domingo, 24 de maio de 2009

Cap. 7 postado, playlist atualizada !!!!

O que vocês estão achando até agora ?

Um beijo cheio de magia

Gaby Raposo

Cap. 7 - Deja vú

Os dezenove minutos que separavam a Rod. Beldevere a Rosemary Avenue passaram em menos de uma batida de coração.

Tentando me livrar de qualquer vestígio de meu humor ruim, pela primeira vez aproveitei a beleza de West Palm Beach, a ampla Rodovia Beldevere, seus coqueiros contrastando com a ampla paisagem que dava lugar ao sol incandescente da Flórida de meio de tarde.

A despeito das reclamações de Hellen e Patrícia sobre as suas escovas que ficariam inacreditavelmente perdidas e do quão ruim seus cabelos ficariam, abri bem os vidros de meu carro, sentindo a brisa quente que nos abraçava, e arrepiava os pelos da minha nuca.

Vida. Aquele caminho e a atmosfera festiva no meu carro me lembrava de nossa juventude e da cidade que pulsava a vida e agitação.

Patrícia, Hellen e Julliet cantavam a plenos pulmões, a música do Coldplay que tocava em meu player.

Eu me permiti esquecer de todos os meus problemas por apenas um segundo, e aproveitar o momento, a minha juventude e as minhas novas amigas.

Apesar de meus olhos estarem quase se fechando e do aperto na boca de meu estômago que se acentuava a cada milha que passávamos.

Hellen precisou gritar alto para que eu não perdesse o acesso pela Okeechobee Bopulevar, que nos levaria diretamente ao endereço do shopping Cityplace, nosso destino naquela tarde.

Mas algo estava errado.

Se eu tivesse prestado um pouco mais atenção, eu veria que os sinais estavam todos lá.

Os grandes olhos castanhos de Dann se agitavam a cada sombra de algum coqueiro ou a algum carro que nos ultrapassava.

Ela estava tensa, como uma pequena presa em uma caçada, esperando apenas o momento do ataque de seu predador.

Exatamente como eu me sentia.

Minha respiração estava acelerada e meu coração batia forte em minhas temporas. Eu sentia excitação e ansiedade por algo que poderia acontecer e nem eu mesma ainda sabia.

Foi então que chegamos a bela construção em estilo italiano, ao Cityplace. Pareia uma antiga villa européia, com uma enorme e linda cascata, e os pequenos prédios interligados, de tijolos rosados e sacadas.

Pareceria sim uma villa, se não fosse um enorme hotel Nicolls a esquerda, todo de vidro espelhado, com tantos andares que eu nem conseguia contar, e com todos aqueles carros maravilhosos estacionados em frente.

Parece que aquele nome me perseguia por onde quer que eu fosse: Nicolls.

O aperto em meu estômago começava a ficar mais forte, quando Dann me chamou a realidade.

- Ali Nicolle - ela indicou a um pequeno quiosque bem em frente aonde passávamos – ali esta o seu oásis.

Starbucks.

Eu quase nem consegui estacionar direito, quando um solícito e sarado manobrista correu em meu auxílio.

Será que todos os caras da Florida vinham com alguma mutação genética que os deixava assim, sempre prontos para arrancar a camisa e fazer qualquer garota suspirar?

Eu nem precisei terminar meu raciocínio quando vi que Hellen e Julliet eram todas sorrisos e agradecimentos ao manobrista gostoso.

Eu quase corri em direção ao pequeno quisque da Starbucks, quase implorando por um café.

Quando eu já estava no segundo copo do meu Brewed Coffe, eu percebi as garotas sentadas e rindo , olhando em minha direção.

- O que foi? Perguntei entre uma golada e outra.

- Eu sei que você não gosta do comentário, mas isso sim é típico de Seattle – Patrícia apontou para meu enorme copo de café.

- É eu sei – eu tive que aceitar, afinal de contas a Starbucks nasceu em Seattle. E eu tenho a plena certeza que meus pais colocavam pelo menos um pouco de café na minha mamadeira. Aquele gosto típico me fez se sentir ao menos por um segundo de volta a minha casa, a minha antiga e amada casa.

- Hey, chega de mostrar o quanto Nicolle Crystal é diferente garotas – eu disse numa voz bem amigável, vários decibéis acima do meu rotineiro tom taciturno – Vamos ao que interessa.

Elas me olharam de um jeito estranho.

Com certeza preocupadas com mais alguma demonstração de ódio á humanidade.

- O que? – perguntou Dann, arqueando uma sobrancelha?

- Compras – eu disse – Afinal vocês vão introduzir o estilo floridiano de se ter uma boa apologia ao consumismo à novata aqui, ou não?

Todas riram e se cumprimentaram do seu jeito típico, e por alguns segundos eu me senti bem novamente. Quase normal.

- Você esta com um humor melhor – observou Patrícia.

- TPM – garanti – um pouco de cafeína e alguns chocolates em minha corrente sangüínea e vocês verão o milagre perante seus olhos.

Elas riram e começaram a se dirigir a entrada principal do shopping.

Percebi um sorriso encorajador de Dann pelo canto dos meus olhos.

Apenas ela estava percebendo o quanto eu estava me esforçando para ter uma aparência um pouco normal aos olhos de qualquer pessoa.

Neste momento eu segurei o braço de Patrícia quando ela passou por mim.

- Pat, eu gostaria de me desculpar pela minha explosão com Michel.

- Wow, não se preocupe – ela carregou no sotaque enquanto dava um tapinha em meu braço – garotos são realmente irritantes. E depois, devemos ser unidas nesta fase difícil que passamos todos os meses, certo? Se eles passassem por isso apenas uma vez na vida, garanto que seriam mais cavalheiros.

Com a alma um pouco mais leve , seguimos em frente em nossa tarde de compras,

O novo emprego de meu pai e a nossa mudança para a Flórida trousse ao menos uma boa conseqüência. Agora tínhamos um pouco mais de dinheiro para pequenos luxos, como a TV nova de quarenta polegadas, um carro um pouco menos caindo aos pedaços para a minha mãe, uma casa mais espaçosa e com um jardim e o meu aumento de mesada, que me fez muito feliz ao poder comprar algumas coisas novas.

Acompanhei as garotas a por várias lojas, aproveitando algumas liquidações, e eu mesma me dei alguns presentes. Uma calça nova Gap – que sempre caíam muito bem em meus quadris largos – um vestidinho preto Armani, com rendinhas e muito feminino e uma sandália Nine West linda, fazendo um par perfeito, delicados.

Eu apenas não sabia qual ocasião que teria para usá-los. Mas uma liquidação pela metade do preço, enche os olhos de qualquer mulher.

Mas apesar do clima leve e aparentemente, de uma tarde entre amigas, algo lá no fundo ainda me incomodava. Eu ainda estava ansiosa e excitada e sempre buscava os olhos de Dann, que espelhavam a mesma expectativa que eu.

Cheias de compras e exaustas, sentamos em um café próximo a entrada, com uma linda vista para a fonte, agora toda iluminada, com jatos de água coloridos, em uma suave coreografia que deveria ser uma forma de dizer.
“Oh sim, estamos na Flòrida”.

As garotas estavam em êxtase, olhando para os rapazes, comentando sobre as roupas das garotas e das peruas ricas em sua tarde comum de compras.

Apesar de todos os meus problemas e daquele aperto na boca do estômago eu estava me divertindo muitíssimo, como há muito tempo – desde a noticia da minha mudança com os meus pais – eu não me divertia.

- Você tem um biquíni Nicolle? – perguntou Patrícia.

- Para falar a verdade não – eu sempre tinha certeza que eles não cairiam bem em mim, com meus quadris largos e meus seios grandes.

- Então acho melhor irmos atraz de um.

- Por quê? – a idéia de comprar um biquíni não me animava.

- Semana que vem temos o luau da Lua Cheia em Boca.

Luau? E em Boca Raton? Eu já conseguia vislumbrar Jéssica e todas as líderes de torcida nojentamente bronzeadas andando pela praia com biquínis mínimos completamente maravilhosas.

Não, muito obrigada.

- Eu não acho uma boa idéia.

- Por quê?- perguntou Hellen.

- Jéssica e suas asseclas estarão lá? – perguntei.

- Oh, é isso? – interbeio Dann – Não se preocupe normalmente elas ficam na lancha de Trevor junto com os jogadores, não teremos problemas com nenhuma delas.

- Certo – respondi.

- Mas acho que devemos esperar o Jack e os garotos para escolhermos o biquíni de Nicolle. Vai ser uma experiência e tanto para o garoto – comentou Patrícia, ás gargalhadas.

Eu quase engasguei com o refrigerante que estava tomando.

Hellen curvou uma de suas sobrancelhas.

- Oh, qual é Nicolle, você já deve ter percebido que o garoto anda caidinho por você. E finalmente!

“Ahã” as garotas assentiram.

- Não percebi nada – respondi laconicamente.

Vi que Julliet ficou toda animada com a idéia.

- Oh Nicolle, seria ótimo, e Jack é um fofo. Vocês ficariam perfeitos juntos.

Dann que apenas observava, entrou na conversa.

- Verdade Nicolle, ele é todo gentil e carinhoso. As garotas da turma de teatro desmaiam por ele.

- Como assim? – eu perguntei.

Patrícia deu apenas de ombros.

- Você nunca o viu sem camisa, não é? O garoto é muito bem definido com aquela história de luta romana. E além do mais tem os olhinhos de cachorrinho abandonado em dia de mudança, muito popular com as alunas da sala dele mesmo. Você vai ver.

- Mas Jack e nenhuma de vocês... – eu tentei argumentar.

- Oh não – cortou Dann com aquela sua suave risadinha – Nós ganhamos o Jack e Paul de brinde quando a Pat começou a namorar o Michel. Jack esta plenamente disponível e não temos outro casal por aqui...

- Tirando o chove-não-molha de Julliet e Paul – completou Hellen olhando de soslaio para Julliet.

A pobre garota ficou vermelha até as raízes do cabelo e afundou na cadeira, suspirando audivelmente.

“Oh” – falaram Hellen e Patrícia juntas.

A Miss Ohio caprichou no sotaque.

- Michel e eu já teremos vários garotinhos correndo por aí e estes dois ainda vão continuar nesta paixão platônica do tipo “Oh eu sou todo tímido”

- Vamos mudar de assunto, por favor – pediu Julliet, se afundando cada vez mais em sua cadeira.

Hellen avaliou a cara de piedade de Julliet e voltou os olhos para mim.

- O que nos leva novamente a Jack e Nicolle. O que nos faria realmente feliz.

Eu não queria voltar a esta conversa.

Ela avaliou a minha expressão por alguns segundos, antes de completar a queima roupa.

- Ou será que nossa nova amiga prefere altos atletas com intensos olhos azuis com síndrome de protetor dos fracos e oprimidos.

Desta vez eu realmente engasguei com o meu refrigerante.

- Há há acho que toquei em um ponto fraco aqui – continuou Hellen.

Eu dei de ombros e continuei a beber, forçando o canudinho em pequenas goladas.

- Henry Nicolls – complementou Patrícia – o nosso herdeiro milionário, gostoso, misterioso do tipo “eu- nunca - me – apaixonei - por ninguém”.Acho que você o conhece.

“Ai” suspirou Patrícia, Hellen e Julliet comicamente.

Será que elas ensaiavam muito para fazer isso?

- Eu ainda não sei do que vocês estão falando. Eu não estou interessada em ninguém. – respondi simplesmente.

Patrícia deu de ombros.

- O que é uma pena, porque com certeza estamos tendo alguma coisa interessante aí. Afinal a semana “Proteja Nicolle da vadia loira com a qual eu estou saindo” foi muito diferente. Já fazia algum tempo que não víamos ele ter uma recaída de herói sombrio de capa e espada. Da ultima vez foi com aquele menino do clube de xadrez que o Trevor estava pegando no pé, não foi?

- Ahã – confirmou Julliet.

- E olha que Trevor é o melhor amigo de Henry.

- Trevor é um idiota – murmurou Dann com alguma ferocidade.

Todas ficamos alguns segundos em silencio com a observação de Dann. Era estranho ver este tipo de raiva não contida nela.

- Mas estamos falando de Jéssica. - cortou Hellen com cara de nojo.

Todas elas torceram o nariz.

Patrícia concordou com a cabeça.

- Sim, ela é completamente vadia. Não sei como que ela conseguiu sair com o Henry Nicolls.

- Ela esta em cima dele há meses Pat – completou Hellen – nenhum garoto realmente agüenta, ainda mais aos dezoito anos e com todos aqueles hormônios sarados que devem compor aquele cara-delícia. Imagina como ela conseguiu ficar com ele...

Elas torceram o nariz novamente.

Eu estava começando a sentir aquela raiva borbulhando dentro de mim. Falar sobre Jéssica não era dos meus assuntos favoritos. E ainda por cima, com insinuações sexuais com Henry Nicolls... Argh.

- Só pode ser isso mesmo – concordou Patrícia – porque com certeza ele não esta apaixonado por ela. E ele não assumiu nenhum namoro sério.. Assim como as outras lideres de torcida que ele saiu, com nenhuma delas não passou de poucas semanas também. O que você acha Dann, já que o conheceu melhor que nós?

Ela olhou em minha direção e respondeu tranquilamente.

- Não, eu acho que ele realmente não esta apaixonado por ela. Até aonde eu sei, nenhuma garota realmente mexeu com ele.

Minha pulsação martelava tão alto em meus ouvidos que eu suspeitava que até elas pudessem estar ouvindo o barulho maluco errático do meu coração.

- Ate agora. – ela completou.

A droga do meu refrigerante havia terminando e eu estava querendo sair correndo com a desculpa de comprar outro. Esta conversa realmente estava me deixando nervosa.

- E não podemos esquecer que Jéssica quebrou o coração de Jack no primeiro ano.

- Oh verdade – observou Patrícia visivelmente chateada.

- Como assim? – perguntei.

- Eles saíram juntos, no primeiro ano. Claro, que é difícil deixar de notar um cara loiro, alto, gostoso e todo fofo como Jack. Ela saiu com ele às escondidas um dia, deixando o cara todo bobo por ela, e no dia seguinte fingiu que nem o conhecia. Ela riu dele com aquelas amigas ridículas dela, isso tudo na frente dele. Imagina como não ficou a moral do garoto.

- É assim que a nossa realeza faz mesmo. Eles gostam de ficar com a plebe as escondidas para no dia seguinte os humilhar – observou Dann com amargura na voz.

Aquilo me deixou alarmada. Era estranho ouvir aquela amargura na voz de Danielle, sempre toda gentil e delicada. Quem será que a havia magoado, e ainda em que intensidade para ela guardar esse rancor todo dentro de si.

Percebi que as meninas ficaram meio desconfortáveis com a observação de Dann, como se fosse um assunto delicado que elas não queriam – ou não podiam – falar. Rapidamente Dann caiu a si, e me puxou pela mão.

- Bom, agora chega de fofocas garotas. Preciso dar um pulinho na livraria e vou levar Nicolle comigo.

- Podemos ir com vocês – ofereceu Julliet.

Dann negou levemente com a cabeça.

- Nah. Vocês não vão gostar. Preciso ir na livraria esotérica do outro lado do shopping para uma pesquisa.

- Oh meu Deus. – gritou Patrícia.

Todas ficamos alarmadas.

- O que foi Pat? – Dann correu em sua direção tentando ver se ela estava passando mal ou algo do tipo.

- Não Nicolle – ela continuou dramaticamente – não deixe a sacerdotisa de Avalon devoradora de almas pegar você.

- O que? – eu perguntei.

Danielle revirou os olhos e começou a me puxar para longe delas.

- Ela vai torturar você Nicolle. Ela vai cantar mantras para você. Ou pior, vai te torturar com incensos.

- Ok, chega de ser ridícula – pediu Dann com uma risadinha, mas com os olhos sérios.

- Não, é verdade Nicolle – interveio Hellen – ela vai fazer você ouvir Enya e te arrastar por todas essas livrarias New Age que temos pela cidade.

- E uivar para a lua – completou Patrícia.

Foi Julliet que dessa vez revirou os olhos.

- Ela é uma bruxa Pat, e não um lobisomem.

As garotas estavam rindo a plenos pulmões agora. Dann estava toda envergonhada ao meu lado.

Hellen que continuou entre uma gargalhada e outra.

- Mas bruxas fazem alguma coisa para a lua, não fazem. Dançam a luz da lua ou algo do tipo?

- Fazem sim – respondeu Dann com uma leve irritação, mas ainda sim com a voz gentil – elas batem nas amigas impertinentes a luz da lua, se você quiser.

Essa afirmação foi o suficiente para todas caírem na gargalhada.

- Chega – ela continuou – daqui a alguns minutos voltamos. Vamos Nicolle.

Quando já estávamos um pouco afastadas das garotas , olhei para Dann , quem estava toda séria e ousei perguntar.

- O que foi isso? Essa reação das garotas?

- Liberdade. Isso é o nome disso. Temos pouco tempo agora somente entre nós com os garotos sempre ao nosso redor. Então quando temos algum momento “garotas” sempre alguma de nós se excede um pouquinho. Não se preocupe nenhuma de nós realmente liga quando é a vítima da gozação da vez..

Mas apesar de suas palavras, eu vi que ela estava aborrecida.

- Mas elas sabem que você é uma bruxa?

Ela deu de ombros.

- Sabem, mas não conhecem nada. Então normalmente elas não tocam muito no assunto, somente quando querem um floral, ou estão apaixonadas por algum garoto novo e querem saber de alguma magia para ficarem mais atraentes, este tipo de coisa.

- Isso não te incomoda?

- Nem um pouco. – então ela apontou para uma pequena livraria espelhada do outro lado do corredor – É ali.

- O que viemos procurar? – eu estava morrendo de curiosidade para saber o que a trazia ali.

- Livros sobre insônia. Ou você acha que eu iria deixar você completar aquela busca insana sobre remédios para dormir?

- Eu não ia...

Ela me olhou tão feio que eu não ousei terminar a minha frase. Era incrível como aquela garotinha era imponente as vezes.

Mas antes que eu pudesse ficar irritada com aquela reação, algo me atingiu. Meu aperto no peito ficou mais forte, era como se houvesse algo dentro da livraria que estava me atraindo, puxando-me para dentro.

Antes que eu pudesse olhar para Dann eu entrei.

Corri meus olhos pelo local, tentando sentir o que era que estava chamando a minha atenção. Eu não estava acostumada a estes tipos de coisas, e eu nem sequer acreditava nelas. Mas minha vida andava tão estranha nos últimos tempos, que eu tinha plena certeza que quase nada mais me surpreendia.

Quase.

Havia várias pessoas dentro da livraria, com roupas diferentes e coloridas, amuletos em seus pescoços, todas ao estilo new age.

Tinha música ambiente na livraria. Um lamento de gaita irlandesa chorava ao fundo.

Foi então que eu as vi.

Duas garotas olhavam intensamente em minha direção.

Elas deveriam ter a minha idade. Uma era baixinha como Dann, tinha cabelos curtos, lisos e repicados. Os olhos de um preto profundo, como um ônix. Seus olhos ardiam olhando em minha direção.

Tinha uma pele de uma clara cor de amêndoa. Ela usava um vestido preto, curto, de algodão, todo bordado.

A outra garota era ruiva, com os cabelos de um vermelho tão intenso que irradiavam uma luz própria, em ondas revoltadas, caindo até quase a sua cintura. Ela era mais alta, talvez até mais alta do que eu, e tinha uma pele de porcelana. Olhos verdes pálidos me olhavam com surpresa. Ela se vestida de forma mais simples, apenas um jeans e uma blusa de algodão branco.

Quando eu dei por mim, Dann estava ao meu lado, segurando um dos meus pulsos, sua pele repentinamente gelada.

Eu voltei os olhos para Dann e vi que ela estava branca como papel, os olhos imensos, e a respiração ofegante.

Foi então que eu vi, pendendo no pescoço das garotas, um pingente de prata parecido com o que Dann usava em seu pulso. Um circulo com uma meia lua de cada lado. Apenas eram mais trabalhados e pareciam mais antigos que o de Dann, uma prata envelhecida, mas muito bonitos.

Todos os pelos de meu corpo estavam arrepiados. Eu olhava para aquelas garotas, com reconhecimento, apesar de nunca te-las visto na minha vida. Era como um sonho esquecido.

Ficamos ali, as quatro, apenas nos olhando por um longo tempo.

Foi a garota de cabelos vermelhos que se aproximou de nós. Ela olhava intensamente para o pulso de Dann.

- Abençoada seja – ela disse a Dann.

- Abençoada seja – respondeu Dann, com a voz baixa como um murmúrio – Eu sou Danielle Owen. – então ela apontou para mim – E esta é minha amiga, Nicolle Crystal.

- Oi – eu acenei.

Ela olhou para mim por um longo tempo e depois continuou.

- Aideen – ela disse – Aideen Cotter. Sua amiga também segue o Caminho?

- Não – respondeu Dann – ela não segue o Caminho.

Eu percebi que a outra garota ainda nos observava com cautela. A garota ruiva – Aideen – acenou com a cabeça para ela. Ela arqueou uma das sobrancelhas e se aproximou.

Ela tinha um olhar um pouco petulante, altiva.

- Abençoadas sejam – ela disse, com sua voz tão altiva quanto o seu olhar. – Eu sou Estella Beltramo.

Foi então que eu percebi um suave sotaque italiano em sua voz.

- O que vocês buscam? – perguntou Aideen para Dann.

- Apenas fazendo uma pesquisa. Procuramos alguma coisa sobre distúrbios do sono.

- Oh – ela respondeu – você esta passando por algum problema? Já tentou alguma coisa em seu guia herbário?

- Não, é para a minha amiga, Nicolle. Estamos começando agora a tratar de seu problema.

- Oh.

Estella ainda nos encarava. Eu não entendia qual era daquela garota..

A garota ruiva desta vez olhou para mim.

- Há quanto tempo você vem tendo dificuldades para dormir? Você apenas não consegue desligar-se ou têm pesadelos também?

Era difícil conversar sobre este assunto, ainda mais com aquelas estranhas desconhecidas. Não que eu já não tivesse pessoas esquisitas na minha vida...

- Às vezes – respondi – mas o problema se intensificou há uma semana.

- Oh. – ela olhou então para Estella, que acentiu com a cabeça – Vou deixar o cartão do meu tio com você. Ele é psiquiatra, mas estuda principalmente distúrbios do sono e sonhos. Ele ficará por algum tempo na Flórida. Tenho certeza que ele pode ajudar vocês.

- De onde vocês são ? – perguntou Dann , visivelmente intrigada.

- Somos de New Hampishare.Eu moro com meu tio. Estella é minha prima e veio passar uma temporada conosco aqui na Flórida.

- Oh, entendo – respondeu Danielle, visivelmente intrigada.

- Precisamos ir Aideen – cortou Estella.

Ela entregou um pequeno cartão para mim.

- Procure-o, tenho certeza que ele poderá lhe ajudar. Tem o telefone de onde estamos hospedadas também, acaso precise, nos procure.

Eu sorri para ela. Instintivamente eu havia gostado da estranha garota de cabelos cor de fogo. O que eu não podia ainda dizer da morena, Estella.

- Obrigada.

Elas se inclinaram levemente em direção a Danielle.

- Abençoada seja. Que nossos caminhos se encontrem novamente.

- Abençoadas sejam – respondeu Danielle.

- Tchau – eu disse.

Estella continuou olhando para mim, de uma forma que estava me fazendo me sentir desconfortável. Eu me sentia uma espécie em estudo.

Ficamos olhando as duas partirem por alguns instantes. Então eu resolvi olhar para o pequeno cartão que eu segurava em minhas mãos. Era branco e simples, de um papel elegante.

Tinha apenas um nome escrito em uma letra preta.

Andrew Cotter – psiquiatra.


Eu sabia que conhecia aquele nome de algum lugar.

- Isso foi estranho. – eu garanti.

- Muito estranho.

- Elas são bruxas, não são?

Dann olhou para mim assustada, enquanto me puxava pára fora da livraria. Fosse o que quer que tivéssemos ido procurar lá, havíamos esquecido.

- Como você sabe? – ela sussurrou.

Eu dei de ombros. Os sinais estavam todos ali, não era muito difícil de imaginar, não é?

- Elas usam um colar que tem o mesmo símbolo da sua pulseira. E sem contar o jeito estranho delas, teve toda aquela coisa de “Abençoada seja” e “Caminho”.

Danielle sorriu.

- Nada te escapa, não é? E isso porque ainda você esta acabada pela sua falta de sono.

A menção a aquela situação fez novamente minha cabeça doer, de cansaço e preocupação.

- Mas foi estranho – eu afirmei, enquanto olhava o grande corredor a procura de nossos amigos – Foi o dejá vú mais estranho que eu já senti.

- Como assim?

- Eu tive a sensação que já as conhecia...

A expressão de choque cruzou o rosto de Danielle. Será que ela havia sentido o mesmo. Ela abriu seus lábios em um pequeno “Oh” enquanto tentava murmurar algo meio desconexo.

- Mas... você ... também?

Foi então, que eu avistei um garoto loiro correndo e acenando em nossa direção.

- Depois – eu garanti – Olha lá, ali estão Jack e nossos amigos.

Ela ficou me olhando ainda por algum tempo, enquanto Jack se aproximava de nós.

Tínhamos apenas mais alguns segundos sozinhas, e por algum motivo eu tinha certeza que aquele encontro esquisito, deveria ser mantido segredo do resto de nossa turma.

Ela então segurou meu braço.

- Mas Nicolle, eu vou descobrir algo para ajudar você a dormir novamente. Eu prometo.

Eu não duvidava daquela promessa.

Eu sorri enquanto acenava para Jack. Apesar de toda a situação absurda que eu estava vivendo, eu sabia que havia ganho um presente do destino.

A amizade de Danielle e de sua turma.

Apesar ainda da minha vontade de correr para o Aeroporto e sair correndo da Flòrida.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Oi amigos !

Enquanto não sai o proximo capitulo ...

A Lara,que também acompanha a saga de As filhas do vento , também escreve (e muito bem).

Estou lendo a historia " A escolha " dela e é muito legal.

Ela esta postando na comunidade dela no orkut http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=85301393
(onde também postei o prefacio e o primeiro capitulo da minha historia).

Vale a dica.

E parabéns garota. Novos escritores do Brasil, uni-vos.

Beijus Beijinhos e Beijocas

Gaby Raposo

domingo, 17 de maio de 2009

Ufa !

Capitulo 6 postado, playlist atualizada e capitulos 1 ao 5 revisados ...

Finalmente!

Um bjo feliz a todos

Gabriella

Cap. 6 - Insônia

Se eu achei que o começo da minha semana – aquela primeira longa semana na escola – havia sido estranha, eu não sabia o que estava por vir.

Meu humor piorava conforme as minhas horas de sono foram ficando a cada dia mais escassas. Eu quase não conseguia mais dormir.

Fechar os meus olhos era agora o maior de todos os sacrifícios. Meus pesadelos pioraram.

E muito.

Eu me via perdida, vagando por lugares que eu não conhecia na maioria das noites. E também, os sonhos com as jovens na fogueira e seus olhos agoniados que pediam a minha ajuda.

Era tudo muito estranho e amedrontador.

Eu tentava manter uma boa cara e um sorriso simpático, mas a verdade era que eu estava irritada com o mundo e eu me arrastava por sobre os meus pés. Eu não entendia o que estava acontecendo comigo.

Medo, eu tinha muito medo. Medo pelo meu auto controle e sanidade.

Meus pais estavam preocupados comigo. Meu semblante taciturno deve ter
acendido algum sinal de alerta na cabeça deles. Eles me olhavam com olhos estranhos. Sempre tentavam me cercar de mimos, achando que a minha estranha reação era apenas por causa da mudança e de toda a confusão que eu estava vivendo.

Mas isso não era nem a ponta do iceberg.

Por isso que, na sexta feira, eu resolvi sair bem mais cedo de casa, tentando evitar mais um interrogatório ou as terapias de auto ajuda que minha mãe sempre inventava, para tentar levantar o astral de qualquer criatura que passasse em sua frente.

O que eu precisava era de um remédio para dormir.

Claro que seria humanamente impossível conseguir algo sendo menor de idade, mas eu iria tentar.

Eu cheguei muito cedo ao colégio e apenas poucos carros estavam estacionados. Ninguém da corja bronzeada ou do time de futebol á vista.

Era um bom sinal – pelo menos para mim.

Jéssica e suas asseclas não haviam me causado mal algum pelo resto da semana. Com certeza ela estava obedecendo fielmente às ordens de seu namorado mandão. Mas sempre que nós nos encontrávamos, nas aulas, nos corredores ou no almoço, ela me olhava com puro ódio brilhando em seus olhos. Eu sabia que deveria teria que manter minha guarda firme com ela. Uma metidinha maligna como ela sempre traz perigo aos que a cercam.

Quanto a Henry... Bom, após a nossa ultima conversa na aula de Prof.ª Charlotte nós solenemente ignorávamos um ao outro. Eu sabia que ele de alguma forma deve ter se sentido ofendido – e eu ainda estava muito irritada por ele ser o mandão de Jéssica, e o herói de capa e espada de nosso colégio.

Na maioria das vezes nós passávamos um pelo outro sem ao menos trocar um olhar. Quando eu estava com Dann ou alguma das meninas, ele apenas acenava sutilmente em minha direção – o senso da educação deveria estar presente ali em algum lugar.

Essa situação era completamente irritante e, com o meu mau humor nas alturas, apenas piorava meu já deteriorado estado de espírito.

Mas eu fazia o máximo para não deixar minha ira contra a humanindade transparecer, em minha aparência ou meus gestos, Eu ia mais arrumada para a escola, ria das piadas de meus novos amigos e tentava ser a mais gentil e diplomática possível.

Apesar da minha vontade de socar o mundo.

Dann muitas vezes me olhava de uma forma estranha também. As vezes parecia preocupada , as vezes ansiosa por algo. Ela também parecia um pouco estranha, alienada, sempre com a mente distante, o que estava provocando muitos comentários entre nossa pequena turma.

Mas apesar disso, a cada dia que eu a conhecia, eu tinha certeza que ela era uma das melhores pessoas que eu já havia conhecido na vida. Tinha um coração e uma gentileza que eu ainda não tinha visto a não ser em meus pais.

Por estes motivos, eu resolvi que, apesar da minha decisão inicial, ainda não era o momento de tentar conversar com ela sobre meus problemas.

Não era uma boa forma de iniciar uma amizade.

“Sabe Danielle, eu tenho pesadelos horrorosos com bruxas, e na realidade eu me sinto meio doente e louca, e como você é uma bruxa, acho que pode me ajudar.”

Boa maneira de sedimentar uma amizade.

Por isso que eu corri para o laboratório de informática, fazendo barulho com meus sapatos Jimmy Choo novinhos. Um presente de minha mãe que tentava iluminar os meus mal fadados dias.

Um par de sapatos desses - impensáveis na minha antiga vida - realmente podiam melhorar um pouco qualquer mau humor.

Um pouco.

Escolhi um computador no fundo da sala, próximo a parede, e nem precisei tamborilar impaciente enquanto ele ligava. Aqui apenas maquinas novinhas com monitores de LCD.

Apenas o melhor para os reis de West Palm Beach.

Em apenas um segundo eu já abria a página do Google para iniciar a minha pesquisa.

Tranqüilizantes para dormir.

Uma infinidade de resultados para a minha busca apareceu em segundos.

Eu abri a primeira pagina da lista.

Ela indicava uma série de remédios para dormir, todos controlados e com todos aqueles avisos de perigo, e risco de dependência, e estas coisas.

Eu precisava arriscar.

Apesar de saber que era ilegal, eu era menor de idade e provavelmente meuis pais ficariam histéricos se soubessem. Não sem razão, mas minha situação era extrema.

Um deles prometia um sono de até 20 horas.

Era isso que eu precisava. Apenas não sabia ainda como conseguir um desses.

Quando eu me deparava com um numero de telefone que poderia ser um vendedor no mercado negro, o que já estava me deixando toda animada, uma suave voz, clara e gentil falou ao meu lado.

- O que é isso Nicolle? Algum estudo sobre todos os tranqüilizantes vendidos no continente estadunidense?

Eu quase pulei da cadeira ao perceber Danielle, sentada pacientemente do meu lado, com aquele sorriso complacente que ela sempre tinha.

Bem, quase sempre na realidade.

Eu apenas fiquei olhando para ela pateticamente, tentando entender como ela havia chego do meu lado, puxada uma cadeira tão silenciosamente que eu não havia notado a sua presença.

- O que é isso Dann? Alguma coisa de bruxas? Aparecer ao lado das pessoas desta maneira? – eu grasnei.

Ela apenas continuou me olhando.

- Vai responder a minha pergunta Nicolle? Que pesquisa bizarra é essa?

- Não é nada – eu tentei disfarçar. Apenas matando o tempo a toa.

- Não conheço ninguém que mate o tempo procurando pela internet listas de tranqüilizantes fortes o suficiente para derrubar um touro. O que esta acontecendo com você?

O que eu ia dizer a ela? Ah, sei a história da bruxa...

- Insônia – respondi.

Ela ainda continuava me olhando

- O que?

- Insônia – eu repeti tentando soar sincera – eu estou com insônia. Uma das feias. Não consigo dormir a quase uma semana.

- Desde que as suas aulas começaram aqui. – ela afirmou.

- Sim.

De repente ela se levantou e foi de encontro a linda janela de vidro que circundava todo o lado direito do laboratório de Informática. Ela ficou ali por vários e vários minutos . Eu sabia que o nosso sinal para a primeira aula iria tocar a qualquer momento. Eu não queria mais arrumar nenhuma confusão esta semana.

Desliguei o computador e estava começando a juntar as minhas coisas quando ela se virou para mim e ficou me olhando intensamente. Eu percebi que muitas vezes ela parecia muito mais velha do que seus 17 anos de vida. Normalmente, por ela ser tão pequena e delicada, ela parecia uma garotinha enfrentando o mundo.

Por uma fração de segundos ela parecia velha. Muito mais velha do que eu.

- Nicolle, há algo mais que você quer me contar?

Eu fiquei atônita.

- Além do meu distúrbio de sono?

- Sim.

- Não. – eu menti.

Ela veio em minha direção e segurou uma de minhas mãos. De repente eu senti uma onda de reconhecimento, amizade e gratidão. Foi estranho. Era como se eu a conhecesse a vida toda. Eu sabia que podia contar com ela. De alguma forma louca e estranha eu sabia disso.

Eu percebi que ela estava sentindo algo parecido. Amizade inundava de seus olhos, assim como preocupação.

- Você também anda estranha. - eu disse a ela.

Seus enormes olhos castanhos ficaram ainda maiores.

- Como assim?

- Eu não sei. Sei que nos conhecemos há apenas uma semana, mas você também parece estranha. Estranha e preocupada. Posso te ajudar?

O aperto em minha mão aumentou. Ela parecia a garotinha enfrentando o mundo novamente.

- Pode contar comigo – eu garanti a ela – Sei que não somos amigas a muito tempo, mas quero que saiba que pode contar comigo para o que você precisar.

Eu senti a verdade soando em minhas palavras. Eu acho que , nunca havia sentido uma amizade tão verdadeira em tão pouco tempo. Não sei, deve ser assim algumas vezes na vida quando encontramos pessoas que realmente são amigos de verdade.

- Eu sei – ela disse com uma vozinha suave – Eu sei que posso confiar em você.

Aquela estranha segurança em seus enormes olhos. Certo, eu já sabia que ela era estranha, mas ainda assim...

- Como você sabe? Como você pode ter tanta certeza sobre mim se me conhece a menos de uma semana Dann?

- Nada de mais – ela deu de ombros – apenas sou boa em julgar o caráter de alguém . E eu acho que sei o que pode te ajudar.

Ela estava tentando voltar o foco do assunto para mim. Eu iria morder a isca.
- O que? – perguntei.

- Shopping – ela respondeu com um tom fútil e despreocupado, que não condizia com o que eu conhecia até agora sobre ela. Mas a palavra era maravilhosa, para qualquer mulher. Eu devo ter ficado iluminada com a idéia, pois ela deu uma risadinha, segurou a minha mão e me arrastou porta afora, indo em direção ao corredor .

- Isso mesmo. Compras Nicolle. Depois da aula. Esta dentro?

- È. eu estou. Mas eu tenho a audição da turma de Teatro. – Com meu humor ruim, eu não sentia a menor vontade de encarar um palco.

O desgosto em minha voz era audível.

- Eu pensei que você gostasse de teatro.

- Não hoje - respondi taciturdamente.

Encontramos com Michel e Jack na porta da sala de Inglês. Não era a turma deles, e estranhei que eles estivessem ali para falar conosco e se atrasarem para sua aula. Michel logo puxou Dann para uma conversa absurda sobre um projeto de calculo que ele estava fazendo – o que não era nem um pouco a especialidade de Dann ou alguma de nós. Eu me vi sozinha, frente a frente com Jack, corado até a raiz dos cabelos loiros, com as mãos perdidas dentro dos bolsos das suas calças.

- Hey – eu disse, tentando parecer amistosa.

- Hey Nicolle, primeira semana completa! Isso merece uma comemoração.

Eu apenas fiquei olhando para ele. A única comemoração que eu queria era com a minha cama.

Ele esticou uma das mãos e levou em direção ao meu rosto.

Eu congelei.

Hesitante, ele tocou de leve uma mecha de meus cabelos e a prendeu em seu dedo, acariciando-a levemente. Seu rosto ainda estava vermelho – de uma forma fofa – mas eu percebi que algo se agitava dentro dele, alguma motivação escondida, ou sei lá o quê.

Seja lá o que fosse essa motivação, eu não queria saber. Não hoije, por favor, não hoje.

Ele respirou profundamente uma vez , e olhou bem dentro dos meus olhos . Eu podia ver expectativa e carinho dentro deles, mas de alguma forma, não era isso que eu queria. Não dessa forma.

- Nicolle – ele murmurou – nós poderíamos conversar?

Conversar sobre o quê? Eu estava apavorada.

Primeiro por que eu estava loucamente cansada. E segundo que esta ainda era a minha primeira semana neste colégio. Eu ainda não o conhecia, e não sabia se teria alguma garota loucamente ciumenta com raiva de mim por Jack querer conversar comigo. Eu não sabia se Dann, Hellen ou Julliet teriam algum interesse por ele. E além do mais...

Eu não pude completar minha linha de raciocínio. Subitamente uma alta figura estava ao meu lado.

Eu não havia percebido que eu e Jack estávamos parados bem no meio na porta da sala de Inglês. Eu sei que ele deveria ainda estar esperando uma resposta, quando Henry Nicolls se materializou bem em nossa frente , com os olhos duros e o maxilar travado. Seus olhos azuis – aqueles olhos azuis sempre intensos, literalmente crepitavam.

Instintivamente eu dei um passo atraz, saindo do toque de Jack.

Henry continuou apenas nos encarando por um tempo.

De repente , ele deu um passo a frente , ficando a centímetros de Jack. Os olhos de ambos se encontraram e pareciam que eles se avaliavam.

Foi Henry que tomou a iniciativa primeiro.

- Com licença, por favor. – ele pediu a voz dura e cortante.

Jack afastou alguns centímetros, o suficiente para Henry entrar na sala, sem olhar para nenhum de nós, mas ainda não o suficiente para que os ombros deles não se esbarrarem.

Garotos e seus malditos cromossomos Y.

A interrupção de Henry fez meu coração bater descompassado novamente, e eu aproveitei a deixa para fugir de Jack. O que quer que fosse que ele queria conversar comigo, seria mais tarde. Eu precisava pensar.

- Nos vemos na hora do almoço, Jack? – perguntei apressada, juntando toda a coragem para entrar na sala de aula.

- Ok – ele disse um pouco desanimado.

Eu entrei correndo e tomei o meu lugar. Não olhei para Henry, Dann, Jéssica, ou qualquer outra criatura viva. Eu estava irritada, anciosa, e acima de tudo cansada.

Não sei dizer ao certo o que se passava naquela aula, ou nas que vieram após essa. Eu estava entorpecida, esgotada. Só fui dar por mim, quando estava sentada na mesa do refeitório. Dann e as meninas estavam todas animadas sobre o nossas compras a tarde.

Só havia um problema. Minha aula de teatro. Isso sem contar no meu mau humor, que logo faria um estrago na minha vida social.

Pelo canto de meus olhos, avistei Jack, quase correndo em nosso encontro. Suas bochechas estavam vermelhas e ele, completamente excitado com alguma coisa.

- Vocês não sabem – ele começou, tomando fôlego de uma vez só – A Sra. Charlotte teve que resolver um problema urgente fora da cidade. Acabei de ver o carro dela saindo às pressas pelo estacionamento. Nada de aula para nós, Nicolle.

Ele deu uma piscadela para mim. Eu sorri um pouco e voltei ao meu sanduíche, pensando em como sair dessa agora.

Ele puxou uma cadeira e sentou ao meu lado, espremendo Patrícia um pouco mais – se ainda fosse possível – no colo de Michel.

Dann e as meninas ficaram ainda mais empolgadas sobre a nossa saída a tarde , agora que eu tinha minha carta de alforria. Elas estavam fazendo cálculos complicados sobre quem iria com quem – porque , todos se espremiam entre os carros de Michel e Jack, tirando Dann , que voltava todas as tardes agora de carona comigo.

Jack puxou minha mão me forçando a olhar em sua direção.

- Nicolle, agora que temos a tarde livre, eu queria saber se você queria fazer alguma coisa – ele murmurou baixinho, aproveitando que todos estavam distraídos.

Oh meu Deus. Era isso então. Ele realmente me chamou para sair .

Não que eu não gostasse de Jack. Ele era todo fofo e alto e simplesmente uma gracinha, mas eu não estava interessada dessa forma nele.E eu estava gostando da minha turma , eu ainda nem sabia se alguma das garotas se interessava por ele ...

Como fugir dessa?Ah sim, dando uma de desentendida...

- Claro – eu respondi – estamos programando um passeio no shopping agora a tarde Jack. Todos nós. – eu dei uma ênfase na palavra.

Percebi que nossa conversa não era tão privada assim.

- Não, não – interrompeu Patrícia péla primeira vez com aquele carregado e doce sotaque de Ohio – somente garotas. Precisamos de algumas horas futilmente femininas. Nada de garotos – ela deu um tapinha no ombro de Michel.

Jack estava com aquele olhar – aquele que toda pessoa fica quando percebe que vai levar um fora. Eu não queria magoá-lo. Mas também não queria sair com ele, pelo menos não agora.

- Mas depois eles podem se encontrar conosco, não podem – interrompi. – Combinamos com eles no final da tarde e podemos todos comer algo juntos, o que vocês acham?

Eu dei um sorriso amigo para Jack, tentando não mostrar outra coisa para ele.

- Boa Seattle – continuou Paul, visivelmente tentando ajudar a moral de Jack - Podemos encontrar vocês lá pelas seis, certo Jack?

- Claro. As seis. Combinado meninas? – respondeu Jack, com a dignidade ainda intacta.

- Sim – pela primeira vez Dann entrou na conversa – Nos encontramos as seis. Você conhece um pouco West Palm, Nicolle?

- Pouco. Eu quase não saí após a mudança

Eu estava lutando contra o sono. Tentei fazer com que a minha voz não parecesse muito espessa e carregada.

- E o que você quer ver primeiro?

- Starbucks – respondi– preciso de um Brewed Coffe.

Todos riram. Eu não entendi o motivo.

- Boa Meredith - gargalhou Michel olhando diretamente para mim. – Saudades de casa, Seattle ?

Aquelas piadinhas sobre minha cidade natal estavam me fazendo perder minha pouca paciência. Eu tinha plena certeza que Patrícia ficaria furiosa se eu esmurrasse o namorado dela – isso sem contar que estragaria nossa tarde e o começo da minha vida social na Florida ...

Neste momento Dann saiu em meu socorro.

- Precisamos correr , pessoal , se não vamos perder a ultima aula. Nos encontramos no estacionamento as duas e meia .

Todos se dispersaram em poucos segundos.

Eu corri na direção de Dann e sussurrei um “Obrigado” pela interrupção dela, salvando-me de um ataque contra Michel.

As duas e meia nos encontramos no estacionamento do colégio, e ficou acertado que todas iríamos em meu carro. Enquanto andávamos em sua direção, uma agitação chamou a minha atenção.

Bem ao fundo , na direção do campo de treinamento, eu avistei todas as bronzeadas vagabas do colégio, em seus minusculos uniformes de animadora de torcidas literalmente em cima de varios garotos musculosos e sem camisa, os caras gargalhando e dando tapinhas na bunda das meninas e elas – claro – dando aqueles gritinhos tipicos que devem constar no manual “ Como ser vadia , guia pratico e ilustrado “.

Sim, eu estava de mau humor. Fique uma semana sem dormir e me diga o que você sente.

De pronto, percebi que eram os garotos do time de futebol , Os Lions , pois eu avistei Trevor, enorme e sem camisa , com duas garotas magrelas e peitudas praticamente pulando para cima dele .

Eles deviam ter terminando o treino de sexta a tarde.

Meu coração deu um salto. Nenhum sinal de Henry Nicolls.

O nome do time de futebol do colégio era horrível mesmo... Lions – Os reis da Flórida. O simbolo era um enorme leão, mas em duas pernas, absurdamente sarado , com uma juba dourada e uma corrente daquela que os rappers gostam , em forma de sifrão, de ouro e cravejada de diamantes em seu pescoço. Ele estava lá – o leão – por todos os lados, nas jaquetas dos garotos, nas flamulas do colégio, no uniforme das animadoras de torcida.

Ridículo. Era completamente ridículo.

Eu sentei no volante do meu carro, com a irritação a mil , enquanto as meninas se ajeitavam . Dann sentou ao meu lado, na frente, enquanto as meninas se apertavam atráz.

Dei graças que ao menos eu sempre matinha meu carro limpo e quase sempre livre de tranqueiras.

Quando eu pensava em arrancar com o carro, eu avistei um carro enorme, branco, uma SVU com certeza caríssima que eu nunca tinha visto antes, passar devagar pelo estacionamento.

Claro que eu nunca havia visto antes. Eu sempre passava pelo estacionamento como se andasse pelas brasas do inferno.

Eu nem percebi que Jack e os garotos se aproximavam de meu carro, pois eu queria saber quem era o motorista daquela coisa mosntruosa.

Dei um salto no meu banco quando Jack enfiou a cara pela janela aberta do meu carro e tocou – novamente – uma mecha de meus cabelos.

- Então nos vemos mais tarde Nicolle ?

Eu nem tive tempo de responder pois aquela coisa branca entrou novamente em minha linha de visão, desta vez passando bem devagar e eu consegui ver quem era o motorista.

Henry Nicolls dirigia aquele carro branco, sem nem olhar em minha direção, com o maxilar duro e uma cara de poucos amigos. Jéssica Smith, estava ao seu lado, e esta sim, deu aquele sorriso diabólico, olhando diretamente em meus olhos.

Finalmente meu mau humor foi a mil e eu queria socar qualquer coisa viva que minhas mãos pudesse alcançar. Meus dedos apertaram convulsivamente o pobre volante já muito usado de meu carro.

Ignorando Jack, eu virei rapidamente para Michel, que também estava debruçado na janela do passageiro pelo lado de fora , quase esmagando Dann em seu banco, para dar – mais um – beijo de despedida em Patrícia.

- Que carro é aquele ali ? – eu apontei para a direção do carro de Henry que, com um rounco potente começeva a ganhar velocidade e sair do colégio.

- Um Cadillac Escalade – ele suspirou – Caro, muito caro. E Seattle, você tem certeza que esse troço aí que você tem chega inteiro ao shopping ?

Aquilo foi a gota d’agua.

Eu não sabia se o motivo da minha irritação era ao fato de ser chamanda insistentemente de Seattle , ou a ele se referir ao meu carro como troço.

Talvez fosse ao fato do olhar vitorioso de Jéssica olhando diretamente para mim .

Mas eu sentia que iria explodir. Meu sangue pulava em minhas veias.

Subtamente tirei os dedos de Jack do meu cabelo. E olhei com toda a fúria para Michel.

- Este carro aqui , é um Cadillac Coupe DeVille, 1978 , um clássico muito bem conservado, e eu tive que ralar muito com meu pai para poder comprá-lo.

Minha irritação apenas subia, mesmo ao perceber que todos no carro – e os garotos fora dele – ficaram estáticos com o meu acesso de féria. E eu continuei em seguida, falando bem pausadamente.

- E, por favor: Não. Me. Chame. Mais. De. Seattle.

Michel me deu um olhar chocado, assim como Patrícia, Hellen e Julliet. Eu nem ousei olhar para Jack ou Paul, que estava ao seu lado, sempre quieto.

Foi Danielle que cortou o clima pesado em nossa turma, após o meu ataque contra Michel.

- Ok – ela disse suavemente – nunca fale mal do carro de uma mulher, ainda mais se ela esta com TPM. Entenderam garotos?

TPM sempre explicava qualquer mau humor feminino.

Após alguns segundos ainda de choque, eu percebi que Michel sorriu de leve.

- Ainda mais se essa garota esta com a sua namorada a bordo - ele continuou – Até mais tarde garotas.

Eu dei a chave no meu carro, respirei profundamente mais uma vez e segui em direção ao shopping, tentando limpar a minha mente de qualquer irritação.

Fosse ela causada por Michel Hernandez, aos meus distúrbios de sono e aos terríveis pesadelos, ou a Flórida e todas as líderes de torcidas da face da terra.

Ou, eu tinha que admitir a mim mesma, talvez a minha irritação fosse causada pela indiferença de Henry Nicolls.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Amigos !

Ufa ! Depois de um longo e tenebroso inverno ( ok, não tão longo porque foram apenas duas semanas e bem ... ainda é outono, mas enfim ) estou de volta!

Internet instalada e casa nova quase toda desencaixotada. Eba !

E...

Alguns comentários neste período de ausencia:

Primeiro que vcs são incríveis. Cada dia eu fico mais feliz em saber que vcs estão lendo As filhas do vento e principalmente gostando. Já vi que uma leitora é xará de nossa Nicolle (um lindo nome não é ?! ),conheci mais uma gracinha pelo orkut ( oi Paula ! ), e as outras meninas super fofas , bjus mil ( Meire, Raissa , Isabelle , Kelly, Paulinha, Grazzi, ufa ... se esqueci alguém é porquê ando uma autora meio perdida mesmo , desculpem !). Mil beijos pelo carinho a todos!

E pela paciência ...

Outra ... chegamos a mil visitas na pagina. Felicidade intensa já que não divulguei o blog e isso só aumenta a minha expectativa e seguir em frente!

Um pouquinho de divulgação e dedinhos cruzados... quem sabe ?!

Bom, vamos ao que interessa e chega de bla bla bla .

Revisei os cinco primeiros capitulos e postarei uma versão mais certinha e não tão cheia de erros .

Capitulo 6 também vai sair do forno, quentinho e cheiroso e voltamos a rotina de um capitulo por semana. Quanto a playlist , muita coisa legal logo em seguida.

Outra , para quem quer uma dica , estou lendo Formaturas Infernais ( Prom Nights From Hell ) e é muito legal.

Varias autoras se juntaram - entre elas uma de minhas favoritas , Stephenie Meyer - e as histórias são muito boas. Vale a pena !

Um abraço e é muito bom estar de volta.

Gaby Raposo

Playlist "As filhas do vento"


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