sábado, 29 de agosto de 2009

Olá amigos .

Semana super intensa ... depois do meu note quebrado ( trabalhão para recuperar o manuscrito do livro ... ), uma suspeita de gripe suina e o lançamento de Blood Promisse ( Oh meu Deus , o que foi Dimitri Strigoi ?! ) este final de semana voltamos a ativa . Ainda esta meio dificil organizar as perdas e os capitulos, mas o trabalho já esta terminando.

Obrigada pela paciencia e pelo carinho.

De novidades, no blog da Aninha ( tem o link nos meus favoritos ) os capitulos de As filhas do vento também estão sendo postados, todas as segundas feiras desde o Cap. 1. Vale a pena uma visita no blog dela, tem muitas dicas ótimas de livros.Eu adorei.

E também estou lendo um monte de livros novos sendo publicados na internet ( ficar de cama as vezes é bom para conhecer coisas novas ) e vou dar algumas indicações. Li muita coisa boa de muita gente talentosa.

Um beijo a todos e vamos ao trabalho novamente.

Gaby

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Olá a todos

Enquanto o cap. 15 não sai , eu queria compartilhar um video com vocês.

The phamton agony, do Epica .

Claro que eu imagino que para quem já ouviu minha playlist ou sempre que abre a pagina do blog e o audio do computador esta ligado ,já enjoou da música , mas para mim, é o tema para a primeira parte da saga , O sonho .

O vídeo é um pouquinho ruim ( ok, tem momentos toscos ) mesmo assim eu adoro e sempre arrepio ouvindo a música .

Bjinhos Bjinhos

Gaby

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Olá amigos

Cap. 14 postado e playlist atualizada ...

Incrivel como eu acho as musicas do Evanescence perfeitas para o clima de nossos amigos de West Palm Beach.

É , ok , faz um pouco mais de sol na Flórida.. enfim ...

Um beijo enorme e obrigada pelo carinho sempre.Obrigada por estarem acompanhando a saga de Nicolle e sua turma.

Gaby

Cap. 14 - Explicações não dadas

- Nicolle, Nicolle, por favor, abra os olhos, me diga que esta bem. Oh meu Deus.

Eu ouvia uma voz desesperada me chamando ao longe. Eu conhecia aquela voz. Eu tentei lutar contra as trevas que tomavam conta de mim, pois eu queria responder aquela voz que me chamava, eu queria lhe dizer que eu ficaria bem.

- Eu a machuquei – a voz novamente falou – eu devo te-la machucado. Mas eu entrei em pânico quando eu vi o fogo...

- Não toquem nela – outra voz falou – ela pode ter uma concussão, esperem ajuda, se afastem, por favor.

- Nicolle – a voz chamou de novo – você pode me ouvir? Por favor, Nicolle.

“Eu posso ouvi-lo” eu tentei murmurar, mas estava tão longe, tudo tão longe.

- Henry, esta tudo bem – a outra voz respondeu , e apesar de todo o nervosismo que ela transmitia , percebi que era uma voz doce. Danielle. Era a voz de Danielle. – Henry, acalme-se. Por favor, chamem ajuda.

Henry. A voz de Danielle havia falado o nome dele. Eu reconhecia o som daquele nome, era o nome que fazia meu sangue correr pelas minhas veias de uma forma que eu não sabia descrever.

Eu lutei com as trevas, pois eu mais que nunca precisava garantir que estava bem. Henry chamava por mim.

Mas por quê?


Eu tentei nadar contra o mar pesado e profundo, que entorpecia meus membros e tentava me tragar em sua escuridão sem fim. Eu era forte, eu sabia que eu era forte Eu tentei subir á superfície. Mas meu corpo doía tanto...

Conforme eu nadava, eu ouvia mais e mais sons ao meu redor, muitas vozes gritando entre si.

- Nicolle – ele pediu novamente – por favor...

“Sim, eu estou aqui”

Eu nadei com mais força, obrigando cada músculo de meu entorpecido corpo responder ao meu comando. Algo pesado comprimia meus olhos, mas eu iria responder aquela voz. Eu precisava.

Eu senti um formigamento em minhas mãos, e depois em meus braços , um calor suave e restaurador em cada fibra de meu corpo castigado. Eu precisava então ser forte.

Eu nadei e nadei, meus olhos firmemente cerrados... Mas o calor atingiu meu rosto e em seguida meus olhos. Eu consegui abri-los.

Eu estava novamente na superfície.

A luz me cegou. Meus olhos estavam desfocados, mas a sombra de um rosto se projetava bem a minha frente. Tão próximo ao meu, tão próximo que eu conseguia sentir o seu cheiro, delicioso em meu nariz.

Eu sentia uma mão tocando o meu rosto, delicadamente, afastando os cabelos grudados em minha testa. Aquele toque suave queimou a minha pele e eu me senti quente de repente. O sangue correu em minhas veias, de uma forma nova e deliciosa, Eu sentia vida pulsando em mim , eu estava tão viva.

Aquilo foi o suficiente para que eu me tornasse alerta em um segundo. Minha visão se focou em um instante, e eu vi que aquele rosto tão próximo ao meu era dele. Henry Nichols estava bem ali em minha frente, mechas de cabelo negro caídos em seus olhos, que brilhavam, mas me mostravam medo e preocupação.

Sua mão tocou de leve uma mecha de meus cabelos e por um minuto o meu mundo parou. Nada mais importava além de seu toque e da forma que ele me olhava.

- Nicolle – meu nome soou nervoso em seus lábios – Você esta bem? Eu machuquei você?

Me machucou ? Por que ele me machucaria? Eu sorri, imaginando o porquê ele me machucaria.

Ele sorriu para mim, os olhos intensos e azuis esboçando algo mais que preocupação e medo. Estávamos tão próximos e eu esqueci qualquer outra coisa que não fosse ele. Eu sentia o calor vibrante do seu corpo e uma sensação como nada no mundo. Era certo, tão certo...

- Ela esta bem Nichols – uma voz disse duramente– pode solta-la agora.

Assim como eu, percebi que Henry se sobressaltou com aquela voz que nos interrompia.

Eu sai do meu transe imediatamente, e Henry se afastou um pouco de mim. Jack estava bem ao seu lado, tentando afastá-lo de mim.

Eu percebi a realidade em poucos segundos. Eu estava deitada ao chão, com Henry e Jack ao meu lado E muitas pessoas ao meu redor, formando um circulo. Vi os rostos de meus amigos a minha volta e um segurança segurando meu pulso entre seus dedos. Virei meus olhos a esquerda e vi Danielle segurando a minha mão, um sorriso aliviado em seu rosto. A mão que ela segurava formigava.

- O que aconteceu? – eu finalmente encontrei a minha voz, que soou fraca e estranha aos meus ouvidos.

- Você quase se queimou com a explosão de uma das piras de fogos de artifício que estavam em volta do palco – explicou Danielle – Henry saltou em sua direção e evitou que ela explodisse em você, já que você estava muito próxima.

- O que? – eu novamente perguntei – Explosão?

Eu tentei me erguer, mas varias mão me retiveram ao chão.

- Não se levante ainda – Henry pediu – nos não sabemos se eu te machuquei quando me lancei em cima de você.

- Você se lançou em cima de mim? Mas você esta lá em cima no palco.

Ele pareceu confuso e embaraçado.

- Por isso estamos preocupados. – Danielle segurou minha mão com força enquanto tentava me explicar - Para salvar você da explosão, Henry se jogou do palco e caiu por cima de você. Ambos caíram ao chão Não sabemos se você bateu a cabeça.

- Eu estou ótima – eu me apressei em afirmar – Um pouco confusa, mas eu estou muito bem. Podem me soltar, por favor?

- Você pode ter uma concussão – Jack argumentou – entrando um pouco a frente de Henry – é melhor esperar a Sra. Tricia.

Eu estava ficando irritada. Irritada e envergonhada, pois eu percebi que todo o colégio estava ao meu redor. Eu não iria ficar ali bancando a donzela ferida.

- Eu estou ótima. Deixem – me levantar.

Eu segurei firme a mão de Danielle e levantei, auxiliada por um Jack furioso e dois seguranças. Quando finalmente fiquei de pé, minha cabeça ficou um pouco zonza e eu pensei que ia cair. Mas Henry rapidamente correu em minha direção e me segurou.

Eu estava tão feliz em estar perto dele novamente que sorri.

- Você me salvou?

- Eu poderia ter machucado você. – ele respondeu baixinho – Desculpe-me, eu não pensei direito quando vi você tão próxima dos explosivos.

Oh meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu senti um frio no estomago, mas a alegria de estar perto dele era tão grande... Mesmo com minha cabeça confusa e a enorme vergonha por estar sendo observada por todo o colégio.

Mas meus olhos só conseguiam enxergar aqueles gloriosos olhos azuis e o sorriso radiante de Henry. Ele era tão bonito, e eu me sentia fascinada por ele. Ele havia me salvado, seja lá o que tivesse acontecido. Eu queria agradecê-lo, queria tocar seu rosto, segurar as suas mãos.

A voz estridente da Sra. Tricia quebrou o meu transe.

- Você esta bem mocinha? – ela perguntou – Vamos levá-la a enfermaria agora mesmo.

- Eu estou bem – eu garanti pela milésima vez em poucos minutos – eu realmente estou bem não é necessário.

- Isso não cabe a você – ela afirmou arrogantemente, chamando dois seguranças – levem–na a enfermaria. Um amigo pode ficar com ela todo o tempo.

Neste momento eu vi Henry e Jack se aproximarem de mim. Eu vi, mais uma vez, ambos se medindo como adversários. Eu não gostava disso.

Claro que eu queria que Henry fosse comigo, eu queria ficar perto dele e conversar com ele. Eu desejava isso do fundo do meu coração. Mas havia o problema de Jessica e eu não queria magoar Jack. E por outro lado eu também não podia deixar que Jack me acompanhasse, pois havia a historia de meu suposto namorado em Seattle.

Como eu havia me metido em tamanha confusão?

Instintivamente eu procurei Danielle e apertei a sua mão. Eu sorri para meus outros amigos, depois para Jack, e por ultimo eu corri meus olhos para Henry, esperando que aquele sorriso fosse suficiente para que todos me entendessem, e então eu pedi.

- Danielle pode ir comigo? Por favor?

- Pode sim. Os seus amigos podem esperar se quiserem na recepção da enfermaria, um dos inspetores os acompanharão. – Então ela aumentou a voz, ficando cada vez mais estridente – os demais podem continuar aproveitando o nosso magnífico evento. O show pode continuar, mas sem fogos e nem tochas desta vez.

Aquela foi a deixa para que os alunos se afastassem, abrindo caminho para que Danielle e eu caminhássemos até a enfermaria, após a minha recusa veemente de ser carregada pelo enorme inspetor Palmer ,e fomos seguidas de perto por dois seguranças . Meus amigos nos acompanharam, mas eu não olhei para traz para ver se Henry estava entre eles.

Me surpreendi ao saber que na enfermaria , eu não encontraria apenas uma enfermeira entediada e estressada , como acontece em todos os colégios , mas ali, na corte dos reis de West Palm , contávamos também com um médico de plantão. Um médico jovem, mas ainda assim um médico.

A enfermaria era toda equipada, em tons suaves de verde, uma maca imaculadamente branca e muitos equipamentos médicos. Apenas o melhor para a corte.

O médico ficou muito tempo me examinando, verificou se eu tinha fraturado algum osso ou se havia algum sinal de queimadura. Nada, exatamente nada.

Ele fez perguntas bobas como meu nome, aniversario e nome de meus pais. Eu sei que era o protocolo para verificar se eu havia tido algum dano em minha memória, mas eu estava ansiosa demais para ficar ali parada enquanto a minha vida me esperava lá fora.

Eu ainda não havia tido tempo para pensar no que havia acontecido, na visão que eu havia tido bem ali, na frente de todo o colégio. Sim, eu sabia , mais do que nunca agora eu precisava de ajuda, eu não tinha nada sob controle , como eu imaginei na noite passada . As coisas estavam acontecendo rápido demais, tão rápido que eu não estava tendo tempo de processá-las direito.

Algum tempo depois, o médico decidiu que eu estava bem, mas ficaria um pouco ali na enfermaria em observação, para se ter a certeza que eu não tinha uma concussão.

Danielle ficou sentada silenciosamente em uma poltrona próxima a minha maca o tempo todo, e assim que o médico saiu da sala para resolver algum assunto, eu aproveitei para interrogala..

- Dann, o que aconteceu exatamente? – eu rapidamente me levantei e sentei na maca, enquanto ela se aproximou e sentou ao meu lado.

- Eu que pergunto Nicolle, o que aconteceu ali? De repente você ficou toda estranha e caminhou em direção ao palco. Eu tentei perguntar a você o que estava acontecendo, ma você apenas caminhou em direção a uma das tochas, os olhos vidrados.

- Eu não me lembro... – eu menti.

- Então de repente as chamas da tocha ficaram loucas e crepitaram em sua direção. Elas são controladas eletronicamente, Jack me explicou, e deve ter ocorrido algum curto circuito, pois elas ficaram cada vez mais violentas e os fogos de artifício acoplados a ela começaram a explodir. Elas iam explodir em você, pois você estava tão perto e não ouvia ninguém, então de alguma forma Henry viu e simplesmente se arremessou do palco em sua direção. Ele agarrou você igual uma bola de futebol e vocês dois caíram ao chão.

Aquilo começava a fazer algum sentido para mim.

- Eu senti um impacto violento e algo pressionando os meus pulmões... e depois mais nada .

- Ele caiu sobre você. Imagina o impacto de um cara daquele tamanho e ainda por cima usando uniforme de jogador de futebol, com aquelas ombreiras e proteções. Ele ficou louco de preocupação, imaginando que tinha machucado você. E olha que ele conseguiu colocar uma das mãos por traz de sua cabeça antes de vocês caírem. Ele foi rápido, muito, muito rápido e a salvou da explosão Poderia ter sido muito ruim. Os fogos explodiram pouco tempo depois bem no local onde você estava. Teria acertado você de cheio.

Eu não estava preocupada com a explosão, só conseguia imaginar Henry se jogando sobre mim para me salvar. Deveria ser bom, muito bom ser agarrada como uma bola por ele, apenas eu dispensava as proteções e ombreiras do uniforme de futebol americano.

É. Eu não estava muito normal, com estes pensamentos.

- Quanto tempo eu fiquei desacordada?

- Uns três minutos, se muito – ela afirmou – Você nos deixou apavorados Nicolle.

- Eu preciso encontrá-lo Dann – eu desci rapidamente da cama – eu preciso falar com ele, agradecê-lo...

Eu não pude concluir meu pensamento, pois de repente a porta se abriu e a enfermeira entrou acompanhada de todos os meus amigos.

- Eu não conseguia mais segurar os selvagens dos seus amigos – a enfermeira disse carrancuda – É melhor eles verem você e me deixarem em paz.

Patrícia, Juliet e Hellen entraram falando rápido demais, me contando sobre Henry e seu momento heróico. Eu não conseguia acompanhar tudo o que elas falavam, e eu precisava falar com Henry. E se ele já tivesse ido embora? Amanhã não teríamos aula, e se eu não o veria até quarta feira.

Eu acho que Dann percebeu a minha agitação, pois falou bem baixinho em meu ouvido, evitando que mais alguém nos ouvisse.

- Não se preocupe, eu vou procurá-lo.

Jack, Michel e Paul estavam parados na porta, como se fossem guardas carrancudos. Danielle precisou pedir que eles se afastassem para ela passar.

Minutos se passaram até que o médico voltou e acompanhado da Sra. Tricia.

- Você teve sorte mocinha – ela me disse – pois eu não sei o que você fazia tão próxima ao palco. Imprudência, uma imprudência.

Ah, um palco cheio de tochas explosivas em um colégio adolescente não era imprudência? Mas eu segurei o meu pensamento para mim mesma.

Tudo que eu precisava era sair dali. Rápido.

- Vou chamar a sua mãe para lhe buscar – ela continuou a voz desagradável a meus ouvidos – é perigoso deixá-la sozinha no campus ou mesmo deixá-la ir embora sozinha.

- Você teve muita sorte – garantiu o médico – pois a explosão poderia ter te ferido seriamente se o seu amigo não fosse tão rápido, e mesmo a queda de vocês foi violenta. Ainda não sei como você escapou ilesa.

A Sra. Tricia agitou as mãos e o cheiro de Lou-Lou ardeu em minhas narinas.

- Por isso vamos chamar algum responsável para que você não cometa mais nenhuma imprudência.

Oh, a imprudente era eu agora? Sabe, tem horas que uma garota tem que saber que não é bom ser sempre boazinha.

- Sra. Tricia – eu disse com um ar inocente – minha mãe já esta histérica com a invasão do colégio, imagina se alguém ligar para ela avisando que eu tive um acidente envolvendo explosivos? Pelos menos umas vinte mães chegariam na porta do colégio em poucos segundos. Danielle sempre vai embora comigo, portanto eu não estarei sozinha no caminho para casa e chegando lá minha mãe verá que eu estou completamente inteira e será mais fácil contar a ela todos os acontecimentos da manhã.

O rosto da Sra. Trícia ficou vermelho vivo com a minha explícita barganha. Ela apertou os seus olhos e me respondeu entredentes.

- Esta bem, mas você deverá nos comunicar qualquer problema de saúde ocorrido após a queda e procurar imediatamente um hospital .

- Sim senhora – eu respondi, mantendo o ar inocente.

Levantei em um salto e calcei meus sapatos. Eu queria sair correndo porta afora o mais rápido que pudesse.

Meus amigos me acompanharam, e saímos todos juntos da enfermaria.

Eu percebi que os outros andaram um pouco mais rápidos, deixando Jack e eu para traz .

Ele segurou meu braço e ficou parado na minha frente.

Então, tão rápido que eu não tive tempo de reagir, ele me abraçou. Foi doce e bom, e seu corpo era quente ao contato do meu.

- Eu fiquei tão preocupado com você – ele sussurrou em meu ouvido

Ele se afastou um pouco e tocou levemente a minha bochecha. Meu coração bateu um pouco rápido, eu gostava da forma que ele me tocava, mas isso não estava certo, não poderia ser. Nós já tínhamos conversado sobre isso antes. E eu precisava encontrar outra pessoa, eu precisava.

Eu senti que estava sendo observada. Eu rapidamente me separei de Jack e tive medo, mas olhei para a porta.

Meu coração gelou, e eu senti que todo o sangue fugia de meu rosto.

Henry Nichols estava parado a porta com Danielle. Eu vi novamente seu olhar frio. Eu senti lagrimas brotando em meus olhos.

Eu corri na direção dele.

- Henry – eu comecei.

Ele me cortou friamente.

- Eu fico feliz que você esta bem, Nicolle – a voz dele dura como aço – Fico feliz que eu não machuquei você em minha atitude impensada.

Então ele olhou de mim para Jack mais uma vez e acenou levemente a cabeça para Jack e Danielle. Em seguida olhou novamente para mim, e eu quis chorar com o olhar que ele me deu.

- Agora se vocês me dão licença. Fique bem, Nicolle.

Então ele virou as costas e saiu pela porta, seguindo em direção ao estacionamento.

Eu entrei em pânico. Danielle de pronto percebeu.

Jack nos puxou em direção a porta de saída, visivelmente irritado com a forma que eu reagi com Henry Nichols. Mas eu não podia perder nem um segundo pensando nas implicações daquela hostilidade entre eles.

Eu imediatamente segurei a mão de Danielle, pedindo por ajuda. Se havia alguém no mundo que me entendia era ela.

Apesar de eu me sentir uma péssima amiga.

Os olhos dela ficaram enormes e cúmplices.

- Nicolle, eu acho que você precisa dar um pulo no banheiro rápido – ela falou de repente em voz alta – Você esta péssima.

Eu me sobressaltei, mas entendi a deixa dela.

- Você tem razão Dann. Eu encontro vocês daqui a pouco.

Jack ficou em guarda próximo a mim.

- Vão, eu acompanho vocês, e fico esperando na porta.

- Não precisa – eu afirmei meio desesperada – são apenas alguns minutinhos.

- Você não deve ficar sozinha Nicolle. – ele cortou, e em sua voz eu conseguia perceber proteção.

- Ela não estará sozinha, estará comigo – Danielle afirmou, abrindo um sorriso inocente que só ela conseguia fazer – Meninas precisam de um tempo de meninas. Encontramos você no estacionamento, ok?

Eu percebi que ele queria ficar, mas o tom de Danielle foi decisivo.

- Ok. Encontro vocês no estacionamento.

Assim que ele se virou Danielle me segurou pelos ombros.

- Corra Nicolle, vá procurá-lo.

Ela não precisou dizer duas vezes. Eu sorri para ela e corri pela porta que Henry havia saído pouco tempo antes.

Eu corri e corri, e dei graças que o show no ginásio ainda não devia ter terminado. O pátio estava vazio e eu via apenas alguns seguranças rondando o colégio ao longe.

Havia uma viatura de polícia parada a porta também.

Eu me esgueirei pelos carros, evitando que alguém me visse. Eu sabia que não tinha muito tempo, eu precisava encontrar Henry antes que ele fosse embora.

Ou antes, que ele encontrasse algum de seus amigos – ou Jéssica – e eu não pudesse mais falar com ele.

Mas algo me dizia que ele estava indo embora. Eu podia sentir em meu coração que ele estava indo embora. Ele não poderia ir embora antes que eu conseguisse falar com ele, me explicasse. Eu não agüentaria ver aquela decepção mais uma vez em seus olhos.

Eu corri pelo estacionamento. Eu sabia aonde ele parado aquele carro enorme.

Meus pulmões reclamaram pela corrida, mas eu sentia que eu tinha pouco tempo. E eu senti também que o cheiro de chuva ficava mais e mais forte, apesar do céu ainda estar azul e o sol brilhando em toda a sua força e magnitude.

Foi então que eu o avistei. Henry estava parado em frente à porta do seu carro, a mão segurando a maçaneta com força .

Eu corri ainda mais e gritei o seu nome. Eu não me importei se alguém pudesse ouvir ou mesmo se Jessica estivesse por ali e sacasse uma arma em minha direção para defender o “seu” Henry de mim. Ele não iria embora. Não antes de eu falar com ele.

E eu gritei uma, duas vezes o seu nome, mas ele não olhou nem uma vez para traz. Continuou ali parado ao lado de fora do seu carro, mas era impossível que ele não estivesse ouvindo eu gritar o seu nome.

Eu consegui chegar próximo a ele e não hesitei. Eu segurei o seu braço com força.

- Henry... – eu chamei, minha respiração pesada pela corrida e meu coração aos saltos.

Ele se virou lentamente e ficamos frente a frente. Seus olhos azuis brilhavam, mas a expressão ainda era fria, fria como gelo.

- Você não deveria estar com seus amigos? – ele perguntou.

Eu tentei não pensar na inflexão pesada que ele usou na palavra amigos. Eu tomei fôlego, apesar de imaginar que eu fazia papel de idiota ali na frente dele.
Percebi que ele usava jeans e tênis, mas ainda estava com a camisa dos Lions, apenas tinha tirado as proteções. Era como se ele houvesse se trocado rapidamente, com pressa para fazer alguma coisa.

Eu tomei coragem e disse de uma vez.

- Eu quero agradecer pelo que você fez Henry. Você me salvou. – minha mão ainda continuava em seu braço, então eu o soltei e procurei a sua mão, segurando delicadamente os seus dedos nos meus – Obrigada Henry. Obrigada.

A frieza em seus olhos desapareceu por alguns segundos. Eles voltaram a ser quentes, daquela cor linda de azul que eu via às vezes, quando ele estava relaxado.

Seus dedos apertaram um pouco os meus. Meu coração batia loucamente em meu peito.

- Eu queria me explicar sobre o que aconteceu no refeitório Henry. – eu estava apavorada, mas eu precisava que ele soubesse – Aquilo que eu disse aquilo...

Ele soltou a minha mão e sua expressão ficou fechada.

- Não se preocupe Nicolle – ele cortou com a voz dura – você já deixou claras as suas preferências. Eu vi com meus próprios olhos na enfermaria. Não precisa se explicar comigo. E se cuide, Nicolle.

Ele entrou em seu enorme carro, deu a partida e saiu. Sem nem olhar para traz.

Ele nem me deixou falar. Eu não tive a menor chance de me explicar.

Eu fiquei parada ali alguns segundos, sem entender o que havia acontecido conosco, ou o que significava a frieza de suas palavras. Conforme o enorme cadilac dele se afastava, eu sentia uma fissura em meu peito, que foi aumentando e aumentando, até que eu quase sufoquei. Eu me sentia tão sozinha, como eu nunca havia me sentido antes.

Tremi apesar do calor que fazia. Eu sentia que, aquele olhar frio dele roubou todo o calor de meu corpo.

Eu corri em direção a meu carro e dei graças que as chaves haviam ficado esquecidas no bolso de minha calça. Só então eu percebi que não sabia onde estava a minha mochila.

Mas nada naquele momento importava. Meu coração doía tanto, que assim que eu sentei em meu carro e fechei as portas, eu senti as primeiras lagrimas saltarem pelos meus olhos. Aquela sensação de desamparo aumentou, e eu senti toda a angustia dos dias anteriores finalmente tomando conta de mim. Os soluços em meu peito aumentaram e eu baixei a cabeça no volante de meu carro.

E chorei. Chorei como eu nunca havia chorado antes, de tristeza, medo e solidão.

Chorei pelas minhas noites insones e por todos os estranhos acontecimentos em minha vida. Pela certeza que estava perdendo a minha sanidade, pelas brigas com Jéssica e pela hostilidade que eu sentia vindo de algumas pessoas.

Chorei por esconder minhas verdades de Danielle, que sempre se mostrou uma ótima amiga. Chorei por Jack e pelo carinho que eu não conseguia corresponder, não da forma que ele merecia.

E finalmente chorei pela frieza de Henry Nichols, pela forma que eu me sentia quando estava com ele, como parecia certo, como mais nada no mundo.

Como sempre, eu havia estragado tudo. De alguma forma, sempre que nos aproximávamos, eu fazia algo que nos afastava.

Danielle apareceu do lado de fora do meu carro, e abriu a porta.

Ela ficou ali me olhando por algum tempo, os olhos enormes e preocupados. Então finalmente ela me empurrou para o banco do carona.

- O que você esta fazendo? – eu perguntei sobressaltada, limpando com as costas das mãos as lagrimas de meu rosto.

- Tirando você daqui. Agora mesmo. – ela entregou a minha mochila, enquanto colocava a sua em seu colo – Eu imaginei que você estava precisando dela .

- Dann, eu não vou agüentar orações sobre folhinhas mortas...

Ela revirou os olhos.

- Confie em mim Nicolle, por favor.

Eu entreguei a chaves de meu carro para ela, que imediatamente as colocou na ignição e acelerou.

Saímos pelos portões do colégio sem olhar para traz e nem avisar ninguém.

Aquele estava sendo o mais longo e negro dos meus dias.

E eu ainda não imaginava o tortuoso caminho que meu futuro preparava

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Amigos

Eu tinha decidido dar um tempo com as postagens enquanto resolvia as questoes legais do livro e os ultimos capitulos, mas ... os posts voltaram .Acredito na força da internet como fonte divulgadora e vou lutar para a publicação do livro. As filhas do vento irão ter o seu lugar nas prateleiras das livrarias, ah irão sim ! Força Jedi positiva !!!!!

Quanto aos recadinhos, eu fico sempre muito, mas muito feliz mesmo. E falando neles, e conversando com algumas leitoras ( eu amo muito fazer isso ! ) fiquei sabendo que muitos dos seguidores da saga tem blogs e até lincaram o blog das Filhas do vento em suas paginas pessoais. Eu adoraria conhece-los , então se quiserem , podem colocar o endereço no mural de recados ou mesmo por e-mail, orkut , twitter ... sintam-se a vontade ! Eu demoro um pouco para responder , mas eu sempre apareço ...

Um beijo enorme a todos e claro, o meu mais feliz obrigado.

Ps : Amanhã playlist atualizada

Gaby

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Surpresa !

Cap. 13 postado ...

O caos.


Beijos e Beijos

Gaby

Cap. 13 - O caos

Eu tive uma noite turbulenta e estranha, cheia de imagens e sons.

Mas ao invés das imagens vividas sempre presentes em minhas noites, eu tive apenas uma grande confusão.

Em algum lugar do tumulto, eu dormi. Um sono pesado, como um desmaio, não um sono recompensador, mas ao menos eu tive as minhas horas de sono.

Eu acho que podia ter algum motivo para começar a ficar um pouco mais animada.

Minha vida voltaria ao normal. Eu seria uma garota completamente normal novamente.

Eu repeti estas palavras em minha mente como se fosse um mantra, enquanto eu via a luz do sol começar a entrar pela fresta da janela de meu quarto. Era hora de ir para a escola.

Pulei da cama em um salto. Tomei um rápido banho e lavei os meus cabelos. Eu ainda tinha tempo de usar um secador e domar as mechas revoltas de meus cabelos. Fiquei indecisa diante do meu guarda roupa. Após uma pilha enorme de roupas estar formada em minha cama – e no chão, e na poltrona – eu escolhi um jeans escuro e uma blusa rosa, de botões, que eu sabia que era muito charmosa e feminina, sem revelar muito. Caprichei na maquiagem embora escolhi apenas tons suaves , joguei a minha mochila por sobre os meus ombros e corri escada abaixo.

Meu pai já havia saído para sua importante reunião de negócios.
Encontrei minha mãe arrumando meu café da manhã na cozinha, pronta também para o trabalho.

Engoli algumas torradas que eu forcei garganta abaixo com um pouco de suco de laranja e após um beijo rapido em minha mãe corri para o meu carro.

E foi só após verificar a velocidade que eu estava forçando o meu carro a andar, que eu percebi que estava ansiosa para ir para a escola. Eu estava literalmente desesperada para chegar ao colégio.

Eu não queria dar o braço a torcer, mas eu queria ver Henry Nichols. Eu me lembrei do breve e suave toque de sua mãe em minha mão e de como seus olhos arderam ao dizer que nos veríamos amanhã. Em algum lugar insano de meu cérebro, eu tinha o pensamento de que ele gostaria de me ver, no mesmo tanto que eu queria vê-lo.

Eu precisava vê-lo.

Em poucos minutos eu já estava estacionando meu carro , e em vez de eu procurar minha vaga escondida nas sombras , no lugar mais longínquo do estacionamento, como eu fazia todos os dias , eu estacionei bem em frente ao portão, perto dos carros poderosos dos reis de West Palm. O grande cadilac de Henry estava estacionado a poucos carros de distancia do meu. Ele também tinha chego cedo ao colégio, pelo local que seu carro estava estacionado.

Meu coração batia mais rapido. Eu apressei o passo, pois eu queria chegar o mais rapido possível em nossa aula de Inglês. Eu o encontraria. Ele estaria lá.

Mas assim que eu dei os primeiros passos dentro do pátio do colégio, eu percebi que algo estava muito errado.

Flâmulas dos Lions estavam sendo esparramadas pelos quatro cantos do colégio, as pressas, eu via varias lideres de torcida agitadas em seu uniforme correndo com cartazes nas mãos. Eu sabia que estávamos em semana de jogo, mas nada daquela cena era comum.

Muitos alunos corriam por todos os lados, eu via seus rostos preocupados e aquele clima de fofoca, o burburinho que corre de boca em boca estampado no semblante de cada aluno que eu encontrava.

Professores e inspetores correndo pelos corredores, com um olhar sombrio e preocupado. Assim como uma confusão de papeis, papeis por todos os lados, espalhados pelo chão, sendo pisados pelas pessoas. Por onde eu olhava havia confusão e tumulto.

O caos havia se instalado pelos corredores do West Palm Kings High.

Foi quando em estava começando a sentir uma onda de pânico na boca de meu estômago, um toque amigo puxou meu braço de repente, fazendo eu virar rapidamente em sua direção.

Era Jack que segurava meu braço, acompanhado por Danielle e Patrícia, todos com aquele olhar assustado que eu via no rosto de cada aluno.

- Oh Niki, que bom que encontramos você – a voz ansiosa de Jack me dizia.

Espera aí, Niki?

- O que esta acontecendo aqui? – eu exigi sem comentar o meu aparente novo apelido.

Foi Patrícia que respondeu a pele bonita e morena corada de excitação.

- Um atentado terrorista em West Palm Beach, Nicolle, e isso que você esta vendo.

Danielle revirou os olhos,

- Invadiram o colégio esta noite Nicolle – Dann respondeu – arrombaram a diretoria, quebraram computadores, roubaram arquivos de alunos, as salas de aulas especiais estão um verdadeiro terror. Eu acabei de ver a Sra. Charlotte desesperada.

- Foi um assalto? – eu tentei argumentar, ainda confusa.

- Não levaram nada de valor – garantiu Jack – apenas deixaram um rastro de bagunça e destruição, as fichas dos alunos perdidas. Quem arrombou o colégio deveria estar procurando algum tipo de informação. E o alarme nem tocou. Descobriram o que tinha acontecido esta manhã, um pouco antes dos primeiros alunos começarem a chegar.

- Mas eu sempre pensei que a escola era segura. Todos dizem que é a mais segura de toda Palm Beach.

- E é – afirmou Danielle, me puxando pelo braço e falando baixinho – Não há sinal do arrombamento. Parece simplesmente que um tornado entrou no colégio e causou tudo isso. Como se tivesse sido causado por um furacão, entende? Só que sem destruir nenhuma estrutura ou causar destelhamento, apenas esta bagunça.

Eu ri. Claro que ela tinha que me dar alguma explicação absurda.

Foi então que eu percebi que os papeis que pisávamos eram fichas de alunos, e provas e muitos documentos da diretoria. Alguns alunos corriam. Outros estavam fazendo guerra de papel uns com os outros, e eu juro que vi uma briga se formando perto dos banheiros, pois liam informações em voz alta de algumas fichas que encontravam.

Lideres de torcida e alguns caras do time de futebol também corriam em direção ao ginásio, frenéticos e carregados de coisas em suas mãos, como caixas e trouxas de roupas. Eu procurei por algum sinal de Henry Nichols, mas eu não o via em qualquer lugar.

Mas era impossível encontrar alguém realmente. Tudo era caos e confusão. Caos por todos os lados, até aonde eu conseguia enxergar.

Vários inspetores e seguranças do colégio corriam também, tentando acalmar a confusão, e em algum lugar eu ouvia a sirene de uma patrulha de polícia.

Um barulho estridente chamou a nossa atenção. Alguém tentava sintonizar o sistema de auto falantes da radio do colégio, que era comandada por um aluno do terceiro ano. A voz da Srta Tricia soou aguda pelas caixas de som.

“- Por favor, todos os alunos devem se dirigir agora para o refeitório até segunda ordem. Qualquer desobediência será punida com suspensão imediata e sumaria.”

Jack sorriu e me segurou pelo outro braço.

- Agora sim, a confusão esta armada. A Srta Tricia esta com medo de ver sua cabeça rolando.

Eu olhei para ele e pisquei. Eu estava perdendo alguma coisa ali .

- Por que você diz isso Jack? – eu perguntei

- Nicolle, a ultra segura Kings of West Palm Beach High foi invadida. Filhos dos mais importantes empresários e milionários do condado estudam aqui. Fichas foram roubadas e espalhadas, e você sabe o que há nestas fichas. Os segredos acadêmicos e familiares, horários, telefones, endereços, tudo. Informações valiosas. Imagina, se algum aluno for seqüestrado, ou alguma família roubada depois deste incidente. Cabeças rolarão, com certeza, se é que já não estão rolando.

Sim, ele tinha razão. Seria mais que o caos. Seria o próprio armagedom para a direção do colégio. Era obvio o clima de stress e tensão que eles estavam transmitindo para todos nós.

Corremos em direção ao refeitório do colégio, entupido de alunos por todos os lados.

Encontramos com o resto da turma nos esperando em uma mesa próximo das maquinas de refrigerante – disputadíssima por outros garotos. Foi Julliet quem acenou para a nós nos aproximarmos.

Michel puxou Patrícia para o seu lado e deu um longo beijo em seus lábios. Percebi que eu não fui a única que os olhou com um olhar um pouco invejoso. Acho que o stress produz aquele tipo de efeito nas pessoas, o desejo de ter alguém com quem se consolar e se aninhar.

Mas não era apenas um pouco de inveja por aquela cena doce que eu sentia. Eu sentia um aperto na boca do estômago e um frio percorrendo em minha espinha. Eu tinha um pressentimento estranho, que não era causado apenas pela situação caótica ao meu redor. Pelo canto de meus olhos, percebi que Dann estava um pouco pálida e visivelmente nervosa, o que serviu para aumentar o meu stress pessoal. Eu afundei em minha cadeira e avaliei o ambiente.

O refeitório estava lotado, não apenas por alunos, professores e inspetores, mas sim por uma equipe munida de comunicadores – daqueles que vemos em filmes, um microfone minúsculo e um ponto de escuta no ouvido, muito high tech – patrulhando os alunos e agindo como se esperassem um ataque a qualquer momento, postura rígida e olhos atentos.

O rádio do colégio voltou a ser acionado, e novamente ouvimos a voz da Srta Tricia.

“– Senhores alunos, estamos servindo um café da manhã especial para todos os presentes no refeitório. As maquinas de refrigerante, sucos e chás estão liberadas. Contamos com a tranqüilidade de todos os alunos presentes e salientamos que , o corpo docente e inspetores presentes , assim como os seguranças tem a autonomia para controlar qualquer situação de crises.”


- Resumindo, nada de brigas e não sejam engraçadinhos – Michel deu de ombros.

A voz da Srta Tricia continuou:

“Após o café da manhã, no ginásio de esportes, convidamos a todos os alunos para um evento especial. Apresentaremos o nosso amado time, os Lions, com seu novo uniforme, confeccionado pela equipe campeã do concurso de modelagem fashion e uma apresentação especial de nossa maravilhosa equipe de chee leaders.. Seguranças e inspetores os conduzirão ao ginásio A presença de todos os alunos é obrigatória. Um bom apetite a todos. “

Hellen e Patrícia de repente pareciam desoladas.

- Isso não é justo, não é justo – choramingou Patrícia, escondendo ainda mais seu rosto no peito de Michel. Hellen segurava a sua outra mão, seus lábios espremidos em uma fina linha tensa.

- O que não é justo Pat? – eu perguntei – o que aconteceu?

- Essa loucura toda serviu para que escolhessem os vencedores do concurso. – Pat fundou limpando os olhos molhados com as mangas de sua blusa – Eu e Hellen trabalhamos por muitas noites em nosso projeto.

Hellen tinha um olhar de raiva em seus olhos.

- E eu tenho certeza quem são as vencedoras. A equipe de Jessica e a corja de bronzeadas, como diria Nicolle.

- Eu vi as bronzeadas correndo por todos os lados, cheias de coisas nas mãos, assim como alguns jogadores do time. – eu confirmei - Mas nenhum sinal de Jessica.

Assim como nenhum sinal de Henry Nichols, mas isso eu não podia dizer em voz alta.

Ainda mais com Jack sentado do meu lado, me estendendo uma bandeja cheia lanches, refrigerantes e muitas rosquinhas de chocolate que ele havia ido buscar, gentil como sempre.

Eu não sentia a menor vontade de comer, mas minha boca estava seca e um chocolate seria bom para meus nervos. Abri um refrigerante e mordisquei uma rosquinha

- Eles estão fazendo tudo isso para abafar a situação, não é? – eu arrisquei – lanche especial enquanto nos prendem na lanchonete e apresentação do uniforme do time de futebol. Nada de aulas, já que ninguém nos mandou para as salas. Estão tentando nos distrair. Por que não nos mandam simplesmente para casa?

- Você tem razão Nicolle – Juliet garantiu com um sussurro – estão tentando nos distrair. Eles farão qualquer coisa para abafar este caso.

- Os pais devem estar loucos – confirmou Paul, que raramente falava alguma coisa – olhem em volta, todos os celulares estão tocando, se eles não agirem desta forma, a situação se transformará em histeria.

Eu olhei para os lados e percebi que eles tinham razão. Todos falavam nos celulares e até os seguranças ficavam se comunicando sem parar naqueles microfones fininhos. Eu não via mais nenhuma briga, mas era visível a tensão, por todos os lados, tão densa que poderia ser cortada com uma faca.

Então o celular de Danielle tocou, e o de Paul, Jack , Hellen , Patrícia , Michel , Hellen e Juliet , todos ao mesmo tempo , fazendo com que eu desse um pulo na cadeira.

Olhando para o visor, Danielle exclamou visivelmente perturbada, enquanto atendia seu telefone.

- A histeria já começou. Oi mãe!

Meu celular também vibrou em minha bolsa, e eu me apressei para atender. Eu não precisei olhar no visor para saber quem era. Eu logo ouvi a voz nervosa de minha mãe do outro lado da linha.

- Nicolle, Nicolle o que esta acontecendo aí. Invadiram o colégio?

- Sim mãe, mas foi durante a madrugada e parece que não roubaram nada. Apenas esta tudo meio confuso e bagunçado, mas esta tudo bem.

- Como algo confuso e bagunçado pode estar bem? – ela perguntou impaciente.

- Mãe, tem tantos seguranças e inspetores aqui que parece que estamos em um treinamento da Swat. Estamos no refeitório, reunidos e seguros, não se preocupe. Deve ter sido algum vândalo que invadiu o colégio a noite e causou uma confusão, mas estamos todos seguros , fique tranqüila.

- Estão dizendo que a escola foi invadida e havia alunos reféns. Você tem certeza que não esta acontecendo nada?

- Reféns? – eu ri com a velocidade que as fofocas e boatos absurdos se alastravam – Não mãe, não esta acontecendo nada disso. É sério, apenas um pouco de bagunça, não há motivo para pânico.

- Se você quiser eu vou te buscar em minutos filha.

- Mãe eu estou de carro. – eu fiz questão de lembrar.

O que deixou minha mãe mais nervosa pelo tom agudo que ela me respondeu.

- Você entendeu garotinha. Eu vou te buscar.

- Mãe, mãe, não é necessário. Eles não nos dispensaram justamente para não causar pânico. Estou no refeitório com Dann e o resto da turma, e para você ficar mais tranqüila, todo o colégio esta aqui guardado com inspetores e professores, Após teremos uma apresentação do time de futebol no ginásio, esta tudo tranqüilo.

Eu ouvi minha mãe suspirar pesadamente, de alivio.

- Ok. Fico mais tranqüila então. Mas a qualquer sinal de algo errado...

- Eu ligo, fique tranqüila mãe.

- Ok. Amo você pequena.

- Eu também. Um beijo mãe.

Eu olhei para o resto de minha turma, e todos pareciam incrédulos. .

- Minha mãe ouviu o boato que estávamos sendo mantidos reféns – eu ri.

- Todos nós ouvimos isso – garantiu Jack – os boatos, verdadeiros ou falsos se espalham com rapidez por aqui.

Foi então que Paul nos mostrou algo em seu celular – que era enorme e parecia um pequeno computador, em vez de um simples telefone.

- Atualizaram a pagina do colégio na internet. Estão afirmando que esta tudo bem e que houve apenas um leve incidente nos arquivos, mas que a empresa de segurança já estava tomando conta de tudo e que todos os alunos estão seguros, aproveitando uma manhã especial, com café da manhã e em seguida apresentações de musica, dança e da equipe de futebol no ginásio.

- Uau – eu exclamei – as coisas são rápidas por aqui.

- Bem vinda a corte dos reis da Florida, Nicolle – ironizou Michel

Eu tomei mais um longo gole de refrigerante. Eu olhei para o lado, tentando contatar Dann sem chamar a atenção de nossos outros colegas. O que não foi preciso, pois ela já olhava discretamente em minha direção, fingindo interesse no vai e vem dos seguranças e no burburinho do refeitório lotado.

- Eu não estou com um bom pressentimento. – eu disse a ela baixinho.

- Nem eu Nicolle, nem eu. – ela assentiu em um sussurro.

- O que as duas estão cochichando? – uma voz aguda berrou bem atrás de nós – A vadia veterana já esta ensinando à novata como se meter aonde não deve?

Todos olhamos para trás, levando um tremendo susto.

Jessica Smith estava nos encarando, cercada por três de suas amigas bronzeadas e metidas, todas com cara de poucos amigos.

Eu olhei para ela incrédula. Ela estava olhando fixamente para mim.

- Você não percebeu que eu estou falando com você, sua vadia nojenta, ou você esta procurando mais alguém aqui? Se você esta procurando o meu namorado, ele não esta aqui.

Aquilo despertou uma fúria violenta dentro de mim. Em segundos em estava de pé, encarando-a frente a frente. Não tinha como eu odiar alguém mais profundamente do que eu odiava Jessica.

- Você esta falando com quem, Jessica? – eu perguntei de dentes cerrados.

-Com você, Nicolle Crystal. Com qual outra vadia eu posso estar falando? – ela disse com um sorrisinho irônico nos lábios, a voz irritante subindo mais decibéis do que deveria ser permitido – a sua amiga esquisita já aprendeu com quem não se deve mexer por aqui. É hora de você ter a mesma lição, novata.

Todos do refeitório pararam imediatamente para ver a nossa discussão. Eu sabia que era questão de segundos até um professor ou segurança se aproximar para nos separar. Eu tinha que tentar manter a calma, eu sabia disso, pois eu era nova ali, qualquer atitude poderia me prejudicar. Mas a raiva que eu sentia de Jessica estava me sufocando, fazendo o ar fugir de meus pulmões e meu sangue pular como água fervendo em minhas veias. Eu me sentia quente, muito quente, como se fosse explodir. Eu via minhas amigas ao meu lado, Danielle vermelha e murcha com os comentários de Jessica, mas mesmo assim ela ainda a enfrentava de frente.

- Ok Jéssica – eu disse tentando controlar a minha voz – que você é louca, eu não demorei muito tempo para perceber, todos sabem que oxigenada em excesso um dia provoca loucura mesmo. Agora diga, do que você esta falando.

- Ah, você não sabe realmente? Então você esteve perseguindo Henry o final de semana todo e você não sabe do que eu estou falando?

Opa. Claro que Henry tinha que estar envolvido naquela história.

- Eu ainda não sei do que você esta falando – eu repeti – eu não estive perseguindo ninguém durante o final de semana.

- Oh não? Você quer dizer que não se encontrou com ele na praia no sábado de manhã? Os avós de Aisha viram tudo e ela contou para mim. Não é Aisha? – ela apontou para outra loira muito maquiada, que eu sabia que era amiga dela. Ela fez cara feia ao olhar para mim.

- Meus avós andam naquela praia todas as manhãs – a tal Aisha garantiu – e eles viram Henry e uma garota que tinha a sua descrição Nicolle. Fora de moda e fora de forma.

Eu queria socar a tal Aisha pelo comentário, mas eu tentei me controlar. Então eu me lembrei, do casal de velhinhos fofos que estavam andando na praia sábado pela manhã enquanto eu estava com Henry. Eles não deveriam ser tão fofos afinal.

- Eu não sei de onde você vem , escória – Jéssica continuou gritando, ficando cada vez mais próxima a mim – mas por aqui, garotas galinhas não são bem vistas.

Foi Hellen que desta vez gritou.

- E o que você é , Jéssica, já que ficou com metade do time de futebol do colégio? Isso em contar com a equipe de handebol, com os lutadores de luta romana...

Instintivamente eu olhei para Jack, que havia ficado vermelho e alarmado com a revelação de Hellen. Eu sabia que aquele não era um assunto que ele gostava de falar, e instintivamente ele se levantou. Paul e Michel o afastaram um pouco, avaliando se eles deveriam se meter ou não em uma briga de garotas.

Oh, aquilo ia ficar muito, muito feio. Mas ao olhar para o olhar curioso dos meus amigos e do olhar surpreso de Jack eu precisava me explicar.

- Escuta aqui Jessica, eu não me encontrei as escondidas com o seu namorado e eu não o estava perseguindo. Se você não sabe, aquela praia fica próxima da minha casa e nos encontramos por acaso. Trocamos uma ou duas palavras, nada aconteceu. Larga de ser idiota. Estamos fazendo papel de idiotas em frente ao colégio inteiro.

- Ah, nada aconteceu? Somente o fato de que você esta se jogando pra cima dele.

Oh meu Deus! Eu queria socá-la, eu queria tanto socá-la.

A escola inteira estava olhando pra mim. Eu seria conhecida como a novata que se jogava pra cima do cara mais popular do colégio, como uma perdedora. Oh, eu era realmente uma perdedora por estar me metendo em uma história dessas.

- Jéssica – eu tentei pela enésima vez – eu já disse que não tem nada acontecendo entre eu e Henry. Eu não estou dando em cima dele, pare de ser ridícula .

- Oh não – ela ironizou – então o encontro no Shopping foi casual também?

- Encontro no shopping? – eu escutei Jack murmurar.

- Sim, encontro no shopping, e desta vez foi o irmãozinho dele que me contou, todo animado, quando eu liguei para Henry ontem à noite e educadamente perguntei sobre o dia do garoto. O garoto estava todo feliz, por ter encontrado Danielle e a bonita amiga dela que estava conversando com seu irmão. Claro que o garoto tem péssimo gosto. - então ela deu um olhar gélido para Danielle – E você, Danielle, não ficou contente com a sua primeira tentativa de se infiltrar em nosso meio e agora esta tentando por meio de um garotinho de dez anos. Podofilia é crime, você não sabia?

Ela havia passado dos limites. Eu praticamente voei pra cima de Jessica, precisando que Danielle e Hellen me segurassem.

- Pedofilia, sua burra – eu gritei - pelo menos saiba falar se quer insultar alguém. E eu estava no shopping com Danielle e minha mãe, a minha mãe! Você quer dizer que minha mãe esta atrás de Henry Nichols também?

- Talvez – ela disse – vindo de você nada me surpreende.

Eu tentei me desvencilhar das mãos de minhas amigas, eu queria socar aquela louca.

De repente as amigas de Jessica também estavam indo para cima de nós e agora eu sabia que era melhor algum segurança realmente interferir, ou aquilo iria virar uma tragédia adolescente. Eu iria arrancar todos os fios daquele cabelo louro tingido de Jessica.

- Jéssica, eu já disse, eu não estou atrás de seu namorado, eu não quero nada com ele, eu não tenho culpa se você tem baixa auto-estima! Procure um psiquiatra e nos deixe em paz,

- Vadia – ela gritava – você é uma vadia Nicolle Crystal.

- Ela tem namorado – eu ouvi a voz suave de Juliet tentando se destacar das demais pela primeira vez – ela tem um namorado em Seattle. Parem com isso!

- Ah, um namorado?Aposto que sim, e aposto que você corria atrás de outros garotos enquanto estava com ele. – Jessica ainda gritava. – Eu vou ensinar você a ficar longe do namorado das outras.

- Então vai ter que passar por cima de todas nós. – Patrícia gritou.

Jack se colocou na nossa frente, tentando nos separar. Enquanto Michel e Paul tentavam acalmar as outras garotas. Todas elas pareciam prontas para a briga.

- Você esta atrás desse aí também Nicolle? – ela apontou para Jack - Quantos afinal você quer? – Jessica ainda gritava a plenos pulmões.

- Chega. Chega! – eu gritei – Pare com isso. Sim eu tenho um namorado e eu o amo. – eu não queria pensar nas conseqüências das mentiras que eu estava dizendo – Eu não quero nada com Henry Nichols, eu não estou interessada em Henry Nichols. Você ouviu Jéssica? Eu não quero nada com Henry Nichols!

- Se ela não ouviu, eu aposto que a escola toda ouviu que você não quer nada comigo. – uma voz familiar e fria como gelo falou bem atrás de mim – O que esta acontecendo aqui?

Eu tive medo de olhar para trás. Oh, aquilo havia se transformado em um circo. Um patético e triste circo, no qual eu era uma das personagens principais. Eu olhei para meus amigos, um por um, chocada por ver suas feições, a raiva transparecendo em cada uma delas. Eu os havia colocado naquela situação ridícula.

Mas foi a foz gélida de Henry Nichols que partiu o que restava de minha dignidade. Eu havia sido vencida. Eu queria chorar. Ou vomitar. Ou ambos ao mesmo tempo.

Eu olhei lentamente para trás, e sim, ele estava ali , parado como uma estatua , seus olhos azuis duros, claros e frios como gelo. Ele estava acompanhado de Trevor e outros de seus amigos jogadores além de outros dois seguranças.

Oh, agora os seguranças haviam aparecido. Quando eu já havia desempenhado o papel mais ridículo de toda a minha vida.

- Vamos, o que esta acontecendo aqui? – ele perguntou novamente – Alguém pode me dizer o que esta acontecendo aqui?

Foi Jack que respondeu.

- O que esta acontecendo aqui é que você deveria controlar mais a louca da sua namorada Nichols. Ou ela acha que pode sair ofendendo todos a sua volta, como a louca e esnobe que ela é?

- Perdedor – Jéssica gritou para Jack– você é um perdedor.

Henry suspirou pesadamente. Nossos olhos se encontraram por um breve momento e ele jogou toda a intensidade de seus olhos sobre mim. Estavam frios, pesados, confusos e havia outra coisa também, outra coisa que fazia eu me sentir pequena. Ele parecia magoado e cansado. A força daquele olhar doeu em meu coração e eu senti lagrimas brotando de meus olhos e escorrendo pelo meu rosto.

- O que houve desta vez Jéssica? – ele olhou enfurecido para ela, desviando seus olhos dos meus – Eu encontro você metida em uma confusão com Nicolle Crystal e seus amigos, duas vezes em pouco mais de uma semana. Isso porque a garota é nova no colégio. Me diga de uma vez por todas o que aconteceu aqui.

- Briga de mulheres cara, isso que estava acontecendo aqui – Trevor respondeu com uma risada gutural – Sexy, muito sexy cara. Você deveria ter deixado elas se pegarem Henry.

Henry o ignorou. Jessica ficou muda de repente, assim como todos nós. Era impossível ignorar a força que Henry transmitia.

- Nada? – ele perguntou – Ninguém vai me falar nada?

Danielle se postou bem na minha frente. Novamente.

- Jack tem razão Henry – Dann disse, a voz baixa e firme – Jessica precisa ser controlada . Ela veio tirar satisfações com Nicolle. Ela garante que ela esta dando em cima de você e que vocês estão se encontrando ás escondidas. Ela citou um encontro na praia e ontem no shopping. Eu estava junto dela e de sua mãe, Henry, você bem sabe, e o encontro de vocês no CityPlace foi casual. Agora esta louca veio com quatro pedras na mão acusando Nicolle de tentar roubar você dela.

- Eu tenho que garantir o que é meu – a voz esganiçada de Jessica gritou novamente – eu não vou permitir que esta vadia venha roubar o que é meu!

- E o que é seu Jéssica? – Henry cortou friamente, visivelmente irritado – Desde quando eu sou a sua propriedade? Desde quando você tem o direito de agir comigo como uma namorada ciumenta?

- Henry, por favor – ela pediu visivelmente humilhada com suas palavras, alisando nervosa a saia de seu uniforme vermelho e branco de líder de torcida.

- Você quer conversar sobre relacionamentos, é isso Jéssica? – ele falou novamente, com a voz fria - Na frente de todo o colégio? É isso realmente que você quer?

- Não Henry, por favor - ela murmurou o tom de voz baixo e finalmente controlado.

Ela estava visivelmente subjugada por alguma coisa que Henry estava deixando claro nas entrelinhas.

Algo que eu não entendia. Assim como toda a escola, era possível ouvir a respiração dos alunos, de tão quietos que eles estavam, todos de olho na cena que se desenrolava. Eu senti Jack segurar o meu braço e me puxar em sua direção, em um gesto protetor. Percebi que os olhos de Henry novamente me olharam, e de mim para Jack, os olhos cada vez mais duros, o maxilar travado.

- Peço desculpas, Srta Crystal – ele disse educadamente, mas ainda assim frio – assim como eu peço a seus amigos por te-los colocado em uma situação tão ridícula. Já ficou bem claro aqui, que eu e a Srta Crystal não temos nada um com o outro, somente temos em comum um trabalho nas aulas de literatura da Sra. Charlotte. Também ficou claro que a Srta Crystal tem um namorado e que também não tem nenhum interesse por mim. – então os olhos dele se estreitaram em direção a Jack – e eu acho que, se ela tivesse algum interesse por outro cara do colégio, com certeza não seria eu o seu eleito. Agora creio que já encerramos esta questão e eu espero que isso realmente se encerre por aqui.

Eu vi um dos inspetores finalmente se aproximando de nós.

- Algum problema, Sr. Nichols? – o inspetor, um cara alto e moreno que eu já havia visto pelos corredores perguntou.

- Nenhum problema, Sr. Palmer – Henry garantiu muito formal – Isso já foi resolvido. Eu terminarei minha conversa com Jessica Smith em outra hora.

Ele virou as costas e caminhou em direção a porta do refeitório, seguido pelos seguranças, Trevor e os caras do time de futebol.

Jessica saiu pelo outro lado, com as suas amigas cheeleaders, visivelmente humilhada.

Eu fiquei ali, parada, com toda a escola olhando para mim. Então de repente todos tinham mais coisas para fazer e resolveram cuidar de seus próprios assuntos, em suas mesas.

Eu me sentia péssima, humilhada, triste, como se toda a energia de meu corpo houvesse sido drenada pela briga com Jessica.

Mas o pior era o olhar frio de Henry Nichols. Aquilo me machucava mais que qualquer discussão, que qualquer palavra que ela poderia ter dito.

Deixei que Jack e meus amigos me levassem de volta a minha cadeira e aceitei o refrigerante que Danielle estendia em minha direção. Minha garganta estava seca

- Você esta bem? – Dann perguntou suavemente.

- Apenas cansada. Essa briga toda foi ridícula. Desculpas ter envolvido todos vocês.

- Nah – respondeu Patrícia – mexeu com um, mexeu com todos, huh? Nos não temos segredos um com o outro e muito menos deixamos algum de nossos amigos na mão. Nunca.

Foi então que lembrei a revelação de Juliet sobre meu suposto namorado, deixado para trás em Seattle. Sim, eles realmente não guardavam segredos um dos outros naquela turma.

Minha cabeça girava, assim como meu estômago doía.

- Eu ainda não entendo de onde começou essa loucura da Jessica contra a Nicolle. Nicolle e Henry Nichols ! – comentou Hellen, se ajeitando no seu apertado casaquinho preto – ela veio pra cima de você como uma leoa.

- Mas vocês viram a reação do Nichols? Ele foi tão frio com a Jessica... Algo de estranho acontece neste relacionamento.

- Concordo Pat – Hellen se levantou, indo buscar mais um chá gelado – Algo de podre esta acontecendo na encantada corte dos reis de West Palm. E o Nichols parecia quase ofendido com os gritos de Nicolle a plenos pulmões de que não sentia o menor interesse por ele.

Eu queria tanto que eles parassem com aquela conversa. Eu dei um olhar suplicante para Danielle.

- E não tem mesmo? – de repente Jack perguntou meio hesitante – Não tem mesmo nenhum interesse por Henry Nichols? Vocês se encontraram no final de semana Nicolle?

- Oh, por favor, deixe ela em paz Jack – pediu Danielle.

Eu olhei ao meu redor e percebi o olhar meio suplicante de Jack e o olhar ansioso de meu amigos. Eu precisava terminar aquela situação.

- Não Jack – eu disse com a voz cansada – Nenhum interesse e nenhum encontro. Quer dizer, acabamos nos encontrando por acaso na praia e no shopping, mas não foi nada. Foi um acaso e praticamente jogamos uma ou duas palavras fora, a maior parte sobre nosso trabalho de literatura.

- Eu não sabia que vocês eram parceiros nas aulas da Sra. Charlotte...

- Jack, pare, por favor – cortou impaciente Danielle – deixe ela um pouco em paz. Ela já disse que não tem nada com o Henry. A Jessica é louca, ela me acusou de pedófila porque eu sempre fui gentil com o irmão mais novo do Henry, imagina só. Ela esta obcecada por ele, pelo nome da família dele, por tudo que se refira a ele. Deixem Nicolle fora desta loucura que é a mente de Jessica Smith.

Todos imediatamente ficaram quietos e eu afundei ainda mais na minha cadeira. Eu ainda sentia meu corpo pegando fogo, de raiva e stress, mas eu tremia. Eu me encolhi em minha jaqueta jeans, e passei as mãos pelos meus cabelos.

Eu queria ir para a minha casa.

A voz da Sra. Tricia mais uma vez irrompeu o refeitório pelo alto falante. Quantas vezes ela ainda falaria naquela manhã?

“– Senhores alunos, por favor, se dirigiam ao ginásio de esportes pela entrada principal e estacionamento. Os seguranças indicarão o melhor caminho e os escoltarão. A presença de todos é obrigatória e teremos monitores e seguranças por todo o colégio para garantir que nenhum aluno falte ao evento”.

Todos nos levantamos imediatamente.

- Sua mãe tinha razão Nicolle – garantiu Michel, enquanto passava os braços pela cintura de Pat.

- Com o que Michel? – eu perguntei apesar de querer ficar calada.

- Estamos realmente sendo mantidos reféns.

Eu deixei Jack apoiar sua mão por baixo do meu braço. Ele deixou a mão aí, mas naquele momento, o que importava?Ele se abaixou e falou bem baixinho no meu ouvido.

- Desculpas – ele disse – eu não tinha o direito de ter perguntado aquilo para você, não neste momento. Eu acho que surtei um pouco e eu não tinha direito.

- Esta tudo bem Jack – eu afirmei, cansada demais para qualquer outra afirmação.

Seguimos direto pelo estacionamento até chegarmos ao ginásio. Eu olhei para o céu e percebi que ele estava ficando cada vez mais pesado, apesar do sol brilhar com intensidade no céu. Mas eu sentia uma brisa gelada se formando, assim como o vento que ficava mais úmido, muito mais que a costumeira brisa que sempre vinha do mar. Eu podia sentir o cheiro de chuva ao longe.

Mas o que mais me incomodou foi os olhares furtivos ou diretos da maioria dos alunos que passavam por nós. Alguns olhares de apoio, alguns olhares de aprovação e incentivo, outros de reprovação, outros de fofoca. Eu via umas garotas cochichando e olhando em minha direção. Uma delas – ruiva magra e bonita – olhou em minha direção com ferocidade. Eu guardei aquela informação para analise posterior, assim que eu pudesse perguntar para Danielle, quem era aquela garota que me olhava daquele modo.

Na entrada do ginásio, passamos por detector de metais. Sim, daqueles moveis que sempre tem nas entradas de shows, bem ali, na entrada do ginásio. Havia seguranças homens e mulheres, todos munidos com detectores de metal Eu passei por aquilo sem reclamar. Eu já havia passado por coisas piores hoje.

- Eles já estão exagerando, não é? – eu perguntei.

Jack aparentemente não estava tão tranqüilo com isso como eu estava.

- Logo eles estarão chamando os alunos bolsistas para novas entrevistas. Sempre é mais fácil procurar os culpados junto as classes menos favorecidas.

Foi então que eu me lembrei, Jack era bolsista, assim como Helen. Ele tiinha mais privilégios que os demais já que era campeão de luta romana, mas a maioria ainda esta vista como pária pelos reis do colégio. Alguns alunos, como eu, Michel e Paul, tinham suas mensalidades pagas como parte do plano de benefícios das empresas que seus pais trabalhavam. Isso não era tão ruim. Queria dizer, na linguagem dos reis do colégio, que nossos pais eram valiosos para as empresas que trabalhavam.

Eu franzi o cenho. Aquilo tudo era tão absurdamente esnobe.

Assim que entramos, percebemos a mudança que havia sido feita no colégio em pouco mais de uma ou duas horas. O ginásio estava as escuras, e o anfiteatro que fazia parte do complexo, tinha tido as suas portas aberta, o grande palco iluminado por tochas.

Sim, tochas , muitas tochas. Tochas em um colégio cheio de adolescentes? Mas estava bonito, iluminado, e havia seguranças por todos os lados. Quantos haviam sido chamados? Eu contei ao todo quase trinta seguranças.

Sentamos todos juntos, eu entre Danielle e Jack. Em poucos minutos as arquibancadas estavam tomadas por alunos, todos ansiosos pelo que seria apresentado. Aparentemente, o stress da invasão do colégio momentaneamente esquecida.

Um canhão de luz foi projetado para o palco , iluminando a Sra. Tricia , que segurava o microfone , usava um terninho vermelho , perfeitamente maquiada.

- Bom dia queridos alunos – ela disse com a voz animada, parecendo em campanha para o senado e não no ginásio do nosso colégio – É um prazer contar com a presença de todos vocês. Primeiramente, quero garantir que a situação que nos encontramos esta manhã já esta sendo resolvida e sanada, e todos os alunos contarão com a eficaz segurança do Kings of West Palm Beach High. Mas enquanto arrumamos a bagunça que todos viram pela manhã, preparamos um dia especial a todos. Teremos um show dos nossos brilhantes The Leônidas, a banda do terceiro ano que tanto traz brilho para nossa escola. Após, temos o prazer de apresentar o novo uniforme do nosso time campeão , os Lions, designer de Jessica, Aisha e Susan, que todos conhecem como parte das nossas lindas cheeleaders, e que tem muito talento. “

- Nojento – eu murmurei.

- Bom, quero aproveitar para avisá-los também que amanhã não teremos aula, pois instalaremos o novo sistema de câmeras e vigilância por todo o campus do colégio e que as aulas extracurriculares estarão suspensas esta semana, retornando as suas atividades normais na segunda feira que vem. Sexta feira é o jogo do Lions contra a equipe de Laguna, estamos todos ansiosos e torcendo muito por nosso time.

Uma salva de palmas e gritinhos histéricos ressoou pelos quatro cantos do ginásio.

- Aproveitem o dia de folga amanhã com sabedoria e vejo todos na quarta feira. Agora com vocês, The Leônidas.

O canhão de luz que iluminada a Sra. Tricia se apagou completamente, e o palco ficou todo iluminado. Os garotos da banda estavam a postos e um solo de guitarra se sobressaiu acima dos gritos e palmas por todo o ginásio. A quadra foi liberada e todos se aproximaram do palco.

Estávamos no meio de um concerto de rock agora, e a musica embalava a todos. Eles tocavam uma musica do Fall Out Boys, e um dos garotos até estava com cabelo franjinha e olhos pintados, cover perfeito do guitarrista. Eu gostava da banda original e da musica e me deixei levar um pouco. Eu ainda estava tão nervosa.

Hellen, Juliet e Patrícia estavam eufóricas e queriam se aproximar também. Danielle acenou levemente com a cabeça em minha direção. Mas eu não queria ser a estraga prazeres da turma.

- Não, esta tudo bem, vamos sim. Os garotos são bons e tocam bem, assim eu esqueço a briga com Jessica.

- Eu não saio do seu lado, eu prometo – garantiu Jack, todo protetor, causando risadas em nossos amigos.

Saímos juntos, nos apertando em direção ao palco. Não era muito difícil conseguir um pouco de espaço com uma turma de oito pessoas espremendo as outras pessoas Todos dançavam ao som da banda, os corpos se mexendo em um ritmo frenético. Eu não via nenhuma líder de torcida ou algum jogador de futebol por nenhum lugar. Com certeza eles deveriam estar se preparando para as apresentações.

Conforme eu fui chegando perto do palco, fui percebendo que a minha cabeça ia ficando mais pesada, ao mesmo tempo em que meu corpo ia ficando mais quente. O calor era sufocante, fazendo com que eu quase perdesse o ar. Jack segurou a minha mão e eu deixei, pois o entorpecimento ia ficando cada vez mais forte, eu sentia como se qualquer passo em falso eu pudesse perder os meus sentidos.

Eu olhei de leve para a mão de Jack que segurava a minha e não quis pensar o que isso significaria aos olhos das outras pessoas. Ainda mais depois da cena que eu havia causado e a declaração publica de meu suposto namorado.

Meu coração doeu ao lembrar do olhar frio de Henry Nichols após o meu triste espetáculo com Jessica. O que eu havia feito? O que ele pensava de mim?

Meus amigos dançavam, animados com o som da banda, o frenesi das luzes brilhando em nossos olhos. Eles haviam conseguido criar um bonito espetáculo.

Eu tentei olhar para Danielle. Ela estava ao meu lado, os olhos agoniados e perdidos. O que aquela garota estava sentindo agora? Então ela olhou para mim com algo que eu poderia dizer que era puro terror. O que estava acontecendo?

Então a banda anunciou a entrada triunfal das cheeleaders. Elas entraram dançando e rebolando ao som da musica, pompons a postos. Jessica as liderava e eu percebi que ela me olhou com um olhar de nojo e raiva.Nenhuma humilhação publica seria capaz de tirar a pose de Jéssica Smith.E nem o seu ódio declarado por mim.

Assim como a menina ruiva que eu havia visto minutos antes e estava agora a poucos metros de mim, um olhar enraivecido em seu rosto. O que eu havia feito para ela?

A direita eu pude observar os caras altos do time de pólo aquático. Um deles, moreno e muito bonito, piscou para mim e abriu um largo sorriso.

O que estava acontecendo? O que eu estava perdendo? Eu via o olhar de muitas pessoas em minha direção.

Um grande estrondo no palco aconteceu naquele instante. Eram fogos, instalados no palco, e conforme as cheeleaders aumentavam seus movimentos frenéticos, mais tochas eram acesas, muitas tochas, aumentando ainda mais o calor do meu corpo.

Eu arfei.

- O que foi Nicolle – Jack se abaixou para perguntar em meu ouvido, sua voz soando alta e ensurdecedora – Você esta bem?

- Sede... eu estou apenas com sede- eu disse, tentando forçar a minha voz a sair clara.

- Eu vou buscar um refrigerante para você – ele gritou novamente – volto em um minuto.

Ele soltou a minha mãe e saiu tentando abrir passagem pela multidão. Eu me senti sozinha, muito sozinha em apenas alguns instantes.

Eu olhei no palco novamente e o mascote do time, o grande leão, estava ali. Ele havia mudado o uniforme, em vez dos cordões de ouro e roupas modernas, ele usava uma roupa de gladiador romano. Ele jogava um grande escudo para o ar, saudando a multidão excitada de alunos.

Mais uma explosão seguida de uma grande gritaria. Os jogadores do Lions entraram no palco, um a um, com o novo uniforme, um leão estilizado estampado em suas camisas negras, negras como toda a roupa e capacetes.

A massa começou a gritar, uma palavra que eu demorei para compreender, mas ela foi se tornando cada vez mais clara . “Gladiador! Gladiador! Gladiador!” eles gritavam.

A banda tocou mais alto , em tom de suspense , e as cheeleaders abriram espaço no palco. Henry Nichols então entrou, lindo em seu uniforme negro, o capacete pendia em sua mão. Sua expressão era feroz, os olhos frios e o maxilar travado.

Ele não olhou uma vez em minha direção.

Uma chama alaranjada brilhou no canto dos meus olhos. Aquilo era muito melhor que o caos que havia virado o ginásio.
Mas o pior caos era em minha mente. A náusea aumentou, conforme o calor de meu corpo. Minha cabeça doía.

Era bom olhar para as chamas alaranjadas da tocha. Eu instintivamente comecei a me aproximar do palco.

A banda agora tocava uma antiga musica do ACDC, as pessoas dançando e pulando cada vez mais. Papeis caiam do teto, os jogadores de futebol e as cheeleaders animando a platéia enlouquecida. Eu vi Jéssica ao centro , em uma postura superior , como se nada tivesse acontecendo. Ela comandava as suas colegas como se fosse uma rainha.

Eu voltei meus olhos para Henry Nichols. Algo mudou em sua expressão, e eu percebi que ele olhava em minha direção.

Assim como Danielle.

Ela tentou segurar meu braço. O que ela estava fazendo?

Eu precisava ir em direção do palco. As chamas alaranjadas acalmavam o meu coração.

Eu podia sentir o calor do fogo em minhas veias, meu corpo era feito de chamas. Eu precisava chegar mais perto, e mais perto...

Eu estendi as minhas mãos, pois tudo que eu queria era tocar as chamas flamejantes das tochas.

Eu tentava ignorar a minha cabeça que rodava vertiginosamente, meus olhos desfocados, apenas as chamas importavam. Eu estava quase conseguindo tocá-las, elas fariam parte de mim agora.

Apenas mais um pouco... Estava tão difícil as pessoas pulavam e dançavam ...

Eu dei mais um passo pela frente. As chamas tomaram conta completamente da minha visão. Elas dançavam, dançavam um lindo baile alaranjado.

Eu ouvi um grito ao fundo. Uma mão pequena tentava me reter.

Mais um grito, e outro grito...

Mas uma imagem se formou bem diante de meus olhos.

Uma garota, vestida com um lindo vestido de algodão lilás suave, dançava em volta de uma fogueira. Eu sentia a sua alegria e seu poder por todo o redor. Ela olhou diretamente para mim e sorriu.

Ela estendeu a sua mão e então eu olhei diretamente em seus olhos. Eu a conhecia. Era a garota que eu via em meus sonhos. Desta vez eu a vi, pois eu sempre via o que ela sentia pelos meus olhos.

Estendi a minha mão em sua direção, e me aproximei da fogueira, que me enfeitiçava com suas chamas. Em algum lugar eu ouvi novamente gritos, mas distantes, tão distantes.

Algo aconteceu naquele instante. Meus olhos foram tomados pela cor laranja do fogo, calor se espalhando por todos os meus membros. Algo violento como uma explosão me atingiu.

Eu senti algo forte e duro se chocando em meu corpo e me jogando ao chão. Minha cabeça doeu e meus pulmões foram pressionados ao chão por algo pesado.

Oh, aquilo era pior que o próprio inferno. Eu senti a dor se apoderando de meu corpo e eu não conseguia respirar.

E depois, eu me perdi em um mar profundo, aonde apenas a escuridão reinava.

domingo, 9 de agosto de 2009

Olá amigos mais que queridos .

Bom, ainda nada resolvido quanto ao livro, mas cap. 12 postado.

Eu estava morrendo de saudades , eu via todos os recados super fofos ... então resolvi postar mais um cap. o 12.

O que tiver que ser será .

Um beijo enorme em cada coração e muito obrigada pelo apoio. Sei que se essa saga for publicada um dia , a maior dedicatoria é claro que é para vcs , que acompanham por aqui.

Bom, plaulist atualizada e também um vídeo do "inglês meloso " favorito da Nicolle.

Emjoy !



Gaby

Cap. 12 - De volta a realidade

Eu abri os meus olhos e estava novamente deitada, quieta e quentinha no quarto de Danielle. O relógio marcava nove e meia da manhã. Eu havia finalmente dormido uma noite inteira.

Minha mente estava cansada e confusa, mas o meu corpo estava inteiramente relaxado. Nenhum de meus músculos doloridos e nem meus olhos queimavam. Danielle havia conseguido.

Apesar de que, o meu já deteriorado estado mental, havia finalmente sucumbido, disso eu tinha certeza, pois eu havia tido o mais insano de todos os meus sonhos, ou pesadelos.

Ou, eu estava impressionada, na realidade, pelos últimos acontecimentos, pelas convicções de Danielle e por mais algum motivo camuflado.

Quem poderia saber?

Eu levantei da cama tentando fazer o mínimo barulho para não acordar Danielle que dormia agarrada com um livro, pequena e delicada como uma criancinha.

Eu caminhei até o banheiro e lavei o meu rosto, deixando a água gelada correr em abundância pelo meu rosto , tentando livrar qualquer vestígio de confusão ou dúvida que estivessem estampados em minha face. Eu tinha ainda mais coisas na minha cabeça, mas eu já imaginava a reação de Dann se eu lhe contasse o meu estranho sono. Eu estava impressionada com esta história toda de bruxaria, isso sim.

Eu estava caminhando por um caminho perigoso, eu sabia disso, acumulando problemas em ver de tentar solucioná-los. A atitude que eu deveria tomar era tentar agir como uma pessoa normal, não deveria me deixar levar assim.

Sempre fui uma pessoa pratica e racional e assim eu agiria. Era assim que eu havia vivido por toda a minha vida e assim que eu continuaria sendo. Nada de caminhar pelo desconhecido, mesmo eles aparecendo em meu caminho por mais situações que eu gostaria de lembrar.

Assim, eu decidi não contar nada sobre os meus sonhos com Danielle e nem as minhas dúvidas sobre as bruxas que conhecemos.

Sim, eu havia me sentido diferente quando as conheci. E sim, era como se fosse uma força gravitacional que me empurrasse diretamente a elas. O mais estranho, que eu nem ao menos quis pensar naquela tarde, era que , estando ali, eu, Dann e as outras duas garotas , era como se nada daquilo fosse estranho para mim. Eu já as conhecia, eu tinha certeza.

Mas aquele assunto era para posteriores analises. No momento, eu voltaria a ser uma adolescente normal, com problemas normais a serem resolvidos.

Eu buscaria ajuda profissional. Eu procuraria um psiquiatra ou mesmo um psicólogo. Eu faria exercícios antes de dormir, comeria refeições leves. Todas aquelas receitas de revistas de boa forma que eu comprava,mas nunca seguia, iriam me ajudar agora.

De repente eu sorri para o espelho. Aquilo parecia uma lista de promessas de ano novo. Aquelas que sempre ficam escondidas em uma velha agenda ou no fundo da mente. As que nunca seriam cumpridas.

Mas o que estava em jogo ali era a minha sanidade. Eu as cumpriria.

Sai do banheiro resoluta, com a mente mais calma e o coração mais estável. Era ótimo se sentir assim, novamente no controle de minhas emoções.

Danielle se revirava na cama. De repente ela abriu os olhos um pouco assustados e olhou diretamente para mim.

- Oh, eu não acredito – ela disse pesarosa – você não conseguiu dormir, não foi? Oh, eu não acredito. Mas eu estudei muita coisa, se esta tentativa não deu certo, temos outras coisas que podemos tentar...

Eu sentei rapidamente ao seu lado e segurei a suas mãos entre as minhas.

- Deu certo sim – eu garanti, abrindo um largo sorriso para ela – eu dormi a noite toda. Já passa das nove horas da manhã e eu acabei de acordar.

Ela deu um salto da cama e começou a andar de um lado para o outro do quarto, completamente animada com a sua vitória.

- Deu certo, deu certo! Oh, eu tinha fé que daria certo. – então ela virou rapidamente para mim, com o rosto coberto pela expectativa – O que você sonhou? Você teve algum tipo de revelação? Sabem este ritual que fizemos abre a consciência para o oculto. Para a verdade que não queremos ou não podemos enxergar.

“Para a verdade que não queremos ou não podemos enxergar?”

Nada disso Nicolle Crystal. Racional, seja racional.

- Eu não me lembro – eu menti, mantendo o sorriso em meus lábios – eu acho que não sonhei nada. Eu estava tão cansada que dormi como morta Dann.

Ela ficou evidentemente decepcionada. Era terrível ver aquele olhar em Danielle, mas eu não podia me deixar levar.

- Nada mesmo? – ela ainda perguntou.

- Nadinha. Eu desmaiei. E você? Algum sonho com o Orlando Bloom?

Ela deu um sorrisinho tímido, procurando seu chinelo pelo quarto.

- Nenhum. – então ela olhou para mim, evidentemente tentando não dar importância ao fato de eu não ter tido nenhuma revelação enquanto dormia – Você esta com fome? Vamos descer e procurar alguma coisa para comer?

Meu estômago reclamou alto com a lembrança de comida. Ambas rimos e descemos as escadas em direção da cozinha em poucos segundos.

A mãe de Danielle já estava na cozinha, toda vestida de branco e tomando uma grande xícara de café.

- Bom dia garotas – ela disse – já estão de pé?

Dann deu um leve e educado beijo no rosto de sua mãe. Eu abri um largo sorriso em cumprimento. Ela era muito educada, isso não tinha como negar.

- Você vai trabalhar hoje, mãe? – Danielle perguntou fazendo um pequeno muxoxo com os lábios.

- Tenho plantão no hospital hoje, querida. Mas deixei uma grande quantidade de comida na geladeira para vocês duas. Tem waffles de chocolate e se vocês duas resolverem ficar em casa, podem pedir comida, na porta da geladeira tem vários telefones.

- Obrigada mãe – ela respondeu ainda decepcionada – aonde esta o papai?

- Saiu cedo, ele tem um caso em Laguna que era urgente. Ele tinha um café da manhã com alguns clientes e com o promotor publico. Bom, agora meus pacientes me esperam. – ela deu um beijo rápido na bochecha de Dann e depois tocou de leve o meu ombro, sorrindo polidamente para mim – E foi um prazer conhecer você Nicolle. A nossa casa esta de portas abertas, querida.

Depois disso ela saiu. Percebi que os olhos de Danielle estavam um pouco magoados.

- Sua mãe é ótima – eu tentei animá-la.

- Sim, ela é. Meus pais são ótimos mesmo. Pena que eu pouco os vejo. Eles são sempre muito ocupados.

- Hey – eu disse tentando distraí-la – sua mãe disse duas palavrinhas mágicas agora a pouco. Waffles e chocolate. Você não esta com fome?

Em segundos já havíamos comido vários waffles, com cobertura, misturando queijo e qualquer outra coisa que encontramos na geladeira. Tomamos sozinhas mais de um litro de suco de laranja , e quando já estávamos quase passando mal com tanta comida, subimos novamente para o quarto de Danielle, e ficamos jogadas em sua cama , conversando sobre qualquer coisa , menos sobre algum tema ligado a minha estranha fase.

Foi então que ela olhou muito séria para mim, os enormes olhos castanhos brilhando.

- Então, qual foi a sua impressão com as duas jovens bruxas que conhecemos sexta? Você disse que teve uma espécie de dejá vu Nicolle...

Ótimo, tudo que eu queria era fugir realmente deste assunto.

- Eu não sei Dann – eu tentei desconversar – eu não sei. Talvez elas me lembraram alguém , talvez eu já tivesse visto aquele símbolo em alguma garota em Seattle e como sou sua amiga já associei... Não sei dizer se foi ou não um dejá vu, eu te disse como ando confusa com esta história de insônia...

Ela arqueou as sobrancelhas e ficou me olhando muito séria. Ela não estava caindo nessa, eu sabia disso.

- Por que eu tenho a impressão que você não esta falando a verdade para mim, Nicolle?

Claro que ela não acreditou em mim. Como eu tinha esperanças que ela acreditasse ainda em mim?

Eu não sabia muito bem o que dizer. Acho que fiquei ali apenas olhando para ela pateticamente e irritada, pois como aquela garotinha que não sabia quase nada sobre mim poderia ser tão esperta e me conhecer tão bem?

Foi então que um barulho me salvou. Meu celular estava tocando, escondido em minha mochila e eu fui correndo atender.

Era da minha casa. Atendi imediatamente, ficando feliz ao ouvir o som da voz de minha mãe.

- Olá garotinha – ela disse.

- Oi mãe!

- Como foi ontem a noite? E como esta na casa de Danielle?

- Correu tudo bem – eu garanti – acabamos de nos entupir de Waffles e chocolate.

- Ótimo. Liguei para saber se você e Danielle querem passar a tarde no shopping. Podemos almoçar por lá mesmo. Fazer umas compras ou até pegar um cinema. O que vocês acham ?

Eu olhei para Danielle e abri um sorriso amigável.

- Minha mãe quer saber se queremos passar a tarde com ela no shopping. Almoçamos por lá.

Danielle ficou toda animada, quase esquecendo nossa conversa anterior.

- Claro. Eu vou adorar.

- Tudo certo mãe. Mas e o papai?

- Enfurnado de trabalho até o pescoço. Parece que ele foi promovido, e amanhã vai ter uma reunião com o novo cliente. Alguém bem poderoso. Bom, passo para buscar vocês em menos de uma hora. Estejam prontas.

- Mãe, vou passar o endereço...

- Não precisa – ela cortou – Qual rua de West Palm eu já não conheço?

Eu percebi que Danielle me olhava com mais curiosidade ainda.

- Sua mãe é simpática – ela disse – foi gentil da parte dela me convidar também.

- Esta é Caroline Crystal. Minhas amigas de Seattle a adoravam, ela é jovem demais para ser mãe de uma adolescente, mas é impossível não confiar ou não gostar dela. E agora vamos nos arrumar, pois se eu bem conheço a senhora super corretora de imóveis, vai chegar antes do previsto.

E assim foi. Em menos de quarenta minutos minha mãe já buzinava impaciente na porta da casa de Danielle. Ela usava uma calça jeans e uma blusa de algodão azul claro, e apesar de discreta, parecia mais como uma irmã mais velha do que a mãe de uma adolescente de dezessete anos. Eu sorri. Aquilo não me incomodava, era a minha mãe em seu estado mais simples. Jovem e amorosa.

Ela cumprimentou Danielle com um beijo na bochecha. Percebi que ela ficou feliz com a demonstração de afeto e aceitação de minha mãe.

- Obrigada pelo convite, Sra. Crystal – disse Dann toda animada se acomodando no banco traseiro do carro de minha mãe.

- Não, obrigada você Danielle, e pode me chamar de Carol, nada de formalidades, por favor. E fiquei feliz em saber que Nicolle já fez boas amigas no colégio. – ela deu uma piscadela cúmplice para mim – Eu já estava preocupada com a adaptação de minha garotinha na Flórida

- Mãe! – eu tentei protestar.

- O quê? O quê eu falei demais? Bom, vamos ao shopping que vocês foram outro dia. Fiquei sabendo que é muito bonito.

Então ela ligou o rádio em uma rádio que tocava aquelas musicas dos anos noventa, que ela tanto adorava. Claro que os pais nunca percebem quando deixam seus filhos constrangidos. Deve ser alguma mutação genética que ocorre junto com a maternidade.

Qualquer outra garota de minha idade teria rido do comentário de minha mãe. Danielle não era toda tranqüilidade e sorrisos no banco traseiro de minha mãe e aparentemente não se lembrava mais de nossa conversa sobre as bruxas e meus pesadelos. Foi então que me lembrei de como era a sua mãe, do quão educada e polida era, mas nem de longe eu via o carinho que minha mãe demonstrava comigo no relacionamento delas. Ela deveria sentir falta disso, claro. Somente quem não tem estas coisas que pode saber a falta que faz.

Escolhemos uma lanchonete na praça de alimentação do shopping Cityplace e pedimos uma nada saudável pizza para o almoço.

Quase engasguei com o meu refrigerante ao ouvir minha mãe perguntar para Danielle sobre os garotos do colégio.

- Nicolle ainda não me disse se tem garotos bonitos no colégio – minha mãe disse como se comentasse uma liquidação na Victoria Secret´s – Me diga sobre os garotos Danielle.

- Há vários garotos bonitos sim, Sra. Carol. – afirmou Danielle com aquele sorrisinho inocente típico.

Minha mãe ficou visivelmente interessada no assunto.

- Oh, sério? E algum interessante?Já esta na hora de você me apresentar um namorado, mocinha. Na idade de vocês eu já namorava o seu pai, Nicolle.

- E dois anos mais tarde também já estava grávida de mim – eu respondi de mau humor – não sei porque esse interesse agora em minha vida afetiva.

- Há uma vida afetiva? – ela perguntou.

- Mamãe! Por favor.

- O quê? – minha mãe deu de ombros.

- Para isso que estamos aqui? Podemos algo mais útil do que ter essa conversa? – aquilo estava me deixando bem irritada. –Nós vamos enlouquecer alguns vendedores ou não ?

Minha mãe e Danielle riram ao mesmo tempo. Déia ter algo de engraçado com meu mau humor , disso eu tinha absoluta certeza.

O tempo passava depressa, e após a desagradável conversa sobre garotos, ríamos muito em companhia de minha mãe, que fazia Dann se sentir muito confortável por estarmos passando uma tarde de domingo passeando com uma mãe. Mesmo sendo a minha, eu sabia que não era um passeio normalde qualquer adolescente.

Escolhemos uma livraria enorme, tipo mega store , com vários departamentos e muitas coisas para se olhar. Minha mãe e Danielle haviam descoberto uma paixão em comum, feng shue, e conversavam animadíssimas sobre livros e algumas mudanças que minha mãe poderia fazer em casa para deixar a energia fluindo melhor.

Eu deixei as duas conversando e resolvi me isolar um pouco, pois assim sabia que me livraria das perguntas de minha mãe e do olhar questionador que eu via em Danielle várias vezes naquela tarde, enquanto olhava para mim. Ela sabia que eu estava lhe escondendo algo, mas era assim que deveria ser.

Resolvi olhar alguns cds, e rapidamente me dirigi há uma cabines aonde era possível escutar qualquer cd da loja. Escolhi alguns de de meus favoritos, coloquei os fones nos ouvidos e deixei a música me levar por um longo tempo.

Eu procurei limpar a minha mente de todas as dúvidas e divagações que ainda passassem por minha cabeça. Me concentrei no som, na melodia, a música entrando lentamente em meus sentidos. Então escolhi um cd do James Blunt que eu adorava e me desliguei totalmente do mundo ao meu redor.

Foi então que eu senti uma mão quente tocando levemente o meu braço. Foi como um choque percorrendo todo o meu corpo. Antes de me virar eu já sabia quem estava ali.

Henry Nichols estava parado bem atrás de mim, um sorriso surpreso em seu rosto, sorriso este que era mostrado em seus olhos, azuis e muito brilhantes.

- Você anda me seguindo por acaso? – ele perguntou a voz rouca leve e divertida.

Eu tirei os meus fones imediatamente. Já era difícil ouvir qualquer coisa com o som do meu coração batendo descompassado, eu não precisava de mais nada para me deixar surda.

- Do que você esta falando? – eu perguntei tentando manter um tom de voz calmo. Ele não precisava saber o quanto eu estava nervosa ao vê-lo ali.

- É o nosso segundo encontro em dois dias – ele respondeu com a voz ainda leve – West Palm Beach não é tão pequena e estamos sempre nos esbarrando.

Ele usava jeans e uma camisa de algodão azul, que combinava perfeitamente com seus olhos, as mangas dobradas displicentemente. Oh, eu era tão estúpida, mas ele estava lindo, tão lindo que era difícil manter qualquer grau de racionalidade ali.

Eu apenas dei de ombros e forcei um sorriso em meu rosto. Ele estava muito próximo a mim, eu podia sentir o seu perfume em meu nariz. Foi então que eu percebi que uma de suas mãos ainda estava pousada em meu braço. Ele deve ter percebido ao mesmo tempo em que eu, e recuou sem graça. Não era a primeira vez que isso acontecia, e meu corpo sempre reagia de uma forma louca ao seu toque.

- O que você esta ouvindo? – ele perguntou levando as mãos em direção ao fone e colocando em seus ouvidos, para em seguida dar uma pequena careta – Oh, você gosta disso? Sério mesmo?

- Qual o problema? – eu não gostei de ele chamar um cantor que eu adorava de “disso”.

- Meloso demais – ele completou – inglês demais. Não faz parte do meu repertório.

Foi então que eu reparei que ele estava com varias caixinhas de CDs em sua outra mão. Eu estendi a minha mão e puxei as caixinhas em minha direção.

- Ah, e o que você tem aí, senhor “nada de ingleses melosos “ ? – eu olhei uma a uma e eram todas de bandas de rock pesado, daqueles de urros e sons inaudíveis, Uma ou duas bandas eram dos anos noventa. – É disso que você gosta? Se eu ao menos conseguisse entender o que eles berram, eu podia tentar gostar.

Ele riu. e pegou as caixinhas de volta.

- Decididamente não temos o mesmo gosto musical. – ele disse entre uma risada e outra.

- Decididamente – eu respondi.

Foi então que eu percebi que os olhos dele correram pelo meu corpo e eu dei graças por ter colocado um vestido florido que eu gostava muito e por ter arrumado os meus cabelos. Sabendo o tipo de garota que ele saia, não era de se estranhar que eu o pegasse me olhando de cima a baixo. Ele devia ligar muito para aparências. Eu tentei não ficar ofendida.

- Você esta sozinha aqui? – ele perguntou.

- Não, vim com minha mãe e Danielle. Elas devem estar por aí procurando todos os livros de feng shue disponíveis no mercado.

- Feng shue? Isso é bem a cara da Dann mesmo.

Ele se referiu a ela da mesma forma que ela falava sobre ele. Carinho na voz e algo mais, meio como respeito. Aquilo me deixou mais intrigada nisso.

- Você foram muito amigos, não é?

Ele afirmou levemente com a cabeça.

- O que aconteceu então? Eu nunca vi você e ela conversando propriamente dito, mas sempre que ela fala de você fala com muito carinho.

- Oh, ela fala de mim? – eu percebi que havia cometido uma gafe, e eu queria muito que a terra se abrisse sob meus pés, pois do jeito que ele falou soou como “vocês falam sobre mim?”, mas ele foi discreto e continuou como se eu nada tivesse dito – Dann é muito querida , fomos praticamente criados juntos. Eu gosto dela como uma irmã.

- E o que aconteceu então? – eu insisti.

Eu percebi que ele ficou constrangido, pois imediatamente seu maxilar ficou duro e travado.

- Acho que alguns desentendimentos com meus amigos quando eu estava na Inglaterra. – ele disse meio contrariado – quando eu voltei, estávamos um pouco distantes. Mas fico feliz que estão se dando tão bem, Dann é uma ótima amiga.

Com aquilo eu ardi ainda mais de curiosidade e eu queria saber direitinho o que havia acontecido. Mas pela cara dele, percebi que não era uma boa hora de perguntar sobre isso. Mudei rapidamente de assunto.

- Quanto tempo você ficou na Inglaterra?

- Um ano, fomos para lá quando eu tinha quinze.

- E não apreendeu a gostar muito de cantores ingleses? – ele negou com a cabeça – Por que você foi morar lá?

- Fomos acompanhando o meu pai que tinha negócios na Inglaterra.

Percebi que era outro assunto que o deixou contrariado.

- Você não gostou de sua estadia na Inglaterra. – eu afirmei.

- Não – ele disse o rosto muito sério – deixei isso muito aparente?

- O suficiente. Então o que...

Eu não pude terminar minha pergunta, pois de repente um pequeno garotinho loiro cheio de sardas , de uns dez anos , corria em nossa direção , segurando um negócio que só poderia ser um telescópio e vários livros de astronomia nas mãos .

- Henry, aqui, encontrei tudo que precisávamos. – foi então que ele percebeu que eu estava parada ali e ficou todo envergonhado, seu rosto de um vermelho vivo. – Oh, desculpas.

Henry sorriu e alisou de leve o cabelo liso e fino do garoto. Os olhos dele brilharam e ele abriu um enorme sorriso.

- Hey Nathan, esta é uma amiga, Nicolle. – então ele olhou para mim e sorriu enquanto bagunçava o cabelo do garoto – Nicolle, este é meu irmão mais novo Nathan.

Foi então que eu percebi a roupa meio séria do garoto e o jeito que ele ficava vermelho perto de mim. Era um dos gêmeos irmãos de Henry. Nathan, o irmão meio nerd. Era impossível não ver a semelhança, mesmo o garoto tendo os cabelos loiros, eram os mesmos olhos azuis brilhantes e intensos. Eu sorri, pois o garoto era lindo e muito fofo, e pela forma que Henry olhava para ele, com carinho e amor.

Sim, Henry Nichols sempre me surpreendia.

Eu estendi minha mão para o garoto, que a apertou educadamente, mesmo ficando cada vez mais vermelho.

- Muito prazer Nathan. - eu sorri para o garoto tentando ao máximo ser simpática – Bonito telescópio.

Deu certo, os olhinhos do Nathan brilharam.

- Henry vai montar para mim no terraço de casa. Bom lugar para ver as estrelas.

- Então você gosta de estrelas? – eu perguntei.

- Estrelas e planetas. Eu quero ser astronauta um dia – ele trocou um olhar cúmplice com o irmão e então algo atraiu a sua atenção, bem atrás de nós – Olha ali Henry, é a Dann.

Danielle e minha mãe estavam bem atrás de nós. Minha mãe com um olhar interrogador no rosto e Danielle era toda sorrisos. Ela rapidamente chegou até nós, se abaixou e deu um beijo carinhoso no rosto de Nathan, em seguida cumprimentou Henry com um sorriso muito amigável.

- Oi Henry. Oi Nathan. – ela disse, enquanto olhava para mim de soslaio, dando um sorriso meio torto.

- Oi Dann – o garotinho se desmanchou todo para ela – faz tempo que não vejo você.

Ela bagunçou os cabelos dele, da mesma forma que eu vi o Henry fazer. Aquela cumplicidade me fez sentir uma pontinha de ciúmes , um tolo sentimento , mas muito mais que ciúmes eu sentia curiosidade. O que havia acontecido entre eles?

Os dois trocaram um olhar meio cúmplice, fazendo eu ficar ainda mais enciumada. Sem razão, aparentemente, pois não era como se ambos estivessem flertando ou se tivessem um caso antigo escondido. Era cúmplice e amigável, mas mesmo assim eu não conseguia evitar meu sentimento.

Eu quase havia esquecido por completo a minha mãe, mas quando ela começou a medir Henry de cima a baixo , eu rapidamente a apresentei. Eu conhecia a mente de minha mãe e logo, logo ela estaria me colocando em alguma situação constrangedora, como supor que ele era algum namorado secreto.

Na frente dele, ainda por cima, é claro.

- Mãe, este é Henry Nichols, um colega de escola. Henry esta é minha mãe.

Ele estendeu a mão educadamente para a minha mãe, todo formal e gentil.

-E um prazer senhora Crystal . Eu poderia supor que a senhora fosse uma irmã mais velha de Nicolle, não a sua mãe.

Pronto. Ele havia conquistado Caroline Crystal naquele instante.

- Oh, que gentileza – ela disse, toda contente – fico feliz em ver que minha Nicolle tem amigos tão gentis.

Após alguns segundos, Henry anunciou que teria que ir embora. Minha mãe e Danielle se afastaram um pouco , Danielle segurando a mão de um Nathan todo feliz . Aparentemente eles deram um pouco de privacidade para Henry e eu nos despedirmos.

- Bom, acho que nos vemos amanhã então, Nicolle? – ele perguntou os olhos brilhantes e quentes.

- Bom na escola não tem como você achar que eu o estou seguindo – eu provoquei, apesar de eu ainda estar muito nervosa

- E por falar em escola, você já começou a ler o Hemingway? – eu neguei com a cabeça – Pois deveria. Além do trabalho, sei que você vai gostar.

Impulsivamente eu sorri para ele . Eu não consegui evitar. Eu sentia todo o meu corpo sorrindo para ele .

- Da mesma forma que eu acho que você pode gostar de cantores ingleses meio melosos – eu disse - É só uma questão de com quem ouvir.

Oh meu Deus, por que eu disse isso?Por que eu estava sendo tão oferecida? O que eu estava pensando, eu estava flertando com Henry Nichols ?

Eu nem ao menos sabia fazer isso. Eu não tinha a menor idéia do que eu estava fazendo.

Ele ficou muito sério. E pegou minha mãe por um segundo, mais rápido que uma batida de coração.

- Acho que você tem razão – ele disse com a voz rouca – talvez seja uma questão de com quem ouvir. Vejo você amanhã Nicolle.

Então ele e seu pequeno Nathan foram embora. Eu fiquei vendo os dois se afastarem, Henry todo protetor com o irmão mais novo. Nada daquele autoritarismo que eu via na escola, nada daquele olhar de poucos amigos. Nenhum sorriso esnobe ou arrogante, apenas um cara. Um cara muito educado e simples.

Mas ele me confundia e despertava um sentimento de admiração e curiosidade. Oh, isso precisava parar. Não era saudável para mim esses sentimentos, não por alguém como Henry Nichols.

Isso precisava parar.

Foi então que eu percebi que minha mãe e Danielle tinham os olhos fixos em mim. Compreensão passava no rosto de Danielle. Ela havia compreendido o motivo que eu havia rejeitado Jack na noite anterior. Eu esperava no mínimo um olhar de “Hey, você perdeu completamente o juízo?”. Em vez disso ela sorria .

Antes que um interrogatório a queima roupas me pegasse de surpresa , eu resolvi atacar .

- Compraram todos os livros de Feng shue da loja ?

Elas riram e trocaram um olhar cúmplice . Oh , era tudo que eu precisava , minha mãe e minha amiga já haviam se tornado cúmplices.


Minha mãe não deixou se intimidar. Ela tocou de leve meus cabelos , como se eu fosse uma criancinha.

- Bonito garoto, o seu amigo Nicolle .

Eu fingi que não ouvi comentário de minha mãe . Ela resolveu atacar por Danielle.

- Ele estuda com vocês Danielle?

- Henry ? – eu vi ela fingindo um sorrisinho inocente – sim, ele estuda em nosso colégio.

- Bonito e educado . – minha mãe aprovou.

- Sim, Sra Crystal . Henry realmente é um cara legal.

Aquilo estava me deixando irritada.

- Vocês duas podem parar – eu cortei um pouco rude – ele é apenas um colega da minha turma de Literatura. Estamos fazendo um trabalho juntos , nada demais. E além do mais, ele tem namorada mamãe. Paramos por aqui, por favor .

As duas ficaram quietas imediatamente , mas eu percebi que não havia vencido a minha mãe naquela questão. Ela voltaria a me questionar sobre Henry Nichols .

Mas a minha mãe era , naquele momento o menor de meus problemas . Eu me sentia culpada por estar escondendo tantas coisas de Danielle. Ela não havia feito outra coisa desde que nos conhecemos a não ser me dar apoio e procurar formas de ser uma boa amiga. Eu evitava olhar minha amiga nos olhos. Ela conseguiria ver que eu escondia bem mais que meu interesse sem sentido pelo garoto mais popular do colégio.

Pouco tempo depois, era hora de irmos embora do shopping Cityplace.

A tarde caia depressa , e o sol quente da Florida começava a morrer no horizonte. Era possível sentir a brisa vinda do mar e o ar estava ficando cada vez mais magnético e úmido. Arrepiava os meus cabelos e os pelos de meu braço.

Fomos direto para a casa de Dann. A casa parecia vazia e silenciosa, provavelmente os seus pais ainda estavam trabalhando ou cuidando de suas próprias coisas. Percebi uma ponta de melancolia nos enormes olhos castanhos dela.

Eu havia deixado minha mochila no quarto de Dann e entrei com ela em sua casa enquanto minha mãe esperava no carro.

Comecei uma falação pavorosa e incontrolável, sobre os preços das roupas, sobre liquidações e sobre os livros que ela e minha mãe haviam comprado. Eu tinha medo de dar espaço para Dann falar alguma coisa.

Não foi tão fácil escapar dela. Assim que eu agarrei minha mochila e estava já me dirigindo á porta de saída, ela segurou levemente o meu braço.

- Você tem certeza que esta tudo bem? – ela me olhava com olhos ansiosos - Você acha que esta noite terá problemas para dormir? Eu deixei alguns bilhetinhos com encantos e algumas coisas para você na sua mochila.

Eu não queria encantos. Eu queria fugir de qualquer coisa relacionada a bruxaria naquele momento. Eu queria a boa a velha racionalidade de volta. Mas o olhar de Danielle me desconcertou.

Eu me inclinei para frente e dei um rápido abraço nela.

- Esta tudo bem Dann – eu disse, tentando deixar minha voz leve e animada – você provavelmente é a melhor amiga que eu já tive , realmente muito obrigada. Vou ficar bem, eu estou bem.

_ Mas se você precisar de alguma coisa...

- Eu ligo. Mas nos vemos amanhã no colégio, ok?

Ela acenou levemente com a cabeça. Mas não havia tranqüilidade em seus olhos. Ela estava preocupada com alguma coisa, alguma coisa além de minha atitude evasiva.

Foi então que eu me lembrei de mais uma coisa que eu precisava pedir para ela.

- Dann?

- Sim.

- Posso te pedir mais uma coisa?

- Sim, o que é? – ela ficou intrigada novamente.

- Por favor, nenhum comentário sobre Henry Nichols em frente a turma . Ou sobre o meu suposto namorado em Seattle, por favor.

Ela abriu um sorriso divertido, mas nem de longe a preocupação saiu de seus olhos.

- Hey, não se preocupe – ela garantiu – nenhuma palavra. Prometo.

Eu dei uma ultima olhada em minha amiga e corri em direção ao carro de minha mãe. Tudo o que eu queria era voltar para a minha casa, eu estava cansada, realmente cansada.

A curta travessia da casa de Danielle para a minha foi silenciosa.

Eu e minha mãe escutávamos musica no player do carro, sem conversar sobre nada de muito importante. Foi apenas quando estacionamos na porta de casa que minha mãe olhou seriamente em minha direção.

- Eu estou feliz, filha. Feliz que você esteja começando a se adaptar.

Eu sorri para ela .

- Vai ficar tudo bem mãe. O importante é que estamos juntos.

- E voltando a falar sobre garotos...

- Oh mãe – eu pedi – por favor, de novo não.

- E porque não. Eu vi como você estava toda animada conversando com aquele garoto.

- Mãe, esquece esse assunto, por favor. Ele não é do meu mundo.

- Como assim? – ela perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas – Não entendo. O que ele tem de errado? Antenas no lugar de orelhas?

- Não, mãe. Ele é o garoto mais popular e um dos mais ricos do colégio. Ele é um herdeiro milionário, namorado de uma herdeira igualmente milionária e metida. Somos de mundos diferentes mãe.

Ela não se deu por vencida com meus argumentos.

- Só isso? – ela perguntou dando de ombros – Ninguém nunca lhe ensinou mocinha, que o nosso lugar no mundo é conquistado pelo que gostamos e pelo que lutamos, e não por aquilo que temos?

Aquele era o lema de meus pais. Eu ouvia isso desde que eu era pequena.

- Ah, mas acontece que quem me ensinou isso também vai ficar furioso ao ouvir alguém falando de garotos com a sua garotinha . Lembra, nada de namorados até a faculdade – eu provoquei minha mãe com os ciúmes de meu pai.

- Ok, ok , você venceu por agora Nicolle . Por agora.

Eu sorri para minha mãe. Era fácil viver naquele mundo utópico dela. Ela ainda achava que todas as pessoas eram parecidas com ela e meu pai. Dois doces corações perdidos no mundo, tentando fazer o bem.

Mais tarde, naquela noite, eu me peguei revirando na cama novamente. Já passava de meia noite e eu estava ali, deitada em minha cama , pensando em tudo o que eu estava vivendo.

E estava morrendo de medo de fechar os meus olhos e ter mais algum pesadelo. Ou mesmo sonho. Eles não tinham mais muita diferença para mim. Sonhos ou pesadelos eram apenas a prova viva que eu estava perdendo a minha sanidade.

De fato, eu encontrei um monte de livros, e anotações, velas e incensos dentro da minha mochila. Tudo organizado e com vários post its com recomendações de Danielle.

Mas eu não iria me render agora. Eu precisava voltar ao mundo real.

Eu corri para o meu banheiro e tomei uma decisão.

Procurei a caixinha na gaveta do armarinho do banheiro. Eu finalmente me lembrei do que poderia me ajudar. O poderoso analgésico que eu havia tomado meses antes para uma contusão na aula de educação física em meu antigo colégio.

Eu peguei duas pequenas cápsulas e mandei garganta abaixo. Da ultima vez, eu dormi por quase dez horas seguidas. Era isso que eu precisava agora.

Deitei novamente na cama, esperando o remédio fazer efeito. Coloquei o cd que eu estava ouvindo na livraria quando encontrei com Henry Nichols. A melodia entrou em mim, como se eu estivesse guardando a sensação eufórica que eu sentia toda a vez que eu estava perto dele. Bom, pelo menos quando estávamos sozinhos, e sem nenhuma namorada nojenta, ou todo um time de futebol em volta.

Foi então que algo me ocorreu. Eu rapidamente puxei o livro do Hemingway que ele havia me emprestado e estava escondido na gaveta do meu criado mudo. Toquei a suave capa de couro e o abri.

As paginas um pouco envelhecidas e amareladas pelo tempo estavam intactas. Haviam algumas letras rabiscadas, uma dedicatória na primeira pagina do livro.

Eu apertei os meus olhos para entender a letra confusa, mas bonita.

“Para H. Um homem é formado por suas atitudes , gestos e por sua generosidade. Nunca se esqueça disso , pois você esta no caminho para se tornar um grande homem Parabéns pelo seu décimo terceiro aniversario . Tony “


Quem era Tony?

Eu rapidamente fechei o livro, louca de curiosidade; Aquilo era mais um mistério para a minha coleção de coisas a desvendar.

Eu sabia de alguém que poderia me ajudar.

Danielle.

Mas eu não queria envolve-la ainda mais em minhas confusões. Era hora de eu desvendar os meus mistérios e duvidas sozinha.

Agarrada ao pequeno travesseiro de lavanda que eu havia ganhado de Danielle, e com o livro de Henry Nichols embaixo de meu travesseiro, eu fechei meus olhos e esperei pela inconsciência do sono. O remédio estava começando a fazer o efeito que eu desejava.

Todos os meus problemas podiam esperar até amanhã para serem resolvidos.

Playlist "As filhas do vento"


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