domingo, 9 de agosto de 2009

Olá amigos mais que queridos .

Bom, ainda nada resolvido quanto ao livro, mas cap. 12 postado.

Eu estava morrendo de saudades , eu via todos os recados super fofos ... então resolvi postar mais um cap. o 12.

O que tiver que ser será .

Um beijo enorme em cada coração e muito obrigada pelo apoio. Sei que se essa saga for publicada um dia , a maior dedicatoria é claro que é para vcs , que acompanham por aqui.

Bom, plaulist atualizada e também um vídeo do "inglês meloso " favorito da Nicolle.

Emjoy !



Gaby

Cap. 12 - De volta a realidade

Eu abri os meus olhos e estava novamente deitada, quieta e quentinha no quarto de Danielle. O relógio marcava nove e meia da manhã. Eu havia finalmente dormido uma noite inteira.

Minha mente estava cansada e confusa, mas o meu corpo estava inteiramente relaxado. Nenhum de meus músculos doloridos e nem meus olhos queimavam. Danielle havia conseguido.

Apesar de que, o meu já deteriorado estado mental, havia finalmente sucumbido, disso eu tinha certeza, pois eu havia tido o mais insano de todos os meus sonhos, ou pesadelos.

Ou, eu estava impressionada, na realidade, pelos últimos acontecimentos, pelas convicções de Danielle e por mais algum motivo camuflado.

Quem poderia saber?

Eu levantei da cama tentando fazer o mínimo barulho para não acordar Danielle que dormia agarrada com um livro, pequena e delicada como uma criancinha.

Eu caminhei até o banheiro e lavei o meu rosto, deixando a água gelada correr em abundância pelo meu rosto , tentando livrar qualquer vestígio de confusão ou dúvida que estivessem estampados em minha face. Eu tinha ainda mais coisas na minha cabeça, mas eu já imaginava a reação de Dann se eu lhe contasse o meu estranho sono. Eu estava impressionada com esta história toda de bruxaria, isso sim.

Eu estava caminhando por um caminho perigoso, eu sabia disso, acumulando problemas em ver de tentar solucioná-los. A atitude que eu deveria tomar era tentar agir como uma pessoa normal, não deveria me deixar levar assim.

Sempre fui uma pessoa pratica e racional e assim eu agiria. Era assim que eu havia vivido por toda a minha vida e assim que eu continuaria sendo. Nada de caminhar pelo desconhecido, mesmo eles aparecendo em meu caminho por mais situações que eu gostaria de lembrar.

Assim, eu decidi não contar nada sobre os meus sonhos com Danielle e nem as minhas dúvidas sobre as bruxas que conhecemos.

Sim, eu havia me sentido diferente quando as conheci. E sim, era como se fosse uma força gravitacional que me empurrasse diretamente a elas. O mais estranho, que eu nem ao menos quis pensar naquela tarde, era que , estando ali, eu, Dann e as outras duas garotas , era como se nada daquilo fosse estranho para mim. Eu já as conhecia, eu tinha certeza.

Mas aquele assunto era para posteriores analises. No momento, eu voltaria a ser uma adolescente normal, com problemas normais a serem resolvidos.

Eu buscaria ajuda profissional. Eu procuraria um psiquiatra ou mesmo um psicólogo. Eu faria exercícios antes de dormir, comeria refeições leves. Todas aquelas receitas de revistas de boa forma que eu comprava,mas nunca seguia, iriam me ajudar agora.

De repente eu sorri para o espelho. Aquilo parecia uma lista de promessas de ano novo. Aquelas que sempre ficam escondidas em uma velha agenda ou no fundo da mente. As que nunca seriam cumpridas.

Mas o que estava em jogo ali era a minha sanidade. Eu as cumpriria.

Sai do banheiro resoluta, com a mente mais calma e o coração mais estável. Era ótimo se sentir assim, novamente no controle de minhas emoções.

Danielle se revirava na cama. De repente ela abriu os olhos um pouco assustados e olhou diretamente para mim.

- Oh, eu não acredito – ela disse pesarosa – você não conseguiu dormir, não foi? Oh, eu não acredito. Mas eu estudei muita coisa, se esta tentativa não deu certo, temos outras coisas que podemos tentar...

Eu sentei rapidamente ao seu lado e segurei a suas mãos entre as minhas.

- Deu certo sim – eu garanti, abrindo um largo sorriso para ela – eu dormi a noite toda. Já passa das nove horas da manhã e eu acabei de acordar.

Ela deu um salto da cama e começou a andar de um lado para o outro do quarto, completamente animada com a sua vitória.

- Deu certo, deu certo! Oh, eu tinha fé que daria certo. – então ela virou rapidamente para mim, com o rosto coberto pela expectativa – O que você sonhou? Você teve algum tipo de revelação? Sabem este ritual que fizemos abre a consciência para o oculto. Para a verdade que não queremos ou não podemos enxergar.

“Para a verdade que não queremos ou não podemos enxergar?”

Nada disso Nicolle Crystal. Racional, seja racional.

- Eu não me lembro – eu menti, mantendo o sorriso em meus lábios – eu acho que não sonhei nada. Eu estava tão cansada que dormi como morta Dann.

Ela ficou evidentemente decepcionada. Era terrível ver aquele olhar em Danielle, mas eu não podia me deixar levar.

- Nada mesmo? – ela ainda perguntou.

- Nadinha. Eu desmaiei. E você? Algum sonho com o Orlando Bloom?

Ela deu um sorrisinho tímido, procurando seu chinelo pelo quarto.

- Nenhum. – então ela olhou para mim, evidentemente tentando não dar importância ao fato de eu não ter tido nenhuma revelação enquanto dormia – Você esta com fome? Vamos descer e procurar alguma coisa para comer?

Meu estômago reclamou alto com a lembrança de comida. Ambas rimos e descemos as escadas em direção da cozinha em poucos segundos.

A mãe de Danielle já estava na cozinha, toda vestida de branco e tomando uma grande xícara de café.

- Bom dia garotas – ela disse – já estão de pé?

Dann deu um leve e educado beijo no rosto de sua mãe. Eu abri um largo sorriso em cumprimento. Ela era muito educada, isso não tinha como negar.

- Você vai trabalhar hoje, mãe? – Danielle perguntou fazendo um pequeno muxoxo com os lábios.

- Tenho plantão no hospital hoje, querida. Mas deixei uma grande quantidade de comida na geladeira para vocês duas. Tem waffles de chocolate e se vocês duas resolverem ficar em casa, podem pedir comida, na porta da geladeira tem vários telefones.

- Obrigada mãe – ela respondeu ainda decepcionada – aonde esta o papai?

- Saiu cedo, ele tem um caso em Laguna que era urgente. Ele tinha um café da manhã com alguns clientes e com o promotor publico. Bom, agora meus pacientes me esperam. – ela deu um beijo rápido na bochecha de Dann e depois tocou de leve o meu ombro, sorrindo polidamente para mim – E foi um prazer conhecer você Nicolle. A nossa casa esta de portas abertas, querida.

Depois disso ela saiu. Percebi que os olhos de Danielle estavam um pouco magoados.

- Sua mãe é ótima – eu tentei animá-la.

- Sim, ela é. Meus pais são ótimos mesmo. Pena que eu pouco os vejo. Eles são sempre muito ocupados.

- Hey – eu disse tentando distraí-la – sua mãe disse duas palavrinhas mágicas agora a pouco. Waffles e chocolate. Você não esta com fome?

Em segundos já havíamos comido vários waffles, com cobertura, misturando queijo e qualquer outra coisa que encontramos na geladeira. Tomamos sozinhas mais de um litro de suco de laranja , e quando já estávamos quase passando mal com tanta comida, subimos novamente para o quarto de Danielle, e ficamos jogadas em sua cama , conversando sobre qualquer coisa , menos sobre algum tema ligado a minha estranha fase.

Foi então que ela olhou muito séria para mim, os enormes olhos castanhos brilhando.

- Então, qual foi a sua impressão com as duas jovens bruxas que conhecemos sexta? Você disse que teve uma espécie de dejá vu Nicolle...

Ótimo, tudo que eu queria era fugir realmente deste assunto.

- Eu não sei Dann – eu tentei desconversar – eu não sei. Talvez elas me lembraram alguém , talvez eu já tivesse visto aquele símbolo em alguma garota em Seattle e como sou sua amiga já associei... Não sei dizer se foi ou não um dejá vu, eu te disse como ando confusa com esta história de insônia...

Ela arqueou as sobrancelhas e ficou me olhando muito séria. Ela não estava caindo nessa, eu sabia disso.

- Por que eu tenho a impressão que você não esta falando a verdade para mim, Nicolle?

Claro que ela não acreditou em mim. Como eu tinha esperanças que ela acreditasse ainda em mim?

Eu não sabia muito bem o que dizer. Acho que fiquei ali apenas olhando para ela pateticamente e irritada, pois como aquela garotinha que não sabia quase nada sobre mim poderia ser tão esperta e me conhecer tão bem?

Foi então que um barulho me salvou. Meu celular estava tocando, escondido em minha mochila e eu fui correndo atender.

Era da minha casa. Atendi imediatamente, ficando feliz ao ouvir o som da voz de minha mãe.

- Olá garotinha – ela disse.

- Oi mãe!

- Como foi ontem a noite? E como esta na casa de Danielle?

- Correu tudo bem – eu garanti – acabamos de nos entupir de Waffles e chocolate.

- Ótimo. Liguei para saber se você e Danielle querem passar a tarde no shopping. Podemos almoçar por lá mesmo. Fazer umas compras ou até pegar um cinema. O que vocês acham ?

Eu olhei para Danielle e abri um sorriso amigável.

- Minha mãe quer saber se queremos passar a tarde com ela no shopping. Almoçamos por lá.

Danielle ficou toda animada, quase esquecendo nossa conversa anterior.

- Claro. Eu vou adorar.

- Tudo certo mãe. Mas e o papai?

- Enfurnado de trabalho até o pescoço. Parece que ele foi promovido, e amanhã vai ter uma reunião com o novo cliente. Alguém bem poderoso. Bom, passo para buscar vocês em menos de uma hora. Estejam prontas.

- Mãe, vou passar o endereço...

- Não precisa – ela cortou – Qual rua de West Palm eu já não conheço?

Eu percebi que Danielle me olhava com mais curiosidade ainda.

- Sua mãe é simpática – ela disse – foi gentil da parte dela me convidar também.

- Esta é Caroline Crystal. Minhas amigas de Seattle a adoravam, ela é jovem demais para ser mãe de uma adolescente, mas é impossível não confiar ou não gostar dela. E agora vamos nos arrumar, pois se eu bem conheço a senhora super corretora de imóveis, vai chegar antes do previsto.

E assim foi. Em menos de quarenta minutos minha mãe já buzinava impaciente na porta da casa de Danielle. Ela usava uma calça jeans e uma blusa de algodão azul claro, e apesar de discreta, parecia mais como uma irmã mais velha do que a mãe de uma adolescente de dezessete anos. Eu sorri. Aquilo não me incomodava, era a minha mãe em seu estado mais simples. Jovem e amorosa.

Ela cumprimentou Danielle com um beijo na bochecha. Percebi que ela ficou feliz com a demonstração de afeto e aceitação de minha mãe.

- Obrigada pelo convite, Sra. Crystal – disse Dann toda animada se acomodando no banco traseiro do carro de minha mãe.

- Não, obrigada você Danielle, e pode me chamar de Carol, nada de formalidades, por favor. E fiquei feliz em saber que Nicolle já fez boas amigas no colégio. – ela deu uma piscadela cúmplice para mim – Eu já estava preocupada com a adaptação de minha garotinha na Flórida

- Mãe! – eu tentei protestar.

- O quê? O quê eu falei demais? Bom, vamos ao shopping que vocês foram outro dia. Fiquei sabendo que é muito bonito.

Então ela ligou o rádio em uma rádio que tocava aquelas musicas dos anos noventa, que ela tanto adorava. Claro que os pais nunca percebem quando deixam seus filhos constrangidos. Deve ser alguma mutação genética que ocorre junto com a maternidade.

Qualquer outra garota de minha idade teria rido do comentário de minha mãe. Danielle não era toda tranqüilidade e sorrisos no banco traseiro de minha mãe e aparentemente não se lembrava mais de nossa conversa sobre as bruxas e meus pesadelos. Foi então que me lembrei de como era a sua mãe, do quão educada e polida era, mas nem de longe eu via o carinho que minha mãe demonstrava comigo no relacionamento delas. Ela deveria sentir falta disso, claro. Somente quem não tem estas coisas que pode saber a falta que faz.

Escolhemos uma lanchonete na praça de alimentação do shopping Cityplace e pedimos uma nada saudável pizza para o almoço.

Quase engasguei com o meu refrigerante ao ouvir minha mãe perguntar para Danielle sobre os garotos do colégio.

- Nicolle ainda não me disse se tem garotos bonitos no colégio – minha mãe disse como se comentasse uma liquidação na Victoria Secret´s – Me diga sobre os garotos Danielle.

- Há vários garotos bonitos sim, Sra. Carol. – afirmou Danielle com aquele sorrisinho inocente típico.

Minha mãe ficou visivelmente interessada no assunto.

- Oh, sério? E algum interessante?Já esta na hora de você me apresentar um namorado, mocinha. Na idade de vocês eu já namorava o seu pai, Nicolle.

- E dois anos mais tarde também já estava grávida de mim – eu respondi de mau humor – não sei porque esse interesse agora em minha vida afetiva.

- Há uma vida afetiva? – ela perguntou.

- Mamãe! Por favor.

- O quê? – minha mãe deu de ombros.

- Para isso que estamos aqui? Podemos algo mais útil do que ter essa conversa? – aquilo estava me deixando bem irritada. –Nós vamos enlouquecer alguns vendedores ou não ?

Minha mãe e Danielle riram ao mesmo tempo. Déia ter algo de engraçado com meu mau humor , disso eu tinha absoluta certeza.

O tempo passava depressa, e após a desagradável conversa sobre garotos, ríamos muito em companhia de minha mãe, que fazia Dann se sentir muito confortável por estarmos passando uma tarde de domingo passeando com uma mãe. Mesmo sendo a minha, eu sabia que não era um passeio normalde qualquer adolescente.

Escolhemos uma livraria enorme, tipo mega store , com vários departamentos e muitas coisas para se olhar. Minha mãe e Danielle haviam descoberto uma paixão em comum, feng shue, e conversavam animadíssimas sobre livros e algumas mudanças que minha mãe poderia fazer em casa para deixar a energia fluindo melhor.

Eu deixei as duas conversando e resolvi me isolar um pouco, pois assim sabia que me livraria das perguntas de minha mãe e do olhar questionador que eu via em Danielle várias vezes naquela tarde, enquanto olhava para mim. Ela sabia que eu estava lhe escondendo algo, mas era assim que deveria ser.

Resolvi olhar alguns cds, e rapidamente me dirigi há uma cabines aonde era possível escutar qualquer cd da loja. Escolhi alguns de de meus favoritos, coloquei os fones nos ouvidos e deixei a música me levar por um longo tempo.

Eu procurei limpar a minha mente de todas as dúvidas e divagações que ainda passassem por minha cabeça. Me concentrei no som, na melodia, a música entrando lentamente em meus sentidos. Então escolhi um cd do James Blunt que eu adorava e me desliguei totalmente do mundo ao meu redor.

Foi então que eu senti uma mão quente tocando levemente o meu braço. Foi como um choque percorrendo todo o meu corpo. Antes de me virar eu já sabia quem estava ali.

Henry Nichols estava parado bem atrás de mim, um sorriso surpreso em seu rosto, sorriso este que era mostrado em seus olhos, azuis e muito brilhantes.

- Você anda me seguindo por acaso? – ele perguntou a voz rouca leve e divertida.

Eu tirei os meus fones imediatamente. Já era difícil ouvir qualquer coisa com o som do meu coração batendo descompassado, eu não precisava de mais nada para me deixar surda.

- Do que você esta falando? – eu perguntei tentando manter um tom de voz calmo. Ele não precisava saber o quanto eu estava nervosa ao vê-lo ali.

- É o nosso segundo encontro em dois dias – ele respondeu com a voz ainda leve – West Palm Beach não é tão pequena e estamos sempre nos esbarrando.

Ele usava jeans e uma camisa de algodão azul, que combinava perfeitamente com seus olhos, as mangas dobradas displicentemente. Oh, eu era tão estúpida, mas ele estava lindo, tão lindo que era difícil manter qualquer grau de racionalidade ali.

Eu apenas dei de ombros e forcei um sorriso em meu rosto. Ele estava muito próximo a mim, eu podia sentir o seu perfume em meu nariz. Foi então que eu percebi que uma de suas mãos ainda estava pousada em meu braço. Ele deve ter percebido ao mesmo tempo em que eu, e recuou sem graça. Não era a primeira vez que isso acontecia, e meu corpo sempre reagia de uma forma louca ao seu toque.

- O que você esta ouvindo? – ele perguntou levando as mãos em direção ao fone e colocando em seus ouvidos, para em seguida dar uma pequena careta – Oh, você gosta disso? Sério mesmo?

- Qual o problema? – eu não gostei de ele chamar um cantor que eu adorava de “disso”.

- Meloso demais – ele completou – inglês demais. Não faz parte do meu repertório.

Foi então que eu reparei que ele estava com varias caixinhas de CDs em sua outra mão. Eu estendi a minha mão e puxei as caixinhas em minha direção.

- Ah, e o que você tem aí, senhor “nada de ingleses melosos “ ? – eu olhei uma a uma e eram todas de bandas de rock pesado, daqueles de urros e sons inaudíveis, Uma ou duas bandas eram dos anos noventa. – É disso que você gosta? Se eu ao menos conseguisse entender o que eles berram, eu podia tentar gostar.

Ele riu. e pegou as caixinhas de volta.

- Decididamente não temos o mesmo gosto musical. – ele disse entre uma risada e outra.

- Decididamente – eu respondi.

Foi então que eu percebi que os olhos dele correram pelo meu corpo e eu dei graças por ter colocado um vestido florido que eu gostava muito e por ter arrumado os meus cabelos. Sabendo o tipo de garota que ele saia, não era de se estranhar que eu o pegasse me olhando de cima a baixo. Ele devia ligar muito para aparências. Eu tentei não ficar ofendida.

- Você esta sozinha aqui? – ele perguntou.

- Não, vim com minha mãe e Danielle. Elas devem estar por aí procurando todos os livros de feng shue disponíveis no mercado.

- Feng shue? Isso é bem a cara da Dann mesmo.

Ele se referiu a ela da mesma forma que ela falava sobre ele. Carinho na voz e algo mais, meio como respeito. Aquilo me deixou mais intrigada nisso.

- Você foram muito amigos, não é?

Ele afirmou levemente com a cabeça.

- O que aconteceu então? Eu nunca vi você e ela conversando propriamente dito, mas sempre que ela fala de você fala com muito carinho.

- Oh, ela fala de mim? – eu percebi que havia cometido uma gafe, e eu queria muito que a terra se abrisse sob meus pés, pois do jeito que ele falou soou como “vocês falam sobre mim?”, mas ele foi discreto e continuou como se eu nada tivesse dito – Dann é muito querida , fomos praticamente criados juntos. Eu gosto dela como uma irmã.

- E o que aconteceu então? – eu insisti.

Eu percebi que ele ficou constrangido, pois imediatamente seu maxilar ficou duro e travado.

- Acho que alguns desentendimentos com meus amigos quando eu estava na Inglaterra. – ele disse meio contrariado – quando eu voltei, estávamos um pouco distantes. Mas fico feliz que estão se dando tão bem, Dann é uma ótima amiga.

Com aquilo eu ardi ainda mais de curiosidade e eu queria saber direitinho o que havia acontecido. Mas pela cara dele, percebi que não era uma boa hora de perguntar sobre isso. Mudei rapidamente de assunto.

- Quanto tempo você ficou na Inglaterra?

- Um ano, fomos para lá quando eu tinha quinze.

- E não apreendeu a gostar muito de cantores ingleses? – ele negou com a cabeça – Por que você foi morar lá?

- Fomos acompanhando o meu pai que tinha negócios na Inglaterra.

Percebi que era outro assunto que o deixou contrariado.

- Você não gostou de sua estadia na Inglaterra. – eu afirmei.

- Não – ele disse o rosto muito sério – deixei isso muito aparente?

- O suficiente. Então o que...

Eu não pude terminar minha pergunta, pois de repente um pequeno garotinho loiro cheio de sardas , de uns dez anos , corria em nossa direção , segurando um negócio que só poderia ser um telescópio e vários livros de astronomia nas mãos .

- Henry, aqui, encontrei tudo que precisávamos. – foi então que ele percebeu que eu estava parada ali e ficou todo envergonhado, seu rosto de um vermelho vivo. – Oh, desculpas.

Henry sorriu e alisou de leve o cabelo liso e fino do garoto. Os olhos dele brilharam e ele abriu um enorme sorriso.

- Hey Nathan, esta é uma amiga, Nicolle. – então ele olhou para mim e sorriu enquanto bagunçava o cabelo do garoto – Nicolle, este é meu irmão mais novo Nathan.

Foi então que eu percebi a roupa meio séria do garoto e o jeito que ele ficava vermelho perto de mim. Era um dos gêmeos irmãos de Henry. Nathan, o irmão meio nerd. Era impossível não ver a semelhança, mesmo o garoto tendo os cabelos loiros, eram os mesmos olhos azuis brilhantes e intensos. Eu sorri, pois o garoto era lindo e muito fofo, e pela forma que Henry olhava para ele, com carinho e amor.

Sim, Henry Nichols sempre me surpreendia.

Eu estendi minha mão para o garoto, que a apertou educadamente, mesmo ficando cada vez mais vermelho.

- Muito prazer Nathan. - eu sorri para o garoto tentando ao máximo ser simpática – Bonito telescópio.

Deu certo, os olhinhos do Nathan brilharam.

- Henry vai montar para mim no terraço de casa. Bom lugar para ver as estrelas.

- Então você gosta de estrelas? – eu perguntei.

- Estrelas e planetas. Eu quero ser astronauta um dia – ele trocou um olhar cúmplice com o irmão e então algo atraiu a sua atenção, bem atrás de nós – Olha ali Henry, é a Dann.

Danielle e minha mãe estavam bem atrás de nós. Minha mãe com um olhar interrogador no rosto e Danielle era toda sorrisos. Ela rapidamente chegou até nós, se abaixou e deu um beijo carinhoso no rosto de Nathan, em seguida cumprimentou Henry com um sorriso muito amigável.

- Oi Henry. Oi Nathan. – ela disse, enquanto olhava para mim de soslaio, dando um sorriso meio torto.

- Oi Dann – o garotinho se desmanchou todo para ela – faz tempo que não vejo você.

Ela bagunçou os cabelos dele, da mesma forma que eu vi o Henry fazer. Aquela cumplicidade me fez sentir uma pontinha de ciúmes , um tolo sentimento , mas muito mais que ciúmes eu sentia curiosidade. O que havia acontecido entre eles?

Os dois trocaram um olhar meio cúmplice, fazendo eu ficar ainda mais enciumada. Sem razão, aparentemente, pois não era como se ambos estivessem flertando ou se tivessem um caso antigo escondido. Era cúmplice e amigável, mas mesmo assim eu não conseguia evitar meu sentimento.

Eu quase havia esquecido por completo a minha mãe, mas quando ela começou a medir Henry de cima a baixo , eu rapidamente a apresentei. Eu conhecia a mente de minha mãe e logo, logo ela estaria me colocando em alguma situação constrangedora, como supor que ele era algum namorado secreto.

Na frente dele, ainda por cima, é claro.

- Mãe, este é Henry Nichols, um colega de escola. Henry esta é minha mãe.

Ele estendeu a mão educadamente para a minha mãe, todo formal e gentil.

-E um prazer senhora Crystal . Eu poderia supor que a senhora fosse uma irmã mais velha de Nicolle, não a sua mãe.

Pronto. Ele havia conquistado Caroline Crystal naquele instante.

- Oh, que gentileza – ela disse, toda contente – fico feliz em ver que minha Nicolle tem amigos tão gentis.

Após alguns segundos, Henry anunciou que teria que ir embora. Minha mãe e Danielle se afastaram um pouco , Danielle segurando a mão de um Nathan todo feliz . Aparentemente eles deram um pouco de privacidade para Henry e eu nos despedirmos.

- Bom, acho que nos vemos amanhã então, Nicolle? – ele perguntou os olhos brilhantes e quentes.

- Bom na escola não tem como você achar que eu o estou seguindo – eu provoquei, apesar de eu ainda estar muito nervosa

- E por falar em escola, você já começou a ler o Hemingway? – eu neguei com a cabeça – Pois deveria. Além do trabalho, sei que você vai gostar.

Impulsivamente eu sorri para ele . Eu não consegui evitar. Eu sentia todo o meu corpo sorrindo para ele .

- Da mesma forma que eu acho que você pode gostar de cantores ingleses meio melosos – eu disse - É só uma questão de com quem ouvir.

Oh meu Deus, por que eu disse isso?Por que eu estava sendo tão oferecida? O que eu estava pensando, eu estava flertando com Henry Nichols ?

Eu nem ao menos sabia fazer isso. Eu não tinha a menor idéia do que eu estava fazendo.

Ele ficou muito sério. E pegou minha mãe por um segundo, mais rápido que uma batida de coração.

- Acho que você tem razão – ele disse com a voz rouca – talvez seja uma questão de com quem ouvir. Vejo você amanhã Nicolle.

Então ele e seu pequeno Nathan foram embora. Eu fiquei vendo os dois se afastarem, Henry todo protetor com o irmão mais novo. Nada daquele autoritarismo que eu via na escola, nada daquele olhar de poucos amigos. Nenhum sorriso esnobe ou arrogante, apenas um cara. Um cara muito educado e simples.

Mas ele me confundia e despertava um sentimento de admiração e curiosidade. Oh, isso precisava parar. Não era saudável para mim esses sentimentos, não por alguém como Henry Nichols.

Isso precisava parar.

Foi então que eu percebi que minha mãe e Danielle tinham os olhos fixos em mim. Compreensão passava no rosto de Danielle. Ela havia compreendido o motivo que eu havia rejeitado Jack na noite anterior. Eu esperava no mínimo um olhar de “Hey, você perdeu completamente o juízo?”. Em vez disso ela sorria .

Antes que um interrogatório a queima roupas me pegasse de surpresa , eu resolvi atacar .

- Compraram todos os livros de Feng shue da loja ?

Elas riram e trocaram um olhar cúmplice . Oh , era tudo que eu precisava , minha mãe e minha amiga já haviam se tornado cúmplices.


Minha mãe não deixou se intimidar. Ela tocou de leve meus cabelos , como se eu fosse uma criancinha.

- Bonito garoto, o seu amigo Nicolle .

Eu fingi que não ouvi comentário de minha mãe . Ela resolveu atacar por Danielle.

- Ele estuda com vocês Danielle?

- Henry ? – eu vi ela fingindo um sorrisinho inocente – sim, ele estuda em nosso colégio.

- Bonito e educado . – minha mãe aprovou.

- Sim, Sra Crystal . Henry realmente é um cara legal.

Aquilo estava me deixando irritada.

- Vocês duas podem parar – eu cortei um pouco rude – ele é apenas um colega da minha turma de Literatura. Estamos fazendo um trabalho juntos , nada demais. E além do mais, ele tem namorada mamãe. Paramos por aqui, por favor .

As duas ficaram quietas imediatamente , mas eu percebi que não havia vencido a minha mãe naquela questão. Ela voltaria a me questionar sobre Henry Nichols .

Mas a minha mãe era , naquele momento o menor de meus problemas . Eu me sentia culpada por estar escondendo tantas coisas de Danielle. Ela não havia feito outra coisa desde que nos conhecemos a não ser me dar apoio e procurar formas de ser uma boa amiga. Eu evitava olhar minha amiga nos olhos. Ela conseguiria ver que eu escondia bem mais que meu interesse sem sentido pelo garoto mais popular do colégio.

Pouco tempo depois, era hora de irmos embora do shopping Cityplace.

A tarde caia depressa , e o sol quente da Florida começava a morrer no horizonte. Era possível sentir a brisa vinda do mar e o ar estava ficando cada vez mais magnético e úmido. Arrepiava os meus cabelos e os pelos de meu braço.

Fomos direto para a casa de Dann. A casa parecia vazia e silenciosa, provavelmente os seus pais ainda estavam trabalhando ou cuidando de suas próprias coisas. Percebi uma ponta de melancolia nos enormes olhos castanhos dela.

Eu havia deixado minha mochila no quarto de Dann e entrei com ela em sua casa enquanto minha mãe esperava no carro.

Comecei uma falação pavorosa e incontrolável, sobre os preços das roupas, sobre liquidações e sobre os livros que ela e minha mãe haviam comprado. Eu tinha medo de dar espaço para Dann falar alguma coisa.

Não foi tão fácil escapar dela. Assim que eu agarrei minha mochila e estava já me dirigindo á porta de saída, ela segurou levemente o meu braço.

- Você tem certeza que esta tudo bem? – ela me olhava com olhos ansiosos - Você acha que esta noite terá problemas para dormir? Eu deixei alguns bilhetinhos com encantos e algumas coisas para você na sua mochila.

Eu não queria encantos. Eu queria fugir de qualquer coisa relacionada a bruxaria naquele momento. Eu queria a boa a velha racionalidade de volta. Mas o olhar de Danielle me desconcertou.

Eu me inclinei para frente e dei um rápido abraço nela.

- Esta tudo bem Dann – eu disse, tentando deixar minha voz leve e animada – você provavelmente é a melhor amiga que eu já tive , realmente muito obrigada. Vou ficar bem, eu estou bem.

_ Mas se você precisar de alguma coisa...

- Eu ligo. Mas nos vemos amanhã no colégio, ok?

Ela acenou levemente com a cabeça. Mas não havia tranqüilidade em seus olhos. Ela estava preocupada com alguma coisa, alguma coisa além de minha atitude evasiva.

Foi então que eu me lembrei de mais uma coisa que eu precisava pedir para ela.

- Dann?

- Sim.

- Posso te pedir mais uma coisa?

- Sim, o que é? – ela ficou intrigada novamente.

- Por favor, nenhum comentário sobre Henry Nichols em frente a turma . Ou sobre o meu suposto namorado em Seattle, por favor.

Ela abriu um sorriso divertido, mas nem de longe a preocupação saiu de seus olhos.

- Hey, não se preocupe – ela garantiu – nenhuma palavra. Prometo.

Eu dei uma ultima olhada em minha amiga e corri em direção ao carro de minha mãe. Tudo o que eu queria era voltar para a minha casa, eu estava cansada, realmente cansada.

A curta travessia da casa de Danielle para a minha foi silenciosa.

Eu e minha mãe escutávamos musica no player do carro, sem conversar sobre nada de muito importante. Foi apenas quando estacionamos na porta de casa que minha mãe olhou seriamente em minha direção.

- Eu estou feliz, filha. Feliz que você esteja começando a se adaptar.

Eu sorri para ela .

- Vai ficar tudo bem mãe. O importante é que estamos juntos.

- E voltando a falar sobre garotos...

- Oh mãe – eu pedi – por favor, de novo não.

- E porque não. Eu vi como você estava toda animada conversando com aquele garoto.

- Mãe, esquece esse assunto, por favor. Ele não é do meu mundo.

- Como assim? – ela perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas – Não entendo. O que ele tem de errado? Antenas no lugar de orelhas?

- Não, mãe. Ele é o garoto mais popular e um dos mais ricos do colégio. Ele é um herdeiro milionário, namorado de uma herdeira igualmente milionária e metida. Somos de mundos diferentes mãe.

Ela não se deu por vencida com meus argumentos.

- Só isso? – ela perguntou dando de ombros – Ninguém nunca lhe ensinou mocinha, que o nosso lugar no mundo é conquistado pelo que gostamos e pelo que lutamos, e não por aquilo que temos?

Aquele era o lema de meus pais. Eu ouvia isso desde que eu era pequena.

- Ah, mas acontece que quem me ensinou isso também vai ficar furioso ao ouvir alguém falando de garotos com a sua garotinha . Lembra, nada de namorados até a faculdade – eu provoquei minha mãe com os ciúmes de meu pai.

- Ok, ok , você venceu por agora Nicolle . Por agora.

Eu sorri para minha mãe. Era fácil viver naquele mundo utópico dela. Ela ainda achava que todas as pessoas eram parecidas com ela e meu pai. Dois doces corações perdidos no mundo, tentando fazer o bem.

Mais tarde, naquela noite, eu me peguei revirando na cama novamente. Já passava de meia noite e eu estava ali, deitada em minha cama , pensando em tudo o que eu estava vivendo.

E estava morrendo de medo de fechar os meus olhos e ter mais algum pesadelo. Ou mesmo sonho. Eles não tinham mais muita diferença para mim. Sonhos ou pesadelos eram apenas a prova viva que eu estava perdendo a minha sanidade.

De fato, eu encontrei um monte de livros, e anotações, velas e incensos dentro da minha mochila. Tudo organizado e com vários post its com recomendações de Danielle.

Mas eu não iria me render agora. Eu precisava voltar ao mundo real.

Eu corri para o meu banheiro e tomei uma decisão.

Procurei a caixinha na gaveta do armarinho do banheiro. Eu finalmente me lembrei do que poderia me ajudar. O poderoso analgésico que eu havia tomado meses antes para uma contusão na aula de educação física em meu antigo colégio.

Eu peguei duas pequenas cápsulas e mandei garganta abaixo. Da ultima vez, eu dormi por quase dez horas seguidas. Era isso que eu precisava agora.

Deitei novamente na cama, esperando o remédio fazer efeito. Coloquei o cd que eu estava ouvindo na livraria quando encontrei com Henry Nichols. A melodia entrou em mim, como se eu estivesse guardando a sensação eufórica que eu sentia toda a vez que eu estava perto dele. Bom, pelo menos quando estávamos sozinhos, e sem nenhuma namorada nojenta, ou todo um time de futebol em volta.

Foi então que algo me ocorreu. Eu rapidamente puxei o livro do Hemingway que ele havia me emprestado e estava escondido na gaveta do meu criado mudo. Toquei a suave capa de couro e o abri.

As paginas um pouco envelhecidas e amareladas pelo tempo estavam intactas. Haviam algumas letras rabiscadas, uma dedicatória na primeira pagina do livro.

Eu apertei os meus olhos para entender a letra confusa, mas bonita.

“Para H. Um homem é formado por suas atitudes , gestos e por sua generosidade. Nunca se esqueça disso , pois você esta no caminho para se tornar um grande homem Parabéns pelo seu décimo terceiro aniversario . Tony “


Quem era Tony?

Eu rapidamente fechei o livro, louca de curiosidade; Aquilo era mais um mistério para a minha coleção de coisas a desvendar.

Eu sabia de alguém que poderia me ajudar.

Danielle.

Mas eu não queria envolve-la ainda mais em minhas confusões. Era hora de eu desvendar os meus mistérios e duvidas sozinha.

Agarrada ao pequeno travesseiro de lavanda que eu havia ganhado de Danielle, e com o livro de Henry Nichols embaixo de meu travesseiro, eu fechei meus olhos e esperei pela inconsciência do sono. O remédio estava começando a fazer o efeito que eu desejava.

Todos os meus problemas podiam esperar até amanhã para serem resolvidos.

Playlist "As filhas do vento"


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