segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Surpresa !

Cap. 13 postado ...

O caos.


Beijos e Beijos

Gaby

Cap. 13 - O caos

Eu tive uma noite turbulenta e estranha, cheia de imagens e sons.

Mas ao invés das imagens vividas sempre presentes em minhas noites, eu tive apenas uma grande confusão.

Em algum lugar do tumulto, eu dormi. Um sono pesado, como um desmaio, não um sono recompensador, mas ao menos eu tive as minhas horas de sono.

Eu acho que podia ter algum motivo para começar a ficar um pouco mais animada.

Minha vida voltaria ao normal. Eu seria uma garota completamente normal novamente.

Eu repeti estas palavras em minha mente como se fosse um mantra, enquanto eu via a luz do sol começar a entrar pela fresta da janela de meu quarto. Era hora de ir para a escola.

Pulei da cama em um salto. Tomei um rápido banho e lavei os meus cabelos. Eu ainda tinha tempo de usar um secador e domar as mechas revoltas de meus cabelos. Fiquei indecisa diante do meu guarda roupa. Após uma pilha enorme de roupas estar formada em minha cama – e no chão, e na poltrona – eu escolhi um jeans escuro e uma blusa rosa, de botões, que eu sabia que era muito charmosa e feminina, sem revelar muito. Caprichei na maquiagem embora escolhi apenas tons suaves , joguei a minha mochila por sobre os meus ombros e corri escada abaixo.

Meu pai já havia saído para sua importante reunião de negócios.
Encontrei minha mãe arrumando meu café da manhã na cozinha, pronta também para o trabalho.

Engoli algumas torradas que eu forcei garganta abaixo com um pouco de suco de laranja e após um beijo rapido em minha mãe corri para o meu carro.

E foi só após verificar a velocidade que eu estava forçando o meu carro a andar, que eu percebi que estava ansiosa para ir para a escola. Eu estava literalmente desesperada para chegar ao colégio.

Eu não queria dar o braço a torcer, mas eu queria ver Henry Nichols. Eu me lembrei do breve e suave toque de sua mãe em minha mão e de como seus olhos arderam ao dizer que nos veríamos amanhã. Em algum lugar insano de meu cérebro, eu tinha o pensamento de que ele gostaria de me ver, no mesmo tanto que eu queria vê-lo.

Eu precisava vê-lo.

Em poucos minutos eu já estava estacionando meu carro , e em vez de eu procurar minha vaga escondida nas sombras , no lugar mais longínquo do estacionamento, como eu fazia todos os dias , eu estacionei bem em frente ao portão, perto dos carros poderosos dos reis de West Palm. O grande cadilac de Henry estava estacionado a poucos carros de distancia do meu. Ele também tinha chego cedo ao colégio, pelo local que seu carro estava estacionado.

Meu coração batia mais rapido. Eu apressei o passo, pois eu queria chegar o mais rapido possível em nossa aula de Inglês. Eu o encontraria. Ele estaria lá.

Mas assim que eu dei os primeiros passos dentro do pátio do colégio, eu percebi que algo estava muito errado.

Flâmulas dos Lions estavam sendo esparramadas pelos quatro cantos do colégio, as pressas, eu via varias lideres de torcida agitadas em seu uniforme correndo com cartazes nas mãos. Eu sabia que estávamos em semana de jogo, mas nada daquela cena era comum.

Muitos alunos corriam por todos os lados, eu via seus rostos preocupados e aquele clima de fofoca, o burburinho que corre de boca em boca estampado no semblante de cada aluno que eu encontrava.

Professores e inspetores correndo pelos corredores, com um olhar sombrio e preocupado. Assim como uma confusão de papeis, papeis por todos os lados, espalhados pelo chão, sendo pisados pelas pessoas. Por onde eu olhava havia confusão e tumulto.

O caos havia se instalado pelos corredores do West Palm Kings High.

Foi quando em estava começando a sentir uma onda de pânico na boca de meu estômago, um toque amigo puxou meu braço de repente, fazendo eu virar rapidamente em sua direção.

Era Jack que segurava meu braço, acompanhado por Danielle e Patrícia, todos com aquele olhar assustado que eu via no rosto de cada aluno.

- Oh Niki, que bom que encontramos você – a voz ansiosa de Jack me dizia.

Espera aí, Niki?

- O que esta acontecendo aqui? – eu exigi sem comentar o meu aparente novo apelido.

Foi Patrícia que respondeu a pele bonita e morena corada de excitação.

- Um atentado terrorista em West Palm Beach, Nicolle, e isso que você esta vendo.

Danielle revirou os olhos,

- Invadiram o colégio esta noite Nicolle – Dann respondeu – arrombaram a diretoria, quebraram computadores, roubaram arquivos de alunos, as salas de aulas especiais estão um verdadeiro terror. Eu acabei de ver a Sra. Charlotte desesperada.

- Foi um assalto? – eu tentei argumentar, ainda confusa.

- Não levaram nada de valor – garantiu Jack – apenas deixaram um rastro de bagunça e destruição, as fichas dos alunos perdidas. Quem arrombou o colégio deveria estar procurando algum tipo de informação. E o alarme nem tocou. Descobriram o que tinha acontecido esta manhã, um pouco antes dos primeiros alunos começarem a chegar.

- Mas eu sempre pensei que a escola era segura. Todos dizem que é a mais segura de toda Palm Beach.

- E é – afirmou Danielle, me puxando pelo braço e falando baixinho – Não há sinal do arrombamento. Parece simplesmente que um tornado entrou no colégio e causou tudo isso. Como se tivesse sido causado por um furacão, entende? Só que sem destruir nenhuma estrutura ou causar destelhamento, apenas esta bagunça.

Eu ri. Claro que ela tinha que me dar alguma explicação absurda.

Foi então que eu percebi que os papeis que pisávamos eram fichas de alunos, e provas e muitos documentos da diretoria. Alguns alunos corriam. Outros estavam fazendo guerra de papel uns com os outros, e eu juro que vi uma briga se formando perto dos banheiros, pois liam informações em voz alta de algumas fichas que encontravam.

Lideres de torcida e alguns caras do time de futebol também corriam em direção ao ginásio, frenéticos e carregados de coisas em suas mãos, como caixas e trouxas de roupas. Eu procurei por algum sinal de Henry Nichols, mas eu não o via em qualquer lugar.

Mas era impossível encontrar alguém realmente. Tudo era caos e confusão. Caos por todos os lados, até aonde eu conseguia enxergar.

Vários inspetores e seguranças do colégio corriam também, tentando acalmar a confusão, e em algum lugar eu ouvia a sirene de uma patrulha de polícia.

Um barulho estridente chamou a nossa atenção. Alguém tentava sintonizar o sistema de auto falantes da radio do colégio, que era comandada por um aluno do terceiro ano. A voz da Srta Tricia soou aguda pelas caixas de som.

“- Por favor, todos os alunos devem se dirigir agora para o refeitório até segunda ordem. Qualquer desobediência será punida com suspensão imediata e sumaria.”

Jack sorriu e me segurou pelo outro braço.

- Agora sim, a confusão esta armada. A Srta Tricia esta com medo de ver sua cabeça rolando.

Eu olhei para ele e pisquei. Eu estava perdendo alguma coisa ali .

- Por que você diz isso Jack? – eu perguntei

- Nicolle, a ultra segura Kings of West Palm Beach High foi invadida. Filhos dos mais importantes empresários e milionários do condado estudam aqui. Fichas foram roubadas e espalhadas, e você sabe o que há nestas fichas. Os segredos acadêmicos e familiares, horários, telefones, endereços, tudo. Informações valiosas. Imagina, se algum aluno for seqüestrado, ou alguma família roubada depois deste incidente. Cabeças rolarão, com certeza, se é que já não estão rolando.

Sim, ele tinha razão. Seria mais que o caos. Seria o próprio armagedom para a direção do colégio. Era obvio o clima de stress e tensão que eles estavam transmitindo para todos nós.

Corremos em direção ao refeitório do colégio, entupido de alunos por todos os lados.

Encontramos com o resto da turma nos esperando em uma mesa próximo das maquinas de refrigerante – disputadíssima por outros garotos. Foi Julliet quem acenou para a nós nos aproximarmos.

Michel puxou Patrícia para o seu lado e deu um longo beijo em seus lábios. Percebi que eu não fui a única que os olhou com um olhar um pouco invejoso. Acho que o stress produz aquele tipo de efeito nas pessoas, o desejo de ter alguém com quem se consolar e se aninhar.

Mas não era apenas um pouco de inveja por aquela cena doce que eu sentia. Eu sentia um aperto na boca do estômago e um frio percorrendo em minha espinha. Eu tinha um pressentimento estranho, que não era causado apenas pela situação caótica ao meu redor. Pelo canto de meus olhos, percebi que Dann estava um pouco pálida e visivelmente nervosa, o que serviu para aumentar o meu stress pessoal. Eu afundei em minha cadeira e avaliei o ambiente.

O refeitório estava lotado, não apenas por alunos, professores e inspetores, mas sim por uma equipe munida de comunicadores – daqueles que vemos em filmes, um microfone minúsculo e um ponto de escuta no ouvido, muito high tech – patrulhando os alunos e agindo como se esperassem um ataque a qualquer momento, postura rígida e olhos atentos.

O rádio do colégio voltou a ser acionado, e novamente ouvimos a voz da Srta Tricia.

“– Senhores alunos, estamos servindo um café da manhã especial para todos os presentes no refeitório. As maquinas de refrigerante, sucos e chás estão liberadas. Contamos com a tranqüilidade de todos os alunos presentes e salientamos que , o corpo docente e inspetores presentes , assim como os seguranças tem a autonomia para controlar qualquer situação de crises.”


- Resumindo, nada de brigas e não sejam engraçadinhos – Michel deu de ombros.

A voz da Srta Tricia continuou:

“Após o café da manhã, no ginásio de esportes, convidamos a todos os alunos para um evento especial. Apresentaremos o nosso amado time, os Lions, com seu novo uniforme, confeccionado pela equipe campeã do concurso de modelagem fashion e uma apresentação especial de nossa maravilhosa equipe de chee leaders.. Seguranças e inspetores os conduzirão ao ginásio A presença de todos os alunos é obrigatória. Um bom apetite a todos. “

Hellen e Patrícia de repente pareciam desoladas.

- Isso não é justo, não é justo – choramingou Patrícia, escondendo ainda mais seu rosto no peito de Michel. Hellen segurava a sua outra mão, seus lábios espremidos em uma fina linha tensa.

- O que não é justo Pat? – eu perguntei – o que aconteceu?

- Essa loucura toda serviu para que escolhessem os vencedores do concurso. – Pat fundou limpando os olhos molhados com as mangas de sua blusa – Eu e Hellen trabalhamos por muitas noites em nosso projeto.

Hellen tinha um olhar de raiva em seus olhos.

- E eu tenho certeza quem são as vencedoras. A equipe de Jessica e a corja de bronzeadas, como diria Nicolle.

- Eu vi as bronzeadas correndo por todos os lados, cheias de coisas nas mãos, assim como alguns jogadores do time. – eu confirmei - Mas nenhum sinal de Jessica.

Assim como nenhum sinal de Henry Nichols, mas isso eu não podia dizer em voz alta.

Ainda mais com Jack sentado do meu lado, me estendendo uma bandeja cheia lanches, refrigerantes e muitas rosquinhas de chocolate que ele havia ido buscar, gentil como sempre.

Eu não sentia a menor vontade de comer, mas minha boca estava seca e um chocolate seria bom para meus nervos. Abri um refrigerante e mordisquei uma rosquinha

- Eles estão fazendo tudo isso para abafar a situação, não é? – eu arrisquei – lanche especial enquanto nos prendem na lanchonete e apresentação do uniforme do time de futebol. Nada de aulas, já que ninguém nos mandou para as salas. Estão tentando nos distrair. Por que não nos mandam simplesmente para casa?

- Você tem razão Nicolle – Juliet garantiu com um sussurro – estão tentando nos distrair. Eles farão qualquer coisa para abafar este caso.

- Os pais devem estar loucos – confirmou Paul, que raramente falava alguma coisa – olhem em volta, todos os celulares estão tocando, se eles não agirem desta forma, a situação se transformará em histeria.

Eu olhei para os lados e percebi que eles tinham razão. Todos falavam nos celulares e até os seguranças ficavam se comunicando sem parar naqueles microfones fininhos. Eu não via mais nenhuma briga, mas era visível a tensão, por todos os lados, tão densa que poderia ser cortada com uma faca.

Então o celular de Danielle tocou, e o de Paul, Jack , Hellen , Patrícia , Michel , Hellen e Juliet , todos ao mesmo tempo , fazendo com que eu desse um pulo na cadeira.

Olhando para o visor, Danielle exclamou visivelmente perturbada, enquanto atendia seu telefone.

- A histeria já começou. Oi mãe!

Meu celular também vibrou em minha bolsa, e eu me apressei para atender. Eu não precisei olhar no visor para saber quem era. Eu logo ouvi a voz nervosa de minha mãe do outro lado da linha.

- Nicolle, Nicolle o que esta acontecendo aí. Invadiram o colégio?

- Sim mãe, mas foi durante a madrugada e parece que não roubaram nada. Apenas esta tudo meio confuso e bagunçado, mas esta tudo bem.

- Como algo confuso e bagunçado pode estar bem? – ela perguntou impaciente.

- Mãe, tem tantos seguranças e inspetores aqui que parece que estamos em um treinamento da Swat. Estamos no refeitório, reunidos e seguros, não se preocupe. Deve ter sido algum vândalo que invadiu o colégio a noite e causou uma confusão, mas estamos todos seguros , fique tranqüila.

- Estão dizendo que a escola foi invadida e havia alunos reféns. Você tem certeza que não esta acontecendo nada?

- Reféns? – eu ri com a velocidade que as fofocas e boatos absurdos se alastravam – Não mãe, não esta acontecendo nada disso. É sério, apenas um pouco de bagunça, não há motivo para pânico.

- Se você quiser eu vou te buscar em minutos filha.

- Mãe eu estou de carro. – eu fiz questão de lembrar.

O que deixou minha mãe mais nervosa pelo tom agudo que ela me respondeu.

- Você entendeu garotinha. Eu vou te buscar.

- Mãe, mãe, não é necessário. Eles não nos dispensaram justamente para não causar pânico. Estou no refeitório com Dann e o resto da turma, e para você ficar mais tranqüila, todo o colégio esta aqui guardado com inspetores e professores, Após teremos uma apresentação do time de futebol no ginásio, esta tudo tranqüilo.

Eu ouvi minha mãe suspirar pesadamente, de alivio.

- Ok. Fico mais tranqüila então. Mas a qualquer sinal de algo errado...

- Eu ligo, fique tranqüila mãe.

- Ok. Amo você pequena.

- Eu também. Um beijo mãe.

Eu olhei para o resto de minha turma, e todos pareciam incrédulos. .

- Minha mãe ouviu o boato que estávamos sendo mantidos reféns – eu ri.

- Todos nós ouvimos isso – garantiu Jack – os boatos, verdadeiros ou falsos se espalham com rapidez por aqui.

Foi então que Paul nos mostrou algo em seu celular – que era enorme e parecia um pequeno computador, em vez de um simples telefone.

- Atualizaram a pagina do colégio na internet. Estão afirmando que esta tudo bem e que houve apenas um leve incidente nos arquivos, mas que a empresa de segurança já estava tomando conta de tudo e que todos os alunos estão seguros, aproveitando uma manhã especial, com café da manhã e em seguida apresentações de musica, dança e da equipe de futebol no ginásio.

- Uau – eu exclamei – as coisas são rápidas por aqui.

- Bem vinda a corte dos reis da Florida, Nicolle – ironizou Michel

Eu tomei mais um longo gole de refrigerante. Eu olhei para o lado, tentando contatar Dann sem chamar a atenção de nossos outros colegas. O que não foi preciso, pois ela já olhava discretamente em minha direção, fingindo interesse no vai e vem dos seguranças e no burburinho do refeitório lotado.

- Eu não estou com um bom pressentimento. – eu disse a ela baixinho.

- Nem eu Nicolle, nem eu. – ela assentiu em um sussurro.

- O que as duas estão cochichando? – uma voz aguda berrou bem atrás de nós – A vadia veterana já esta ensinando à novata como se meter aonde não deve?

Todos olhamos para trás, levando um tremendo susto.

Jessica Smith estava nos encarando, cercada por três de suas amigas bronzeadas e metidas, todas com cara de poucos amigos.

Eu olhei para ela incrédula. Ela estava olhando fixamente para mim.

- Você não percebeu que eu estou falando com você, sua vadia nojenta, ou você esta procurando mais alguém aqui? Se você esta procurando o meu namorado, ele não esta aqui.

Aquilo despertou uma fúria violenta dentro de mim. Em segundos em estava de pé, encarando-a frente a frente. Não tinha como eu odiar alguém mais profundamente do que eu odiava Jessica.

- Você esta falando com quem, Jessica? – eu perguntei de dentes cerrados.

-Com você, Nicolle Crystal. Com qual outra vadia eu posso estar falando? – ela disse com um sorrisinho irônico nos lábios, a voz irritante subindo mais decibéis do que deveria ser permitido – a sua amiga esquisita já aprendeu com quem não se deve mexer por aqui. É hora de você ter a mesma lição, novata.

Todos do refeitório pararam imediatamente para ver a nossa discussão. Eu sabia que era questão de segundos até um professor ou segurança se aproximar para nos separar. Eu tinha que tentar manter a calma, eu sabia disso, pois eu era nova ali, qualquer atitude poderia me prejudicar. Mas a raiva que eu sentia de Jessica estava me sufocando, fazendo o ar fugir de meus pulmões e meu sangue pular como água fervendo em minhas veias. Eu me sentia quente, muito quente, como se fosse explodir. Eu via minhas amigas ao meu lado, Danielle vermelha e murcha com os comentários de Jessica, mas mesmo assim ela ainda a enfrentava de frente.

- Ok Jéssica – eu disse tentando controlar a minha voz – que você é louca, eu não demorei muito tempo para perceber, todos sabem que oxigenada em excesso um dia provoca loucura mesmo. Agora diga, do que você esta falando.

- Ah, você não sabe realmente? Então você esteve perseguindo Henry o final de semana todo e você não sabe do que eu estou falando?

Opa. Claro que Henry tinha que estar envolvido naquela história.

- Eu ainda não sei do que você esta falando – eu repeti – eu não estive perseguindo ninguém durante o final de semana.

- Oh não? Você quer dizer que não se encontrou com ele na praia no sábado de manhã? Os avós de Aisha viram tudo e ela contou para mim. Não é Aisha? – ela apontou para outra loira muito maquiada, que eu sabia que era amiga dela. Ela fez cara feia ao olhar para mim.

- Meus avós andam naquela praia todas as manhãs – a tal Aisha garantiu – e eles viram Henry e uma garota que tinha a sua descrição Nicolle. Fora de moda e fora de forma.

Eu queria socar a tal Aisha pelo comentário, mas eu tentei me controlar. Então eu me lembrei, do casal de velhinhos fofos que estavam andando na praia sábado pela manhã enquanto eu estava com Henry. Eles não deveriam ser tão fofos afinal.

- Eu não sei de onde você vem , escória – Jéssica continuou gritando, ficando cada vez mais próxima a mim – mas por aqui, garotas galinhas não são bem vistas.

Foi Hellen que desta vez gritou.

- E o que você é , Jéssica, já que ficou com metade do time de futebol do colégio? Isso em contar com a equipe de handebol, com os lutadores de luta romana...

Instintivamente eu olhei para Jack, que havia ficado vermelho e alarmado com a revelação de Hellen. Eu sabia que aquele não era um assunto que ele gostava de falar, e instintivamente ele se levantou. Paul e Michel o afastaram um pouco, avaliando se eles deveriam se meter ou não em uma briga de garotas.

Oh, aquilo ia ficar muito, muito feio. Mas ao olhar para o olhar curioso dos meus amigos e do olhar surpreso de Jack eu precisava me explicar.

- Escuta aqui Jessica, eu não me encontrei as escondidas com o seu namorado e eu não o estava perseguindo. Se você não sabe, aquela praia fica próxima da minha casa e nos encontramos por acaso. Trocamos uma ou duas palavras, nada aconteceu. Larga de ser idiota. Estamos fazendo papel de idiotas em frente ao colégio inteiro.

- Ah, nada aconteceu? Somente o fato de que você esta se jogando pra cima dele.

Oh meu Deus! Eu queria socá-la, eu queria tanto socá-la.

A escola inteira estava olhando pra mim. Eu seria conhecida como a novata que se jogava pra cima do cara mais popular do colégio, como uma perdedora. Oh, eu era realmente uma perdedora por estar me metendo em uma história dessas.

- Jéssica – eu tentei pela enésima vez – eu já disse que não tem nada acontecendo entre eu e Henry. Eu não estou dando em cima dele, pare de ser ridícula .

- Oh não – ela ironizou – então o encontro no Shopping foi casual também?

- Encontro no shopping? – eu escutei Jack murmurar.

- Sim, encontro no shopping, e desta vez foi o irmãozinho dele que me contou, todo animado, quando eu liguei para Henry ontem à noite e educadamente perguntei sobre o dia do garoto. O garoto estava todo feliz, por ter encontrado Danielle e a bonita amiga dela que estava conversando com seu irmão. Claro que o garoto tem péssimo gosto. - então ela deu um olhar gélido para Danielle – E você, Danielle, não ficou contente com a sua primeira tentativa de se infiltrar em nosso meio e agora esta tentando por meio de um garotinho de dez anos. Podofilia é crime, você não sabia?

Ela havia passado dos limites. Eu praticamente voei pra cima de Jessica, precisando que Danielle e Hellen me segurassem.

- Pedofilia, sua burra – eu gritei - pelo menos saiba falar se quer insultar alguém. E eu estava no shopping com Danielle e minha mãe, a minha mãe! Você quer dizer que minha mãe esta atrás de Henry Nichols também?

- Talvez – ela disse – vindo de você nada me surpreende.

Eu tentei me desvencilhar das mãos de minhas amigas, eu queria socar aquela louca.

De repente as amigas de Jessica também estavam indo para cima de nós e agora eu sabia que era melhor algum segurança realmente interferir, ou aquilo iria virar uma tragédia adolescente. Eu iria arrancar todos os fios daquele cabelo louro tingido de Jessica.

- Jéssica, eu já disse, eu não estou atrás de seu namorado, eu não quero nada com ele, eu não tenho culpa se você tem baixa auto-estima! Procure um psiquiatra e nos deixe em paz,

- Vadia – ela gritava – você é uma vadia Nicolle Crystal.

- Ela tem namorado – eu ouvi a voz suave de Juliet tentando se destacar das demais pela primeira vez – ela tem um namorado em Seattle. Parem com isso!

- Ah, um namorado?Aposto que sim, e aposto que você corria atrás de outros garotos enquanto estava com ele. – Jessica ainda gritava. – Eu vou ensinar você a ficar longe do namorado das outras.

- Então vai ter que passar por cima de todas nós. – Patrícia gritou.

Jack se colocou na nossa frente, tentando nos separar. Enquanto Michel e Paul tentavam acalmar as outras garotas. Todas elas pareciam prontas para a briga.

- Você esta atrás desse aí também Nicolle? – ela apontou para Jack - Quantos afinal você quer? – Jessica ainda gritava a plenos pulmões.

- Chega. Chega! – eu gritei – Pare com isso. Sim eu tenho um namorado e eu o amo. – eu não queria pensar nas conseqüências das mentiras que eu estava dizendo – Eu não quero nada com Henry Nichols, eu não estou interessada em Henry Nichols. Você ouviu Jéssica? Eu não quero nada com Henry Nichols!

- Se ela não ouviu, eu aposto que a escola toda ouviu que você não quer nada comigo. – uma voz familiar e fria como gelo falou bem atrás de mim – O que esta acontecendo aqui?

Eu tive medo de olhar para trás. Oh, aquilo havia se transformado em um circo. Um patético e triste circo, no qual eu era uma das personagens principais. Eu olhei para meus amigos, um por um, chocada por ver suas feições, a raiva transparecendo em cada uma delas. Eu os havia colocado naquela situação ridícula.

Mas foi a foz gélida de Henry Nichols que partiu o que restava de minha dignidade. Eu havia sido vencida. Eu queria chorar. Ou vomitar. Ou ambos ao mesmo tempo.

Eu olhei lentamente para trás, e sim, ele estava ali , parado como uma estatua , seus olhos azuis duros, claros e frios como gelo. Ele estava acompanhado de Trevor e outros de seus amigos jogadores além de outros dois seguranças.

Oh, agora os seguranças haviam aparecido. Quando eu já havia desempenhado o papel mais ridículo de toda a minha vida.

- Vamos, o que esta acontecendo aqui? – ele perguntou novamente – Alguém pode me dizer o que esta acontecendo aqui?

Foi Jack que respondeu.

- O que esta acontecendo aqui é que você deveria controlar mais a louca da sua namorada Nichols. Ou ela acha que pode sair ofendendo todos a sua volta, como a louca e esnobe que ela é?

- Perdedor – Jéssica gritou para Jack– você é um perdedor.

Henry suspirou pesadamente. Nossos olhos se encontraram por um breve momento e ele jogou toda a intensidade de seus olhos sobre mim. Estavam frios, pesados, confusos e havia outra coisa também, outra coisa que fazia eu me sentir pequena. Ele parecia magoado e cansado. A força daquele olhar doeu em meu coração e eu senti lagrimas brotando de meus olhos e escorrendo pelo meu rosto.

- O que houve desta vez Jéssica? – ele olhou enfurecido para ela, desviando seus olhos dos meus – Eu encontro você metida em uma confusão com Nicolle Crystal e seus amigos, duas vezes em pouco mais de uma semana. Isso porque a garota é nova no colégio. Me diga de uma vez por todas o que aconteceu aqui.

- Briga de mulheres cara, isso que estava acontecendo aqui – Trevor respondeu com uma risada gutural – Sexy, muito sexy cara. Você deveria ter deixado elas se pegarem Henry.

Henry o ignorou. Jessica ficou muda de repente, assim como todos nós. Era impossível ignorar a força que Henry transmitia.

- Nada? – ele perguntou – Ninguém vai me falar nada?

Danielle se postou bem na minha frente. Novamente.

- Jack tem razão Henry – Dann disse, a voz baixa e firme – Jessica precisa ser controlada . Ela veio tirar satisfações com Nicolle. Ela garante que ela esta dando em cima de você e que vocês estão se encontrando ás escondidas. Ela citou um encontro na praia e ontem no shopping. Eu estava junto dela e de sua mãe, Henry, você bem sabe, e o encontro de vocês no CityPlace foi casual. Agora esta louca veio com quatro pedras na mão acusando Nicolle de tentar roubar você dela.

- Eu tenho que garantir o que é meu – a voz esganiçada de Jessica gritou novamente – eu não vou permitir que esta vadia venha roubar o que é meu!

- E o que é seu Jéssica? – Henry cortou friamente, visivelmente irritado – Desde quando eu sou a sua propriedade? Desde quando você tem o direito de agir comigo como uma namorada ciumenta?

- Henry, por favor – ela pediu visivelmente humilhada com suas palavras, alisando nervosa a saia de seu uniforme vermelho e branco de líder de torcida.

- Você quer conversar sobre relacionamentos, é isso Jéssica? – ele falou novamente, com a voz fria - Na frente de todo o colégio? É isso realmente que você quer?

- Não Henry, por favor - ela murmurou o tom de voz baixo e finalmente controlado.

Ela estava visivelmente subjugada por alguma coisa que Henry estava deixando claro nas entrelinhas.

Algo que eu não entendia. Assim como toda a escola, era possível ouvir a respiração dos alunos, de tão quietos que eles estavam, todos de olho na cena que se desenrolava. Eu senti Jack segurar o meu braço e me puxar em sua direção, em um gesto protetor. Percebi que os olhos de Henry novamente me olharam, e de mim para Jack, os olhos cada vez mais duros, o maxilar travado.

- Peço desculpas, Srta Crystal – ele disse educadamente, mas ainda assim frio – assim como eu peço a seus amigos por te-los colocado em uma situação tão ridícula. Já ficou bem claro aqui, que eu e a Srta Crystal não temos nada um com o outro, somente temos em comum um trabalho nas aulas de literatura da Sra. Charlotte. Também ficou claro que a Srta Crystal tem um namorado e que também não tem nenhum interesse por mim. – então os olhos dele se estreitaram em direção a Jack – e eu acho que, se ela tivesse algum interesse por outro cara do colégio, com certeza não seria eu o seu eleito. Agora creio que já encerramos esta questão e eu espero que isso realmente se encerre por aqui.

Eu vi um dos inspetores finalmente se aproximando de nós.

- Algum problema, Sr. Nichols? – o inspetor, um cara alto e moreno que eu já havia visto pelos corredores perguntou.

- Nenhum problema, Sr. Palmer – Henry garantiu muito formal – Isso já foi resolvido. Eu terminarei minha conversa com Jessica Smith em outra hora.

Ele virou as costas e caminhou em direção a porta do refeitório, seguido pelos seguranças, Trevor e os caras do time de futebol.

Jessica saiu pelo outro lado, com as suas amigas cheeleaders, visivelmente humilhada.

Eu fiquei ali, parada, com toda a escola olhando para mim. Então de repente todos tinham mais coisas para fazer e resolveram cuidar de seus próprios assuntos, em suas mesas.

Eu me sentia péssima, humilhada, triste, como se toda a energia de meu corpo houvesse sido drenada pela briga com Jessica.

Mas o pior era o olhar frio de Henry Nichols. Aquilo me machucava mais que qualquer discussão, que qualquer palavra que ela poderia ter dito.

Deixei que Jack e meus amigos me levassem de volta a minha cadeira e aceitei o refrigerante que Danielle estendia em minha direção. Minha garganta estava seca

- Você esta bem? – Dann perguntou suavemente.

- Apenas cansada. Essa briga toda foi ridícula. Desculpas ter envolvido todos vocês.

- Nah – respondeu Patrícia – mexeu com um, mexeu com todos, huh? Nos não temos segredos um com o outro e muito menos deixamos algum de nossos amigos na mão. Nunca.

Foi então que lembrei a revelação de Juliet sobre meu suposto namorado, deixado para trás em Seattle. Sim, eles realmente não guardavam segredos um dos outros naquela turma.

Minha cabeça girava, assim como meu estômago doía.

- Eu ainda não entendo de onde começou essa loucura da Jessica contra a Nicolle. Nicolle e Henry Nichols ! – comentou Hellen, se ajeitando no seu apertado casaquinho preto – ela veio pra cima de você como uma leoa.

- Mas vocês viram a reação do Nichols? Ele foi tão frio com a Jessica... Algo de estranho acontece neste relacionamento.

- Concordo Pat – Hellen se levantou, indo buscar mais um chá gelado – Algo de podre esta acontecendo na encantada corte dos reis de West Palm. E o Nichols parecia quase ofendido com os gritos de Nicolle a plenos pulmões de que não sentia o menor interesse por ele.

Eu queria tanto que eles parassem com aquela conversa. Eu dei um olhar suplicante para Danielle.

- E não tem mesmo? – de repente Jack perguntou meio hesitante – Não tem mesmo nenhum interesse por Henry Nichols? Vocês se encontraram no final de semana Nicolle?

- Oh, por favor, deixe ela em paz Jack – pediu Danielle.

Eu olhei ao meu redor e percebi o olhar meio suplicante de Jack e o olhar ansioso de meu amigos. Eu precisava terminar aquela situação.

- Não Jack – eu disse com a voz cansada – Nenhum interesse e nenhum encontro. Quer dizer, acabamos nos encontrando por acaso na praia e no shopping, mas não foi nada. Foi um acaso e praticamente jogamos uma ou duas palavras fora, a maior parte sobre nosso trabalho de literatura.

- Eu não sabia que vocês eram parceiros nas aulas da Sra. Charlotte...

- Jack, pare, por favor – cortou impaciente Danielle – deixe ela um pouco em paz. Ela já disse que não tem nada com o Henry. A Jessica é louca, ela me acusou de pedófila porque eu sempre fui gentil com o irmão mais novo do Henry, imagina só. Ela esta obcecada por ele, pelo nome da família dele, por tudo que se refira a ele. Deixem Nicolle fora desta loucura que é a mente de Jessica Smith.

Todos imediatamente ficaram quietos e eu afundei ainda mais na minha cadeira. Eu ainda sentia meu corpo pegando fogo, de raiva e stress, mas eu tremia. Eu me encolhi em minha jaqueta jeans, e passei as mãos pelos meus cabelos.

Eu queria ir para a minha casa.

A voz da Sra. Tricia mais uma vez irrompeu o refeitório pelo alto falante. Quantas vezes ela ainda falaria naquela manhã?

“– Senhores alunos, por favor, se dirigiam ao ginásio de esportes pela entrada principal e estacionamento. Os seguranças indicarão o melhor caminho e os escoltarão. A presença de todos é obrigatória e teremos monitores e seguranças por todo o colégio para garantir que nenhum aluno falte ao evento”.

Todos nos levantamos imediatamente.

- Sua mãe tinha razão Nicolle – garantiu Michel, enquanto passava os braços pela cintura de Pat.

- Com o que Michel? – eu perguntei apesar de querer ficar calada.

- Estamos realmente sendo mantidos reféns.

Eu deixei Jack apoiar sua mão por baixo do meu braço. Ele deixou a mão aí, mas naquele momento, o que importava?Ele se abaixou e falou bem baixinho no meu ouvido.

- Desculpas – ele disse – eu não tinha o direito de ter perguntado aquilo para você, não neste momento. Eu acho que surtei um pouco e eu não tinha direito.

- Esta tudo bem Jack – eu afirmei, cansada demais para qualquer outra afirmação.

Seguimos direto pelo estacionamento até chegarmos ao ginásio. Eu olhei para o céu e percebi que ele estava ficando cada vez mais pesado, apesar do sol brilhar com intensidade no céu. Mas eu sentia uma brisa gelada se formando, assim como o vento que ficava mais úmido, muito mais que a costumeira brisa que sempre vinha do mar. Eu podia sentir o cheiro de chuva ao longe.

Mas o que mais me incomodou foi os olhares furtivos ou diretos da maioria dos alunos que passavam por nós. Alguns olhares de apoio, alguns olhares de aprovação e incentivo, outros de reprovação, outros de fofoca. Eu via umas garotas cochichando e olhando em minha direção. Uma delas – ruiva magra e bonita – olhou em minha direção com ferocidade. Eu guardei aquela informação para analise posterior, assim que eu pudesse perguntar para Danielle, quem era aquela garota que me olhava daquele modo.

Na entrada do ginásio, passamos por detector de metais. Sim, daqueles moveis que sempre tem nas entradas de shows, bem ali, na entrada do ginásio. Havia seguranças homens e mulheres, todos munidos com detectores de metal Eu passei por aquilo sem reclamar. Eu já havia passado por coisas piores hoje.

- Eles já estão exagerando, não é? – eu perguntei.

Jack aparentemente não estava tão tranqüilo com isso como eu estava.

- Logo eles estarão chamando os alunos bolsistas para novas entrevistas. Sempre é mais fácil procurar os culpados junto as classes menos favorecidas.

Foi então que eu me lembrei, Jack era bolsista, assim como Helen. Ele tiinha mais privilégios que os demais já que era campeão de luta romana, mas a maioria ainda esta vista como pária pelos reis do colégio. Alguns alunos, como eu, Michel e Paul, tinham suas mensalidades pagas como parte do plano de benefícios das empresas que seus pais trabalhavam. Isso não era tão ruim. Queria dizer, na linguagem dos reis do colégio, que nossos pais eram valiosos para as empresas que trabalhavam.

Eu franzi o cenho. Aquilo tudo era tão absurdamente esnobe.

Assim que entramos, percebemos a mudança que havia sido feita no colégio em pouco mais de uma ou duas horas. O ginásio estava as escuras, e o anfiteatro que fazia parte do complexo, tinha tido as suas portas aberta, o grande palco iluminado por tochas.

Sim, tochas , muitas tochas. Tochas em um colégio cheio de adolescentes? Mas estava bonito, iluminado, e havia seguranças por todos os lados. Quantos haviam sido chamados? Eu contei ao todo quase trinta seguranças.

Sentamos todos juntos, eu entre Danielle e Jack. Em poucos minutos as arquibancadas estavam tomadas por alunos, todos ansiosos pelo que seria apresentado. Aparentemente, o stress da invasão do colégio momentaneamente esquecida.

Um canhão de luz foi projetado para o palco , iluminando a Sra. Tricia , que segurava o microfone , usava um terninho vermelho , perfeitamente maquiada.

- Bom dia queridos alunos – ela disse com a voz animada, parecendo em campanha para o senado e não no ginásio do nosso colégio – É um prazer contar com a presença de todos vocês. Primeiramente, quero garantir que a situação que nos encontramos esta manhã já esta sendo resolvida e sanada, e todos os alunos contarão com a eficaz segurança do Kings of West Palm Beach High. Mas enquanto arrumamos a bagunça que todos viram pela manhã, preparamos um dia especial a todos. Teremos um show dos nossos brilhantes The Leônidas, a banda do terceiro ano que tanto traz brilho para nossa escola. Após, temos o prazer de apresentar o novo uniforme do nosso time campeão , os Lions, designer de Jessica, Aisha e Susan, que todos conhecem como parte das nossas lindas cheeleaders, e que tem muito talento. “

- Nojento – eu murmurei.

- Bom, quero aproveitar para avisá-los também que amanhã não teremos aula, pois instalaremos o novo sistema de câmeras e vigilância por todo o campus do colégio e que as aulas extracurriculares estarão suspensas esta semana, retornando as suas atividades normais na segunda feira que vem. Sexta feira é o jogo do Lions contra a equipe de Laguna, estamos todos ansiosos e torcendo muito por nosso time.

Uma salva de palmas e gritinhos histéricos ressoou pelos quatro cantos do ginásio.

- Aproveitem o dia de folga amanhã com sabedoria e vejo todos na quarta feira. Agora com vocês, The Leônidas.

O canhão de luz que iluminada a Sra. Tricia se apagou completamente, e o palco ficou todo iluminado. Os garotos da banda estavam a postos e um solo de guitarra se sobressaiu acima dos gritos e palmas por todo o ginásio. A quadra foi liberada e todos se aproximaram do palco.

Estávamos no meio de um concerto de rock agora, e a musica embalava a todos. Eles tocavam uma musica do Fall Out Boys, e um dos garotos até estava com cabelo franjinha e olhos pintados, cover perfeito do guitarrista. Eu gostava da banda original e da musica e me deixei levar um pouco. Eu ainda estava tão nervosa.

Hellen, Juliet e Patrícia estavam eufóricas e queriam se aproximar também. Danielle acenou levemente com a cabeça em minha direção. Mas eu não queria ser a estraga prazeres da turma.

- Não, esta tudo bem, vamos sim. Os garotos são bons e tocam bem, assim eu esqueço a briga com Jessica.

- Eu não saio do seu lado, eu prometo – garantiu Jack, todo protetor, causando risadas em nossos amigos.

Saímos juntos, nos apertando em direção ao palco. Não era muito difícil conseguir um pouco de espaço com uma turma de oito pessoas espremendo as outras pessoas Todos dançavam ao som da banda, os corpos se mexendo em um ritmo frenético. Eu não via nenhuma líder de torcida ou algum jogador de futebol por nenhum lugar. Com certeza eles deveriam estar se preparando para as apresentações.

Conforme eu fui chegando perto do palco, fui percebendo que a minha cabeça ia ficando mais pesada, ao mesmo tempo em que meu corpo ia ficando mais quente. O calor era sufocante, fazendo com que eu quase perdesse o ar. Jack segurou a minha mão e eu deixei, pois o entorpecimento ia ficando cada vez mais forte, eu sentia como se qualquer passo em falso eu pudesse perder os meus sentidos.

Eu olhei de leve para a mão de Jack que segurava a minha e não quis pensar o que isso significaria aos olhos das outras pessoas. Ainda mais depois da cena que eu havia causado e a declaração publica de meu suposto namorado.

Meu coração doeu ao lembrar do olhar frio de Henry Nichols após o meu triste espetáculo com Jessica. O que eu havia feito? O que ele pensava de mim?

Meus amigos dançavam, animados com o som da banda, o frenesi das luzes brilhando em nossos olhos. Eles haviam conseguido criar um bonito espetáculo.

Eu tentei olhar para Danielle. Ela estava ao meu lado, os olhos agoniados e perdidos. O que aquela garota estava sentindo agora? Então ela olhou para mim com algo que eu poderia dizer que era puro terror. O que estava acontecendo?

Então a banda anunciou a entrada triunfal das cheeleaders. Elas entraram dançando e rebolando ao som da musica, pompons a postos. Jessica as liderava e eu percebi que ela me olhou com um olhar de nojo e raiva.Nenhuma humilhação publica seria capaz de tirar a pose de Jéssica Smith.E nem o seu ódio declarado por mim.

Assim como a menina ruiva que eu havia visto minutos antes e estava agora a poucos metros de mim, um olhar enraivecido em seu rosto. O que eu havia feito para ela?

A direita eu pude observar os caras altos do time de pólo aquático. Um deles, moreno e muito bonito, piscou para mim e abriu um largo sorriso.

O que estava acontecendo? O que eu estava perdendo? Eu via o olhar de muitas pessoas em minha direção.

Um grande estrondo no palco aconteceu naquele instante. Eram fogos, instalados no palco, e conforme as cheeleaders aumentavam seus movimentos frenéticos, mais tochas eram acesas, muitas tochas, aumentando ainda mais o calor do meu corpo.

Eu arfei.

- O que foi Nicolle – Jack se abaixou para perguntar em meu ouvido, sua voz soando alta e ensurdecedora – Você esta bem?

- Sede... eu estou apenas com sede- eu disse, tentando forçar a minha voz a sair clara.

- Eu vou buscar um refrigerante para você – ele gritou novamente – volto em um minuto.

Ele soltou a minha mãe e saiu tentando abrir passagem pela multidão. Eu me senti sozinha, muito sozinha em apenas alguns instantes.

Eu olhei no palco novamente e o mascote do time, o grande leão, estava ali. Ele havia mudado o uniforme, em vez dos cordões de ouro e roupas modernas, ele usava uma roupa de gladiador romano. Ele jogava um grande escudo para o ar, saudando a multidão excitada de alunos.

Mais uma explosão seguida de uma grande gritaria. Os jogadores do Lions entraram no palco, um a um, com o novo uniforme, um leão estilizado estampado em suas camisas negras, negras como toda a roupa e capacetes.

A massa começou a gritar, uma palavra que eu demorei para compreender, mas ela foi se tornando cada vez mais clara . “Gladiador! Gladiador! Gladiador!” eles gritavam.

A banda tocou mais alto , em tom de suspense , e as cheeleaders abriram espaço no palco. Henry Nichols então entrou, lindo em seu uniforme negro, o capacete pendia em sua mão. Sua expressão era feroz, os olhos frios e o maxilar travado.

Ele não olhou uma vez em minha direção.

Uma chama alaranjada brilhou no canto dos meus olhos. Aquilo era muito melhor que o caos que havia virado o ginásio.
Mas o pior caos era em minha mente. A náusea aumentou, conforme o calor de meu corpo. Minha cabeça doía.

Era bom olhar para as chamas alaranjadas da tocha. Eu instintivamente comecei a me aproximar do palco.

A banda agora tocava uma antiga musica do ACDC, as pessoas dançando e pulando cada vez mais. Papeis caiam do teto, os jogadores de futebol e as cheeleaders animando a platéia enlouquecida. Eu vi Jéssica ao centro , em uma postura superior , como se nada tivesse acontecendo. Ela comandava as suas colegas como se fosse uma rainha.

Eu voltei meus olhos para Henry Nichols. Algo mudou em sua expressão, e eu percebi que ele olhava em minha direção.

Assim como Danielle.

Ela tentou segurar meu braço. O que ela estava fazendo?

Eu precisava ir em direção do palco. As chamas alaranjadas acalmavam o meu coração.

Eu podia sentir o calor do fogo em minhas veias, meu corpo era feito de chamas. Eu precisava chegar mais perto, e mais perto...

Eu estendi as minhas mãos, pois tudo que eu queria era tocar as chamas flamejantes das tochas.

Eu tentava ignorar a minha cabeça que rodava vertiginosamente, meus olhos desfocados, apenas as chamas importavam. Eu estava quase conseguindo tocá-las, elas fariam parte de mim agora.

Apenas mais um pouco... Estava tão difícil as pessoas pulavam e dançavam ...

Eu dei mais um passo pela frente. As chamas tomaram conta completamente da minha visão. Elas dançavam, dançavam um lindo baile alaranjado.

Eu ouvi um grito ao fundo. Uma mão pequena tentava me reter.

Mais um grito, e outro grito...

Mas uma imagem se formou bem diante de meus olhos.

Uma garota, vestida com um lindo vestido de algodão lilás suave, dançava em volta de uma fogueira. Eu sentia a sua alegria e seu poder por todo o redor. Ela olhou diretamente para mim e sorriu.

Ela estendeu a sua mão e então eu olhei diretamente em seus olhos. Eu a conhecia. Era a garota que eu via em meus sonhos. Desta vez eu a vi, pois eu sempre via o que ela sentia pelos meus olhos.

Estendi a minha mão em sua direção, e me aproximei da fogueira, que me enfeitiçava com suas chamas. Em algum lugar eu ouvi novamente gritos, mas distantes, tão distantes.

Algo aconteceu naquele instante. Meus olhos foram tomados pela cor laranja do fogo, calor se espalhando por todos os meus membros. Algo violento como uma explosão me atingiu.

Eu senti algo forte e duro se chocando em meu corpo e me jogando ao chão. Minha cabeça doeu e meus pulmões foram pressionados ao chão por algo pesado.

Oh, aquilo era pior que o próprio inferno. Eu senti a dor se apoderando de meu corpo e eu não conseguia respirar.

E depois, eu me perdi em um mar profundo, aonde apenas a escuridão reinava.

Playlist "As filhas do vento"


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