sábado, 26 de dezembro de 2009

Oi amigos, bom Natal !!!!!

Todo mundo vivo ???? Aproveitando a nossa boa festa natalina, após todo o stress ( corre-corre, lojas lotadas , supermercados infernais e tudo o mais ?! ).

Feriado é bom, feriado é ótimo. Após a comilança e todos os embrulhos que o papai Noel correu para deixar aqui em casa para o pequeno, o bom é que dá para colocar muita coisa em dia ... Uma delas são os capítulos do livro . Outra é assistir coisas interessantes.

Para todos aqueles amantes de livros como eu, gostaria de indicar o programa Livros em Revista , http://clictv.uol.com.br/livrosemrevista. Vale muito a pena , muitas entrevistas com autores nacionais , muita gente interessante . Vamos prestigiar!

Bjus e Bjus Natalinos a todos !!!!!

Gaby Raposo

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Oi amigos

Viva !!!! Estou viva !!! Já estão saindo os proximos capitulos ... muita coisa emocionantes acontecendo.

Por falar em vivos, todos animados para o final do ano ?

Zilhões de beijos

Gaby

sábado, 21 de novembro de 2009

Olá amigos !

Todo mundo vivo ? Uau , ontem foi o dia , hein ?!Muitas emoções, e claro que eu tinha que ostar a minha opnião também, obvio, afinal sou muito fã da saga Twilight e da Steph , por escancarar as portas que a JK Rolling abriu para novos escritores de realismo fantastico. Amo a Steph e a história pesoal dela foi minha inspiração para muitos momentos que eu pensei que nunca conseguiria seguir em frente com o sonho de escrever.

Bom , vamos lá ... o mais legal da estreia de New Moon são as histórias por traz dela. Eu lembro quando eu tinha 16 anos e fui na estreia de Titanic, chorei dos créditos iniciais aos finais , a loucura de conseguir um ingresso, as filas, á gritaria no cinema no beijo de Jack e Rose no convés... Então claro, que eu imaginava o mesmo.

Cheguei cedo no shopping com meu marido ( ufa, acordar cedo, despachar o nenem antes das onze para a casa da avó, correr , pegar transito no caminho do shopping em pleno feriado, almoçar em uma cadeira em frente a entrada do cinema, td isso fazia parte , claro !).

As filas estavam do jeito que eu imaginava. Dando voltas . Dei graças que tinha comprado os meus ha mais de uma semana , para a primeira sessão legendado ( claro ! ). Quando a fila começou a se formar na porta do cinema ainda fechado, fomosd pra lá também . Muitas meninas acompanhadas das mães , as mães tão anciosas quanto, os caras fazendo cara de poucos amigos pois imaginavam a barulheira que iam enfrentar , gritaria... e desorganização do cinema também , muda a sala de ultima hora , fazem o discurso de " Por favor nada de tumulto, não corram ... meu marido puxou uma cadeira da praça de alimentação e sentou ali na fila mesmo.

Ele como tantos outros homens ligaram o botão piadista no fime inteiro. Tive meu momento de Bella quando as cordas se abriram e aquele monte de gente começou a correr e já que meu dignissimo estava de bom humor soltei um " Corra Rafael, corra ! " e lá foi ele correndo no meio da garotada ... Ele tantos outros caras imitando as meninas gritando e pulando ... hilário.

Depois de todo o tumulto e um atrazo de 40 minutos começa o filme.

E a gritaria ...

Mas foi tudo ótimo, filme bem feito , direção competente , uma Bella mais fiel ao livro , Edward como eu imaginava , no limite sempre , entre o amor e o medo de expor a mulher que ama ao perigo ( gente , pq todo mundo reclama dele sofrer ? É o personagem , leiam os livros ! ), eu pela primeira vez em três anos acompanhando a série me encantando pelo Jacob ( lobinho uau ! ) , Alice lindissíma e algumas cenas corridas ... Sentindo falta de outras ( sem sala de espera antes de partir de Volterra ? Sem Bella histérica se agarrando ao Edward na porta de casa ? Sem Alice explicando que roubou o porsche ?

E depois de tudo isso, vi que a história pegou também os homens , pelo menos um pouquinho. Eu ouvi muitos comentarios pós filme dos maridos , namorados e amigos que normalmente odeiam Twilight mais que tudo e voalá . Estavam simpáticos.

Aqui em casa mesmo. Os Cullens são chamados apenas pelas duas primeiras letras de seu nome. Mas pós filme , eu ouvi várias perguntas do tipo:

" Ela casa com ele ? Quando ? No quarto filme ? Vão enrolar mais um mesmo ?"
" Fiquei com dó do lobo. Pô , enrola o cara e depois volta pro Cu.. llen? Coitado. "
"Gostei da música que toca na passagem do tempo do sofrimento da Bella. Como é mostrado no livro ?"
" Vcs ficam com dó do vampiro porquê? Ele que abandonou a garota ."
" Ok, o filme foi bacana. Quando estreia o proximo ? "

Enfim , amei horrores, vi essa geração que esta chegando passar por um fenomemo emocional que eu passei , isso é o máximo, chorei litros , e considero isso uma vitória a todos os amantes de boas histórias, de amores impossiveis , laços de amizade e um pouquinho de ação.

Mil beijos e deixa eu voltar a escrever agora. Valeu Steph ! Valeu Cris !

Gaby Raposo

domingo, 8 de novembro de 2009

Olá amigos !

Uau , que saudades! Muitas mesmo ! Depois de um longo e tenebroso inverso ( traduz-se um longo #@%*? bloqueio ) voltei. Estiquei os dedinhos , as engrenagens cerebrais voltaram a funcionar e o coração voltou a bater. Eba !

Bloqueio é uma droga. Hoje , um domingo com cara de ressaca , fui procurar a definição no dicionário.

s.m. Ato ou efeito de bloquear.

Então pensando literalmente é um ato. Por livre e espontânea vontade?!

Não, na realidade é um conjunto de coisas que te #@!*& a vida . Literalmente.

Em uma prova . uma apresentação, entrevista de trabalho ou colocando a imaginação para funcionar,´são aqueles segundos ( ou semanas ) que uma porta se fecha em sua mente e bum. O mundo praticamnete acaba.

Mas não se desesperem quando isso acontecer. Isso é normal. Fui pesquisar sobre bloqueios e descobri que muitas ideias bacanas surgiram neste ato infernal de nossas mentes. DEscobri também a taxa de suicídios entre os escritores norte americanos é 18% maior que a média do país. OLha isso !!!! Não não,muito obrigada .

Olha a matéria muito bacana com dicas de como não se matar durante um bloqueio.
http://tavernafimdomundo.wordpress.com/2009/03/28/13-dicas-para-enfrentar-o-bloqueio-de-escritor/

O meu caso foi mais simples, decorrente da crise da mulher moderna que acha que pode tudo. Ser mãe, trabalhar , cuidar da casa , marido, de um filho que parece o TAZ derrubando a casa , cabelo, unha , alma, etc.. e ainda por cima escrever um livro. Hehe , a vida é assim mesmo, graças aos deuses !

Bom, como eu acho que ninguem quer fazer parte dos 18% acima ( Eca ! ) tem muita coisa boa para se fazer neste mundo para colocar o cérebro e o coração para funcionar.

Aqui algumas coisas que aconteceram neste meio tempo.

* Dimitri como Strigoi em Vampire Academy ( uau , So Hot ! Mas saudades do velho Dimka e seus lindos olhos negros )

* A trilha sonora de New Moon . ( Amei ! )

* This is it ( o documentario do MJ . Amei mais que meu marido que é fã de carteirinha e eu não . Grande gênio, grandes obras MJ ! )

* A saga de Anita Blake , a caçadora de vampiros e ressuscitadora de Laurell K. Hamilton.( muita dó de Phillip no primeiro livro, Prazeres Malditos).

* Duas semanas para a estreia de New Moon . Uau . (Os homens podem falar o que quiserem , mulheres acima dos vinte e cinco também amam Edward.Todas as mulheres amam Edward. De qualquer idade. Deveriamos amar o que , o Galvão Bueno ???? )

* Vampire Diaries , á série da CW. Amo. Adoro. O Stephan esta meio parecido com o Ed , mas esta valendo.

* O Brasil ser sede das Olimpiadas. ( apesar da onda de violencia no Rio, pode ser finalmente o pontapé para providencias necessárias em nosso Brasilzão lindo !)

* O post de Halloween da Kellan - http://kellenpalavras.blogspot.com - com as aboboras de ressaca na escada. Ri muito.

* O blog da Aminha - http://aninhalizaso.blogspot.com/- com muitas dicas ótimas de livros , eu adoro !Muito ! E as filhas do vento também está lá gente.

* O blog da neiva com a história do Adriel , um anjo lindo e tudo de bom -http://aitinerante.blogspot.com/ - neiva termina de escrever.

*Meu filho ter abraçado um foto da mama e beijado.Não tem preço.

E algumas reclamações, lógico.

* A editora nacional de vampire academy, a nova fronteira. Sem comentarios, uma tradução ruim para o primeiro livro, pouca publicidade e deixar a série a Deus dará. Ruim, muito ruim.
* A Uniban e o vexame por causa da aluna de vestido rosa. Oriente médio agora?
* Ao Prefeito de Campinas por deixar a cidade um caos. E ao tempo horroroso que perdemos no transito devido ás obras, Eca!

Uau, agora chega de falar e vamos ao que interessa. Mais tarde Cap. 17 de as filhas do vento. E ano que vem , se os deuses abençoares, veremos o primeiro livro lindo, maravilhoso nas livrarias.Não tenho nada em vista sobre as editoras, mas sei que vai acontecer.

Bjus e Bjus e muitos bjus

Gaby

Ps. West palm Beach.




Cityplace Mall

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cap. 16 - A verdade contra o mundo

Mal passava das dez horas da manhã e eu já estava com vontade de socar alguém.

Primeiro porquê Danielle me acordou as sete horas da manhã. E não foi pelo celular não, ela tinha vindo de carona com a sua mãe até a minha casa, e literalmente me arrancou da cama já que meus pais tinham deixado ela entrar antes de saírem para o trabalho. Aparentemente meus pais estavam sofrendo de algum tipo de encantamento pela minha amiga. Eu não podia culpá-los, Dann era realmente encantadora.

Menos às sete horas da manhã, em nosso dia de folga, mesmo que involuntária

O segundo motivo de meu ódio contra o mundo era porque estava chovendo. E muito. Minha primeira tempestade na Florida. O ar um pouco frio, o ar sibilando em meus ouvidos enquanto o cheiro úmido queimava o meu nariz. Um pouco forte demais, eu estava começando a sentir uma leve dor de cabeça.

A chuva tinha começado um pouco antes das nove horas da manhã, como Danielle havia previsto. Chegamos ao country clube bem a tempo, antes da fúria em forma de água acabar com meu cabelo, mas isso não seria uma grande perda, já que ele estava bagunçado e armado, pois graças a minha amiga eu não tive tempo de algum conforto, como secá-lo com secador.

E o terceiro e não menos importante motivo para a minha raiva matinal era Dyan Lee.

Dyan Lee era o professor de yoga do country clube e não devia ter mais de dezenove anos. Ok, ele era uma graça, tinha cabelos loiros e lisos, caindo pelos ombros, olhos verdes e era alto e magro, com um corpo bem definido. Lindo, apesar do visual parecido com algum europeu cantor de musica gótica.

Mas ele estava me castigando. Só poderia ser isso, o cara tinha acabado de me conhecer e tinha um problema cármico comigo ou eu era parecida com alguma ex namorada, pois as posições que ele me mandava fazer poderiam ter sido retiradas de algum livro de tortura medieval.

Aquilo não era yoga, era a brincadeira cruel de um ser das trevas.

Tudo começou tranqüilo com meditação, folhinhas navegando pelo mar azul e posições de alongamento e relaxamento. Mas agora, eu poderia estar andando pelas brasas do inferno que seria menos doloroso do que duas aulas seguidas com Dyan Lee.

Danielle estava encantada com ele. Não reclamava de nenhum exercício e tinha o rosto corado e brilhante ao olhar para ele. Sinceramente, se ele não estivesse me punindo por algum crime que eu não cometi, eu estaria feliz por ele deixar minha amiga tão encantada, mas naquele momento eu o odiava com uma intensidade que nem eu sabia que era capaz.

Entre um exercício e outro, eu imaginava arrancando um a um aqueles longos fios louros de seus cabelos, ou então queimando mecha a mecha com um isqueiro.

E alguém tinha ainda coragem de dizer que yoga era exercício para preguiçosos que não gostam de malhar.

Mentira, yoga com Dyan Lee era tão calmo como um a manhã de treinamento com fuzileiros navais.

Depois de duas horas agonizantes, ele deu a aula por encerrada. Eu rapidamente me aprontei e tudo que queria era sair correndo dali, mas Danielle conversava animadamente com o meu carrasco. Animada era pouco, ela tinha ligado o botão “flertar” e fazia isso descaradamente com ele, e Dyan Lee correspondia, com sorrisos e alguns toques em sua mão, muito casuais.

Graças aos deuses, ela se lembrou que tínhamos compromisso e se despediu dele com um breve “até amanhã”, pois ainda tínhamos que almoçar.

Eu sai pisando duro da sala de yoga , meu corpo dolorido em vários lugares , mas eu tinha plena certeza que amanhã eu estaria pior. Mentalmente eu lembrei dos relaxantes musculares e fiquei um pouco aliviada. Danielle em compensação pisava sobre nuvens.

Eu olhei ao redor, e respirei profundamente, o cheiro de terra e grama molhada diminuíram um pouco a minha dor de cabeça. Ainda chovia, e muito. Eu comecei a ficar preocupada, pois tínhamos menos de duas horas para minha consulta com o psiquiatra.

O country clube era realmente como eu imaginava. Verde, florido, sofisticado. Um enorme campo de golfe á direita, uma área reservada as piscinas e aos salões de esportes. Tudo refinado e de muito bom gosto. Pela primeira vez eu dei graças à chuva naquela manhã , pois ela com certeza espantou a maioria dos freqüentadores

Fomos até uma lanchonete que tinha uma espetacular vista para o campo de golfe. Decorada em tons claros de verde e lilás, parecia mais um restaurante chique do que lanchonete de clube, ainda mais que, em vez de garçonetes vestidas de shorts e camisetas , tínhamos garçons de verdade , e vestidos a caráter.

Escolhemos uma pequena mesa bem em frente à varanda, a espetacular vista de toda a opulência que a Florida podia proporcionar para aqueles que podiam pagar por ela.

Bom, pelo menos o serviço era bom. Em poucos segundos o garçom retornou com os nossos pedidos.

- Oh, ele é lindo não é Nicolle? – Danielle suspirou dramaticamente assim que o garçom se afastou. – E os pais do Dyan são terapeutas holísticos, imagina que sonho? Ele vai para a faculdade da Florida no outono.

- O que você quis dizer com até amanhã quando se despediu dele, Dann? – eu perguntei de mau humor enquanto comia o meu hambúrguer com muita vontade.

Ela revirou sua salada. E eu já estava pensando em pedir um mouse de chocolate.

- Ah, eu marquei aulas para nós duas todas as tardes, já que esta semana não teremos aula depois do almoço.

Eu engasguei com o meu lanche.

- O quê? – eu bravejei – Você esta maluca?

- Não se preocupe, é ruim apenas no primeiro dia, mas depois você vai me agradecer pelas maravilhas que a yoga vai fazer com seu corpo e espírito.

Eu queria protestar, dizendo que a única maravilha que a yoga estava fazendo era deixar meus músculos mais próximos de uma contusão, mas Danielle então ficou toda vermelha e com os olhos brilhantes.

- E depois, Dyan Lee... – ela suspirou.

Imediatamente eu lembrei o comentário de Patrícia e Hellen de que ela deveria se interessar por algum cara finalmente, e imaginei que ela deveria ter tido alguma decepção amorosa bem séria no passado.

Eu preferia ter farpas enfiadas embaixo das minhas unhas ao invés de fazer outra aula de yoga com Dyan Lee, mas resolvi me calar. Se ela estava interessada nele e ele parecia corresponder, não seria eu a chata que ficaria no meio de duas almas gêmeas.

Ok. Vamos dar um pouco de crédito ao cara. Se ele ao menos não a chamasse para sair, aí sim eu poderia contratar alguns capangas para concretizar a minha vingança. Mas por enquanto, o cara que é fruto de interesse de uma amiga torna-se intocável.

Amanhã na hora da aula eu inventaria alguma desculpa assim que chegássemos ao country clube, como uma contusão ou mesmo diarréia, e ela faria a sua aula com o príncipe gótico e eu ficaria feliz com meus músculos no lugar. Simples assim.

- Você esta preparada para encontrar o Dr. Cotter? – ela perguntou, mas seus olhos ainda estavam deslumbrados por Dyan Lee. Vai entender.

- Sinceramente apavorada. Nós conhecemos as garotas em um shopping e agora estamos indo há um hotel onde estão hospedadas para conhecer o tio delas, o tal psiquiatra. E se ele for um maníaco sexual que utiliza as sobrinhas para atrair outras garotas menores de idade? E se elas nem forem sobrinhas, mas sim garotas seqüestradas? Eu pensei muito nisso esta manhã.

Danielle revirou os olhos. Mas eu tinha pensado muito sobre isto durante a aula de yoga. Bem, pelo menos na primeira parte que os meus músculos estavam sendo castigados

Ela esperou o garçom trazer nossas cocas para sussurrar para mim.

- Você é paranóica Nicolle!

- Admita que pode acontecer. Você não assiste aos noticiários?

Ela abriu a sua bolsa e tirou um pequeno laptop de lá. Uma máquina pequena e prateada e muito fofa. Eu não sabia que Danielle era tão ligada a coisas tecnológicas.

- Ontem enquanto você tinha seu merecido repouso, eu pesquisei tudo sobre o Dr. Cotter. – ela ligou o laptop e me mostrou varias telas de pesquisa – Ele é bem renomado Nicolle, teses e pesquisas publicadas, estudo de distúrbios do sono, interpretação de sonhos e inclusive sobre capacidades extra-sensoriais, como tele cinese e vidência. Não encontrei nenhuma foto dele, mas encontrei um fato muito interessante.

- Qual fato interessante?

- O avô dele, um tal de Byron Cotter estudou com Gardner e escreveu uma série de estudos sobre bruxaria.

- Gardner? – aquele nome não era estranho, mas eu não reconhecia.

- Gerard Gardner – ela disse como se dissesse o nome do presidente dos Estados Unidos – o pai da bruxaria moderna. Foi ele que trouxe a tona novamente a Velha Arte. Uma das tradições de bruxaria leva o nome dele, os Gardenianos.

- E era avó do Dr. Cotter. Interessante...

- E não é apenas isso. Ele escreveu algumas das lendas sobre os Filhos do Vento, ou o Povo dos Ventos como ele chamava. Mas misteriosamente ele se calou no começo da década de sessenta.

- Bom ao menos o que eu posso ter certeza que, ele não vai imediatamente pedir a minha internação, já que tinha um avô bruxo e sobrinhas bruxas. Mas ele pode pedir que eu compre varinha e caldeirão como parte do meu tratamento psiquiátrico – eu gracejei.

- Nicolle! Você acha que estou brincando com tudo isso não é?

- Não, eu não acho – eu respondi seriamente, pois ela parecia muito ofendida – Apenas eu acho que todas estas coincidências são meio malucas.

- Sim, e como são. E você reparou nas duas, Aideen e Estella? Elas usavam um medalhão da Deusa Tríplice – Donzela, Mãe e Anciã Eu deduzo que seja herança de algum clã bem antigo e tradicional e eu não duvidaria que fosse da época do avô Cotter. Os Cotter são irlandeses, terra aonde você consegue encontrar as raízes celtas muito presentes. E a outra garota, Estella, italiana, berço da Streggaria, a bruxaria italiana tradicional.

Aquilo estava ficando realmente interessante. Eu não sabia qual a conexão de toda aquela maluquice, mas mesmo eu tinha que admitir que as coincidências eram muitas. Se eu acreditasse um pouco mais em coisas além do meu limite racional, eu diria que era quase uma coisa escrita em algum lugar, como destino e estas coisas.

- O que mais você tem aí Dann?

Vendo que eu estava realmente interessada no assunto, Danielle continuou a sua pesquisa até que uma pequena tela apareceu. Ela estendeu o laptop para mim.

- Isso é um trecho de uma lenda sobre o povo dos ventos. Foi Byron Cotter que a escreveu. Bom, até aonde eu consegui chegar, é a profecia de uma Prometida dos Filhos dos Ventos. Uma Grã Sacerdotisa teria o poder de manipular todos os elementos, tendo um poder nunca antes imaginado, mesmo entre o seu povo. Pelo que eu li, a única sacerdotisa que poderia ter o controle sobre todos os elementos foi a última líder que se tem conhecimento, a que foi queimada na fogueira junto com suas irmãs de clã.

Aquilo despertou algo dentro de mim, e eu praticamente arranquei o computador das mãos de Danielle.

A pagina que continha a lenda era simples , de algum bruxo que admirava tanto a lenda sobre este clã perdido quanto Danielle , e ele coletou as poucas informações escritas pelo Byron Cotter.

A lenda era basicamente o que Danielle me contou. A tal mulher, após passar por um grande sofrimento teria o poder de manipular todos os elementos. O autor da pagina contava que a tal garota morta na idade média, que todos proclamavam como a ultima Grande Filha dos Ventos morreu quando tinha pouco mais de dezoito anos, após a Grande Traição, atribuída aos Guerreiros das Sombras, no começo da Inquisição, na Idade Média.

Mas nenhuma informação sobre o que seria um guerreiro das sombras. Apenas uma linha atribuindo que eram os renegados pelos Filhos dos Ventos, donos de grande poder que se voltaram contra ás suas origens e para tanto foram castigados pelos Deuses.

Mas o que realmente me chamou a atenção foi o fragmento da lenda, que o próprio autor reconhecia que estava incompleta.

A filha do vento e do fogo
Nascida do ventre da terra
Beijada pelas doces gotas de chuva
Abençoada pelo suave soprar do espírito

A esta filha do vento, com o fogo em suas veias
Lhe será dada a vida,
Abençoará os seus campos
Irrigará as tuas terras

A esta filha do vento, com as lagrimas de
orvalho a correr pela tua face
Amará aquele que, ao ser forte
Suga-lhe o sopro da vida

A esta filha do vento, com a brilhante cor
da terra em teus olhos
Ao ter a sua alma roubada,
Encontra-se no seio de suas irmãs

A esta filha do vento, renascerá sob seu próprio espírito
Será a senhora das águas, dos ventos
Dominará o poder do fogo, vencerá o jugo da terra..

E esta filha dos ventos terá o dom de trazer de volta à vida.


Eu arfei com o que li. Eu precisava saber mais sobre este povo e sobre esta lenda.
A parte curiosa do meu cérebro imediatamente ficou alerta, e eu percebi que era um material muito interessante. Eu queria saber mais sobre este povo perdido, e principalmente sobre a jovem que morreu na fogueira. Não tinha nenhuma referencia ao seu nome. Era apenas a Grande Filha dos Ventos, a Grã Sacerdotisa, mas para mim era uma garota que morreu de uma forma triste e violenta e era pouco mais velha do que eu.

Perdida em meus pensamentos, eu havia esquecido que Danielle estava sentada ao meu lado e que estávamos em uma lanchonete no Country Club de West Palm Beach.

Danielle tocou de leve meu braço e falou quase em tom de reverência.

- Eu sei o que você esta sentindo. A primeira vez que eu li esta lenda, eu senti uma fome de informação dentro de mim e também uma noção de reconhecimento, ao mesmo tempo.

- Você tem razão Dann. Precisamos descobrir mais sobre estes filhos dos ventos.

- Você tem certeza Nicolle? E todas as suas dúvidas e seu ceticismo?

- Continuam aqui, da mesma forma. Mas eu não posso negar, esta história mexeu comigo, e por mais cética que eu seja, a minha curiosidade é maior. De alguma forma, eu investigar esta lenda como você, bom, eu sinto que pode me ajudar. Conte comigo Dann.

Os olhos dela ficaram enormes e brilhantes. Uma onda intensa de amizade me inundou, e eu senti que o mesmo acontecia com ela. Apesar de diferentes, nos aceitamos e nos entendíamos, e eu senti que gostava de Danielle, como alguém gosta de uma irmã. Estranho, eu não me sentia assim, quer dizer, eu nunca senti algo assim com ninguém, nem com Becca, minha melhor amiga, que eu conhecia desde sempre, nem com ela eu sentia este reconhecimento.

Eu sentia que era hora de aceitar as coisas estranhas de minha vida.

Eu olhei brevemente ao meu redor e dei de encontro com um relógio – chiquérrimo – á esquerda na lanchonete do clube. Já passava de uma hora da tarde. A chuva havia dado uma breve trégua, não passando de alguns pingos pesados. O forte cheiro ainda queimava o meu nariz, mas não tão forte. Eu tinha certeza que daria tempo de chegarmos ao hotel Nichols.

- Esta na hora Dann – eu disse apressada – Precisamos nos trocar, já passa da uma hora da tarde.

- Vai dar tempo – ela disse tranquilamente, guardando as suas coisas na mochila – A chuva dará uma trégua por...

- Tempo suficiente para chegarmos – eu a interrompi com um sorriso nos lábios. – Já que estamos na era das nossas revelações, eu tenho uma para fazer. Eu também sinto o cheiro da chuva queimando o meu nariz. Forte e intenso, assim como você.

Eu não dei tempo de ela responder. Seu rosto chocado, os lábios entreabertos transmitiam surpresa diante a minha revelação.

- Agora vamos Dann. Precisamos tirar estas roupas de ginástica.

Eu me sentia nervosa, mas muito nervosa enquanto dirigia para o nosso encontro com o psiquiatra. Meu estômago dava voltas e voltas. Eu tentava a todo custo manter uma postura relaxada e tranqüila, mas na realidade eu estava apavorada.

Para acalmar um pouco a minha histeria, Danielle concordou em mandar uma mensagem para um de nossos amigos. O escolhido havia sido Jack, pois segundo ela, ele era o mais maleável entre todos.

- E depois – ela completou com um sorrisinho debochado – do jeito que ele esta caído por você, se não aparecermos mais tarde, ele invadiria o hotel com uma espada na mão, até encontrar você. Bom, acho que ele conseguiria até uma bazuca para ser mais exata.

Eu não achei a menor graça sobre aquilo. Ainda me incomodava a queda que ele demonstrava por mim. Eu não queria pensar em nenhum aspecto da minha vida afetiva naquele momento.

Ela passou uma mensagem de texto para o celular dele, avisando que estávamos no Hotel Nichols encontrando umas amigas de Danielle de fora da cidade e o convidamos para nos encontrar mais tarde no Cityplace.

E ok, ela tinha razão. Ele respondeu um pouquinho animado que nos encontraria lá e pediu para sermos cuidadosas. Sim, Jack era um perfeito cavalheiro.

Assim que chegamos ao hotel, eu subitamente não queria descer do carro. Conferi a minha roupa algumas vezes – jeans, blusa preta de algodão com rendinhas na gola e meu tênis favorito – para ver se eu estava apresentável. Danielle usava jeans e uma batinha de linha branca, muito parecida com ela.

Danielle segurou a minha mão com firmeza. Eu sabia que não estava sozinha.

- Vamos Nicolle. O máximo que pode acontecer é o Dr. Cotter solicitar a sua internação imediata, se ele não for um assassino em série.

- Engraçadinha – eu murmurei mau humorada.

Nos deixamos o carro nas mãos de um dos manobristas – um ruivinho com cara de poucos amigos e muitas espinhas – que quase soltou uma gargalhada ao ver o meu carro. Eu tive vontade de gritar a pelos pulmões perguntando qual que era o carro dele. Que mania que as pessoas tinham de falar mal do meu carro, ele era um clássico muito bem conservado.

Com um ultimo e profundo suspiro, entramos no hall do Nichols Plaza.

O hotel era tudo que eu imaginei. Caro. Sofisticado. Chique. A entrada com maçanetas douradas e clássicas, os funcionários elegantemente vestidos, muitos detalhes em dourado e azul, o chão de um mármore tão brilhante que eu poderia me maquiar apenas olhando para ele.

Poltronas no estilo inglês – mais um motivo para eu agradecer ter uma mãe corretora de imóveis, eu conhecia decoração – muito espaço e luxo.

Eu ofeguei. Mas não era apenas pela opulência e pelo fato da minha mente fértil estar calculando o valor das suítes, mas porque estávamos em um hotel Nichols. Sim, dos vários na costa dourada, mas em downtown, perto de nossa escola e perto do Cityplace, o shopping que eu o havia encontrado. O Hotel da família Nichols. Da família de Henry Nichols.

Henry. O garoto que flutuava em minha mente e andava por meus sonhos por mais vezes que eu gostaria.

Eu estava apavorada de encontrá-lo ali, ainda mais depois do fiasco de nossa ultima conversa. Os seus frios e decepcionados olhos azuis ainda me assombravam.

- Não se preocupe – Danielle murmurou baixinho, quase me arrastando pelos cotovelos até a recepção – sexta feira é o dia do jogo contra Laguna, não encontraremos nenhum jogador ou líder de torcida por aqui. Ele não estará por aqui, Nicolle.

Eu dei de ombros, não olhando em seus olhos. Ela não precisava saber que eu estava tanto agradecida tanto quanto decepcionada de não encontrá-lo.

Eu respirei fundo e segui Danielle até a recepção. Tudo ali gritava luxo, luxo, luxo! Pela janela avistei a área das piscinas – sim, mais de uma – e uma plaquinha dourada que indicava o SPA. Um SPA! O que eu não daria para uma massagem, uma manicure... ou mesmo uma longa tarde de sono em uma daquelas enormes camas de hotel ...

- Por favor, viemos ver Andrew Cotter – a voz suave de Danielle cortou meu devaneio – suíte 32.

A recepcionista – uma loira muito bonita e muito maquiada também – ficou nos encarando. Aquilo era constrangedor.

- E quem devo anunciar? – ela perguntou o tom profissional, mas mesmo assim curioso.

- Danielle Owen e Nicolle Crystal - Dann abriu o sorriso inocente para a recepcionista, enquanto eu já estava ficando irritada. Ainda mais do que eu já estava. Isso não era um bom sinal.

A recepcionista sorriu de volta, meio forçadamente, diga-se de passagem. Pegou o interfone, e anunciou a nossa chegada. Imediatamente ela agradeceu e desligou o aparelho.

- Podem subir, oitavo andar, suíte máster, primeiro corredor a direita. Vocês são aguardadas. Bem vindas ao Nichols Plaza.

Demos de costas para ela, mas eu tinha vontade de mostrar a minha língua, como uma criança de oito anos.

Passamos pelo hall e entramos no elevador, enorme, espelhado e absurdamente dourado, contrastando com o tapete vermelho.

Meu coração batia descompassadamente , como se pudesse rasgar e sair do meu peito a qualquer momento , pois eu não sabia o que nos esperava na suíte dos Cotter. Afinal estávamos falando de um psiquiatra. Um psiquiatra! Quando você veria uma adolescente acompanhada de uma amiga indo consultar um psiquiatra por livre e espontânea vontade em um dia e folga . Quando?

O oitavo andar se abriu através da porta do elevador, como se fosse a abertura de algo novo inesperado para mim, o inicio de uma tragédia ou de uma aventura. E eu só queria a minha paz de volta, minhas noites de sono, minha sanidade. Claro, eu poderia colocar na minha lista a minha antiga cidade e minha antiga vida, mas isso seria impossível. Paz, eu queria paz, apesar da louca curiosidade que queimava dentro de mim.

Assim como a insana sensação de que, a qualquer minuto eu cruzaria com Henry Nichols por aqueles corredores. Nem naquele momento, tão importante para mim eu conseguia desligar a sua lembrança de minha mente.

Eu sacudi a minha cabeça como se pudesse tirar aqueles pensamentos de minha mente e segui em frente pelo corredor. Primeira a direita eu lembrei a Danielle que seguia do meu lado, calma e confiante como sempre. Paramos em frente uma porta que ficava bem ao meio, a única daquele lado do corredor. Deveria ser um quarto bem grande.

Suíte 32.

Eu dei um ultimo olhar para Danielle que sorriu tranquilamente, me encorajando a dar o próximo passo.

Eu apertei a campainha. Em menos de dez segundos a porta se abriu e Aideen abriu a porta.

- Abençoadas sejam – ela disse com a sua voz suave e melódica – Fico muito feliz em vê-las. Abençoada seja Nicolle, entre, por favor.

Desta vez eu havia sido incluída no “abençoada seja” que pelo que percebi, era uma saudação entre as bruxas. Ela devia estar sendo cortês, eu supus.

- Por favor, entrem. Vou chamar meu tio em instantes.

Eu arfei ao entrar no quarto dos Cotter. Era imenso. Luxuoso. Eu e Danielle entramos em uma espécie de hall ou sala de espera dentro do quarto, com um grosso tapete felpudo azul claro, combinando com os sofás lindamente trabalhados.

Eu arfei com aquilo. Era muito mais do que eu imaginava. Aquele pessoal sabia como se hospedar com conforto.

- Bonito, não é? – Aideen perguntou simplesmente, nenhum sinal de afetação em sua voz – A suíte é composta por dois quartos, um que eu divido com Estella e outro para meu tio, sem contar que cada quarto tem seu próprio banheiro, o que é muito cômodo, assim meu tio não precisa dividir seu espaço com duas adolescentes. Além desta saleta tem um pequeno escritório, o que eu achei incrível, você pode conversar com meu tio com privacidade ali. Vocês querem um suco, um refrigerante?

Ela não disfarçou nem por um minuto que estava animada com a nossa presença ali. Imediatamente confirmei minha simpatia por Aideen, linda com um vestido simples azul, os cabelos daquele tom selvagem de vermelho emoldurando o rosto delicado.

Vendo que eu e Danielle ainda estávamos em silencio, ela continuou, dando de ombros.

- O serviço de quarto aqui é bom, vocês da Florida sabem como se divertir. O frigobar esta lotado de coisas gostosas, posso oferecer algo enquanto vocês esperam...

- Um suco esta bom – eu me apressei em responder – O quarto é realmente lindo.

- Sentem-se, por favor, enquanto vou buscar os sucos. Eu volto em um minuto.

Ela abriu mais um enorme sorriso e saiu em direção a um corredor que ficava do lado direito da sala que estávamos. O quarto era realmente enorme.

- Dann,você viu o tamanho disso tudo aqui? – eu sinalizei o quarto – Deve ser absurdamente caro.

- Muito caro – ela afirmou com a cabeça – mas olhe ao redor. Elas decoraram com coisas próprias.

Realmente. Uma pequena fonte de água feita de cristal, algumas pedras coloridas e brilhantes e um incensário inalando uma fumaça doce e agradável na mesa de centro. Alguns livros em cima de uma mesinha de canto, e duas enormes almofadas de tecido colorido em cima do caro tapete, que com certeza não faziam parte da decoração do hotel.

Mas o mais impressionante era um quadro encostado em uma das poltronas. Não era grande, do tipo que poderia ser facilmente carregado em uma porta malas, mas mesmo assim impressionante. Uma mulher lindíssima em trajes de guerreira, o rosto decorado com tatuagens e algo como uma coroa simples, de bronze, creio eu, emoldurando a longa cascata de cabelos violentamente vermelhos, como os de Aideen, que caiam por sobre seus ombros e pelo peito. Mas o que mais chamava a atenção eram os olhos, negros e altivos, desafiadores, selvagens.

Eu me aproximei do quadro. Havia uma pequena frase escrita embaixo, que fez cada pelo de meu corpo ficar arrepiado.

“Y gwir erbyn y byde”

- A verdade contra o mundo. – eu sussurrei.

- Você conhece o grito de guerra de Boudica? A rainha vermelha celta? – Danielle perguntou baixinho meio sobressaltada?

- Eu conheço um pouco de irlandês – eu dei de ombros não querendo explicar muito naquele momento – mas sim, eu conheço a história de Boudica. A rainha celta que lutou contra os romanos durante a invasão da Bretanha.

- Isso mesmo – ela concordou me puxando pelo braço – olhe esse quadro! Deve ser muito antigo, comparando pela moldura. E é lindo e é Boudica. A rainha guerreira Boudica. A rainha vermelha!

- Muito antigo com certeza – uma voz seca e um pouco petulante com um leve sotaque italiano disse atrás de nós – Vejo que não faltaram às aulas de história.

Eu e Danielle viramos ao mesmo tempo em direção aquela voz. Estella Beltramo, pequena e imponente estava bem atrás de nós. Ela carregava algo peludo e cinzento entre os braços, como quem segura um bebe.

- Abençoada seja – ela saudou Danielle, e em seguida olhou para mim – Olá.

Nada de cortesia para mim.

Eu foquei os meus olhos e prestei atenção no que ela segurava.

- Isso é um coelho? – eu perguntei.

- Uma lebre – ela respondeu devagar.

- Uma lebre? – eu perguntei meio débil.

Ela revirou os olhos e ergueu ainda mais o queixo pequeno e petulante.

- Uma lebre. Você reconhece um quadro de Boudica e não sabe a diferença de uma lebre e um coelho?

Oh, ofensa das ofensas. Como se eu me deparasse todos os dias com lebres ou coelhos.

Meu peito se agitou, e eu imediatamente senti muita antipatia por aquela pequena italiana petulante e arrogante. Parece que eu estava me tornando imã de pessoas chatas nos últimos dias. Eu a enfrentei com o meu olhar. Eu não deixaria mais ninguém me diminuir.

- Eu devo ter perdido esta aula – eu disse bem devagar – sobre diferenças de lebres e coelhos. Eu sei que é algo crucial a minha formação acadêmica, pode ter certeza que amanhã farei uma reclamação formal á diretoria do colégio que eu e Dann estudamos sobre essa falha em nosso currículo.

Eu vi os olhos castanhos de Estella queimarem, duas bolas negras em chamas.

Neste momento uma sensação de calma tomou conta de mim. Danielle segurava com delicadeza o meu braço, os olhos enormes e suplicantes.

Estella olhou de mim para Danielle, uma cena cômica de, pois ela ficou olhando de uma para outra inúmeras vezes. O coelho – ou melhor, a lebre – ficou agitada em seu colo. Aquele bicho era engraçado, pois até aonde eu sabia coelhos (ou lebres) não eram muito inteligentes. Mas aquele animal cinzento tinha olhos vivos e únicos e olhavam diretamente para mim. Percebi que Estella ficou intrigada com alguma coisa.

- Bom, se me dão licença, tenho assuntos para resolver – ela disse apressadamente, seu sotaque ficando cada vez mais evidente – Qualquer coisa podem pedir a minha prima. Ela será muito mais cortês do que eu.

E ela saiu pela mesma porta que entrou, rápida e silenciosamente, como se fosse um golpe de vento.

- Criatura estranha – eu murmurei.

- Lebres são sagradas para muitas bruxas – Danielle me disse baixinho, ainda segurando o meu braço – para os celtas e dizem que até Boudica acreditava que eram seres sagrados. Você conhece a história do coelho da páscoa?

- Uma lebre? – eu desacreditei.

- Sim, você sabe que na conquista romana na Bretanha, muitas datas pagãs foram incorporadas a festas cristãs. Ostara, que tem como símbolo a lebre, foi substituída pelo Páscoa e o coelhinho e troca de ovos.

- Isso mesmo – uma voz agradável afirmou – Danielle esta correta. Muitos de nossos símbolos foram incorporados na conquista cristã, uma forma de domar o povo subjugado mais facilmente.

Aideen havia voltado a sala e sorria amplamente agora.

Ela estendeu uma bandeja com dois copos enormes de suco em direção a Danielle e eu.
Percebi que elas se olharam com admiração, o rápido reconhecimento de duas pessoas da mesma espécie. Apesar do conforto que eu sentia da presença de Aideen, eu não me sentia assim, como se fosse da mesma espécie que elas, mas sim como uma intrusa que tenta entender a difícil conversa de dois estrangeiros.

Minha garganta ficou seca de repente e eu tomei o suco ás goladas.

- Bom, acho que é hora de eu chamar o meu tio, afinal Nicolle veio justamente para conhecê-lo. Pode ficar tranqüila, ele é muito bom em sua profissão e é um homem muito tranqüilo, tenho certeza que irá ajudar.

Foi como uma deixa. Assim que ela terminou de pronunciar as palavras um homem entrou imediatamente na sala.

Eu quase engasguei com o meu suco.

Ele era loiro e alto, cabelos lisos na altura do queixo. Não deveria ter mais de vinte e cinco anos, o que era impossível com um profissional de sua reputação. E era lindo. Absurdamente lindo. Do tipo que faz as mulheres virarem o pescoço quando o vêem na rua . Não só as mulheres, acho que mesmo os homens e até animaizinhos de estimação viravam o pescoço em sua direção na rua , pois o cara era realmente lindo. Quente, era assim que chamávamos em Seattle, ou naquele momento em qualquer lugar no mundo alguém como ele.

Mas não era a sua beleza o mais impressionante. Eram os olhos. Assim que ele entrou na sala e sorriu para mim, eu senti minha cabeça rodar, mas não pela sua beleza estonteante de modelo. Eram os olhos. Eles transmitiam paz, amor e uma absurda paciência. Sabedoria. Eu poderia confiar minha vida á aquele estranho e mesmo assim eu acharia normal.

Ele se aproximou ainda mais de mim e me estendeu as mãos.

- Muito prazer, Srta Nicolle – sua voz era doce como veludo e fez meu corpo vibrar com uma intensa paz. Não era desejo físico, era conforto, como o que eu sentia quando estava ao lado de meu pai e ele me chamava de sua garotinha – Eu sou Andrew Cotter e minha sobrinha me falou sobre você. Espero que eu possa ajudá-la.

E naquele momento eu soube que realmente estava louca.

Ele era o homem loiro que eu sonhei dias atrás e que me estendeu a sua mão em meus sonhos. Eu tinha certeza que era ele, a lembrança daquela noite e daquele sonho queimou por minha garganta como fogo. O medo que eu senti nos braços do perseguidor e seus olhos cruéis. E a paz que encontrei estendida no tapete de um estranho. Um estranho que me olhava com a mesma ternura que o Dr. Cotter.

Como um pai olharia para sua filha.

Oh meu Deus. Eu realmente estava perdida.
Contagem regressiva ... voltando a West Palm Beach ...

Em mais alguns instantes , cap. 16

A verdade contra o mundo !!!!

Antes , uma coisinha chata ;o playlist.com esta com um problema de licença com o Brasil, então não estou conseguindo postar nenhuma música na playlist, estou refazendo a playlist em vídeos, e logo logo posto aqui ...

Bom, outro assunto foi o meu bloqueio, de mais de um mês que muitos acompanharam por aqui . Isso é algo muito chato e acho que acontece com a maioria . Escrever é algo muito único, visceral e emocional, que sim, dependendo do estado de espírito realmente não sai, ou pode sair alguma coisa que não condiz com a história e nem com a pessoas que as compoe , então nada melhor que o tempo para trazer de volta aquele sentimento, aquela emoção que nos liga a uma história ou a personagens .

Esse tempo voltou. Já sinto a maresia e o vento caloroso da Flórida batendo em meus rosto e espero que vocês possam sentir o mesmo .

Segue uma música que me fez voltar a West Palm para o Cap. 16.

Bjus Bjinhos e Beijokas

Gaby Raposo

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Olá amigos


Cap. 15 postado. "Pedido de ajuda."

Agora sem gripe e sem vírus , hehe

Obrigada por todas as mensagens de apoio, vcs são incríveis. Agora é a hora de retomar a vida e ter um ataque ao ver a mesa no trabalho de papel até o teto, hehe

Bjus Bjus e Bjus

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cap. 15 - Pedido de ajuda

Eu não prestei muito atenção ao caminho que estávamos fazendo.

Meu coração dolorido e minha mente confusa não me davam espaço para qualquer tipo de observação.

Apenas o cheiro da chuva, ao longe, muito ao longe queimava o meu nariz. Eu não sabia explicar como isso acontecia, e muito menos o porquê, mas era parte das coisas estranhas de minha vida que eu mantinha para mim mesma.

Eu conseguia sentir o cheiro da chuva. Não do jeito normal, o cheiro úmido que antecede uma tempestade. Eu conseguia sentir cheiro de chuva muito, mas muito antes que ela realmente acontecesse. Dias talvez.

Eu nunca havia contado sobre isso com ninguém. Eu só era uma garota querendo encontrar o meu lugar no mundo, e não alguém disposto a ser a esquisita.

Entenda, eu não queria ser igual a ninguém, e eu normalmente odiava as pessoas que se ajustavam como carneiros em um campo, iguais e fazendo sempre as mesmas coisas, usando exatamente as mesmas roupas e os mesmos comportamentos. Como as bronzeadas do colégio. E eu as odiava.

Mas eu também não queria ser apontada na rua. Conflitante, eu sei, mas assim era a minha vida.

Eu só percebi onde estávamos quando eu ouvi o barulho das ondas batendo nas pedras.

O cheiro do mar dominou todo o espaço do carro. Eu levantei os meus olhos e vi que estávamos em uma praia, a praia que ficava a poucos minutos da minha casa, a mesma que eu havia encontrado Henry Nichols dois dias antes.

Para falar a verdade pareciam duas vidas antes. O tempo estava pregando peças com a minha já conturbada cabeça.

Eu olhei para Danielle, tentando entender porque ela tinha parado ali.

– Eu sabia que você não queria ir para casa, e muito menos ir a um lugar público demais – ela se apressou em dizer, entendendo a duvida em meus olhos – Foi o primeiro lugar que eu pensei em parar, esperar você se recompor um pouco... Você esta horrível Nicolle.

Eu procurei um espelho na minha bolsa, e quando olhei para minha imagem refletida, eu quase tive um ataque. Eu realmente estava horrível, cabelos absurdamente bagunçados, olhos vermelhos e inchados e lagrimas escorrendo pelo meu rosto. E eu estava bem pálida. Não que eu fosse uma modelo super bronzeada, mas eu tinha ao menos uma cor bem saudável. Mas a garota que me olhava de volta ao espelho não parecia nada saudável. Ela parecia uma maluca, para dizer a verdade...

Foi então que eu comecei a ficar realmente com raiva. Patética, eu estava sendo patética. Eu revirei a minha mochila, procurando ao menos um pacotinho de lenços de papel para eu limpar o meu rosto e ter de volta o mínimo de dignidade.

Nada de lencinhos de papel.

Procurei no console do meu carro. Folhetos, maquiagem, um pacote de bolachas, o kit de jardinagem de minha mãe, spray de pimenta... Kit de jardinagem e spray de pimenta ?Eu poderia me defender de um bandido com uma espátula de cavoucar terra e um spray de pimenta, mas não tinha a porcaria de um lencinho de papel.

Droga!

Eu comecei a descontar a minha frustração em meu carro, batendo a porta do console com violência, quando Danielle me estendeu um pequeno pacotinho. Lenços de papel, daqueles umedecidos, para bebês – ótimos para limpar maquiagem.

Eu os abri com avidez, buscando sei lá quantos de uma vez, para tentar concertar o estrago em meu rosto. Passei meus dedos trêmulos pelos meus cabelos, tentando ficar um pouco mais apresentável. Mas eu ainda me sentia péssima.

Danielle continuava pacientemente me olhando.

- Obrigada – eu murmurei, entregando o pacote de lenços para ela – eu precisava realmente sair de lá.

- O que aconteceu?

- Nada.

- Nicolle... Eu sou sua amiga, você pode confiar em mim. O que esta acontecendo? – ela estendeu a sua mão e segurou meu braço delicadamente – Eu não estou dizendo somente hoje, mas toda a semana. Eu vejo que você esta com problemas, não me diga que não esta. Eu sei que esta.

Ela firmou a ultima frase com tanta certeza que eu congelei em meu assento.

- Como você sabe? – eu perguntei, tentando encontrar algo em seu rosto sério.

Ela deu um longo suspiro.

- Se eu te contar uma coisa sobre mim, você jura que não vai me achar mais esquisita do que já acha?

- Eu não acho você esquisita...

O olhar dela não deixou que eu terminasse a frase. Claro que ela sabia que eu a achava um exótica – no mínimo – mesmo ela sendo uma ótima amiga. Eu respirei profundamente, empurrando as ultimas lagrimas não derramadas para dentro de mim novamente, aspirando o cheiro da maresia, acalmando meus músculos tensos e cansados.

- Você vai achar que eu sou maluca Dann.

Ela deu de ombros.

- E eu Nicolle? Eu sou a sacerdotisa de Avalon devoradora de almas. A linda boneca alienígena. Ou simplesmente pedófila agora. Eu sei o que é se sentir diferente e maluca. Você confia em mim?

- Ok. Eu prometo.

- E você promete confiar em mim?

“Sempre confie em seu coração”
uma voz melódica disse baixinho em minha mente.

- Prometo.

- Ok – ela começou olhando firmemente em meus olhos – eu consigo ver coisas. Não exatamente coisas, mas eu sei quando alguém esta mentindo, eu sei quando alguém esta passando por problemas... é mais forte que um pressentimento, é uma certeza. Às vezes eu vejo, eu realmente vejo coisas, quer dizer, principalmente eu vejo os sentimentos. Não são sonhos, são Visões, você entende?

- Não. – e eu realmente não entendia.

- Visões não nítidas. Ainda é muito confuso, mas esta melhorando... é difícil explicar. Por exemplo, hoje depois da confusão no refeitório, eu sabia que ainda não tinha terminado. Eu sabia que você ainda iria se meter em mais confusões no dia de hoje.

- Você... sabia?

- Eu tentei te impedir, eu tentei segurar você no meio da multidão. Mas você não me ouvia... e eu ainda não consigo controlar o que eu vejo, eu nunca sei realmente o que é . Eu vejo a situação, mas nunca como acontece, entendeu? É tudo muito confuso e na maioria das vezes frustrante. Muito frustrante.

Eu olhei para longe dos olhos sérios de Danielle. As suas palavras não faziam o menor sentido para mim. Uma cigana de circo poderia me dizer as mesmas coisas.

Eu precisava de um minuto. Eu olhei ao meu redor.

Hoje a praia estava diferente de sábado pela manhã. Muita vida pulsava ao nosso redor, crianças brincando, fluxo de carros na rodovia. Um dia normal. Era difícil conciliar coisas normais com o que Danielle me dizia. E, além disso, essa história de bruxas e o sobrenatural, não eram fáceis de assimilar para mim, muito fora da realidade.

Mas o que havia de real na minha conturbada vida?

- Eu posso tentar ajudar você – ela disse com firmeza na voz – Se você me disser no que esta metida, o que esta deixando a sua aura confusa, eu posso fazer alguma coisa... Mas eu preciso que você confie em mim. Eu quero ajudar, mas eu preciso que você me dê algum espaço Nicolle.

“Aceite a ajuda que lhe é oferecida. Você não esta sozinha.”


Eu resolvi ouvir a voz que sussurrava em minha mente. O que eu tinha a perder?

E eu confiava em Danielle. Acreditando ou não no que ela me dizia, ela esteve comigo nos momentos que eu precisei. Ela parecia distante a maioria das vezes, mas ela era presente.

Cigana ruim ou não...

Era hora de eu confiar em alguém.

Em um jorro de palavras que eu desconhecia, eu comecei a falar. Dos meus sonhos e pesadelos, das perseguições, do estranho homem loiro que tinha me apavorado, das agressões sofridas em algum porão... Todos aqueles sonhos angustiantes que eram tão reais que na maioria das vezes eu sentia fisicamente o que estava acontecendo comigo naquele mundo que eu sabia que não era real.

Eu contei sobre os insistentes sonhos com as jovens na fogueira, a angustia e o sofrimento que elas sentiam e que eu compartilhava pelos seus olhos.

Eu mantive para mim o sonho que eu tive no dia que encontrei com Henry na praia, pois de alguma forma aquilo parecia pessoal demais, todos aqueles sentimentos que eu tinha certeza que não eram meus, e eu deveria mante-los guardados dentro de mim.

Mas tirando esta revelação, eu não escondi nada dela. Ela se manteve quieta, por todo o tempo, ouvindo tudo o que eu tinha a dizer, seu rosto limpo e claro, e eu podia sentir confiança e amizade nos enormes olhos castanhos de minha amiga.

Apenas quando eu contei sobre o ultimo sonho na casa dela, com a linda mulher e o campo de lavandas, sua pele ficou repentinamente pálida. Vi seus lábios abertos em um pequeno o, e quando eu mencionei que a mulher me chamou de uma filha dos ventos, seja lá o que isso significava, ela arfou. Levou as mãos ao peito e respirou pesadamente.

- E é isso Dann – eu finalmente disse, decidida a não lhe esconder nada – desde que eu me mudei para cá , as coisas pioraram e eu perdi completamente o fio da minha vida. Eu acho que estou louca. É a única explicação que eu tenho.

E ela começou a rir. Histericamente eu diria, e murmurava algumas palavras em tom de prece.

Ok. Tinha sido demais. Danielle tinha finalmente ultrapassado a linha de exótica para louca. Ponto para mim.

- Dann – eu ousei, segurando a sua mão gelada entre as minhas – Dann, você esta bem?

- Eu sabia. Eu sempre soube. Obrigada Deusa, eu nunca duvidei.

Realmente louca.

- Dann, você precisa de alguma coisa?

Mais rápido do que eu imaginava, ela saiu daquele transe e me abraçou. Ela ria e chorava ao mesmo tempo, e eu queria saber onde estava o pacotinho dos lenços de papel.

Subitamente ela me soltou e olhou dentro dos meus olhos.

- Eu espero por isso há muito tempo Nicolle. Por tempo demais. Você é uma de nós!


Uma de nós? Eu já via minha mãe chorando ao me acompanhar a ala psiquiátrica...

- Dann, não entendo o que você quer dizer.

- Você é uma bruxa. Todos estes sonhos e sentimentos são típicos de um Chamado.

- Chamado?

- É quando a Deusa chama por suas filhas e filhos e eles sentem a percepção do mundo e os seus dons... Todos têm os dons da Deusa dentro de si, mas apenas alguns conseguem vê-los, apenas poucos conseguem tirar o Véu de seus olhos e olhar a realidade. Como eu, você é uma bruxa. Eu sempre soube que eu conheceria outras, e quando eu vi você eu tive a certeza... Mesmo você estando distante e reticente. É típico, a sua mente ainda não reconhece a realidade, mas o seu coração, a sua alma , estes sim, dizem a você quem é . Uma bruxa. Abençoada seja, minha irmã.

É. Aquilo estava passando dos limites já. Até para Danielle.

Mesmo assim, apesar de toda a insanidade de suas palavras, no fundo as suas palavras eram reconfortantes... Algo se aquecia dentro de mim. Eu não deveria fazer parte da mística imaginação de Danielle, mas sim, eu me sentia feliz de alguma forma.

E exausta.

- Dann, eu não acho que seja isso... – minha parte racional tentava argumentar.

- Sim, é. Este sonho com o campo de lavandas, você viu a face Donzela da Deusa, sua face jovem e brilhante, e ela te chamava. O campo de lavandas é a purificação e o elo com o místico. E a parte da filha do vento...

Cheguei aonde eu queria. Um arrepio percorreu minha espinha.

- São antigas sacerdotisas. Não se sabe muito sobre elas, mas em suas histórias sempre esta ligada com o povo celta e seus sacerdotes, os druidas. Já li alguma coisa sobre a ligação com as antigas Sacerdotisas de Avalon. Um clã muito antigo de bruxas e bruxos, e as historias contam que eles tinham poderes inimagináveis, como cura de doenças e a manipulação dos elementos. Como controlar tempestades, estas coisas.

- Como você sabe tudo isso?

- Eu pesquiso sobre o povo dos ventos desde meus quinze anos, quando eu comecei a ouvir meu Chamado. Não tem muitas informações sobre eles, e até aonde eu sei, suas ultimas Prometidas foram queimadas na idade média. As Prometidas eram as Grãs Sacerdotisas do clã, e elas podiam manipular os elementos. Tinham uma alta posição junto ao povo, mas de alguma forma, as últimas foram traídas e acabaram mortas na fogueira.

Meu estômago revirou ao lembrar o sonho com as jovens garotas, o fogo rodeando os seus corpos, os olhos suplicantes. Eu tremi com a história de Dann e a implícita relação com o que eu sonhava há tantas noites.

- Não é uma história que a maioria das pessoas conheça – Danielle continuou sua voz tremendo de excitação – Então deve significar alguma coisa a Deusa revelar a você em sonho isso.

Minha mente girava e girava de tanta informação a assimilar. Eu achava tudo uma grande loucura, a maior insanidade que qualquer pessoa já teria me dito, mas mesmo assim, em algum lugar no fundo da minha mente não parecia errado.

- Ok Dann. Excesso de informação, você esta me perdendo... Eu conhecer lendas de antigas bruxas queimadas na fogueira não vai me ajudar em nada.

Ela me olhou incrédula.

- Nicolle, você não percebe como tudo isso casa perfeitamente? Como todas as informações e símbolos, como eles querem dizer alguma coisa?

- Eu percebo que na realidade eu estou a um passo da internação psiquiátrica – eu gracejei, forçando meu nervosismo para dentro de mim – Dann, é muito difícil eu acreditar nestas coisas... É muito para mim, você entende? Vamos com calma, por favor.

Ela parecia desapontada, mas o intenso brilho não saia dos seus olhos. Ela parecia uma garotinha em uma manhã de Natal. Ela ficou pensativa por um longo minuto.

- Vamos ás questões praticas então – ela disse de repente, me deixando sobressaltada.

- Questões práticas?

- Sim. A insônia continua? E os sonhos estão te enlouquecendo?

Eu acenei positivamente.

- Eu tenho uma idéia. Você ainda tem o cartão que a garota do shopping, Aideen deu para você?

Imediatamente me lembrei das jovens bruxas que encontramos. De alguma forma tudo voltava ás conversas místicas de Danielle.

Mas, por que não?

Eu tinha guardado na minha carteira aquele cartão desde então. Nem precisei procurar muito, milagrosamente eu havia guardado em um pequeno bolso lateral, fácil de encontrar

Eu peguei o pequeno cartão, branco e elegante e olhei as palavras.

Andrew Cotter, psiquiatra.

Aideen, a ruiva de cabelos gloriosos havia garantido que ele era especialista em distúrbios de sono. Era exatamente o que eu precisava.

- Vou ligar para ele. – eu disse com alguma resolução naquela fatídica manhã e Danielle já me entregou o seu celular.

Claro que eu estava apavorada, ainda mais que eu sabia que psiquiatras eram caros, mas naquele exato momento, não custava uma tentativa.

Eu disquei os números com o coração aos saltos. A ligação foi atendida já no segundo toque.

- Alô – uma voz delicada e educada disse do outro lado da linha. Eu tinha certeza que era Aideen.

- Alô, é o número do Sr. Cotter?

- Sim, é a sobrinha dele falando. –era Aideen. Fiquei feliz que foi ela que atendeu, e não a outra garota que não tinha uma cara de muitos amigos.

- Aideen, meu nome é Nicolle Crystal – eu tentei falar devagar, não olhando para Danielle que quase pulava no meu colo de tanta ansiedade – Nos conhecemos no shopping, sexta feira passada, e você me deu o cartão do seu tio...

- Oh – a voz dela continuava educada, mas eu percebi uma mudança no tom – Abençoada seja, que bom que ligou. È claro que eu me lembro de você e sua amiga. Você gostaria de falar com meu tio?

Sim, eu precisava de ajuda. E muita.

- Sim, por favor. Eu preciso de ajuda com meus distúrbios de sono...

- Só um momento, por favor – ela pediu, e o telefone ficou por alguns segundos mudo. Meu coração saltava pela minha boca e o fato de Dann estar toda agitada não adiantava muito. Instantes depois ela voltava ao telefone, a voz visivelmente excitada – Você pode vir amanhã ? Meu tio garantiu que pode lhe atender amanhã à tarde se você quiser.

- Claro. A que horas?

- Umas duas horas. Esta bom para você?

- Perfeito. Qual o endereço que posso encontrar vocês?

- Oh, estamos hospedadas no hotel Nichols Plaza, ao lado do shopping que nos encontramos, na suíte 32. È só procurar por Andrew Cotter.

Meu coração doeu por meio segundo. Eles tinham que estar hospedados justamente em um hotel Nichols? A vida não estava sendo justa comigo...

Nada de lamentar Nicolle Crystal.

- Eu sei onde fica – eu disse tentando não deixar minha chateação transparecer – Às duas horas em ponto. E obrigada Aideen.

- Será um prazer. E Nicolle?

- Sim? – Deveria ser o preço da consulta.

- Você vai trazer sua amiga também?

- Danielle? Vou sim. Tem algum problema?

- Pelo contrário – ela disse com aquela voz muito educada me deixando calma de repente – Será um prazer receber as duas. Teremos muito que conversar e você vai adorar o meu tio. Ele é um ótimo psiquiatra. Até amanhã.

- Até amanhã. – mas o telefone já estava mudo.

Danielle quase pulou em cima de mim no exato momento que desliguei.

- Amanhã às duas da tarde. – eu me apressei em informar – Foi Aideen que atendeu. E ela perguntou se você iria junto.

- Claro que eu vou com você. Você acha que eu deixaria você ir sozinha?

Eu sorri da afirmação categórica dela.

- Eu apenas não sei o preço da consulta e nem se vou ter dinheiro suficiente para paga-la.

- Pensamos nisso mais tarde. Eu levo o talão de cheques que minha mãe me deu. Ela sempre fala que eu sou muito moderada mesmo. Não teremos problemas.

Novamente senti meu coração afundando aos poucos. Uma lagrima teimosa quis rolar de meus olhos. E eu não queria me deixar levar por aquele sentimento mais uma vez.

Não valia a pena. Ele não valia à pena.

- Elas estão hospedadas no Nichols Plaza ao lado do Cityplace.

Ela percebeu o meu tom pesaroso e imediatamente ficou alerta, seus enormes olhos castanhos preocupados.

- Henry – ela sussurrou o rosto de boneca vincado de preocupação – Você quer conversar sobre o que aconteceu?

- Não.

Realmente eu não queria. Se Henry Nichols não queria conversar comigo, eu também a partir daquele momento não conversaria com ele e muito menos sobre ele. Ele que ficasse com a Jessica bronzeada ou qualquer outra de sua corja, se assim ele quisesse. Eu tinha muitas coisas com que me preocupar, e o zagueiro do time de futebol não deveria, e não seria nenhuma prioridade em minha vida. Eu nem o conhecia direito. E isso deveria continuar assim. Uma ponte instransponível entre nós dois. Isso era o certo.

Se era o certo, porque meu coração doía ao pensar sobre isso ?

- Nicolle – Dann começou com cuidado – eu não sei o que aconteceu entre vocês dois no estacionamento, mas Henry... bom, ele não é como você esta pensando. Ele é uma boa pessoa. Ele apenas esta fazendo sei-lá-o-quê com aquela metida da Jéssica, mas isso, não muda o caráter dele. Você deveria conhecê-lo.

- Eu não penso nada sobre ele Dann. Para falar a verdade eu nem quero pensar ou falar sobre ou com ele, eu tenho muitas outras coisas com o que me preocupar. E ajudaria se você não mencionasse o nome dele na minha presença. Por favor.

- Mas Nicolle...

- Nada de mas, Dann. Por favor, eu já tive mais do que poderia suportar por uma manhã.

Era visível a contrariedade em seu rosto, mas ela assentiu levemente com a cabeça.

- E quais seus próximos planos? – ela finalmente perguntou.

Isso era fácil.

- Ir para casa e descansar. Amanhã iremos conversar com o tal psiquiatra e avaliar os danos em minha sanidade. Mas agora eu preciso da minha cama Dann.

- Ok. E sobre os filhos e filhas do vento? Eu tenho algum material, posso mandar para você por email agora a tarde. Tenho pouca coisa, já que não há quase nada sobre eles, mas é um começo.

Eu ia protestar sobre esta idéia, eu não queria saber nada realmente daquela lenda que Danielle me contava. Mas na realidade,eu queria sim saber sobre aquilo e não queria de forma alguma magoá-la com uma recusa veemente.

- Amanhã. Amanhã você pode me mostrar toda a sua pesquisa e podemos juntas tentar descobrir mais sobre isso, mas hoje, realmente eu não consigo assimilar mais nenhuma informação.

Ela sorriu e ligou a chave do carro repentinamente, retornando a rodovia, um sorriso tranqüilo nos lábios pelo curto trajeto até a sua casa. Assim que paramos eu sorri para ela.

- Amanhã eu te pego logo depois do almoço, para irmos á consulta?

- Nah. Pela manhã Nicolle. Tomamos café no Country Club.

Aquilo parecia tão esnobe. Não combinava com Danielle. Mas rapidamente ela completou.

- Faremos uma aula de yoga. É ótimo você precisa relaxar um pouco, para não ser imediatamente internada em alguma clinica de reabilitação.

A idéia não era tão ruim. Eu precisava mesmo de algum exercício físico e relaxar, antes que eu começasse a distribuir socos em vadias loiras por aí.

- Ok.

Em poucos minutos ela parava na porta de sua casa. Ela desceu do carro e eu tomei o meu lugar no banco de motorista. Ela se inclinou pela janela e sorriu para mim .

- Não é tão difícil, não é? Confiar em alguém?- ela disse toda animada, mas antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ela se virou em direção á sua casa, aos pulos , e antes de entrar pela porta , ela virou em minha direção e completou – E chegue antes das nove . Assim dará tempo de chegarmos ao country club antes da chuva.

- E como você sabe que vai chover amanha Dann? – eu gritei em sua direção.

- Pelo cheiro. Sinta o cheiro da chuva queimando o seu nariz, Nicolle. Não é tão difícil.

E sem dizer mais uma palavra, ela entrou pela porta da sua casa. Como se o fato de revelar aos berros que sentia o cheiro da chuva – quando qualquer pessoa normal poderia passar na rua e ouvir aquilo – fosse uma revelação normal, como comentar a previsão do tempo.

Eu fiz o caminho de volta a minha casa ao mesmo tempo preocupada e aliviada. Aliviada, pois eu tinha tirado todo o peso de guardar todos os sentimentos estranhos dentro de mim e por ter sentido o conforto e alivio com a amizade e as estranhas revelações de Danielle. E preocupada justamente por isso, eu sentia que minha vida entrava em um estranho redemoinho, e conforme eu tentava me salvar, mais fundo ele me tragava.

O sol queimava a minha pele e dava uma sensação claustrofóbica ali trancada em meu carro. O fluxo de carros era intenso, e pelo canto de meus olhos eu via muitas garotas parecidas com Jessica Smith e sua corja de bronzeadas. Aquilo despertou raiva de novo dentro de mim, e no fundo eu sabia que a cidade toda não era composta apenas por pessoas pequenas e nojentas como elas, era só lembrar meus novos amigos, de sua gentileza e compreensão e muitas outras pessoas no colégio, e os professores.

Não era uma cidade feita apenas de esnobes, apesar de todo aquele dinheiro circulando. Mas parece que justamente estes que me perseguiam.

Eu queria o conforto e segurança de minha casa.

Assim que estacionei no meio fio, eu estaquei. O carro de meu pai e o carro de minha mãe estavam parados bem em frente a garagem.

Eu teria problemas.

Respirei profundamente, peguei as minhas coisas e resolvi encarar o que me esperava.

Como eu imaginava ambos estavam me esperando, sentados na bancada da cozinha. Minha mãe deveria ter feito algo parecido com almoço e café da manhã ao mesmo tempo. O cheiro familiar da comida de minha mãe despertou a fome no meu maltratado estômago, e eu com calma me aproximei da bancada.

Os castanhos olhos de minha mãe, tão parecidos com os meus espelhavam alivio e preocupação.

Já o meu pai ainda era todo nervosismo e cansaço, e mais alguma coisa. Ele ainda era um homem bonito, e muitas garotas da minha antiga sala faziam piadinhas com o fato de eu ter um pai jovem, mas em seus cabelos claros já eram visíveis cabelos grisalhos e rugas ao redor dos doces olhos amendoados.

Eu me aproximei lentamente da bancada, jogando a minha mochila em um canto, e me preparei para o que viria.

E assim que me sentei, o interrogatório começou. Quinze minutos ininterruptos sobre os acontecimentos da manhã no colégio. Para minha surpresa eles ainda não sabiam sobre o meu incidente com as tochas e eu suavizei o máximo que eu pude a minha explicação, escondendo o fato que eu tinha ficado desacordada e omitindo o nome de meu salvador.

Mas o estrago maior já estava feito, e meus pais ficaram muito, mas muito estressados com tudo o que eu contei, e com o que eles sabiam.

Uma coisa era certa sobre o século vinte e um. As noticias se espalham com uma velocidade impressionante, assim como os boatos, e não é possível esconder alguma coisa por muito tempo. Os segredos valiam ouro.

Quando eu percebi que o interrogatório tinha dado uma pequena pausa, eu me servi de uma grande quantidade de purê e salada, e de algumas pequenas salsichas de churrasco que minha mãe preparava na frigideira e eram deliciosas. Eu estava faminta.

Após algumas garfadas que aqueceram o meu estômago imediatamente, eu percebi o que estava errado. Meu pai àquela hora do dia em casa?

Ele deu de ombros assim que perguntei.

- Eu precisei de um pouco de ar depois das noticias que seu colégio havia sido invadido por seqüestradores e depois da minha reunião pela manhã.

- Oh verdade papai, o cliente novo. Como que foi?

Minha mãe se adiantou um misto de admiração e preocupação.

- Seu pai foi promovido. Esta com a conta mais importante do escritório.

Eu o abracei e dei um leve beijo em sua bochecha, mesmo não sabendo se era um motivo para comemorarmos.

- Parabéns papai, eu acho. E quem é o seu cliente? Alguém bem conhecido?

Meu pai suspirou pesadamente. Hum, aquilo me cheirava problemas. Mais um entre tantos.

- Nichols Ink. , você já deve ter ouvido falar. Uma rede de hotéis, um cassino em Vegas, entre outras coisas. Tem um hotel Nichols ao lado do Cityplace, e outros em Júpiter, Laguna, Boca Raton e por toda a Florida.

Meu apetite desapareceu na mesma hora, sendo substituído por um nó em meu estômago. Claro que eu conhecia o hotel Nichols.

Aquele nome me perseguia aonde quer que eu fosse. E agora meu pai trabalhava para os Nichols. Por que o destino ou fosse lá quem quer que fosse, estava fazendo este tipo de brincadeiras sem graça comigo?

- Você trabalha para os Nichols agora pai? – eu mal poderia acreditar.

- A conta é minha sim filha. – então ele virou os olhos para minha mãe, que me estudava com olhos curiosos – E ainda por cima ganhei três estagiários que não são muito mais velhos que Nicolle, e dois contadores mais velhos do que eu e que me olham como se eu fosse o grande vilão da história. Isso sem contar que vou treinar o herdeiro Nichols, um garoto da sua idade filha. Inclusive ele estuda na sua escola, Henry Nichols. E se você por acaso o conhecer Nicolle, quero você bem longe dele, ele é um conquistador adolescente. As estagiárias do escritório já estão enlouquecidas por causa do garoto. Eu quero você bem longe dele, entendeu? Eu ainda não o conheço, mas pelo que percebi, ele é confusão na certa.

Um conquistador adolescente. Estagiárias enlouquecidas. Meu pai o treinaria nos negócios da família.

Reconhecimento passou pelo rosto de minha mãe. Eu já conseguia ver as engrenagens do cérebro dela, ligando o nome Nichols ao Henry que ela conheceu no shopping. O meu olhar assustado deve ter chamado alguma atenção também.

- E como é o Sr. Nichols, o pai?– minha mãe perguntou olhando seriamente para mim.

- Scot Nichols. – meu pai deu um profundo suspiro – um dos seres mais desprezíveis que eu já tive o desprazer de encontrar na vida. Mas junto a conta nova veio um belo aumento. Vamos ter uma boa vida aqui na Flórida, Carol.

- E o seu livro, como que fica? Você não vai ter mais tempo para se dedicar a ele, querido.

Meu pai então puxou minha mãe pelas mãos e deu um beijo doce em sua palma. Em seguida ele estendeu os braços em minha direção e me enlaçou em um abraço reconfortante.

- Depois – ele murmurou afagando os meus cabelos – Agora é hora de me dedicar a vocês duas. Falta pouco para Nicolle ir para a faculdade. Preciso me preocupar em pagar uma boa faculdade para a nossa garotinha. Depois eu tenho todo o tempo para terminar o meu livro. Não se preocupem.

Eu senti um aperto na garganta, como sempre acontecia quando meus pais faziam alguma coisa assim. Eles sempre se preocuparam demais comigo, sempre estiveram presentes, mesmo em nossas fases mais difíceis e apertadas, em Seattle.

Eu sentia lagrimas brotando novamente pelos meus olhos, e eu não queria ser vista. Eu dei uma breve desculpa como cansaço após a confusão do colégio – o que não era uma mentira – um beijo rápido em cada um deles e subi correndo para o meu quarto.

Afundei em minha cama, me escondendo embaixo de meu edredom. Então eu liguei os fatos. Scot Nichols. Henry S. Nichols, como Danielle o apresentou no meu primeiro dia de aula. Henry Scot Nichols. Herdeiro da fortuna de sua família e conquistador adolescente. Estagiárias enlouquecidas e líderes de torcida e não sei mais quantas garotas atrás dele.

Eu deveria ficar longe dele. Depois de tudo que aconteceu naquela manhã, eu sabia que era errado, que eu não deveria me importar com ele, estar perto dele, e nem ao menos lembrar que ele existia. Nós éramos de mundos diferentes, e agora eu percebia, ele era tudo que eu pensava um conquistador, cheio de garotas por todos os lados.

Na escola ele podia ser discreto, já que estava saindo com Jessica Smith, e por apenas este motivo eu deveria manter uma distancia bem segura – de no mínimo um continente – mas eu sabia que aqui fora, aonde os garotos ricos podiam se soltar e fazer o que quisessem ele deveria ser tão mimado quanto eu imaginei . Eu não sabia o que ele fazia aqui fora.

Mesmo eu tendo encontrado ele por dois dias seguidos e o encontrando sempre sozinho, ele deveria ter um séquito de garotas a sua disposição.

Meu lado menos racional lembrou como ele me olhava e de como eu me sentia quando ele me tocava, mas imediatamente eu afastei essa idéia de minha mente. Eu era novidade, claro, e ele deveria testar seu lado charmoso em cima da garota nova, mesmo ela não sendo tão bonita, rica e popular como a sua namorada.

E eu me machucaria nesta história toda.

Eu já tinha tantos problemas, meus sonhos, essa história de bruxas e filhas do vento, lendas e insanidades que minha mente cansada produzia. Eu tinha muito que resolver e era com isso que eu deveria me preocupar.

Mas lagrimas teimosas ainda corriam pelo meu rosto, oprimindo o meu coração. Meu peito doía e eu estava tão cansada. Aquele havia sido o mais longo de meus dias. E eu não sabia o que o dia de amanhã me reservava.

Em algum lugar no meio deste caos, eu adormeci. Um sono sem sonhos e nem pesadelos, um sono pesado, que relaxou o meu corpo e minha mente.

Quando eu acordei o céu já estava escuro. Passava das nove horas da noite. Eu havia dormido por muito tempo.

Meus pais deveriam estar preocupados, e meu estomago roncou de fome.

Tomei uma ducha rápida e coloquei um confortável pijama. Não me preocupei em secar os meus cabelos, amanhã eu resolveria isso. Eu teria o dia longe da escola.

Um bip baixinho chamou a minha atenção. Eu reconheci como o do meu celular, perdido na bagunça que era a minha bolsa.

Eu tinha varias mensagens de texto e duas ligações perdidas. Uma de Jack e outra de Danielle.

As mensagens eram de meus amigos, Patrícia, Hellen, Juliet, Michel e até do tímido Paul, todos me desejando uma boa noite de sono e melhoras depois do susto que eu passei. A mensagem de Hellen era divertida “Chutaremos uns traseiros magrelos“

Com essa eu ri. Hellen era loira e tão magra como elas, e até mais bonita, mas ela nunca se igualaria a nenhuma da corja de bronzeadas.

Fiquei surpresa ao ver uma mensagem de minha amiga Becca.

“Passo o feriado na Florida com vc. Passagem barata. Quero conhecer todos os gostosos nativos. Beije muito por mim.”

Sorri diante dos desejos comuns e simples de Becca. E fiquei feliz, eu a veria no feriado.

A próxima mensagem era de Jack.

“Uma linda noite de sono para uma linda princesa que precisa descansar. Guardião e amigo. Jack”.

Eu sorri. Jack era fofo. Não era o tipo de cara que você fica com raiva por estar atrás de você, mesmo você dizendo não. Era do tipo que fazia o coração se aquecer e fazer você feliz. Eu sabia que podia repensar meus conceitos sobre ele, assim que meu coração e minha mente entrassem em algum eixo. Seria fácil estar com ele e gostar dele, eu sabia disso. Alguém de meu mundo, alguém que eu podia confiar que não me faria sofrer.

O fato de ele ser realmente bonito e gentil ajudava, é claro. Eu apenas precisava convencer a mim mesma que não deveria mais pensar em Henry Nichols.

A última mensagem era de Danielle.

“Amanhã será um novo dia, cheio de surpresas. Aproveite a vida!”


Sim, era isso que eu faria. Aproveitaria a minha vida, os meus amigos e resolveria todos os meus mistérios. Bruxa ou não, era hora de encarar, mesmo eu sabendo que tinha algo diferente comigo. Outros podiam me aceitar como Danielle fez. Eu não sabia quanto aos amigos que eu deixei para trás, como Becca, mas Jack e as garotas podiam. Mesmo eu sendo alvo de piadas as vezes .

Meu estômago roncou. Era hora de descer e garantir um pouco de normalidade aos meus pais.

Quando eu abri a porta, minha mãe estava do lado de fora, de pijamas e uma bandeja enorme. Alguns lanches, um balde de pipoca e duas latas de coca-cola.

- Serviço de quarto – ela gracejou, enquanto entrava porta adentro. – Faz muito tempo que não temos uma noite de garotas, mesmo sendo uma feita de mãe e filha. Olha o que eu trouxe, Titanic, versão especial do diretor, quatro DVDs. Cenas especiais e tudo o mais.

- Mas e o papai? – meu tentei não pensar sobre o fato que minha mãe queria assistir Titanic pela centésima vez.

- Dormindo. Ele esta preocupado com a nova conta. – ela colocou a bandeja enorme bem no meio da minha cama e ligou a TV, colocando o filme no pequeno aparelho de DVD de meu quarto para assistirmos. – E o garoto que seu pai estava falando era o mesmo que você encontrou ontem no shopping, não era?

Eu peguei um punhado de pipoca - com manteiga, do jeito que eu gostava – coloquei na boca e sentei em minha cama, fingindo que não tinha entendido a pergunta direta de minha mãe.

- Você tem certeza que quer chorar por Jack e Rose hoje à noite mãe? – eu disse de boca cheia.

Ela sentou ao meu lado e me olhou seriamente, do jeito que ela fazia sempre que eu tentava esconder alguma coisa dela. Com meu pai funcionava facilmente esconder coisas, mas nunca com a minha mãe.

- Sim, o mesmo – eu disse em um tom de aliás – Mas não tem com o que se preocupar, eu já lhe disse que eu e ele, bom, não trocamos mais que duas ou três palavras.

- Eu não acredito em você.

- Mamãe!

- Nicolle Crystal – ela disse em tom de desaprovação – Você não acha que não vi a forma que vocês se olharam. Eu acho que tem mais aí do que você quer me contar.

Eu suspirei pesadamente. Eu não queria mais conversar sobre Henry Nichols, muito menos com a minha mãe.

- Eu já lhe disse tudo ontem mãe. Somos colegas de turma, nada além disso. Eu já lhe disse inclusive os motivos do por que eu não poderia ter nada com Henry Nichols. E você viu o que papai contou sobre ele. Um conquistador.

- Seu pai é exagerado com tudo que se refere a você. Se incluir garotos então, nenhum com certeza servirá para a garotinha dele.

- Mamãe – eu pedi docemente, apertando o play do DVD – por favor, não vamos continuar sobre esse assunto. Noite de garotas, lembra?

Eu percebi pelo olhar que ela me deu que eu não teria paz. Ela pegou um pouco de pipoca e abriu as nossas cocas, mas algo me dizia que ela não tinha desistido. Caroline Crystal não desistia nunca.

Tempos depois estávamos suspirando por Jack e Rose, flutuando no navio. Choramos juntos com a parte que eles estavam congelando no meio do oceano, e naquele momento minha mãe não parecia muito mais velha que eu. Eu resolvi perguntar a ela algo que sempre me incomodou.

- Mãe você se arrepende?

- Hum?

- De ter me tido tão jovem. Você nem conseguiu terminar a faculdade.

Ela de repente me enlaçou e me deu um longo beijo no topo da cabeça. Eu sei que para muitos adolescentes era embaraçoso, mas tínhamos um relacionamento carinhoso em minha casa. Apesar de que, fora de casa, sim, era um pouco constrangedor.

- Não, minha garotinha – ela garantiu docemente – você foi o maior presente, meu e de seu pai. Mas é claro que não queremos o mesmo para você. Você esta destinada a realizar grandes feitos.

Eu senti um misto de alívio e arrependimento com a revelação de minha mãe. Ela tinha tanta confiança de que eu seria capaz de fazer grandes coisas, mas eu não conseguia revelar meus medos e angustias dela. Mas foi então que algo passou pela minha mente.

E se Danielle não estivesse tão errada em acreditar em sua Deusa? Tudo na vida tinha um equilíbrio, o feminino e o masculino, luz e trevas. Por que não a face feminina na criação?Uma mãe, e não somente um pai.

Sim, eu não era muito religiosa, mas aquilo fazia algum sentido para mim enquanto estava ali, aninhada com minha mãe. Eu me sentia segura, meus pensamentos não tão desconexos.Fechei meus olhos e senti meu corpo imediatamente relaxar.

E assim eu adormeci, entrando em um mundo calmo, sem pesadelos.

Eu ouvia ao fundo uma suave melodia, que trazia paz em meu coração. Essa voz sussurrou em meus ouvidos.

“Você esta no Caminho certo, minha filha. Minha filha do povo dos ventos.”


Eu me sentia tranqüila. Aquela voz me garantia que tudo ficaria bem.

Apesar dos frios olhos azuis, que me assombravam até em meus sonhos.

sábado, 29 de agosto de 2009

Olá amigos .

Semana super intensa ... depois do meu note quebrado ( trabalhão para recuperar o manuscrito do livro ... ), uma suspeita de gripe suina e o lançamento de Blood Promisse ( Oh meu Deus , o que foi Dimitri Strigoi ?! ) este final de semana voltamos a ativa . Ainda esta meio dificil organizar as perdas e os capitulos, mas o trabalho já esta terminando.

Obrigada pela paciencia e pelo carinho.

De novidades, no blog da Aninha ( tem o link nos meus favoritos ) os capitulos de As filhas do vento também estão sendo postados, todas as segundas feiras desde o Cap. 1. Vale a pena uma visita no blog dela, tem muitas dicas ótimas de livros.Eu adorei.

E também estou lendo um monte de livros novos sendo publicados na internet ( ficar de cama as vezes é bom para conhecer coisas novas ) e vou dar algumas indicações. Li muita coisa boa de muita gente talentosa.

Um beijo a todos e vamos ao trabalho novamente.

Gaby

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Olá a todos

Enquanto o cap. 15 não sai , eu queria compartilhar um video com vocês.

The phamton agony, do Epica .

Claro que eu imagino que para quem já ouviu minha playlist ou sempre que abre a pagina do blog e o audio do computador esta ligado ,já enjoou da música , mas para mim, é o tema para a primeira parte da saga , O sonho .

O vídeo é um pouquinho ruim ( ok, tem momentos toscos ) mesmo assim eu adoro e sempre arrepio ouvindo a música .

Bjinhos Bjinhos

Gaby

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Olá amigos

Cap. 14 postado e playlist atualizada ...

Incrivel como eu acho as musicas do Evanescence perfeitas para o clima de nossos amigos de West Palm Beach.

É , ok , faz um pouco mais de sol na Flórida.. enfim ...

Um beijo enorme e obrigada pelo carinho sempre.Obrigada por estarem acompanhando a saga de Nicolle e sua turma.

Gaby

Cap. 14 - Explicações não dadas

- Nicolle, Nicolle, por favor, abra os olhos, me diga que esta bem. Oh meu Deus.

Eu ouvia uma voz desesperada me chamando ao longe. Eu conhecia aquela voz. Eu tentei lutar contra as trevas que tomavam conta de mim, pois eu queria responder aquela voz que me chamava, eu queria lhe dizer que eu ficaria bem.

- Eu a machuquei – a voz novamente falou – eu devo te-la machucado. Mas eu entrei em pânico quando eu vi o fogo...

- Não toquem nela – outra voz falou – ela pode ter uma concussão, esperem ajuda, se afastem, por favor.

- Nicolle – a voz chamou de novo – você pode me ouvir? Por favor, Nicolle.

“Eu posso ouvi-lo” eu tentei murmurar, mas estava tão longe, tudo tão longe.

- Henry, esta tudo bem – a outra voz respondeu , e apesar de todo o nervosismo que ela transmitia , percebi que era uma voz doce. Danielle. Era a voz de Danielle. – Henry, acalme-se. Por favor, chamem ajuda.

Henry. A voz de Danielle havia falado o nome dele. Eu reconhecia o som daquele nome, era o nome que fazia meu sangue correr pelas minhas veias de uma forma que eu não sabia descrever.

Eu lutei com as trevas, pois eu mais que nunca precisava garantir que estava bem. Henry chamava por mim.

Mas por quê?


Eu tentei nadar contra o mar pesado e profundo, que entorpecia meus membros e tentava me tragar em sua escuridão sem fim. Eu era forte, eu sabia que eu era forte Eu tentei subir á superfície. Mas meu corpo doía tanto...

Conforme eu nadava, eu ouvia mais e mais sons ao meu redor, muitas vozes gritando entre si.

- Nicolle – ele pediu novamente – por favor...

“Sim, eu estou aqui”

Eu nadei com mais força, obrigando cada músculo de meu entorpecido corpo responder ao meu comando. Algo pesado comprimia meus olhos, mas eu iria responder aquela voz. Eu precisava.

Eu senti um formigamento em minhas mãos, e depois em meus braços , um calor suave e restaurador em cada fibra de meu corpo castigado. Eu precisava então ser forte.

Eu nadei e nadei, meus olhos firmemente cerrados... Mas o calor atingiu meu rosto e em seguida meus olhos. Eu consegui abri-los.

Eu estava novamente na superfície.

A luz me cegou. Meus olhos estavam desfocados, mas a sombra de um rosto se projetava bem a minha frente. Tão próximo ao meu, tão próximo que eu conseguia sentir o seu cheiro, delicioso em meu nariz.

Eu sentia uma mão tocando o meu rosto, delicadamente, afastando os cabelos grudados em minha testa. Aquele toque suave queimou a minha pele e eu me senti quente de repente. O sangue correu em minhas veias, de uma forma nova e deliciosa, Eu sentia vida pulsando em mim , eu estava tão viva.

Aquilo foi o suficiente para que eu me tornasse alerta em um segundo. Minha visão se focou em um instante, e eu vi que aquele rosto tão próximo ao meu era dele. Henry Nichols estava bem ali em minha frente, mechas de cabelo negro caídos em seus olhos, que brilhavam, mas me mostravam medo e preocupação.

Sua mão tocou de leve uma mecha de meus cabelos e por um minuto o meu mundo parou. Nada mais importava além de seu toque e da forma que ele me olhava.

- Nicolle – meu nome soou nervoso em seus lábios – Você esta bem? Eu machuquei você?

Me machucou ? Por que ele me machucaria? Eu sorri, imaginando o porquê ele me machucaria.

Ele sorriu para mim, os olhos intensos e azuis esboçando algo mais que preocupação e medo. Estávamos tão próximos e eu esqueci qualquer outra coisa que não fosse ele. Eu sentia o calor vibrante do seu corpo e uma sensação como nada no mundo. Era certo, tão certo...

- Ela esta bem Nichols – uma voz disse duramente– pode solta-la agora.

Assim como eu, percebi que Henry se sobressaltou com aquela voz que nos interrompia.

Eu sai do meu transe imediatamente, e Henry se afastou um pouco de mim. Jack estava bem ao seu lado, tentando afastá-lo de mim.

Eu percebi a realidade em poucos segundos. Eu estava deitada ao chão, com Henry e Jack ao meu lado E muitas pessoas ao meu redor, formando um circulo. Vi os rostos de meus amigos a minha volta e um segurança segurando meu pulso entre seus dedos. Virei meus olhos a esquerda e vi Danielle segurando a minha mão, um sorriso aliviado em seu rosto. A mão que ela segurava formigava.

- O que aconteceu? – eu finalmente encontrei a minha voz, que soou fraca e estranha aos meus ouvidos.

- Você quase se queimou com a explosão de uma das piras de fogos de artifício que estavam em volta do palco – explicou Danielle – Henry saltou em sua direção e evitou que ela explodisse em você, já que você estava muito próxima.

- O que? – eu novamente perguntei – Explosão?

Eu tentei me erguer, mas varias mão me retiveram ao chão.

- Não se levante ainda – Henry pediu – nos não sabemos se eu te machuquei quando me lancei em cima de você.

- Você se lançou em cima de mim? Mas você esta lá em cima no palco.

Ele pareceu confuso e embaraçado.

- Por isso estamos preocupados. – Danielle segurou minha mão com força enquanto tentava me explicar - Para salvar você da explosão, Henry se jogou do palco e caiu por cima de você. Ambos caíram ao chão Não sabemos se você bateu a cabeça.

- Eu estou ótima – eu me apressei em afirmar – Um pouco confusa, mas eu estou muito bem. Podem me soltar, por favor?

- Você pode ter uma concussão – Jack argumentou – entrando um pouco a frente de Henry – é melhor esperar a Sra. Tricia.

Eu estava ficando irritada. Irritada e envergonhada, pois eu percebi que todo o colégio estava ao meu redor. Eu não iria ficar ali bancando a donzela ferida.

- Eu estou ótima. Deixem – me levantar.

Eu segurei firme a mão de Danielle e levantei, auxiliada por um Jack furioso e dois seguranças. Quando finalmente fiquei de pé, minha cabeça ficou um pouco zonza e eu pensei que ia cair. Mas Henry rapidamente correu em minha direção e me segurou.

Eu estava tão feliz em estar perto dele novamente que sorri.

- Você me salvou?

- Eu poderia ter machucado você. – ele respondeu baixinho – Desculpe-me, eu não pensei direito quando vi você tão próxima dos explosivos.

Oh meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu senti um frio no estomago, mas a alegria de estar perto dele era tão grande... Mesmo com minha cabeça confusa e a enorme vergonha por estar sendo observada por todo o colégio.

Mas meus olhos só conseguiam enxergar aqueles gloriosos olhos azuis e o sorriso radiante de Henry. Ele era tão bonito, e eu me sentia fascinada por ele. Ele havia me salvado, seja lá o que tivesse acontecido. Eu queria agradecê-lo, queria tocar seu rosto, segurar as suas mãos.

A voz estridente da Sra. Tricia quebrou o meu transe.

- Você esta bem mocinha? – ela perguntou – Vamos levá-la a enfermaria agora mesmo.

- Eu estou bem – eu garanti pela milésima vez em poucos minutos – eu realmente estou bem não é necessário.

- Isso não cabe a você – ela afirmou arrogantemente, chamando dois seguranças – levem–na a enfermaria. Um amigo pode ficar com ela todo o tempo.

Neste momento eu vi Henry e Jack se aproximarem de mim. Eu vi, mais uma vez, ambos se medindo como adversários. Eu não gostava disso.

Claro que eu queria que Henry fosse comigo, eu queria ficar perto dele e conversar com ele. Eu desejava isso do fundo do meu coração. Mas havia o problema de Jessica e eu não queria magoar Jack. E por outro lado eu também não podia deixar que Jack me acompanhasse, pois havia a historia de meu suposto namorado em Seattle.

Como eu havia me metido em tamanha confusão?

Instintivamente eu procurei Danielle e apertei a sua mão. Eu sorri para meus outros amigos, depois para Jack, e por ultimo eu corri meus olhos para Henry, esperando que aquele sorriso fosse suficiente para que todos me entendessem, e então eu pedi.

- Danielle pode ir comigo? Por favor?

- Pode sim. Os seus amigos podem esperar se quiserem na recepção da enfermaria, um dos inspetores os acompanharão. – Então ela aumentou a voz, ficando cada vez mais estridente – os demais podem continuar aproveitando o nosso magnífico evento. O show pode continuar, mas sem fogos e nem tochas desta vez.

Aquela foi a deixa para que os alunos se afastassem, abrindo caminho para que Danielle e eu caminhássemos até a enfermaria, após a minha recusa veemente de ser carregada pelo enorme inspetor Palmer ,e fomos seguidas de perto por dois seguranças . Meus amigos nos acompanharam, mas eu não olhei para traz para ver se Henry estava entre eles.

Me surpreendi ao saber que na enfermaria , eu não encontraria apenas uma enfermeira entediada e estressada , como acontece em todos os colégios , mas ali, na corte dos reis de West Palm , contávamos também com um médico de plantão. Um médico jovem, mas ainda assim um médico.

A enfermaria era toda equipada, em tons suaves de verde, uma maca imaculadamente branca e muitos equipamentos médicos. Apenas o melhor para a corte.

O médico ficou muito tempo me examinando, verificou se eu tinha fraturado algum osso ou se havia algum sinal de queimadura. Nada, exatamente nada.

Ele fez perguntas bobas como meu nome, aniversario e nome de meus pais. Eu sei que era o protocolo para verificar se eu havia tido algum dano em minha memória, mas eu estava ansiosa demais para ficar ali parada enquanto a minha vida me esperava lá fora.

Eu ainda não havia tido tempo para pensar no que havia acontecido, na visão que eu havia tido bem ali, na frente de todo o colégio. Sim, eu sabia , mais do que nunca agora eu precisava de ajuda, eu não tinha nada sob controle , como eu imaginei na noite passada . As coisas estavam acontecendo rápido demais, tão rápido que eu não estava tendo tempo de processá-las direito.

Algum tempo depois, o médico decidiu que eu estava bem, mas ficaria um pouco ali na enfermaria em observação, para se ter a certeza que eu não tinha uma concussão.

Danielle ficou sentada silenciosamente em uma poltrona próxima a minha maca o tempo todo, e assim que o médico saiu da sala para resolver algum assunto, eu aproveitei para interrogala..

- Dann, o que aconteceu exatamente? – eu rapidamente me levantei e sentei na maca, enquanto ela se aproximou e sentou ao meu lado.

- Eu que pergunto Nicolle, o que aconteceu ali? De repente você ficou toda estranha e caminhou em direção ao palco. Eu tentei perguntar a você o que estava acontecendo, ma você apenas caminhou em direção a uma das tochas, os olhos vidrados.

- Eu não me lembro... – eu menti.

- Então de repente as chamas da tocha ficaram loucas e crepitaram em sua direção. Elas são controladas eletronicamente, Jack me explicou, e deve ter ocorrido algum curto circuito, pois elas ficaram cada vez mais violentas e os fogos de artifício acoplados a ela começaram a explodir. Elas iam explodir em você, pois você estava tão perto e não ouvia ninguém, então de alguma forma Henry viu e simplesmente se arremessou do palco em sua direção. Ele agarrou você igual uma bola de futebol e vocês dois caíram ao chão.

Aquilo começava a fazer algum sentido para mim.

- Eu senti um impacto violento e algo pressionando os meus pulmões... e depois mais nada .

- Ele caiu sobre você. Imagina o impacto de um cara daquele tamanho e ainda por cima usando uniforme de jogador de futebol, com aquelas ombreiras e proteções. Ele ficou louco de preocupação, imaginando que tinha machucado você. E olha que ele conseguiu colocar uma das mãos por traz de sua cabeça antes de vocês caírem. Ele foi rápido, muito, muito rápido e a salvou da explosão Poderia ter sido muito ruim. Os fogos explodiram pouco tempo depois bem no local onde você estava. Teria acertado você de cheio.

Eu não estava preocupada com a explosão, só conseguia imaginar Henry se jogando sobre mim para me salvar. Deveria ser bom, muito bom ser agarrada como uma bola por ele, apenas eu dispensava as proteções e ombreiras do uniforme de futebol americano.

É. Eu não estava muito normal, com estes pensamentos.

- Quanto tempo eu fiquei desacordada?

- Uns três minutos, se muito – ela afirmou – Você nos deixou apavorados Nicolle.

- Eu preciso encontrá-lo Dann – eu desci rapidamente da cama – eu preciso falar com ele, agradecê-lo...

Eu não pude concluir meu pensamento, pois de repente a porta se abriu e a enfermeira entrou acompanhada de todos os meus amigos.

- Eu não conseguia mais segurar os selvagens dos seus amigos – a enfermeira disse carrancuda – É melhor eles verem você e me deixarem em paz.

Patrícia, Juliet e Hellen entraram falando rápido demais, me contando sobre Henry e seu momento heróico. Eu não conseguia acompanhar tudo o que elas falavam, e eu precisava falar com Henry. E se ele já tivesse ido embora? Amanhã não teríamos aula, e se eu não o veria até quarta feira.

Eu acho que Dann percebeu a minha agitação, pois falou bem baixinho em meu ouvido, evitando que mais alguém nos ouvisse.

- Não se preocupe, eu vou procurá-lo.

Jack, Michel e Paul estavam parados na porta, como se fossem guardas carrancudos. Danielle precisou pedir que eles se afastassem para ela passar.

Minutos se passaram até que o médico voltou e acompanhado da Sra. Tricia.

- Você teve sorte mocinha – ela me disse – pois eu não sei o que você fazia tão próxima ao palco. Imprudência, uma imprudência.

Ah, um palco cheio de tochas explosivas em um colégio adolescente não era imprudência? Mas eu segurei o meu pensamento para mim mesma.

Tudo que eu precisava era sair dali. Rápido.

- Vou chamar a sua mãe para lhe buscar – ela continuou a voz desagradável a meus ouvidos – é perigoso deixá-la sozinha no campus ou mesmo deixá-la ir embora sozinha.

- Você teve muita sorte – garantiu o médico – pois a explosão poderia ter te ferido seriamente se o seu amigo não fosse tão rápido, e mesmo a queda de vocês foi violenta. Ainda não sei como você escapou ilesa.

A Sra. Tricia agitou as mãos e o cheiro de Lou-Lou ardeu em minhas narinas.

- Por isso vamos chamar algum responsável para que você não cometa mais nenhuma imprudência.

Oh, a imprudente era eu agora? Sabe, tem horas que uma garota tem que saber que não é bom ser sempre boazinha.

- Sra. Tricia – eu disse com um ar inocente – minha mãe já esta histérica com a invasão do colégio, imagina se alguém ligar para ela avisando que eu tive um acidente envolvendo explosivos? Pelos menos umas vinte mães chegariam na porta do colégio em poucos segundos. Danielle sempre vai embora comigo, portanto eu não estarei sozinha no caminho para casa e chegando lá minha mãe verá que eu estou completamente inteira e será mais fácil contar a ela todos os acontecimentos da manhã.

O rosto da Sra. Trícia ficou vermelho vivo com a minha explícita barganha. Ela apertou os seus olhos e me respondeu entredentes.

- Esta bem, mas você deverá nos comunicar qualquer problema de saúde ocorrido após a queda e procurar imediatamente um hospital .

- Sim senhora – eu respondi, mantendo o ar inocente.

Levantei em um salto e calcei meus sapatos. Eu queria sair correndo porta afora o mais rápido que pudesse.

Meus amigos me acompanharam, e saímos todos juntos da enfermaria.

Eu percebi que os outros andaram um pouco mais rápidos, deixando Jack e eu para traz .

Ele segurou meu braço e ficou parado na minha frente.

Então, tão rápido que eu não tive tempo de reagir, ele me abraçou. Foi doce e bom, e seu corpo era quente ao contato do meu.

- Eu fiquei tão preocupado com você – ele sussurrou em meu ouvido

Ele se afastou um pouco e tocou levemente a minha bochecha. Meu coração bateu um pouco rápido, eu gostava da forma que ele me tocava, mas isso não estava certo, não poderia ser. Nós já tínhamos conversado sobre isso antes. E eu precisava encontrar outra pessoa, eu precisava.

Eu senti que estava sendo observada. Eu rapidamente me separei de Jack e tive medo, mas olhei para a porta.

Meu coração gelou, e eu senti que todo o sangue fugia de meu rosto.

Henry Nichols estava parado a porta com Danielle. Eu vi novamente seu olhar frio. Eu senti lagrimas brotando em meus olhos.

Eu corri na direção dele.

- Henry – eu comecei.

Ele me cortou friamente.

- Eu fico feliz que você esta bem, Nicolle – a voz dele dura como aço – Fico feliz que eu não machuquei você em minha atitude impensada.

Então ele olhou de mim para Jack mais uma vez e acenou levemente a cabeça para Jack e Danielle. Em seguida olhou novamente para mim, e eu quis chorar com o olhar que ele me deu.

- Agora se vocês me dão licença. Fique bem, Nicolle.

Então ele virou as costas e saiu pela porta, seguindo em direção ao estacionamento.

Eu entrei em pânico. Danielle de pronto percebeu.

Jack nos puxou em direção a porta de saída, visivelmente irritado com a forma que eu reagi com Henry Nichols. Mas eu não podia perder nem um segundo pensando nas implicações daquela hostilidade entre eles.

Eu imediatamente segurei a mão de Danielle, pedindo por ajuda. Se havia alguém no mundo que me entendia era ela.

Apesar de eu me sentir uma péssima amiga.

Os olhos dela ficaram enormes e cúmplices.

- Nicolle, eu acho que você precisa dar um pulo no banheiro rápido – ela falou de repente em voz alta – Você esta péssima.

Eu me sobressaltei, mas entendi a deixa dela.

- Você tem razão Dann. Eu encontro vocês daqui a pouco.

Jack ficou em guarda próximo a mim.

- Vão, eu acompanho vocês, e fico esperando na porta.

- Não precisa – eu afirmei meio desesperada – são apenas alguns minutinhos.

- Você não deve ficar sozinha Nicolle. – ele cortou, e em sua voz eu conseguia perceber proteção.

- Ela não estará sozinha, estará comigo – Danielle afirmou, abrindo um sorriso inocente que só ela conseguia fazer – Meninas precisam de um tempo de meninas. Encontramos você no estacionamento, ok?

Eu percebi que ele queria ficar, mas o tom de Danielle foi decisivo.

- Ok. Encontro vocês no estacionamento.

Assim que ele se virou Danielle me segurou pelos ombros.

- Corra Nicolle, vá procurá-lo.

Ela não precisou dizer duas vezes. Eu sorri para ela e corri pela porta que Henry havia saído pouco tempo antes.

Eu corri e corri, e dei graças que o show no ginásio ainda não devia ter terminado. O pátio estava vazio e eu via apenas alguns seguranças rondando o colégio ao longe.

Havia uma viatura de polícia parada a porta também.

Eu me esgueirei pelos carros, evitando que alguém me visse. Eu sabia que não tinha muito tempo, eu precisava encontrar Henry antes que ele fosse embora.

Ou antes, que ele encontrasse algum de seus amigos – ou Jéssica – e eu não pudesse mais falar com ele.

Mas algo me dizia que ele estava indo embora. Eu podia sentir em meu coração que ele estava indo embora. Ele não poderia ir embora antes que eu conseguisse falar com ele, me explicasse. Eu não agüentaria ver aquela decepção mais uma vez em seus olhos.

Eu corri pelo estacionamento. Eu sabia aonde ele parado aquele carro enorme.

Meus pulmões reclamaram pela corrida, mas eu sentia que eu tinha pouco tempo. E eu senti também que o cheiro de chuva ficava mais e mais forte, apesar do céu ainda estar azul e o sol brilhando em toda a sua força e magnitude.

Foi então que eu o avistei. Henry estava parado em frente à porta do seu carro, a mão segurando a maçaneta com força .

Eu corri ainda mais e gritei o seu nome. Eu não me importei se alguém pudesse ouvir ou mesmo se Jessica estivesse por ali e sacasse uma arma em minha direção para defender o “seu” Henry de mim. Ele não iria embora. Não antes de eu falar com ele.

E eu gritei uma, duas vezes o seu nome, mas ele não olhou nem uma vez para traz. Continuou ali parado ao lado de fora do seu carro, mas era impossível que ele não estivesse ouvindo eu gritar o seu nome.

Eu consegui chegar próximo a ele e não hesitei. Eu segurei o seu braço com força.

- Henry... – eu chamei, minha respiração pesada pela corrida e meu coração aos saltos.

Ele se virou lentamente e ficamos frente a frente. Seus olhos azuis brilhavam, mas a expressão ainda era fria, fria como gelo.

- Você não deveria estar com seus amigos? – ele perguntou.

Eu tentei não pensar na inflexão pesada que ele usou na palavra amigos. Eu tomei fôlego, apesar de imaginar que eu fazia papel de idiota ali na frente dele.
Percebi que ele usava jeans e tênis, mas ainda estava com a camisa dos Lions, apenas tinha tirado as proteções. Era como se ele houvesse se trocado rapidamente, com pressa para fazer alguma coisa.

Eu tomei coragem e disse de uma vez.

- Eu quero agradecer pelo que você fez Henry. Você me salvou. – minha mão ainda continuava em seu braço, então eu o soltei e procurei a sua mão, segurando delicadamente os seus dedos nos meus – Obrigada Henry. Obrigada.

A frieza em seus olhos desapareceu por alguns segundos. Eles voltaram a ser quentes, daquela cor linda de azul que eu via às vezes, quando ele estava relaxado.

Seus dedos apertaram um pouco os meus. Meu coração batia loucamente em meu peito.

- Eu queria me explicar sobre o que aconteceu no refeitório Henry. – eu estava apavorada, mas eu precisava que ele soubesse – Aquilo que eu disse aquilo...

Ele soltou a minha mão e sua expressão ficou fechada.

- Não se preocupe Nicolle – ele cortou com a voz dura – você já deixou claras as suas preferências. Eu vi com meus próprios olhos na enfermaria. Não precisa se explicar comigo. E se cuide, Nicolle.

Ele entrou em seu enorme carro, deu a partida e saiu. Sem nem olhar para traz.

Ele nem me deixou falar. Eu não tive a menor chance de me explicar.

Eu fiquei parada ali alguns segundos, sem entender o que havia acontecido conosco, ou o que significava a frieza de suas palavras. Conforme o enorme cadilac dele se afastava, eu sentia uma fissura em meu peito, que foi aumentando e aumentando, até que eu quase sufoquei. Eu me sentia tão sozinha, como eu nunca havia me sentido antes.

Tremi apesar do calor que fazia. Eu sentia que, aquele olhar frio dele roubou todo o calor de meu corpo.

Eu corri em direção a meu carro e dei graças que as chaves haviam ficado esquecidas no bolso de minha calça. Só então eu percebi que não sabia onde estava a minha mochila.

Mas nada naquele momento importava. Meu coração doía tanto, que assim que eu sentei em meu carro e fechei as portas, eu senti as primeiras lagrimas saltarem pelos meus olhos. Aquela sensação de desamparo aumentou, e eu senti toda a angustia dos dias anteriores finalmente tomando conta de mim. Os soluços em meu peito aumentaram e eu baixei a cabeça no volante de meu carro.

E chorei. Chorei como eu nunca havia chorado antes, de tristeza, medo e solidão.

Chorei pelas minhas noites insones e por todos os estranhos acontecimentos em minha vida. Pela certeza que estava perdendo a minha sanidade, pelas brigas com Jéssica e pela hostilidade que eu sentia vindo de algumas pessoas.

Chorei por esconder minhas verdades de Danielle, que sempre se mostrou uma ótima amiga. Chorei por Jack e pelo carinho que eu não conseguia corresponder, não da forma que ele merecia.

E finalmente chorei pela frieza de Henry Nichols, pela forma que eu me sentia quando estava com ele, como parecia certo, como mais nada no mundo.

Como sempre, eu havia estragado tudo. De alguma forma, sempre que nos aproximávamos, eu fazia algo que nos afastava.

Danielle apareceu do lado de fora do meu carro, e abriu a porta.

Ela ficou ali me olhando por algum tempo, os olhos enormes e preocupados. Então finalmente ela me empurrou para o banco do carona.

- O que você esta fazendo? – eu perguntei sobressaltada, limpando com as costas das mãos as lagrimas de meu rosto.

- Tirando você daqui. Agora mesmo. – ela entregou a minha mochila, enquanto colocava a sua em seu colo – Eu imaginei que você estava precisando dela .

- Dann, eu não vou agüentar orações sobre folhinhas mortas...

Ela revirou os olhos.

- Confie em mim Nicolle, por favor.

Eu entreguei a chaves de meu carro para ela, que imediatamente as colocou na ignição e acelerou.

Saímos pelos portões do colégio sem olhar para traz e nem avisar ninguém.

Aquele estava sendo o mais longo e negro dos meus dias.

E eu ainda não imaginava o tortuoso caminho que meu futuro preparava

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