quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Olá amigos

Cap. 14 postado e playlist atualizada ...

Incrivel como eu acho as musicas do Evanescence perfeitas para o clima de nossos amigos de West Palm Beach.

É , ok , faz um pouco mais de sol na Flórida.. enfim ...

Um beijo enorme e obrigada pelo carinho sempre.Obrigada por estarem acompanhando a saga de Nicolle e sua turma.

Gaby

Cap. 14 - Explicações não dadas

- Nicolle, Nicolle, por favor, abra os olhos, me diga que esta bem. Oh meu Deus.

Eu ouvia uma voz desesperada me chamando ao longe. Eu conhecia aquela voz. Eu tentei lutar contra as trevas que tomavam conta de mim, pois eu queria responder aquela voz que me chamava, eu queria lhe dizer que eu ficaria bem.

- Eu a machuquei – a voz novamente falou – eu devo te-la machucado. Mas eu entrei em pânico quando eu vi o fogo...

- Não toquem nela – outra voz falou – ela pode ter uma concussão, esperem ajuda, se afastem, por favor.

- Nicolle – a voz chamou de novo – você pode me ouvir? Por favor, Nicolle.

“Eu posso ouvi-lo” eu tentei murmurar, mas estava tão longe, tudo tão longe.

- Henry, esta tudo bem – a outra voz respondeu , e apesar de todo o nervosismo que ela transmitia , percebi que era uma voz doce. Danielle. Era a voz de Danielle. – Henry, acalme-se. Por favor, chamem ajuda.

Henry. A voz de Danielle havia falado o nome dele. Eu reconhecia o som daquele nome, era o nome que fazia meu sangue correr pelas minhas veias de uma forma que eu não sabia descrever.

Eu lutei com as trevas, pois eu mais que nunca precisava garantir que estava bem. Henry chamava por mim.

Mas por quê?


Eu tentei nadar contra o mar pesado e profundo, que entorpecia meus membros e tentava me tragar em sua escuridão sem fim. Eu era forte, eu sabia que eu era forte Eu tentei subir á superfície. Mas meu corpo doía tanto...

Conforme eu nadava, eu ouvia mais e mais sons ao meu redor, muitas vozes gritando entre si.

- Nicolle – ele pediu novamente – por favor...

“Sim, eu estou aqui”

Eu nadei com mais força, obrigando cada músculo de meu entorpecido corpo responder ao meu comando. Algo pesado comprimia meus olhos, mas eu iria responder aquela voz. Eu precisava.

Eu senti um formigamento em minhas mãos, e depois em meus braços , um calor suave e restaurador em cada fibra de meu corpo castigado. Eu precisava então ser forte.

Eu nadei e nadei, meus olhos firmemente cerrados... Mas o calor atingiu meu rosto e em seguida meus olhos. Eu consegui abri-los.

Eu estava novamente na superfície.

A luz me cegou. Meus olhos estavam desfocados, mas a sombra de um rosto se projetava bem a minha frente. Tão próximo ao meu, tão próximo que eu conseguia sentir o seu cheiro, delicioso em meu nariz.

Eu sentia uma mão tocando o meu rosto, delicadamente, afastando os cabelos grudados em minha testa. Aquele toque suave queimou a minha pele e eu me senti quente de repente. O sangue correu em minhas veias, de uma forma nova e deliciosa, Eu sentia vida pulsando em mim , eu estava tão viva.

Aquilo foi o suficiente para que eu me tornasse alerta em um segundo. Minha visão se focou em um instante, e eu vi que aquele rosto tão próximo ao meu era dele. Henry Nichols estava bem ali em minha frente, mechas de cabelo negro caídos em seus olhos, que brilhavam, mas me mostravam medo e preocupação.

Sua mão tocou de leve uma mecha de meus cabelos e por um minuto o meu mundo parou. Nada mais importava além de seu toque e da forma que ele me olhava.

- Nicolle – meu nome soou nervoso em seus lábios – Você esta bem? Eu machuquei você?

Me machucou ? Por que ele me machucaria? Eu sorri, imaginando o porquê ele me machucaria.

Ele sorriu para mim, os olhos intensos e azuis esboçando algo mais que preocupação e medo. Estávamos tão próximos e eu esqueci qualquer outra coisa que não fosse ele. Eu sentia o calor vibrante do seu corpo e uma sensação como nada no mundo. Era certo, tão certo...

- Ela esta bem Nichols – uma voz disse duramente– pode solta-la agora.

Assim como eu, percebi que Henry se sobressaltou com aquela voz que nos interrompia.

Eu sai do meu transe imediatamente, e Henry se afastou um pouco de mim. Jack estava bem ao seu lado, tentando afastá-lo de mim.

Eu percebi a realidade em poucos segundos. Eu estava deitada ao chão, com Henry e Jack ao meu lado E muitas pessoas ao meu redor, formando um circulo. Vi os rostos de meus amigos a minha volta e um segurança segurando meu pulso entre seus dedos. Virei meus olhos a esquerda e vi Danielle segurando a minha mão, um sorriso aliviado em seu rosto. A mão que ela segurava formigava.

- O que aconteceu? – eu finalmente encontrei a minha voz, que soou fraca e estranha aos meus ouvidos.

- Você quase se queimou com a explosão de uma das piras de fogos de artifício que estavam em volta do palco – explicou Danielle – Henry saltou em sua direção e evitou que ela explodisse em você, já que você estava muito próxima.

- O que? – eu novamente perguntei – Explosão?

Eu tentei me erguer, mas varias mão me retiveram ao chão.

- Não se levante ainda – Henry pediu – nos não sabemos se eu te machuquei quando me lancei em cima de você.

- Você se lançou em cima de mim? Mas você esta lá em cima no palco.

Ele pareceu confuso e embaraçado.

- Por isso estamos preocupados. – Danielle segurou minha mão com força enquanto tentava me explicar - Para salvar você da explosão, Henry se jogou do palco e caiu por cima de você. Ambos caíram ao chão Não sabemos se você bateu a cabeça.

- Eu estou ótima – eu me apressei em afirmar – Um pouco confusa, mas eu estou muito bem. Podem me soltar, por favor?

- Você pode ter uma concussão – Jack argumentou – entrando um pouco a frente de Henry – é melhor esperar a Sra. Tricia.

Eu estava ficando irritada. Irritada e envergonhada, pois eu percebi que todo o colégio estava ao meu redor. Eu não iria ficar ali bancando a donzela ferida.

- Eu estou ótima. Deixem – me levantar.

Eu segurei firme a mão de Danielle e levantei, auxiliada por um Jack furioso e dois seguranças. Quando finalmente fiquei de pé, minha cabeça ficou um pouco zonza e eu pensei que ia cair. Mas Henry rapidamente correu em minha direção e me segurou.

Eu estava tão feliz em estar perto dele novamente que sorri.

- Você me salvou?

- Eu poderia ter machucado você. – ele respondeu baixinho – Desculpe-me, eu não pensei direito quando vi você tão próxima dos explosivos.

Oh meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu senti um frio no estomago, mas a alegria de estar perto dele era tão grande... Mesmo com minha cabeça confusa e a enorme vergonha por estar sendo observada por todo o colégio.

Mas meus olhos só conseguiam enxergar aqueles gloriosos olhos azuis e o sorriso radiante de Henry. Ele era tão bonito, e eu me sentia fascinada por ele. Ele havia me salvado, seja lá o que tivesse acontecido. Eu queria agradecê-lo, queria tocar seu rosto, segurar as suas mãos.

A voz estridente da Sra. Tricia quebrou o meu transe.

- Você esta bem mocinha? – ela perguntou – Vamos levá-la a enfermaria agora mesmo.

- Eu estou bem – eu garanti pela milésima vez em poucos minutos – eu realmente estou bem não é necessário.

- Isso não cabe a você – ela afirmou arrogantemente, chamando dois seguranças – levem–na a enfermaria. Um amigo pode ficar com ela todo o tempo.

Neste momento eu vi Henry e Jack se aproximarem de mim. Eu vi, mais uma vez, ambos se medindo como adversários. Eu não gostava disso.

Claro que eu queria que Henry fosse comigo, eu queria ficar perto dele e conversar com ele. Eu desejava isso do fundo do meu coração. Mas havia o problema de Jessica e eu não queria magoar Jack. E por outro lado eu também não podia deixar que Jack me acompanhasse, pois havia a historia de meu suposto namorado em Seattle.

Como eu havia me metido em tamanha confusão?

Instintivamente eu procurei Danielle e apertei a sua mão. Eu sorri para meus outros amigos, depois para Jack, e por ultimo eu corri meus olhos para Henry, esperando que aquele sorriso fosse suficiente para que todos me entendessem, e então eu pedi.

- Danielle pode ir comigo? Por favor?

- Pode sim. Os seus amigos podem esperar se quiserem na recepção da enfermaria, um dos inspetores os acompanharão. – Então ela aumentou a voz, ficando cada vez mais estridente – os demais podem continuar aproveitando o nosso magnífico evento. O show pode continuar, mas sem fogos e nem tochas desta vez.

Aquela foi a deixa para que os alunos se afastassem, abrindo caminho para que Danielle e eu caminhássemos até a enfermaria, após a minha recusa veemente de ser carregada pelo enorme inspetor Palmer ,e fomos seguidas de perto por dois seguranças . Meus amigos nos acompanharam, mas eu não olhei para traz para ver se Henry estava entre eles.

Me surpreendi ao saber que na enfermaria , eu não encontraria apenas uma enfermeira entediada e estressada , como acontece em todos os colégios , mas ali, na corte dos reis de West Palm , contávamos também com um médico de plantão. Um médico jovem, mas ainda assim um médico.

A enfermaria era toda equipada, em tons suaves de verde, uma maca imaculadamente branca e muitos equipamentos médicos. Apenas o melhor para a corte.

O médico ficou muito tempo me examinando, verificou se eu tinha fraturado algum osso ou se havia algum sinal de queimadura. Nada, exatamente nada.

Ele fez perguntas bobas como meu nome, aniversario e nome de meus pais. Eu sei que era o protocolo para verificar se eu havia tido algum dano em minha memória, mas eu estava ansiosa demais para ficar ali parada enquanto a minha vida me esperava lá fora.

Eu ainda não havia tido tempo para pensar no que havia acontecido, na visão que eu havia tido bem ali, na frente de todo o colégio. Sim, eu sabia , mais do que nunca agora eu precisava de ajuda, eu não tinha nada sob controle , como eu imaginei na noite passada . As coisas estavam acontecendo rápido demais, tão rápido que eu não estava tendo tempo de processá-las direito.

Algum tempo depois, o médico decidiu que eu estava bem, mas ficaria um pouco ali na enfermaria em observação, para se ter a certeza que eu não tinha uma concussão.

Danielle ficou sentada silenciosamente em uma poltrona próxima a minha maca o tempo todo, e assim que o médico saiu da sala para resolver algum assunto, eu aproveitei para interrogala..

- Dann, o que aconteceu exatamente? – eu rapidamente me levantei e sentei na maca, enquanto ela se aproximou e sentou ao meu lado.

- Eu que pergunto Nicolle, o que aconteceu ali? De repente você ficou toda estranha e caminhou em direção ao palco. Eu tentei perguntar a você o que estava acontecendo, ma você apenas caminhou em direção a uma das tochas, os olhos vidrados.

- Eu não me lembro... – eu menti.

- Então de repente as chamas da tocha ficaram loucas e crepitaram em sua direção. Elas são controladas eletronicamente, Jack me explicou, e deve ter ocorrido algum curto circuito, pois elas ficaram cada vez mais violentas e os fogos de artifício acoplados a ela começaram a explodir. Elas iam explodir em você, pois você estava tão perto e não ouvia ninguém, então de alguma forma Henry viu e simplesmente se arremessou do palco em sua direção. Ele agarrou você igual uma bola de futebol e vocês dois caíram ao chão.

Aquilo começava a fazer algum sentido para mim.

- Eu senti um impacto violento e algo pressionando os meus pulmões... e depois mais nada .

- Ele caiu sobre você. Imagina o impacto de um cara daquele tamanho e ainda por cima usando uniforme de jogador de futebol, com aquelas ombreiras e proteções. Ele ficou louco de preocupação, imaginando que tinha machucado você. E olha que ele conseguiu colocar uma das mãos por traz de sua cabeça antes de vocês caírem. Ele foi rápido, muito, muito rápido e a salvou da explosão Poderia ter sido muito ruim. Os fogos explodiram pouco tempo depois bem no local onde você estava. Teria acertado você de cheio.

Eu não estava preocupada com a explosão, só conseguia imaginar Henry se jogando sobre mim para me salvar. Deveria ser bom, muito bom ser agarrada como uma bola por ele, apenas eu dispensava as proteções e ombreiras do uniforme de futebol americano.

É. Eu não estava muito normal, com estes pensamentos.

- Quanto tempo eu fiquei desacordada?

- Uns três minutos, se muito – ela afirmou – Você nos deixou apavorados Nicolle.

- Eu preciso encontrá-lo Dann – eu desci rapidamente da cama – eu preciso falar com ele, agradecê-lo...

Eu não pude concluir meu pensamento, pois de repente a porta se abriu e a enfermeira entrou acompanhada de todos os meus amigos.

- Eu não conseguia mais segurar os selvagens dos seus amigos – a enfermeira disse carrancuda – É melhor eles verem você e me deixarem em paz.

Patrícia, Juliet e Hellen entraram falando rápido demais, me contando sobre Henry e seu momento heróico. Eu não conseguia acompanhar tudo o que elas falavam, e eu precisava falar com Henry. E se ele já tivesse ido embora? Amanhã não teríamos aula, e se eu não o veria até quarta feira.

Eu acho que Dann percebeu a minha agitação, pois falou bem baixinho em meu ouvido, evitando que mais alguém nos ouvisse.

- Não se preocupe, eu vou procurá-lo.

Jack, Michel e Paul estavam parados na porta, como se fossem guardas carrancudos. Danielle precisou pedir que eles se afastassem para ela passar.

Minutos se passaram até que o médico voltou e acompanhado da Sra. Tricia.

- Você teve sorte mocinha – ela me disse – pois eu não sei o que você fazia tão próxima ao palco. Imprudência, uma imprudência.

Ah, um palco cheio de tochas explosivas em um colégio adolescente não era imprudência? Mas eu segurei o meu pensamento para mim mesma.

Tudo que eu precisava era sair dali. Rápido.

- Vou chamar a sua mãe para lhe buscar – ela continuou a voz desagradável a meus ouvidos – é perigoso deixá-la sozinha no campus ou mesmo deixá-la ir embora sozinha.

- Você teve muita sorte – garantiu o médico – pois a explosão poderia ter te ferido seriamente se o seu amigo não fosse tão rápido, e mesmo a queda de vocês foi violenta. Ainda não sei como você escapou ilesa.

A Sra. Tricia agitou as mãos e o cheiro de Lou-Lou ardeu em minhas narinas.

- Por isso vamos chamar algum responsável para que você não cometa mais nenhuma imprudência.

Oh, a imprudente era eu agora? Sabe, tem horas que uma garota tem que saber que não é bom ser sempre boazinha.

- Sra. Tricia – eu disse com um ar inocente – minha mãe já esta histérica com a invasão do colégio, imagina se alguém ligar para ela avisando que eu tive um acidente envolvendo explosivos? Pelos menos umas vinte mães chegariam na porta do colégio em poucos segundos. Danielle sempre vai embora comigo, portanto eu não estarei sozinha no caminho para casa e chegando lá minha mãe verá que eu estou completamente inteira e será mais fácil contar a ela todos os acontecimentos da manhã.

O rosto da Sra. Trícia ficou vermelho vivo com a minha explícita barganha. Ela apertou os seus olhos e me respondeu entredentes.

- Esta bem, mas você deverá nos comunicar qualquer problema de saúde ocorrido após a queda e procurar imediatamente um hospital .

- Sim senhora – eu respondi, mantendo o ar inocente.

Levantei em um salto e calcei meus sapatos. Eu queria sair correndo porta afora o mais rápido que pudesse.

Meus amigos me acompanharam, e saímos todos juntos da enfermaria.

Eu percebi que os outros andaram um pouco mais rápidos, deixando Jack e eu para traz .

Ele segurou meu braço e ficou parado na minha frente.

Então, tão rápido que eu não tive tempo de reagir, ele me abraçou. Foi doce e bom, e seu corpo era quente ao contato do meu.

- Eu fiquei tão preocupado com você – ele sussurrou em meu ouvido

Ele se afastou um pouco e tocou levemente a minha bochecha. Meu coração bateu um pouco rápido, eu gostava da forma que ele me tocava, mas isso não estava certo, não poderia ser. Nós já tínhamos conversado sobre isso antes. E eu precisava encontrar outra pessoa, eu precisava.

Eu senti que estava sendo observada. Eu rapidamente me separei de Jack e tive medo, mas olhei para a porta.

Meu coração gelou, e eu senti que todo o sangue fugia de meu rosto.

Henry Nichols estava parado a porta com Danielle. Eu vi novamente seu olhar frio. Eu senti lagrimas brotando em meus olhos.

Eu corri na direção dele.

- Henry – eu comecei.

Ele me cortou friamente.

- Eu fico feliz que você esta bem, Nicolle – a voz dele dura como aço – Fico feliz que eu não machuquei você em minha atitude impensada.

Então ele olhou de mim para Jack mais uma vez e acenou levemente a cabeça para Jack e Danielle. Em seguida olhou novamente para mim, e eu quis chorar com o olhar que ele me deu.

- Agora se vocês me dão licença. Fique bem, Nicolle.

Então ele virou as costas e saiu pela porta, seguindo em direção ao estacionamento.

Eu entrei em pânico. Danielle de pronto percebeu.

Jack nos puxou em direção a porta de saída, visivelmente irritado com a forma que eu reagi com Henry Nichols. Mas eu não podia perder nem um segundo pensando nas implicações daquela hostilidade entre eles.

Eu imediatamente segurei a mão de Danielle, pedindo por ajuda. Se havia alguém no mundo que me entendia era ela.

Apesar de eu me sentir uma péssima amiga.

Os olhos dela ficaram enormes e cúmplices.

- Nicolle, eu acho que você precisa dar um pulo no banheiro rápido – ela falou de repente em voz alta – Você esta péssima.

Eu me sobressaltei, mas entendi a deixa dela.

- Você tem razão Dann. Eu encontro vocês daqui a pouco.

Jack ficou em guarda próximo a mim.

- Vão, eu acompanho vocês, e fico esperando na porta.

- Não precisa – eu afirmei meio desesperada – são apenas alguns minutinhos.

- Você não deve ficar sozinha Nicolle. – ele cortou, e em sua voz eu conseguia perceber proteção.

- Ela não estará sozinha, estará comigo – Danielle afirmou, abrindo um sorriso inocente que só ela conseguia fazer – Meninas precisam de um tempo de meninas. Encontramos você no estacionamento, ok?

Eu percebi que ele queria ficar, mas o tom de Danielle foi decisivo.

- Ok. Encontro vocês no estacionamento.

Assim que ele se virou Danielle me segurou pelos ombros.

- Corra Nicolle, vá procurá-lo.

Ela não precisou dizer duas vezes. Eu sorri para ela e corri pela porta que Henry havia saído pouco tempo antes.

Eu corri e corri, e dei graças que o show no ginásio ainda não devia ter terminado. O pátio estava vazio e eu via apenas alguns seguranças rondando o colégio ao longe.

Havia uma viatura de polícia parada a porta também.

Eu me esgueirei pelos carros, evitando que alguém me visse. Eu sabia que não tinha muito tempo, eu precisava encontrar Henry antes que ele fosse embora.

Ou antes, que ele encontrasse algum de seus amigos – ou Jéssica – e eu não pudesse mais falar com ele.

Mas algo me dizia que ele estava indo embora. Eu podia sentir em meu coração que ele estava indo embora. Ele não poderia ir embora antes que eu conseguisse falar com ele, me explicasse. Eu não agüentaria ver aquela decepção mais uma vez em seus olhos.

Eu corri pelo estacionamento. Eu sabia aonde ele parado aquele carro enorme.

Meus pulmões reclamaram pela corrida, mas eu sentia que eu tinha pouco tempo. E eu senti também que o cheiro de chuva ficava mais e mais forte, apesar do céu ainda estar azul e o sol brilhando em toda a sua força e magnitude.

Foi então que eu o avistei. Henry estava parado em frente à porta do seu carro, a mão segurando a maçaneta com força .

Eu corri ainda mais e gritei o seu nome. Eu não me importei se alguém pudesse ouvir ou mesmo se Jessica estivesse por ali e sacasse uma arma em minha direção para defender o “seu” Henry de mim. Ele não iria embora. Não antes de eu falar com ele.

E eu gritei uma, duas vezes o seu nome, mas ele não olhou nem uma vez para traz. Continuou ali parado ao lado de fora do seu carro, mas era impossível que ele não estivesse ouvindo eu gritar o seu nome.

Eu consegui chegar próximo a ele e não hesitei. Eu segurei o seu braço com força.

- Henry... – eu chamei, minha respiração pesada pela corrida e meu coração aos saltos.

Ele se virou lentamente e ficamos frente a frente. Seus olhos azuis brilhavam, mas a expressão ainda era fria, fria como gelo.

- Você não deveria estar com seus amigos? – ele perguntou.

Eu tentei não pensar na inflexão pesada que ele usou na palavra amigos. Eu tomei fôlego, apesar de imaginar que eu fazia papel de idiota ali na frente dele.
Percebi que ele usava jeans e tênis, mas ainda estava com a camisa dos Lions, apenas tinha tirado as proteções. Era como se ele houvesse se trocado rapidamente, com pressa para fazer alguma coisa.

Eu tomei coragem e disse de uma vez.

- Eu quero agradecer pelo que você fez Henry. Você me salvou. – minha mão ainda continuava em seu braço, então eu o soltei e procurei a sua mão, segurando delicadamente os seus dedos nos meus – Obrigada Henry. Obrigada.

A frieza em seus olhos desapareceu por alguns segundos. Eles voltaram a ser quentes, daquela cor linda de azul que eu via às vezes, quando ele estava relaxado.

Seus dedos apertaram um pouco os meus. Meu coração batia loucamente em meu peito.

- Eu queria me explicar sobre o que aconteceu no refeitório Henry. – eu estava apavorada, mas eu precisava que ele soubesse – Aquilo que eu disse aquilo...

Ele soltou a minha mão e sua expressão ficou fechada.

- Não se preocupe Nicolle – ele cortou com a voz dura – você já deixou claras as suas preferências. Eu vi com meus próprios olhos na enfermaria. Não precisa se explicar comigo. E se cuide, Nicolle.

Ele entrou em seu enorme carro, deu a partida e saiu. Sem nem olhar para traz.

Ele nem me deixou falar. Eu não tive a menor chance de me explicar.

Eu fiquei parada ali alguns segundos, sem entender o que havia acontecido conosco, ou o que significava a frieza de suas palavras. Conforme o enorme cadilac dele se afastava, eu sentia uma fissura em meu peito, que foi aumentando e aumentando, até que eu quase sufoquei. Eu me sentia tão sozinha, como eu nunca havia me sentido antes.

Tremi apesar do calor que fazia. Eu sentia que, aquele olhar frio dele roubou todo o calor de meu corpo.

Eu corri em direção a meu carro e dei graças que as chaves haviam ficado esquecidas no bolso de minha calça. Só então eu percebi que não sabia onde estava a minha mochila.

Mas nada naquele momento importava. Meu coração doía tanto, que assim que eu sentei em meu carro e fechei as portas, eu senti as primeiras lagrimas saltarem pelos meus olhos. Aquela sensação de desamparo aumentou, e eu senti toda a angustia dos dias anteriores finalmente tomando conta de mim. Os soluços em meu peito aumentaram e eu baixei a cabeça no volante de meu carro.

E chorei. Chorei como eu nunca havia chorado antes, de tristeza, medo e solidão.

Chorei pelas minhas noites insones e por todos os estranhos acontecimentos em minha vida. Pela certeza que estava perdendo a minha sanidade, pelas brigas com Jéssica e pela hostilidade que eu sentia vindo de algumas pessoas.

Chorei por esconder minhas verdades de Danielle, que sempre se mostrou uma ótima amiga. Chorei por Jack e pelo carinho que eu não conseguia corresponder, não da forma que ele merecia.

E finalmente chorei pela frieza de Henry Nichols, pela forma que eu me sentia quando estava com ele, como parecia certo, como mais nada no mundo.

Como sempre, eu havia estragado tudo. De alguma forma, sempre que nos aproximávamos, eu fazia algo que nos afastava.

Danielle apareceu do lado de fora do meu carro, e abriu a porta.

Ela ficou ali me olhando por algum tempo, os olhos enormes e preocupados. Então finalmente ela me empurrou para o banco do carona.

- O que você esta fazendo? – eu perguntei sobressaltada, limpando com as costas das mãos as lagrimas de meu rosto.

- Tirando você daqui. Agora mesmo. – ela entregou a minha mochila, enquanto colocava a sua em seu colo – Eu imaginei que você estava precisando dela .

- Dann, eu não vou agüentar orações sobre folhinhas mortas...

Ela revirou os olhos.

- Confie em mim Nicolle, por favor.

Eu entreguei a chaves de meu carro para ela, que imediatamente as colocou na ignição e acelerou.

Saímos pelos portões do colégio sem olhar para traz e nem avisar ninguém.

Aquele estava sendo o mais longo e negro dos meus dias.

E eu ainda não imaginava o tortuoso caminho que meu futuro preparava

Playlist "As filhas do vento"


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