele é. Pelo contrário. Eu não sei até quando ele vai aturá-la , mas sabe como são os homens . Mulheres muito bonitas como ela conseguem mesmo esse tipo de coisas...

- Você fala como se o conhecesse realmente bem, Danielle. - eu afirmei.

Nesta altura, já estávamos na nossa aula de Biologia e eu garanto, se naquele momento o Sr. Foster - era esse o nome de nosso professor de Biologia , bom ao menos é o que eu acho ... - me fizesse qualquer pergunta sobre mutações genéticas, eu poderia citar Jéssica e toda a sua corja bronzeada.


- Minha mãe é muito amiga da mãe dele. Eu o conheço desde criança. Fomos muito amigos no passado.

- E o que aconteceu?

- Apenas nos afastamos no decorrer dos anos. Eu não gosto muito dos amigos dele e cada um de nós tem a sua própria estrada. Mas isso não quer dizer que ele não seja um cara muito, mas muito legal.

Eu fiquei olhando mais alguns momentos para Danielle. Ela era aquele tipo de garota que você pode confiar em trinta segundos e continuar assim pelo resto da vida. Seus olhos eram limpos claros, do tipo que mostravam a alma.

E ela não estava me contando todas estas histórias como uma fofoqueira.

Mas havia algo que ela estava me escondendo.

Bem, diabos, eu conheço a garota há umas duas horas e quero saber seus segredos mais íntimos? Ótimo, continue assim Nicolle e você fará muitos amigos novos na Flórida.

Vendo que eu não respondia, ela deu um daqueles seus enormes sorrisos e deu um tapinha confortável em minha mão.

- Hey, não se preocupe, não são todos maus por aqui. Existem pessoas normais. Na hora do almoço eu vou te apresentar alguns amigos que tenho certeza que você vai gostar. .

O refeitório no colégio dos reis de West Palm era diferente do meu antigo refeitório em Seatle.

Para começar, eu poderia jurar que estava em um SPA ou algo do tipo . A sala era grande, e suas paredes todas de vidro, mas revestidas de uma forma que fosse iluminado, mas que ninguém torrasse com o sol em seus olhos .

As cadeiras e mesas eram todas feitas de uma armação de vime sintético e ferro, que eu havia visto uma vez em uma revista de decoração chique de minha mãe. Todas redondas e com seis cadeiras, eram espaçosas, impecáveis.

Assim como o chão, de um piso limpissimo que eu só poderia dizer que era algum tipo de mármore caro, mas bem caro. Tínhamos som ambiente, sistema de refrigeração, máquinas de sucos, refrigerantes, e muitas, mas muitas outras coisas que eu ainda não tinha conseguido identificar... Era tanta coisa para se olhar .

Danielle me levou até uma mesa um pouco afastada da porta, aonde umas seis pessoas a chamavam com sorrisinhos e acenos.

Hora de ser gentil Nicolle. Eu coloquei meu mais simples e quente sorriso no rosto.

Eram três garotos e três garotas, todos sorridentes e tinham a mesma forma simples e gentil de Danielle.

Percebi que não eram nerds nem milionários, apenas pessoas normais , com rostos agradáveis e bonitos .

- Hey pessoal, essa é Nicolle. Ela acabou de chegar de Seattle.

- Nicolle, sente-se aqui. - disse um fofo garoto alto e loiro de cabelos espetados, puxando uma cadeira ao seu lado.

Agradeci e sentei, respondendo com um sorrido.

- Vamos lá, vou te apresentar ao time - continou Danielle, sentando-se ao meu lado. - O gentleman loiro aqui è Jack - ela apontou para o rapaz fofo . - Estes aqui são Paul e Michel, e provavelmente eles serão os novos pais do Google do futuro.

- Oi! - eles responderam juntos - Bem vinda Seattle!

Eles eram bonitos também, não tão altos, mas não eram baixos, e eram fofos. Paul era ruivo e cheio de sardas . Michel tinha uma pele morena, latina, muito bonita.

Então ela apontou para as garotas, que me olhavam com curiosidade.

- Time feminino, se apresentar - ela continuou rindo - Vamos lá garotas. Estas aqui, Nicolle, são Patrícia, Hellen e Juliet. Patrícia nossa Miss Ohio, toda morena, Hellen e Juliet nossas beldades loiras com alguma coisa no cérebro.

Elas riram e deram as mãos em alguma forma de comprimento que eu ainda não estava apta a entender.

- Olá pessoal! - eu respondi com a minha mais empolgada voz, vários decibéis acima.

- Seattle, qual a primeira impressão junto a realeza? - Perguntou Michel em um tom debochado.

- O nome dela é Nicolle, Michel - cortou Jack. Ele tinha uma voz firme , agradável.

- Pois que seja. Diga Nicolle, primeiras impressões. Agora.

Eles riram. Eu respirei profundamente e achei que era hora de mostrar um pouquinho da minha velha eu.

- Tirando o fato que eu ainda acho que estamos na realidade em um SPA, que todos são muito ricos e eu estou com medo que peçam o numero do meu cartão de crédito na porta de cada sala e que eu acho que vou ter que aumentar meu protetor solar para um fator 100 , acho que esta tudo ótimo.

Todos me olharam por um longo instante, um silencio constrangedor. Quando eu pensei que já poderia me esconder embaixo da mesa, pois sarcasmo não era bem apreciado em um roda nova de pessoas , eles explodiram em gargalhadas.

- Whoa Dann - cortou a Miss Ohio com uma voz infantil muito divertida - Aonde você encontrou essa aí? Bem vinda ao time Seattle. - ela colocou o punho em minha direção, naquele estranho comprimento que eu tentei imitar, tentando não soar muito patética.

E assim, em pouco mais de alguns minutos eu já estava integrada ao time da Danielle.

As garotas era todas muito bonitas, mesmo Juliet que era baixinha como Danielle, mas era um pouco mais gordinha, com bochechas redondinhas e vermelhas. Hellen era toda loira e alta e poderia facilmente estar na corja das beldades milionárias, se ela não tivesse a língua tão ferina e se sua mãe não fosse recepcionista de um dos hotéis Nicolls.

Michel e Patrícia eram um casal . Daqueles de comerciais de cereal, todos sorridentes e carinhosos um com o outro. Era agradável de se olhar.

Jack, como eu imaginei era todo gentil e estava cheio de sorrisos ao se oferecer para ir comigo pegar os nossos almoços.

Agora sim, eu tinha absoluta certeza que estávamos em um SPA.

O menu tinha vários tipos de lanches e saladas naturais, frutas, todas cortadas e frescas, sucos, pãezinhos cheios de grãos. Eu peguei tudo àquilo que achei mais colorido e bonito e segui com Jack de volta a mesa. Ele me apontava algumas pessoas que deveria conhecer as que eu deveria evitar, e tentava me colocar a par , como Danielle havia feito , sobre a composição Real do colégio. Era também muito fácil e divertido ficar com ele.

De repente, um pouco a minha esquerda eu ouvi uma voz esganiçada gritando.

- O que você pensa que você é , para dar qualquer opinião sobre a festa de sábado ou qualquer outra coisa, sua monstrinha ?

Eu me virei e vi que era Jéssica, gritando com uma menina delicada, de traços orientais e muito bonita. Ela se encolhia perante os gritos de Jéssica e de suas amigas bronzeadas que riam da humilhação da pobre garota, com os olhos marejados e as bochechas de um vermelho vivo.

- Escuta aqui, Bea - Jéssica continuava. Oh Deus, que vozinha insuportável, toda esganiçada e puxando as ultimas vogais. - Se eu te aturo é porquê o seu pai é muito amigo do meu , mas isso não quer dizer que você seja alguma coisa . Seu pai trabalha para o meu, sendo de confiança ou não. Você não tem direito a opiniões. Para mim, você faz parte de nossa folha de pagamento.

As outras garotas gargalhavam cada vez mais alto, enquanto a menina ficava cada vez menor , envergonhada.

- Agora larga de ser uma vadia total, Bea, e vá buscar o meu almoço.

A garota fungou profundamente, limpou algumas lagrimas com a manga de sua jaqueta e se voltava na direção da fila do almoço.

Essa cena acendeu alguma coisa dentro de mim. Como alguém poderia tratar outra pessoa desta forma? E como alguém aceitava ser tratada assim?

Sem que eu tivesse consciência do meu imbecil impulso, eu segui para aonde a cena se desenrolava.

- Whow - eu gritei, apontando para a garota humilhada - A escravidão neste país acabou há muitos e muitos anos, e até aonde eu tenho conhecimento a liberdade de expressão é livre neste país. Ensinam isso no colégio, sabem? Bom, a não ser que o excesso de bronzeamento artificial confunda a mente das pessoas e façam elas acharem que podem tratar outro ser humano como lixo.

De repente todas ficaram em silêncio. Eu poderia jurar que todo o refeitório, quem sabe toda a escola estava em silêncio. Eu conseguia ouvir apenas algumas respirações entrecortadas e o soluço da garotinha oriental aumentou.

Olhei nos olhos de Jéssica, e eles cintilavam um verde tão profundo e assustador que eu por um segundo encolhi. Sua boca estava franzida, as narinas infladas.

Naquele momento ela não parecia nada, mas nada bonita mesmo.

- O que? - ela perguntou em um tom, frio, gélido, como se ela estivesse olhando para um ratinho de laboratório.

Eu senti uma mão se apertando convulsivamente em meu braço , e percebi que era Jack . Ele parecia um pouco assustado e em segundos percebi que Danielle e seus outros amigos tinham corrido e estavam ao meu redor. Eles tentavam me levar de volta ao meu lugar. Apenas Danielle olhava Jéssica de frente e eu percebi que ela me apoiaria na imbecilidade que eu estava cometendo.

Eu inflei um pouco mais o meu peito, e tentei responder com a minha voz mais calma.

- Isso mesmo que você ouviu - eu repliquei - Seres humanos não tratam outros seres humanos assim. Não importa o quão cheio de dinheiros seus traseiros sejam.

Oh meu Deus, o que eu estava fazendo?

A minha resposta deve ter provocado mais emoções dentro daquela megera bronzeada do eu poderia supor. Ela voou em minha direção, fazendo em sentir um cheiro de perfume caro e enjoativo vindo do conjuntinho rosa de saia e um cardigã combinando que ela usava.

- Quem é você novata, e o que pensa que esta fazendo junto com esse bando de lixo que esta do seu lado. Você tem noção de com quem você esta falando?

- Prazer, meu nome é Nicolle Crystal - eu respondi taciturdamente e percebi que a qualquer minuto eu poderia voar no pescoço daquela metida. - E eu não estou com um bando de lixo. Estou com amigos, pessoas muito, mas muito mais evoluídas do que você, nesta sua pequena escala evolutiva. Bom, ao menos que acho que você deve saber sobre o que estou falando, quem sabe...

Eu ouvi umas duas risadinhas abafadas. A sala estava tensa e era possível ouvir o som de uma mosca que cruzava o refeitório.

- Você é um lixo, sua ridícula - ela ameaçou, agora aos berros - E agora você esta morta.

Eu me preparei ao perceber que o bando de megeras lideradas por Jéssica se aproximava de mim e percebi que Danielle e as outras meninas também se preparavam para uma briga. Feio, muito feio. Isso ia ser realmente feio.

Eu vi que ela voava em minha direção com a mão estendida, do jeito que você faz quando vai espantar uma mosca que esta lhe incomodando.
Eu me preparei. Eu sabia muito bem dar um soco ou dois.

Quando de repente uma voz grossa e muito, mas muito irritada cortou toda a direção.

- O que é que esta acontecendo aqui?

Eu virei meu rosto e um frio na espinha me atingiu. Era o garoto de olhos azuis. Henry.

Ele se dirigia como um deus em nossa direção, e vários garotos enormes o seguiam. O loiro que Danielle odiava estava ao seu lado.

Ele era tão alto, tão bonito e eu percebi que seu maxilar estava travado, mas ele mantinha uma voz baixa, grossa e cortante. Ele olhou em meus olhos por alguns segundos e eu vi que algo se acalmou dentro dele. Rapidamente essa sensação acabou e lá estava o deus de volta em seus olhos, enquanto ele olhava para Jéssica.

- Vamos Jéssica - ele perguntou novamente, a agarrando pelo pulso, a fazendo encarar ele - Eu ouvi seus gritos do outro lado do pátio. O que esta acontecendo aqui.

- Essa vaca cafona, essa novata idiota estava me afrontando.

Inacreditável. Ela mudou a sua voz para de uma menininha que retrucava com seu pai, pedindo por proteção. Eu quase podia ouvir lagrimas em sua voz.

Ela fungou fingidamente e escondeu seu rosto no peito de Henry.

- O que? - eu retornei.

- Vamos lá garotas. Digam para o papai aqui o que esta acontecendo - O grande urso loiro perguntou entre risadas, enquanto afagava seu abdômen muito sarado, que mesmo sobre a camiseta era visível.

Henry olhou em sua direção e colocou uma mãe para frente, o impedindo de continuar. O cara era muito mais alto que Henry, mas eu vi que ele o respeitou imediatamente, e até seu sorriso morreu um pouco nos olhos. Não foi uma atitude arrogante nem violente, mas Henry emanava uma força e um magnetismo tão grande que era impossível resistir ao comando dele .

Não era algo ruim. Era como... Como algo... Justo. Como se as pessoas de repente esperavam justiça de seu comando.

- Vamos Jéssica, conte o que esta acontecendo aqui. - ele continuou segurando com forma seu queixo, a fazendo olhar em seus olhos. Não era violento, apenas ele era tão seguro de si. Meu corpo se contorceu de inveja daquele toque.

Oh, minha nossa, como eu queria sair correndo daqui neste exato momento.

- Ela... - ela apontou em minha direção em um grande soluço - completamente fingido.

Ele olhou para mim por mais um longo segundo. O mais longo da minha vida. Algo se agitou dentro de mim e eu percebi que seus olhos se tornaram quente. Eu poderia estar maluca, mas percebi que algo também se agitava dentro daqueles olhos severos.

- Não foi nada disso - cortou Danielle, vendo que precisava cortar aquele olhar entre nós naquele momento. - A sua princesinha loira aí, Henry, estava humilhando Bea. Nicolle apenas correu em sua direção. Ela disse uma ou duas palavrinhas muito sinceras de como uma vaca metida não pode tratar outro ser humano como lixo.

De repente Danielle parecia até alguns centímetros mais alta do que seus míseros 1,50m.

- Isso é verdade Bea? - ele tirou seus olhos dos meus , com o que eu acreditei ser alguma dificuldade , e olhou na direção da garota humilhada, que naquele momento eu jurava , queria se esconder mais para as profundezas da terra do que eu.

Ela apenas se encolheu um pouco, seus olhos fitavam o chão, e suas bochechas ficaram mais e mais vermelhas. Um choro baixinho saiu de dentro do seu peito.

- Isso é tudo o que eu precisava saber. - ele apertou ainda mais o pulso de Jéssica - Vamos, precisamos trocar uma ou duas palavrinhas sobre essa sua atitude Jéssica. Você não é a rainha do mundo, embora você pense que seja.

Então ele se virou para as amigas bronzeadas de Jéssica, que haviam perdido aquele sem tom majestoso de minutos antes.

- E vocês procurem outra coisa para fazer. - neste mesmo instante, ele olhou novamente para mim e para Danielle.

- Me desculpem por toda esta confusão. Desculpas Dann - ele disse dando um sorriso envergonhado para minha amiga - E quanto a você Nicolle, eu não gostaria que esta tivesse sido sua primeira impressão do colégio. Desculpe-me.

Seus olhos ainda era intensos e eu senti uma mão de repente se apertando convulsivamente em meu braço. Eu havia esquecido de Jack, dos amigos de Danielle e de todo o resto do colégio.

- Você vai acreditar nessa va... - Jéssica tentou reagir sem sucesso.

- Chega Jéssica. - ele cortou. Já chega. Temos muito que conversar. E depois você terá que ter uma conversa com Bea também.

Ele puxou Jéssica pelos pulsos e dirigiu um ultimo olhar em minha direção.

Eu vi que Danielle sorriu tranqüila, como se ela esperasse esse tipo de atitude dele. Os nossos outros amigos relaxaram vendo Jéssica sendo puxada por Henry, suas amigas nojentas sumindo como vento pelos quatro cantos do refeitório e os grandalhões indo fazer qualquer outra coisa de suas vidas.

Antes de sair , Jéssica olhou em minha direção, e seus lábios pronunciaram palavras sem som, mas muito fáceis de serem distintas .

“Você esta morta.”, eles diziam.

A garota, Bea, saiu correndo sem nem ao menos olhar para mim ou ao nosso grupo.

- Whoa - grunhiu Paul e Michel juntos.

- E este foi apenas seu primeiro dia - respirou pesadamente Patrícia.

- Não se preocupe. Jéssica é uma vadia, mas estamos do seu lado. - afirmou decididamente Danielle.

- Absolutamente - ouvi Jack dizer ainda sem afrouxar seu aperto em meu braço.

Ouvi todos os outros assentindo. Segui Danielle, que garantiu que eu deveria botar algum alimento para dentro de mim e que tínhamos pouco tempo agora que o lanche estava terminando.

Sentei em nosso lugar e me senti momentaneamente agradecida pela companhia de todas aquelas pessoas agradáveis. Mas meu estômago se revoltava violentamente, com espasmos absurdos e grotescos com toda a confusão que eu havia feito.

O resto da tarde passou de uma forma brutal. Vi vários alunos olharem em minha direção e murmurarem baixinho , enquanto eu passava .Para minha sorte , as próximas aulas eu sempre estava com algum amigo de Danielle , o que me fez sentir não mais tão perdida.

Encontrei com o resto deles no final das aulas , e ofereci uma carona para Danielle , já que eu descobri que ela morava ha apenas poucas quadras de minha casa .

Em nenhum outro momento encontrei com Jéssica , mas uma de suas amigas me fulminou com os olhos quando eu corria na direção de meu corvette branco , com Danielle do meu lado, na direção ao estacionamento. De repente uma voz, que de alguma forma estranha soou familiar chamou o meu nome.

Eu me virei e encontrei Henry correndo em minha direção, desta vez sozinho.

Eu decidi ignorar o chamado e apertei o passo, quase fazendo Danielle ter que correr comigo pelo estacionamento. Eu precisava apenas entrar em meu carro e sair correndo daquele lugar.

Uma mão forte me deteve, mas segurava meu braço com delicadeza. Aquele mesmo toque quente, elétrico.

- Por favor, espere - ele disse.

Eu virei lentamente em sua direção e gelei quando encontrei seus olhos novamente, suaves, de pedir perdão.

Danielle deu uma daquelas suas risadinhas simpáticas e disse muito suavemente.

- Te encontro no carro Nicolle. Até amanhã Henry!

Ele assentiu levemente com a cabeça e sorriu para ela. Então seus olhos novamente cruzaram com os meus e eu senti que meu coração dava saltos estúpidos dentro do meu peito.

- Nicolle - ele disse novamente com a sua voz firme, baixa, e muito calorosa - Eu gostaria de novamente te pedir desculpas por Jéssica . Não quero que você pense...

Ouvir o nome daquela riquinha idiota nos lábios dele fez algo se quebrar dentro de mim. Eu ignorei sua voz, seu sorriso e a forma como a sua pele queimava em contato com a minha. Puxei meu braço bruscamente e olhei bem dentro de seus olhos.

Apenas muito, mas muito mais tarde percebi que não havia motivo algum para eu agir daquela forma com ele, mas naquele momento nada importava. Eu novamente estava com raiva e tentei dar a minha voz o mais profundo tom de desprezo que eu podia.

- É isso? - eu perguntei - A sua namorada precisa que você se desculpe por ela? Eu não preciso das desculpas de nenhum de vocês dois. Obrigada

Eu me afastei dele e vi, pela segunda vez naquele dia - naquele longo dia – aqueles lindos olhos se transformarem primeiro em algo confuso e depois ficarem decepcionados.

Eu precisava sair correndo daquele lugar.

Virei-me e corri na direção de meu carro, sem olhar nem apenas uma vez para traz.

No caminho para casa , vi que Danielle me estudava com cuidado e mexia em sua bolsa, procurando alguma coisa. Eu respirava com dificuldade, tentando colocar um pouco de calma dentro de minha mente. Tudo se agitava e eu sentia água fervendo aonde deveriam correr sangue em minhas veias.

Quando eu parei em frente á casa de Danielle, ela me entregou um pequeno frasco, como aqueles vidrinhos de guardar perfumes que encontramos na Sears, de várias formas e cores, de um cristal fino e delicado.

- Cheire, ela me disse. - vendo meu olhar desconfiado, ela revirou os olhos e continuou mais suavemente, tirando a tampinha do frasco - É um floral. Não é tóxico. Vai acalmar você.

Eu fiz o que ela mandou, e de súbito, na primeira vez que aspirei o conteúdo transparente no vidrinho,senti cheiro de lavanda e jasmim, e meu corpo começou a relaxar .Minha cabeça rodopiou uma vez e encontrou o seu eixo. Meu sangue corria mais tranquilamente em minhas veias e aquele calor enlouquecedor que eu sentia diminuiu suavemente.

- Relaxe, ela disse. Às vezes de dentro de um furacão podemos tirar uma rosa . Não se preocupe com o que aconteceu hoje. Você não esta sozinha. E saberemos se aquela metida tentar fazer alguma coisa com você. Não se preocupe.

Eu olhei para ela incrédula, e quando entreguei o frasquinho em suas mãos, percebi que ela usava uma pulseira prateada, com um pingente que eu jurava que eu já havia visto na minha vida, em algum lugar.

- Obrigada - eu respondi, e agarrei o pingente que cintilava em seu pulso. - O que isso significa?

Ela abriu o mais largo de seus sorrisos e eu vi os olhos delicados e a menina delicada que eu havia conhecido aquela manhã estava de volta novamente.

Ela segurou o pingente na direção dos meus olhos.

O pingente tinha a forma de um circulo redondo ao centro e duas meias luas de cada lado.

- Isso - ela me disse - é o símbolo da Deusa, a mãe de todas as coisas. Eu sou uma bruxa.

Ela deu uma risadinha e saiu do carro.

- Vejo você amanhã, Nicolle. - ela olhou para traz e eu vi apenas uma garotinha muito jovem e ela continuou - E estou muito feliz que sejamos amigas.

Eu a olhei entrando em sua casa e percebi momentos depois que não havia reparado em nada, nem nas ruas, nem no caminho, nem na casa de Danielle, que eu sabia que era muito bonita , mesmo não sendo uma mansão da costa dourada .

Meus olhos estavam cansados e eu tentei respirar profundamente, contando até mil se necessário antes de virar a chave e voltar para minha casa.

Eu tentei pensar em tudo que havia acontecido, e então eu tinha absoluta certeza que aquele dia ficaria gravado na minha memória por anos.

Eu havia criado inimizade com a maior vaca do colégio.

Eu havia conhecido um cara que fazia meu coração bater e doer. E eu havia sido uma chata arrogante com ele. Por duas vezes. E o pior de tudo, ele era o cara mais rico e mais bonito do colégio.

E sem esquecer a ultima, de todas as revelações daquele dia :

A primeira amiga que eu fazia na Flórida havia acabado de me revelar que era uma bruxa.

Oh, merda. Eu estava tão perdida.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Agradecimentos ao carinho

Tornar público um manuscrito não revisado, nem editado,é como andar nú no meio de uma multidão. Você se sente exposto e tem medo, muito medo da reação dos outros ao que você esta mostrando, tornando conhecido . Eu tomei esta decisão pois, aqui no Brasil , é muito dificil trilhar o caminho literário, e eu queria saber se , esta historia seria bem aceita e se eu poderia continuar levando em frente este sonho ... Pois bem , a reação foi maravilhosa , recebi o apoio de muita gente , fiquei muito feliz , mas muito mesmo, com alguns comentários no orkut, aonde coloquei a historia também , e fiqueri feliz em ver vários visitas no blog.
Então, além de agradecer o carinho, gostaria de avisar que neste final de semana o capítulo 2 vai estar disponivel e que junto á ele , vou expor um pouquinho mais de minhas ideias.
Muitas pessoas, amigos , sabem que sou completamente fã de Stephanie Meyer, e com a sua saga e a historia de vida que resolvi tentar levar primeiramente a diante o sonho de escrever finalmente as historias que vagam na minha mente há anos.Então, homenageando um pouco a minha autora favorita ( junto com as irmãs Brontë e Austen ) vou colocar também , conforme for postando os capítulos a playlist que me inspirou a escrever esta história .
Por que a playlist é importante ? Bom, muita desta saga foi escrita primeiro na minha cabeça , ouvindo meu mp3 , á caminho do trabalho , da faculdade, na fila do banco ... eu simplesmente travo se não ouvir música, e assim, vocês podem conhecer o clima , os sentimentos e muitas das ideias que se passavam na minha cabeça ( e nas de meus personagens ) enquanto esta trama se desenrola.

Enjoy !!!!

Um beijo grande no coração de todos .

Gabriella

domingo, 22 de março de 2009

Prefácio e Cap. 1

A filha do vento e do fogo
Nascida do ventre da terra
beijada pelas doces gotas de
chuva
Abençoada pelo suave soprar do
espírito

A esta filha do vento, com o fogo em suas
veias
Lhe será dada a vida,
Abençoará os seus campos
Irrigará as tuas terras

A esta filha do vento, com as lagrimas de
orvalho
A correr pela tua face
Amará aquele que, ao ser
forte
Suga-lhe o sopro da vida

A esta filha do vento, com a brilhante cor
da terra em teus olhos
Ao ter a sua alma roubada,
Encontra-se no seio de suas
irmãs

A esta filha do vento, renascerá sob seu
próprio espírito
Será a senhora das águas, dos ventos
Dominará o poder do fogo, vencerá o jugo da
terra •.

E esta filha dos ventos terá o dom de trazer
de volta à vida.




PREFACIO




O fogo nos envolvia, como se fizesse parte de todo o nosso ser.

Meus olhos procuravam pelas minhas irmãs, que, assim como eu , seriam consumidas pelas chamas a qualquer instante.

Eu temia a dor lancinante, aquele momento em que eu finalmente perderia o controle do fogo, e as terríveis labaredas assumiriam o seu lugar, seu poder absoluto, sua vitória sobre o jugo. Eu conseguia antecipar a dor, de minha pele derretendo sobre sua fúria, como se a minha dor, e de minhas irmãs, lhe dessem o sabor final da vitória.

Minha cabeça girava, meus pulmões ardiam sob a espessa fumaça que subia o cheiro da madeira queimada, palha e gordura, e começava a chegar a nossas rústicas e maltrapilhas túnicas de algodão.

Eu sentia o olhar de prazer de meus algozes, e da massa faminta que assistia a nossa degradação, como se a nossa morte, lhes proporcionassem o maior dos prazeres, como se a dor em nossa carne fosse o delírio de suas vidas devassas, escondidas sob o nome da religião.

“Morte as bruxas” eles gritavam, a excitada turba nefasta de pessoas em seus corações negros.

Meu poder sucumbia como o de minhas irmãs. Nós sabíamos que em pouco tempo estaríamos deixando esta terra. Seus tristes olhos, de minhas três companheiras nesta jornada, suplicavam para que eu tivesse forças, para pronunciar as palavras, que nos uniria e nos traria a vida novamente, em outro tempo.

Eu respirei profundamente, mais uma vez, sentindo o fogo rasgando pela minha garganta, queimando minhas entranhas, e pronunciei as palavras.

Elas saíram fortes, como se aqueles últimos instantes derradeiros, eu fosse tomada pela força do fogo. O fogo que foi a minha vida e minha alma, finalmente me tragaria para a morte.

Mas no momento que aquelas palavras foram ditas, nossas almas foram interligadas eternamente. Minhas irmãs fecharam os olhos e todas chamamos o nome de nosso protetor, para que ele se juntasse a nós em nossa jornada , já que sua vida fora tragada dias antes.

Eu fechei meus olhos e deixei outra dor lancinante penetrar a minha alma.

Esta seria a mais dolorida, a pior de todas as perdas. Pior do que a perda de minha vida mortal, era a perda do homem ao qual eu amei.

Abri meus olhos mais uma vez e fitei seu corpo inerte a apenas alguns passos distantes das nossas fogueiras. Seu corpo sem vida ainda me fitava de olhos abertos.

Em meu ultimo sopro de consciência, eu consegui soltar uma de minhas mãos, aonde um pequeno pedaço de espinho fora guardado e havia machucado a minha palma. Uma gota de sangue seria o suficiente para terminar o que minhas palavras começaram.

E eu sabia que me uniria novamente a ele. Ao fruto de meu amor e instrumento de minha perdição.

Com a lembrança de seu corpo junto ao meu, eu deixei as chamas tomarem conta de meu ser e me tragarem em seu abismo sem fim.







CAP. 1


O PRIMEIRO DIA


Eu abri meus lábios, buscando ar. Eu precisava de ar. Eu não conseguia mais respirar.

Arfei e subitamente engasguei quando o ar entrou rasgando em meus pulmões.

Olhei ao meu redor procurando as chamas bruxuleantes que queimavam a minha pele, dilacerando a carne, chegando aos músculos, e tendões. Podia sentir o fogo chegando a meus ossos , fazendo com que meu cérebro gritasse , gritasse... Mas eu ainda não conseguia encontrar a minha voz ou meus olhos. O cheiro de fumaça era nauseante. Eu procurava as outras três mulheres, tentando dar um conforto que eu não tinha.

“Falta pouco” eu tentava falar a elas. Mas eu não as conseguia ver. Tentei abrir meus olhos e não via nada, apenas o escuro, sombreado por uma pálida luz avermelhada, que eu soube de súbto que não eram as chamas.

Apenas uma luz clara e pálida cintilando.

Eu rapidamente voltei meus olhos ao redor, tentando achá-las. Mas estava tudo tão embaçado, meus cabelos molhados, minha boca seca. Abaixei as minhas mãos e senti algo macio embaixo de mim... Algo confortável, como algodão. Eu não sentia mais o cheiro de fumaça, apenas um doce cheiro de lavanda – ou rosas talvez.

Minhas costas grudavam em um tecido gelado, mas ainda podia sentir o conforto do algodão.

Aonde eu estava?


Puxei o ar, mais uma vez, e ele não queimou mais meus p0ulmões machucados pela fumaça embriagante.

- Ah – eu gemi

Em um átimo eu percebi onde estava e quem eu era. Sentei rapidamente em minha cama, com medo de me perder novamente naquele sonho intoxicante.

Abracei os meus joelhos, tentando me segurar como uma bola, com medo, arfando.

“De novo não!” eu pensava.

Olhei de volta e pude ver as formas do meu quarto. Além de minha cama, eu via minha pequena escrivaninha, meu computador, e meus livros desordenados em cima dela.

Virei a esquerda e vi a janela entreaberta , escondida com uma fina camada de tecido, uma delicada cortina de seda , feita pela minha avó.E pude ver a luz . Uma fraca e ainda tímida luz do sol, que enunciava um belo amanhecer, como era habito nesta cidade.

“ Droga,droga, droga” – eu murmurava - Eu realmente devo estar louca! Terceira vez esta semana que eu tenho este sonho, este ridículo “sonho”
Há meses que eu tinha este mesmo sonho. Eu via a mulher – ou eu seria esta mulher – presa, em algo que deveria ser uma fogueira, queimando até a morte. E era tão real, que eu conseguia sentir a dor das chamas, o cheiro da carne crepitante...

Argh!


Eu não me lembrava exatamente quando começara, mas eu lembrava que não havia lido nada sobre bruxas ou fogueiras. Havíamos lido As bruxas de Salen no semestre passado, mas eu não havia ficado exatamente chocada ou traumatizada com este capítulo de nossa historia. As cruzadas me chocaram mais. A matança de nativos nas colonizações de todo o continente americano havia me chocado mais. Mas... Bruxas e fogueiras...

Este capítulo não atraía minha atenção em particular.

“Chega”, eu ordenei a mim mesma. “Esqueça este ridículo sonho e concentre em algo mais prático, agora mesmo!”

E eu sabia o que era mais pratico. Primeiro dia de aula. Escola nova. Cidade nova. Pessoas novas e com certeza muitas líderes de torcida esnobes e bronzeadas. Jogadores de futebol estúpidos e musculosos.

Toda uma gama nova no zoológico particular que compunha a pequena sociedade estudantil, de uma ponta a outra do país – ou talvez até do mundo. Eu não duvidava que este padrão mudasse muito... Talvez as líderes de torcida mudassem para lindas orientais de saias plissadas correndo atraz de fortes lutadores em outra parte do mundo, mas eu realmente duvidava que o padrão não se repetisse. Talvez eu encontrasse alguns feiticeiros também, envolvidos com assuntos de magia que haviam aprendido em livros ou sites de busca e saiam para praticar com varinhas compradas pela internet - tudo muito new age. Ou nerds sedentos de novidades ou “nano novidades “ , enfurnados atraz de seus modernos brinquedinhos tecnológicos .

Hum, melhor. Com certeza haveria a turma do black, em calças caras, e ouvindo outros cantores enfurnados em roupas mais caras ainda em belíssimos carros, mas cantando os infortúnios da vida nas ruas . Pseudo-intelectuais, lendo Marx os Dostoievski.

Tudo fabricado, tudo perfeitamente arquitetado.

Da patricinha louca por Prada ao metaleirto gótico de unhas negras, todos se encolhiam atraz de seus rótulos Ninguém tentava ser apenas si mesmo, mesmo se gostasse de futebol, magia, computadores, rap e Jane Austen, tudo junto e ao mesmo tempo. Não se era ninguém sem a proteção perfeita dos rótulos.

Eu DETESTAVA os rótulos.

Sai rapidamente da cama, senão ficaria extremamente mal humorada e, o primeiro dia de aula em um local estranho com pessoas estranhas, não seria facilmente encarado com mau humor. Na realidade eu estava apavorada, mas tentava me mostrar o mais forte e determinada que eu pudesse – fossem a meus ansiosos pais, ou a mim mesma..

Coloquei um CD em meu player, aumentando a musica um pouco, apesar de ainda ser muito cedo . Era uma banda que eu havia conhecido a poucos dias em minhas noites de busca , um rock melódico e dançante - forçando minha mente a normalidade , talvez.

Corri para meu pequeno banheiro – uma aquisição que eu realmente havia gostado na nova casa – e liguei o chuveiro, aproveitando o tempo extra que eu havia ganho acordando mais cedo, e fiquei extremamente feliz – e aliviada em me livrar do desagravel suor e da sensação fervente sob a minha pele, após a minha agitada noite de sono.

Eu quase conseguia esquecer o cheiro nauseante que ainda circundava minha mente, sentindo o doce cheiro de meu shampoo e de meu creme favorito. Apesar da sensação de conforto do banho morno, eu sabia que o tempo passava. Desliguei o chuveiro a contra gosto, me enrolei em minha toalha e voltei ao meu quarto, abrindo o meu armário, tentando achar algo que pudesse usar no primeiro dia de aula.

Eu ainda não sabia muito bem o que usar (o medo nos deixa idiotas), e acabei escolhendo um jeans Gap, que eu sabia que caia muito bem e uma blusa branca de algodão, um pouco larga como uma bata, mas que combinava com o clima quente e estava em moda ultimamente. Calcei meus muito usados e amaciados tênis, e aproveitei para uma ultima olhada no espelho. Gostei do que eu vi, apesar de saber que provavelmente eu estaria totalmente fora dos padrões da ensolarada Florida.

Eu havia puxado os traços de minha mãe, que haviam crescido e se acentuado em toda a minha adolescência. Havia adquirido as mesmas formas curvilíneas e arredondadas de seu corpo, os quadris desenhados e um pouco largos, a cintura mais fina, e seios fartos.

Uma pin-up moderna - ou diva dos anos 50, como gostava de brincar meu pai.

Mas eu sabia que isso, a minha forma, não era a forma atual em moda, e muito menos seguia o modelo loira-alta-magra-bronzeada (e sem cérebro) ou morena-sarada-magra-bronzeada (e ainda sem cérebro ) .

Talvez alguns quilos a menos me deixassem mais em forma – ou mais anoréxica , mas eu não era assim.Eu sabia que não seguia os padrões e nunca seria linda como uma atriz de cinema , mas era assim que eu era . O melhor a fazer era tentar jogar os dados a meu favor.

eixei os meus longos cabelos castanhos soltos, peguei minha mochila e quiquei escada abaixo.

Encontrei meus pais já vestidos, com o café da manhã pronto e a mesa posta.

Havíamos nos mudado há algumas semanas de nossa antiga cidade , minha saudosa Seatle . Eu gostava da chuva, do tempo nublado, dos meus amigos, talvez um pouco estranhos. Mas sempre tínhamos o que conversar. Fosse no café da esquina ou na lanchonete do colégio , sempre tínhamos muito com o que nos ocupar .

Mesmo que fosse algo trivial, como o dever de casa, ou um churrasco no domingo de manhã, o importante era estarmos juntos. Mas meu pai havia arrumado um novo emprego – e um bom emprego, com um salário no mínimo duas vezes maior que seu antigo e um atrativo bônus pela mudança com a família.

Meu pai era contador, uma profissão que o matava todos os dias um pouco, sonhador que era meu pai. Mas no novo emprego, ele trabalharia menos e ganharia mais. Perfeito. Ele teria tempo para se concentrar no sonho de sua vida.

Escrever um livro.

Não qualquer livro, mas a obra que mudaria a sua vida.

O que quer que isso signifique

Minha mãe era corretora de imóveis. E claro que não se importou com a mudança. Qualquer coisa que fizesse meu pai feliz a faria também. Era impossível resistir a eles. Sonhadores, apaixonados. Um casal, no mais amplo sentido da palavra.

Eu era filha única. Não tinha irmãos . Filha única com pais que eram filhos únicos também, portanto éramos uma família pequena. E era óbvio que eu não estava feliz com a mudança. “Florida” eu pensei quase com asco.

Mas... Eles estavam felizes e eu faria qualquer coisa por eles. Nada poderia decepcionar aqueles sonhos.

- Bom dia querida – minha mãe disse feliz, indo a minha direção e me beijando em ambas as bochechas, como ela fazia todas as manhãs. – Animada com o primeiro dia de aula?

- Como um peru em véspera de ação de graças. – Respondi sombriamente.
Eles riram. E meu pai bruscamente me pegou no colo, como se eu ainda fosse sua garotinha de 6 anos, assustada com a primeiro dia de aula.

- Você sabe que, se for demais para você podermos voltar para casa.

- Não pai – me aninhei em seus braços – Aqui é a nossa casa agora. Não se preocupem comigo. Quem sabe um pouco de sol não pode animar minha vida.

- Você é animada – discordou a minha mãe – E eu garanto que não será tão ruim.

- Você quer que eu te leve no seu primeiro dia?- Meu pai perguntou meio vacilante.

- Claro que não pai, eu vou dirigindo.

Peguei uma torrada na mesa, tomei um pouco de leite direto da caixa e já ia saindo me despedindo de meus pais. Minhas costas pesavam cem quilos agora, mas eu não deixaria eles perceberem.

- Nos vemos mais tarde mamãe, papai. Amo vocês – eu tentei parecer animada.

Sai rapidamente pela porta porque eu não queria pensar muito no que teria que enfrentar E se enfrentar seria difícil, conscientemente seria praticamente impossível.

Uma delicada mão segurou meu braço, me fazendo voltar e encará-la.

- Filha – minha mãe disse docemente, e eu podia ver a preocupação em seus olhos castanhos – Esta sendo muito difícil para você? Você deixou algo para traz? Além de seus amigos?

- Não mãe – eu assegurei, tentando puxar o canto de meus lábios para cima, em um sorriso – Apenas meus amigos. Vou sobreviver.

- Ok. Um filme mais tarde então? Vamos ao cinema?Uma comédia romântica? Andar um pouco com os nativos? Fazer compras?

- Claro mãe. Agora realmente preciso ir.

Beijei sua bochecha e corri para meu carro, antes que ela me pegasse novamente.

O dia estava absurdamente lindo. O sol faiscava, mesmo que ainda fosse cedo, e o ar era um pouco carregado, úmido, talvez pela proximidade do mar. A eletricidade fazia meus cabelos ficarem um pouco arredios e minha pela começava a esquentar.

Eu entrei em meu courvette usado, meu presente de 16 anos, que eu havia ganhado a muito custo em muitos verões trabalhando com meu pai , e segui diretamente a escola .

A vegetação cobria cada espaço de acostamento, com arvores altas e frondosas, arvores que se alimentavam da brilhante luz do sol . O cheiro de maresia era quase tangível, eu poderia sentir seu gosto em minha boca. Era salgado e úmido. Por duas vezes, duas SVUS novinhas, cheias de garotos loiros e bronzeadas passaram ao meu redor, ambas muito perto uma da outra, os garotos gritando entre si pela janela. Surfistas, com certeza, aproveitando o lindo dia de sol. Eles deveriam ser mais velhos que eu , uns 19 ou 20 anos, e acho que não seria de nenhum problema se , os garotinhos ricos , perdessem um dia de aula para surfar.

Em pouco mais de dois quilômetros, eu havia chegado à escola. Era um prédio de arquitetura antiga, mas com certeza há pouco reformado e com algumas estruturas originais modificadas. , com grandes janelas de vidro em toda sua parte sul, deixando a luz do sol entrar pelas suas janelas.

Eu segui com meu carro para a parte leste, ao que indicava ser o estacionamento. Parecia mais um stand de carros novos para venda.

Muitos conversíveis, alguns BMWS.

Era uma opulência com a qual eu não estava acostumada. Parei meu carro na parte mais distante do estacionamento, tentando não ficar muito perto de nenhum Audi ou outro carro caríssimo. A apólice de seguros de meu pai provavelmente não cobriria uma colisão com um carro deste valor.

Sai do meu carro, peguei minha mochila e desci, meio que me escondendo , temendo o que eu fosse encontrar. Não que eu fosse tímida, longe disso .

Mas, eu estava apavorada. E então eu percebi que estava vivendo em um lugar que era como nos meus piores pesadelos.

Do lado esquerdo, reunidos em um M3, novinho, estavam reunidas umas 5 garotas. Todas lindas, todas bronzeadas. Magras e com corpos perfeitos. E todas envergando seu justo e impecável uniforme de líderes de torcida.

Girando em sua órbita, estavam vários garotos, altos, lindos, e rindo alto . As garotas faziam pequenas gracinhas entre si e os rapazes então tentavam chamar a sua atenção, como chimpanzés em um circo . Ridículo.

Um dos rapazes, talvez um dos mais altos, ao menos parecia mais discreto.

Conversava com uma loura oxigenada bronzeada, mas era discreto, um pouco mais sério. Estava apoiada na porta do motorista, a garota curvada em sua direção, e ambos riam baixinho. Era forte também, mas não como os outros, era talvez mais natural. Tinha os cabelos escuros e lisos, desalinhados ao vento. E não era tão bronzeado como os demais. Sem dúvida ele era o mais interessante do seu animado grupo, e eu não consegui desviar meus olhos. O sol brilhava em seu rosto, e iluminava seu sorriso, de dentes brancos e perfeitos. Como se sentisse o olhar de uma estranha o encarando – o que eu garantia que deveria ser muito normal para ele, atrair este tipo de olhares – ele me encarou.

Mesmo a distancia, eu percebi que seu olhar era curioso, como se ele tentasse descobrir quem era a garota que o estava encarando.

Provavelmente ele deveria estar tentando se lembrar se já devia ter quebrado seu coração, ou fazendo uma lista mental dos últimos encontros, eu supus.

De súbito fiquei com raiva e um pouco envergonhada, virei meu corpo e caminhei em direção a escola, sem nem olhar para traz.

Perguntei a uma garota á porta da escola onde ficava a secretaria e ela me indicou, primeira porta a direita, no final do corredor.

A secretaria era uma grande sala, moderna, com duas grandes mesas em forma de V.

Os computadores eram modernos, e era uma sala bastante acolhedora, troféus de diversos tamanhos em varias estantes, flores, e flâmulas, muitas flâmulas do time do colégio.

Sentada na primeira mesa a minha direita, estava uma senhora de uns quarenta e poucos anos, um pouco gordinha, mas sorridente e bonita. O cabelo talvez fosse loiro demais, e as unhas muito vermelhas, mas era uma pessoa agradável.

- Bom dia, sou Srta. Teague. No que posso lhe ajudar? – ele me disse.

- Oi, sou Nicolle Crystal, vim transferida de Seatle. Gostaria de pegar meu horário.

- Oh sim, bem vinda a Florida. Você vai amar o sol. E os garotos são lindos, srta. Crystal.

Ótimo. Eu não poderia pensar diferente. Muito bonitos. E Apenas isso.

Peguei meu horário entre as mãos e corri para a sala 1A.

Minha primeira aula seria de Inglês.

Entrei na sala com o coração aos pulos. O padrão era mais ou menos como eu havia visto no estacionamento, mas a sala era um pouco mais heterogênea agora.

As beldades bronzeadas ficavam um pouco no final da sala, junto com alguns caras altos e todos fortes. Todos lindos, todos muito bem vestidos.

Mas, o resto dos alunos parecia um pouco normais. Como os demais de minha antiga cidade. Havia alguns garotos de roupas largas e correntes na cintura, e outros mais simples, camisas pólo, calças jeans. Algumas garotas normais também. Acabei me sentindo um pouco mais reconfortada.

O professor, um senhor baixo, magro e de cabelos grisalhos muito curtos, olhou em minha direção. Assim como os demais na sala. Entreguei minha ficha de transferência para ele , e ele me recebeu com um sorriso .

- Srta. Crystal – disse uma voz um pouco rouca – Seu primeiro dia, transferida de Seatle, e pelo que eu vejo, boas notas . Seja bem vinda. Escolha uma cadeira.

- Obrigada – eu disse tentando disfarçar o nervosismo em minha voz.

Escolhi uma cadeira no segundo corredor a esquerda, próximo a janela. Era uma das poucas livres. Olhei a minha esquerda e uma pequena garota sorriu para mim , amigável. Era pequena, delicada, os cabelos castanhos caindo em pesados cachos pelas costas. Olhos grandes e também castanhos. Era impossível olhar para a garota e não sentir uma onda de amizade. Era estranho. Eu tinha vários amigos, mas era difícil sentir alguma empatia tão imediata por alguém. Eu não pude resistir e sorri em resposta.

Ouvi o professor começar a sua aula, e virei para prestar atenção. Iríamos estudar Jane Austen, e fiquei feliz, pois era uma de minhas autoras favoritas. Começaríamos por “Orgulho e Preconceito”.

Ótimo. O romance de Mr. Darcy e Elisabeth era irresistível e eu gostava do tema . Gostava de discutir os preconceitos na sociedade. E gostava da forma leve que ela discutia uma questão tão pesada.

Por enquanto meu primeiro dia não estava sendo tão terrível como eu imaginava.

Por enquanto.

Uma batida na porta me assustou. De súbito eu voltei minha atenção a uma alta figura, entrando pela porta, pedindo desculpas discretas ao professor pelo seu atraso. Sua voz era baixa, grave, mas muito clara.

E de novo estava ali, o garoto que eu tinha visto no estacionamento. Ele era mais alto agora que eu o via mais de perto. Sim, ele era forte, os músculos apareciam discretamente sob sua camiseta azul, simples, de algodão. Tinha um rosto muito bonito, um maxilar quadrado, lábios cheios e os olhos de um azul profundo, quase escuros, e muito brilhantes.

Ele passou perto de mim, lançando um olhar de relance em minha direção, Seus olhos encontraram os meus por um breve momento. Em seguida ele desviou seus olhos e seguiu para o final da sala, sentando-se junto com os garotos e garotas bronzeados que eu havia notado no inicio da aula.

Eu fiquei inquieta inesperadamente. Meu coração batia descompassado, e eu não entendia a razão. Pois não havia razão, absolutamente nenhum motivo por traz de meu súbito nervosismo.

Tentei prestar atenção novamente na aula, mas minha cabeça estava leve, sem direção. O tempo passou muito rápido e eu assustei quando ouvi o sinal tocar.

Tentei correr porta afora, quando encontrei a menina de cachos grossos do meu lado. Ela ainda sorria.

- Oi – uma voz delicada disse baixinho. – Prazer, meu nome é Danielle. Qual seu nome?

- Nicolle, Nicolle Crystal. Muito prazer!

- Qual sua próxima aula?

Peguei o papel que ainda estava guardado em minhas mãos e olhei.

- Biologia.

- Ótimo, é minha próxima aula também. Vamos, eu lhe mostro o caminho.

Assenti feliz, era muito fácil sentir um clima ameno perto de alguém como Danielle.

Juntei minhas coisas e a segui pelo corredor de nossa sala.

Quando de repente tudo aconteceu muito rápido.

Duas garotas bronzeadas passaram correndo em minha direção, nem se preocupando em diminuir o ritmo, rindo muito alto uma com a outra. Uma delas bateu em mim como se nem tivesse me visto. Meus livros caíram ao chão, em um baque surdo.

Com muita raiva , eu me abaixei para juntar minhas coisas .

Ia me levantar quando ouvi Danielle reclamar baixinho sobre a falta de
educação delas.

Mas levantei rápido, e acabei batendo de frente com uma alta figura azul. O choque me assustou, e meus livros caíram ao chão novamente. Quando novamente eu me abaixei, ele estava ali, o rosto próximo ao meu, pegando meus livros com uma mão. Levantou seus olhos e encontrou os meus novamente.

Eles eram profundos, intensos, e ainda me olhavam com curiosidade. Eu perdi meu senso por um minuto, olhando em seus olhos. Não percebi que a sala estava vazia, apenas Danielle ainda estava ao meu lado, e um outro garoto enorme, e loiro estava de pé ao nosso lado, olhando divertido para a situação.

De repente o garoto de olhos azuis pegou em meu braço, tentando me ajudar a levantar. Seu toque despretensioso, e casual acabou me assustando.

Sua mão era muito quente e macia. Um arrepiou percorreu pela minha espinha, minha pele queimou sobre seus dedos.

- Machuquei você? – ele perguntou com uma voz intensa, ainda olhando em meus olhos. – Você quer ajuda?

- Não, estou bem – respondi ainda desconcertada. Desviei de sua mão e me levantei meio cambaleante. Ele fez o mesmo e ficou em minha frente, ainda me olhando. Eu percebi que seus olhos desviaram dos meus em um breve instante, e ele me fitou da cabeça aos pés. Em seguida, seus olhos encontraram os meus e um leve sorriso estava em seus lábios.

Por que diabos ele estava me medindo de cima abaixo? Estava me comparando com as suas amigas, beldades loiras?

Devia ser por este motivo que sorria. A comparação não deve ter sido favorável a mim, e ele sorria com o modo que eu havia ficado desconcertada. Ele entregou meus livros, ainda com aquele sorriso nos lábios.

- Obrigada. – eu disse fechando meu cenho. Eu tentava esconder minha irritação, e minha voz deve ter parecido muito séria.

O sorriso morreu em seus lábios, e ele assentiu levemente com a cabeça em minha direção. Encontrou os olhos de leve com o garoto ao seu lado e ambos seguiam para a porta.

Antes, ele sorriu educado e cumprimentou Danielle. Era um sorriso gentil, como se a conhecessem a anos . Eu vi então sua alta figura saindo porta afora, junto com o garoto loiro. .

Meu coração ainda batia descompassado. Mas eu estava muito irritada, com ele, com sua avaliação jocosa a meu respeito, e comigo mesma. Eu não costumava ficar tão abobada por causa de alguém. Mesmo com alguém tão lindo.

Encontrei novamente os olhos de Danielle e ela me estudava com curiosidade, por traz de seu rosto gentil.

- Quem é ele? – eu não consegui deixar de perguntar.

- Henry S. Nicolls – ela disse séria, mas com uma voz um pouco divertida - Zagueiro de nosso time de futebol.

Zagueiro, um jogador de futebol? Pior ainda. Minha irritação sufocou-me por eu ter sido tão idiota, possivelmente com um dos mais esnobes astros do colégio. Um garoto popular, disputado por todas as garotas.

Eu não queria pensar mais nisso.

- Vamos para a aula? – eu perguntei a Danielle. Minha voz ainda era dura.
Danielle olhou para mim mais uma vez e agora ria baixinho. “Claro” ela disse.

A segui a nossa próxima aula, tentando não pensar mais uma vez em Henry Nicolls.

As filhas do Vento - O Sonho

Sinopse

Ter 17 anos nunca é facil. Ainda mais quando se esta em uma cidade nova.
Nicolle Crystal sabe disso e vive isso na pele , sentindo o que é viver em uma terra de aparencias e busca pela beleza , ao trocar Seatle pela Flórida, deixando para traz seus amigos e sua vida , para acompanhar seus pais em seus novos empregos.
Mas , os maiores tormentos e surpresas de Nicolle ainda estavam para começar .
Uma , Henry Nicolls , o misterioso e lindo zagueiro de seu novo colégio.
Danielle , sua nova e mistica melhor amiga.
E seus perturbadores sonhos noturnos e Visões do futuro. Juntando - se a isso, os quatro estranhos personhagens que as seguem , deixando um mistério no ar.


contato : Gabriella Raposo
e-mail e msn : itagaby@hotmail.com

Playlist "As filhas do vento"


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